




Palavras para quê?! Zhang Ziyi é a actriz asiática mais famosa no ocidente, essencialmente devido às suas grandes qualidades representativas. Mas convenhamos que o aspecto ajuda muito...Mais informações AQUI.
"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!
Origem: Hong Kong
Duração: 113 minutos
Realizadores: Andrew Lau e Alan Mak
Com: Tony Leung Chiu Wai, Andy Lau, Leon Lai, Kelly Chen, Daoming Chen, Eric Tsang, Anthony Wong, Chapman To, Berg Ng, Carina Lau, Sammi Cheng, Wan Chi Keung, Shawn Yue, Edison Chen, Gordon Lam, Waise Lee, Wan Yeung Ming
Atenção! Spoilers!!!
O presente texto diz respeito ao terceiro filme da conhecida saga de Hong Kong, denominada “Infiltrados – Infernal Affairs”. Pelo exposto, só deverá continuar a leitura caso tenha visto as duas primeiras películas, que possuem textos no “My Asian Movies”, AQUI e AQUI.
Sinopse
“Lau Ming” (Andy Lau) é ilibado de qualquer suspeita que recaia sobre si, respeitante à morte de “Yan” (Tony Leung Chiu Wai), o agente que a polícia tinha infiltrado na tríade de “Sam” (Eric Tsang). No entanto, a calma parece não ter chegado à sua vida, pois existem umas cassetes comprometedoras que contêm conversas entre as “toupeiras” da tríade e o seu líder “Sam”. Para piorar a situação, as gravações estão na posse de “Yeung” (Leon Lai), um inteligente inspector que desconfia das actuações de “Lau”.
“Lau” tenta provocar uma reviravolta, e voltar as suspeitas para o próprio “Yeung”, aproveitando as ligações obscuras que este mantém com “Shen” (Chen Daoming), um líder criminoso chinês. Paralelamente, somos confrontados com a vivência de “Yan” seis meses antes da sua morte, e a sua luta para sobreviver dentro da tríade, numa altura em que “Sam” parece desconfiar das verdadeiras intenções da toupeira da polícia. “Yan” trava conhecimento com “Yeung” e “Shen”, tendo contacto com revelações surpreendentes.
"Review"
Como é do conhecimento daqueles que estão por dentro das lides do cinema oriental, Hong Kong tem uma profícua história de aproveitamento ao máximo de uma fórmula de sucesso. Esta premissa não é necessariamente positiva, pois muitas vezes embarca-se num deserto ou numa má exploração de ideias e ficamos com a sensação de que as sequelas nada trazem de novo, ou inovam de uma maneira que desilude os espectadores. Afinal quantas vezes é que pensamos ou ouvimos dizer expressões como “deviam ter ficado pelo primeiro filme”. No caso de “Infiltrados”, desnecessário será dissertar acerca da excelência da primeira longa-metragem. A segunda película, embora não estando ao nível da sua predecessora, constituiu um bom exercício da sétima arte. Chegamos pois à terceira e última obra. Que dizer então deste filme ?
O aspecto que à partida chamará mais à atenção é a verdadeira constelação de estrelas que constam do elenco. Em “Infiltrados III”, temos o retorno dos dois “monstros” de Hong Kong, Tony Leung Chiu Wain e Andy Lau. O regresso do primeiro é apenas possibilitado pela opção argumentativa de contar duas histórias em paralelo, intervindo “Yan” numa delas que ocorre seis meses antes da sua morte. Sem curarmos dos conhecidos Eric Tsang, Anthony Wong, Kelly Chen e muitos mais, temos a adição do “quebra-corações” Leon Lai e do emblemático Daoming Chen (que representou o imperador Qin em “Herói”). Com uma equipa tão forte como a reunida para este filme, seria quase impossível que os aspectos interpretativos não tivessem uma bitola elevada. Andy Lau destila classe pela película toda, factor que seria reconhecido pela crítica ao vencer o ´prémio para melhor actor na 41ª edição dos “Golden Horse Awards”. O chamamento às armas de Leon Lai e Daoming Chen foi bastante feliz, pois ambos enquadram-se muto bem na aura de “Infiltrados III”, com Lai a revelar-se um rival frio de Lau e perfeitamente à altura deste. Tony Leung é obrigado a evidenciar uma faceta mais romântica, que embora não lhe corra mal, destoa claramente do conturbado “Yan” que tão bem representou na primeira parte da saga.
