Estória
Um jovem empresário chamado “Luo Yusheng” (Sun Honglei), retorna à sua aldeia Sanhetun, pela pior das razões. O seu pai “Luo Changyu”, um professor primário amado por todos, faleceu durante uma tempestade de neve, quando viajava tendo em vista a angariação de fundos para a construção de uma nova escola. É necessário tratar do funeral, e cabe a “Yusheng”, o único filho, tratar da penosa tarefa.
“Zhao Di” (Zhao Yulian), a mãe de “Yusheng”, encontra-se devastada devido à morte do seu marido e único amor da sua vida. Em respeito por uma antiga tradição, “Di” insiste que o corpo do marido seja trazido a pé desde a morgue situada numa cidade vizinha, até à aldeia. A pedido dos habitantes da povoação, “Yusheng” tenta dissuadir a mãe dos seus propósitos, pois não existem homens suficientes para o pretendido, além dos existentes serem todos idosos.
Antes de tomar a sua decisão final