Com efeito, a verdadeira utilidade de “Infiltrados III” será descobrirmos o destino final de “Lau”, e apercebermo-nos se efectivamente ele foi bem sucedido na sua redenção. E para entendermos bem a importância deste aspecto, convém nunca esquecer que apesar de “Lau” ser um infiltrado na polícia, a meio do caminho decide passar para o lado da lei e deixar para trás o seu passado criminoso. Simplesmente, a via pela qual optou foi a dissimulação, tentando apagar todas as provas que o ligassem à máfia local, mesmo que para o efeito tivesse de matar. Não houve uma escolha pela franqueza, em que “Lau” se revelaria às forças de autoridade como uma “toupeira” e arcasse as consequências por tal facto. Ele apercebe-se do seu ilícito modo de vida, e tenta começar de novo de uma forma imoral. No fundo, continua a ser uma pessoa que vive à margem da lei, mas de outra perspectiva. E, salvo melhor opinião, era neste campo que “Infiltrados III” deveria ter permanecido. O “flashback” prolongado relativamente a um período anterior à morte de “Yan”, essencialmente serve para percebermos onde Kelly Chen se situa na história (mesmo assim, torna-se uma adição discutível), e principalmente para entendermos a importância de “Yeung” e “Shen” no destino tanto de “Yan”, como de “Lau”. Mas o facto indiscutível, que serve para retirar alguma força ao filme, é nunca conseguirmos superar um facto evidente...”Yan” está morto e já não temos o herói incompreendido e trágico , que tanto apreciamos e a quem nos possamos agarrar. Deveriam deixá-lo a descansar em paz, a gozar o eterno sonho dos heróis anónimos. A persistência em focar mais alguns aspectos do passado de “Yan”, torna-se perigosa no campo das contradições. Se bem me recordo, “Sam” tinha uma confiança praticamente inabalável no infiltrado da polícia aquando da época em que o mesmo falece. Neste recuar, que recordo ser seis meses antes do trágico evento de “Infiltrados”, o modo de agir de “Yan” não cai nas boas graças de “Sam” e este frequentemente entrega-lhe missões que revelam ser autênticas armadilhas, algumas até mortais. Ora, este aspecto não se enquadra muito bem na trama, e quanto ao aparecimento de Carina Lau, no epílogo da película, prefiro nem sequer me pronunciar. Quem visionou “Infiltrados II”, percebe perfeitamente o que estou a dizer, pois “Mary Hon”, a mulher do “gangster” “Sam”, tinha falecido! Lembram-se a razão? Um atropelamento engendrado por um rival de “Sam”!!!
“Infiltrados III” é uma obra que poderá acima de tudo ser discutida quanto à sua própria razão de existir, que do meu ponto de vista se reconduzirá a termos contacto com o destino final de “Lau”. O único aspecto que não oferece grande margem de contenda para a maior parte dos cinéfilos, será a constatação que é o capítulo mais fraco da trilogia. Mas daí a responsabilidade de competir com as duas magníficas obras anteriores, para além do facto de ter sido realizada apenas três meses após a segunda parte, não era um facto fácil de superar. Contudo, os elementos que deram sucesso aos filmes predecessores estão todos lá, desde o costumeiro e interessante jogo do “gato e do rato”, até à aura ultra psicológica e depressiva que corre toda a película, aliviada desta vez com uma exploração um pouco mais intensiva do romance.
Um filme razoável, que deverá ser conferido sem alimentar expectativas desmesuradas!
The Internet Movie Database (IMDb) link
Outras críticas em português:
Avaliação:
Entretenimento - 7
Interpretação - 8
Argumento - 7
Banda-sonora - 8
Guarda-roupa e adereços - 8
Emotividade - 8
Mérito artístico - 7
Gosto pessoal do "M.A.M." - 7
Classificação final: 7,50
A “Milkyway”, uma conhecida empresa de produção de filmes fundada por Johnnie To em 1996 (site oficial AQUI), foi indubitavelmente uma das coisas boas que aconteceu ao cinema de Hong Kong nos últimos anos. Digo isto, pois desde a sua fundação, várias obras renomadas e de boa qualidade tiveram o selo daquela produtora, das quais destacaria mais por ser do meu conhecimento pessoal e agrado “The Mission”, “Needing You...”, “Exiled” e os dois “Election”. Foi com alguma expectativa que ansiava tomar contacto com “Mad Detective”, não apenas pelo excelente “feedback” que o filme possuiu perante a crítica mais especializada, mas igualmente por ter sido um nomeado para o “Leão de Ouro”, a mais alta distinção que um filme pode obter no conceituado festival de Veneza. Outros factores de interesse passavam pelo facto de consagrar uma nova reunião entre dois realizadores de inspirações distintas, Johnnie To e Wai Ka Fai, que não trabalhavam juntos na direcção desde “Running On Karma” (2003), assim como marcava o regresso do actor Lau Ching Wan aos filmes de To, facto que não ocorria desde o ano de 2002, com “My Left Eye Sees Ghosts”. Mesmo tendo recebido uma classificação para maiores de 18 anos em Hong Kong, a película não deixou de ser um sucesso de bilheteira na sua terra de origem, granjeando um grande interesse junto de muitos espectadores.
“Mad Detective” prima pela positiva em muitos aspectos, mas é sem dúvida a magistral interpretação do grande Lau Ching Wan que sobressai. O actor, que pessoalmente admiro bastante e é um favorito de To, consegue oferecer-nos uma interpretação maravilhosamente equilibrada na representação de um “desiquilibrado”, balançando extremamente bem os momentos em que precisa de exteriorizar a loucura e a esquizofrenia, com a comicidade e a veia trágica. A performance de Lau Ching Wan consegue verdadeiramente marcar o estado de espírito de quem visiona esta longa-metragem, sendo capaz de tanto nos pôr a meditar, como a rir ou a simpatizar com a sua contínua progressão para um caminho sem retorno chamado “decadência pessoal”. Os restantes actores aparecem em bom plano, mas é óbvio que empalidecem perante a grandeza de Ching Wan. Mesmo assim, sempre se dará alguma parte do destaque a Andy On, no papel do jovem detective “Ho”, pois frequentemente aquele actor é associado mais à faceta “quebra-corações” (própria de intérpretes sem substância como Nicholas Tse), do que propriamente às suas qualidades artísticas. Andy On, sem deslumbrar, consegue ser um competente “sidekick” de Lau Ching Wan.
"O imaginário de Bun necessariamente reflecte-se na sua vida pessoal"
Na esteira do propalado comportamento “anormal” de “Bun”, Johnny To e Wai Ka Fai mantêm fluídos os 91 minutos de duração da película, tornando-a extremante interessante. Existiu uma opção extremamente feliz neste domínio e que passou pela escolha de uma multiplicidade de personagens para representar as diversas facetas de determinada pessoa, sob a perspectiva esquizofrénica de “Bun”. A interacção entre o detective e as diversas personalidades de “Chi Wai”, o principal suspeito dos assassinatos é, à falta de melhor expressão, genial. Some-se este aspecto aos devaneios pessoais de “Bun”, essencialmente relacionados com a relação que tem com a esposa, e os seus métodos nada ortodoxos na investigação dos crimes, e temos meio caminho andado para nos apercebermos de uma coisa extremamente importante. Estamos perante uma das melhores obras que Hong Kong produziu nos últimos anos, e quiçá, a nível global, das mais competentes que evocam a ténue fronteira entre o imaginário e a realidade. O argumento que viria a ser premiado na 27ª edição dos HK Film Awards (2008) é extremamente forte e bem conseguido, como parece ser apanágio dos escritores ao serviço da Milkyway, e constitui outra das chaves-mestra da película. Este aspecto apenas vem reforçar a qualidade desta obra.
Com uma efectividade tremenda perante aqueles que se interessam por filmes que abordam os meandros da natureza humana, “Mad Detective” revela ser uma longa-metragem que satisfaz plenamente. Tem ritmo, mistério, acção e suspense o suficiente para prender a nossa atenção até ao fim. Para além destes aspectos em concreto, revela ser uma película inteligente na maneira como associa os devaneios de um ser lunático, despertando-nos uma diversidade de sensações que irão desde o riso, até à pena ou a compreensão. Eu e as minhas personalidades escondidas (se é que tenho algumas) definitivamente aconselhamos este filme a toda a gente! E já agora não custa repetir que Lau Ching Wan é mesmo grande e está a milhas de distância da maior parte dos seus conterrâneos que despontam na cinematografia de Hong Kong (Tony Leung Chiu Wai e mais alguns à parte) !
A não perder!
The Internet Movie Database (IMDb) link
Outras críticas em português:
Avaliação:
Entretenimento - 8
Interpretação - 9
Argumento - 9
Banda-sonora - 8
Guarda-roupa e adereços - 8
Emotividade - 8
Mérito artístico - 8
Gosto pessoal do "M.A.M." - 8
Classificação final: 8,25
Origem: Tailândia
Duração: 97 minutos
Realizador: Wisit Sasanatieng
Com: Chartchai Ngamsan, Suwinit Panjamawat, Stella Malucchi, Supakorn Kitsuwon, Arawat Ruangvuth, Sombat Metanee, Pairoj Jaisingha, Naiyana Sheewanun, Kanchit Kwanpracha, Chamloen Sridang
Sinopse
“Rumpoey” (Stella Malucchi) e “Dum” (Charchai Ngamsan) são dois jovens de origens totalmente opostas. A primeira provém de uma família abastada, tendo um pai bastante influente e poderoso. O segundo, é de origens humildes, sendo filho de um agricultor. A evacuação de Banguecoque, durante a II Guerra Mundial, faz com que os mesmos se encontrem no meio rural e tornem-se muito próximos. A paixão inevitavelmente acontece, mas desde o início parece votada ao malogro, atendendo às grandes diferenças sociais e económicas que separam o casal. Terminado o conflito, “Rumpoey” regressa à capital tailandesa, ficando “Dum” a viver no campo.
Dez anos depois, e devido a um acaso, “Rumpoey” e “Dum” encontram-se novamente, desta vez em Banguecoque. A história de amor reata-se, e ambos fazem promessas mútuas de viverem juntos para sempre. Contudo, o destino reserva surpresas desagradáveis. O pai de”Dum” é assassinado por aldeões rivais, e “Rumpoey” é obrigada a tornar-se noiva do capitão “Kumjorn” (Arawath Ruangvuth), num casamento a realizar-se por mera conveniência. Consumido pelo desgosto, “Dum” transforma-se no “Tigre Negro”, o fora-da-lei mais temido do burgo. Apesar das terríveis incidências, a paixão entre “Rumpoey” e o agora “Tigre Negro” permanece intocada. Resta saber se a mesma irá triunfar.
"Duelo, sob um cenário pintado de cores vívidas"
"Review"
Sete anos antes de Takashi Miike realizar “Sukiyaki Western Django”, a cinematografia tailandesa corporizaria uma ideia no mínimo estranha, que era realizar um “western” com contornos asiáticos. O projecto viu a luz do dia, e alcançaria à altura um sucesso sem precedentes para um filme da Tailândia (antes do fenómeno "Ong Bak" em 2003), tendo sido o primeiro filme daquele país a merecer uma presença em Cannes. Salienta-se igualmente a participação em outros certames internacionais, onde fez sensação em Vancouver, no Canadá e Gijón, na vizinha Espanha. Esta película é frequentemente comparada aos filmes de Sergio Leone, essencialmente devido a não se furtar a algumas características mais emblemáticas atribuídas genericamente aos “westerns” daquele realizador. Falamos da violência crua, a banda-sonora bastante distintiva (embora aqui mesclada com alguns ritmos orientais), um pendor romântico mais exacerbado e um manancial de personagens dotadas de características um tanto ou quanto peculiares. Contudo, é necessário ter presente que os “westerns” norte-americanos e os “spaghetti” incidiam quase todos sobre histórias ocorridas no período que mediou entre o fim da guerra civil norte-americana (Guerra da Secessão) e o fim do século XIX. Pelo contrário, os eventos narrados em “As Lágrimas do Tigre Negro” sucedem-se nas décadas de '40 e '50, e por vezes assumem mais contornos de narrativas de boiadeiros (género sertão brasileiro). Mesmo assim, e na sua esmagadora maioria, não subsistem dúvidas que é de um “western” atípico que estamos a falar.
Sendo a estreia na realização de Wisit Sasanatieng, “As Lágrimas do Tigre Negro” vive sob um signo surrealista, com características que o distinguem do comum das longas-metragens. Existem cenas rodadas sob um cenário pintado com cores pastel, que supostamente será uma homenagem ao likay, uma espécie de ópera tradicional tailandesa. O colorido das paisagens rurais é extremamente saturado, e as paredes dos prédios frequentemente estão pintadas de um verde berrante ou cor-de-rosa luzidio. Chegados aqui, já todos perceberam que a película é rodada sob cenários artificiais (que se notam claramente) ou naturais, sob um espectro colorido extremamente acentuado e verdadeiramente espectacular. Outra característica identificativa da película passa pela violência marcante. Temos um apreciável número de mortes, com muitos intervenientes a serem despachados sequencialmente e numa questão de segundos, ao melhor estilo do “gun fu” de John Woo. Tudo acompanhado dos impossíveis litros de sangue que jorram das feridas, e as cabeças a explodir com miolos a voar por todo os lado.
As hipérboles são claramente requisitadas em vários aspectos, e isso transpira por todos os poros. Os actores assumem uma postura virada para a paródia, com poses e expressões propositadamente exageradas. Foi intenção de Wisit Sasatanieng não escolher intérpretes consagrados do cinema tailandês, pois entendeu que os mesmos não possuiriam o espírito descontraído necessário para um filme desta estirpe. O pretendido seriam intérpretes que não se importassem de se sujeitarem ao ridículo de certas cenas. Sendo assim, o “cast”, com uma ou outra excepção, passa por nomes de segunda linha, que cumprem ao fornecerem o ar amador necessário para que esta obra cumpra os seus objectivos. A caracterização acompanha, de uma forma intencional, o tom geral desta longa-metragem. Atente-se aos notórios bigodes pintados em algumas personagens ou as roupas garridas, que acentuam o tom bizarro da película.
Com um estilo bastante “kitsch” e algo “cartoonesco”, confessado e exteriorizado pelo realizador Wisit Sasatanieng, “As Lágrimas do Tigre Negro” é um filme que valerá sobretudo por alguns aspectos bastante criativos, algo inovadores e inconvencionais. O exagero e o “non sense” é explanado de uma forma intencional, obtendo-se momentos interessantes. Contudo, é minha perspectiva que esta longa-metragem não será passível de ser levada muito a sério, pois apesar de ser considerada um marco artístico por muita da crítica de cinema, não possui predicados suficientes para que possa almejar um estatuto que se possa reconduzir a uma obra de eleição. A sua exuberância valeu-lhe um reconhecimento apreciável, mas passado o efeito de “lufada de ar fresco”, julga-se que apenas os amantes do cinema mais burlesco, continuarão a relembrar esta obra com um sorriso nos lábios. No fundo, como em quase tudo na vida, tudo se resumirá a uma questão de preferências e de gostos pessoais.
"Tiroteio entre a polícia e o bando de foras-da-lei"
The Internet Movie Database (IMDb) link
Outras críticas em português:
Entretenimento - 8
Interpretação - 6
Argumento - 6
Banda-sonora - 8
Guarda-roupa e adereços - 8
Emotividade - 8
Mérito artístico - 9
Gosto pessoal do "M.A.M." - 7
Classificação final: 7,50
Origem: Hong Kong
Duração: 99 minutos
Realizador: Derek Yee
Com: Anita Yuen, Lau Ching Wan, Carrie Ng, Carina Lau, Petrina Fung, Paul Chun, Sylvia Chang, Jacob Cheung, David Wu, Peter Chan, Teddy Chan, Tats Lau, Joe Cheung, Jamie Luk, Herman Yau, Andy Chin
Sinopse
“Kit” (Lau Ching Wan) é um músico de jazz, que se encontra deprimido pelo facto de as melodias que cria não serem bem aceites pelo público. Embrenhado num marasmo criativo, discute com a sua namorada, a popular cantora “Tracy” (Carina Lau) e põe fim ao relacionamento de ambos.
“Kit” muda-se para um apartamento bem mais modesto, e tenta reiniciar a sua vida. No andar de baixo do prédio vive uma família de músicos que se dedica à execução de espectáculos de rua, a maioria versando a ópera chinesa. Cedo “Kit” faz amizade com “Min” (Anita Yuen), o elemento mais novo da família, que revela ser uma rapariga com uma alegria e optimismo enormes. A convivência com “Min”, faz com que “Kit” adquira uma nova vontade de viver, e ambos inevitavelmente apaixonam-se.
Contudo, devido à doença grave que aflige “Min”, a felicidade dificilmente irá durar para sempre...
"Review"
Premiadíssimo com seis “Hong Kong Awards”, na 13 ª edição edição deste certame ocorrida em 1994, “C'est La Vie Mon Cheri” é considerado por muitos uma das maiores histórias de amor de sempre, provenientes da industria cinematográfica da actual região administrativa chinesa. Antes de a Coreia do Sul monopolizar quase tudo o que signifique películas de “fazer chorar as pedras da calçada” (por ora, exclui-se “Bollywood”), tanto o Japão como Hong Kong produziram obras de algum vulto, cujo objectivo imediato era partir-nos o coração em dez!
Com um título em francês, provavelmente para acentuar ainda mais o pendor romântico desta obra, “C'est La Vie (...)” poderá parecer à partida o clássico “tearjerker” asiático, em que o tema já bastante familiar das doenças terminais (e um verdadeiro subgénero) marca pontos. No entanto, esta premissa não passa de uma primeira impressão, e o filme vai muito mais além do que isto. É certo que a trama assenta em muito numa bonita paixão, mas foca-se em igual medida na importância da amizade e do gosto pela vida. Esta longa-metragem faz questão de fugir dos estereótipos “pirosos” que marcam muitas vezes o género, apresentando um conjunto de personagens envolventes e realistas, que somos perfeitamente capazes de identificar no quotidiano e, porque não dizê-lo, com nós próprios. Aqui não estamos perante um cenário idílico, povoado por pessoas que nem parecem fazer parte do mundo real, e que de repente uma tragédia qualquer faz cair o paraíso. Pelo contrário, em “C'est La Vie (...)” os eventos parecem tudo, menos artificiais. Estamos a falar de seres palpáveis, cujas agruras no dia-a-dia bem entendemos, e que com avanços e recuos, felicidades e infelicidades, percebemos que a vida ou a morte seguem o seu rumo natural.
O realizador Derek Yee, cujo trabalho já tive aqui a oportunidade de analisar no competente “One Nite in Mongkok”, incide inteligentemente nos aspectos positivos da vida, e com equilíbrio não teme revelar a outra face da moeda. Este ritmo próprio da película, em muito é ajudado pela esforçada interpretação dos actores principais Anita Yuen e Lau Ching Wan. “Min” é uma rapariga pobre, que tem alguma consciência das suas debilidades físicas e psicológicas, mas que vive sob um cativante signo da esperança. Ela não assume uma posição fatalista perante a vida, mas pelo contrário espalha a alegria por tudo e por todos, irradiando um charme irresistível. Por outro lado, temos um “Kit” destroçado e pessimista, mas que na realidade não tem metade dos problemas de “Min”. Mesmo assim, é esta que faz com que a confiança de “Kit” renasça, através de uma força e fé interior, que é capaz de mover montanhas. Anita Yuen e Lau Ching Wan dão corpo a um dos casais mais bem conseguidos do cinema de Hong Kong dos anos '90, merecendo destaque a cativante performance da actriz. É um facto quase indiscutível que “C'est La Vie (...)” constituiria a longa-metragem que definitivamente abriria as portas do estrelato a Lau Ching Wan, e principalmente a Anita Yuen, transformando esta última intérprete, durante algum tempo, numa das estrelas mais cintilantes do burgo.
Cabe ainda relevar neste filme, o seu teor musical bastante premente. Estando a trama em parte alicerçada num músico frustrado, assim como numa rapariga que pertence a uma família com tradições na ópera chinesa de rua, está dado o mote para que ao longo da trama nos deparemos com um manancial de melodias que vão desde ao jazz, passando pelo “cantopop” e pela ópera chinesa. Este pendor não se revela apenas na banda-sonora, mas igualmente nas histórias laterais relacionadas com a cena musical de Hong Kong, a nível da indústria discográfica, dos concertos e dos bares. É um registo bastante interessante, e que serve de importante pano de fundo para as questões ditas mais centrais do enredo
Sendo um “remake” de um filme de 1961, intitulado “Love Without End”, assinado pelo realizador Tao Qin, “C'est La Vie Mon Cheri” é um drama envolvente, que conseguirá tocar os corações mais empedernidos. Para além de ser uma enternecedora história de amor, não se cinge apenas a este aspecto e vai muito mais além. Deambula pelos caminhos da amizade e da redenção de uma forma louvável, transmitindo-nos uma mensagem de esperança e de optimismo, mesmo que no fim se assista a um trágico ocaso. Destarte, e apesar de nos sentirmos tentados a derramar uma ou outra lágrima, tudo flui natural e suavemente sem melodramas aparentemente demasiado excessivos. Neste aspecto, deixar-se-á as despesas da casa por conta do ambiente por onde a película caminha.
Uma boa proposta!
The Internet Movie Database (IMDb) link
Avaliação:
Entretenimento - 8
Interpretação - 8
Argumento - 7
Banda-sonora - 8
Guarda-roupa e adereços - 8
Emotividade - 10
Mérito artístico - 8
Gosto pessoal do "M.A.M." - 8
Classificação final: 8,13
No início do pretérito ano de 2008, lancei aqui um desafio aos leitores do “My Asian Movies”, tendo em vista que os mesmos elegessem o seu realizador asiático preferido. O balanço final, regra geral não foi surpreendente, pois efectivamente os melhores classificados são os realizadores que gozam de melhor cartaz no ocidente. Num universo de 1224 votos, Akira Kurosawa foi o grande vencedor, demonstrando que a obra do mestre japonês ainda perdura e revela-se intemporal. O 2º lugar quedou-se por Jackie Chan, o único registo que considero surpreendente e cuja explicação imediata passará seguramente pelo facto de alguns leitores terem confundido o actor com o realizador. O 3º lugar foi atribuído a Zhang Yimou, o expoente máximo da quinta geração do cinema chinês e pessoalmente o meu realizador favorito. No 4º lugar, surge Wong Kar Wai, o eterno cultor do romance e da mestria na imagem. O último lugar do pódio estaria reservado para Park Chan-wook, o autor da inesquecível trilogia da vingança. Um dos factores bastante positivos passa pelo facto de nos cinco primeiros lugares existirem representantes das cinematografias asiáticas com maior relevo, com excepção da Índia. Outro dos aspectos que são de relevar passa pela interessante adesão dos participantes na votação, no que toca à sugestão de realizadores para o escrutínio. Tal deu a oportunidade que muitos tomassem contacto com um manancial de autores que à partida não diriam muito a quase todos nós, eu incluído. Para finalizar, cabe ainda referir que Kim Ki-duk (56 votos), Hayao Miyazaki (54 votos), Takeshi Kitano (52 votos), Ang Lee (42 votos) e John Woo (41 votos), também conseguiram resultados bastante apreciáveis.
A todos os que participaram e apoiaram esta iniciativa do “My Asian Movies”, endereço o meu sentido obrigado!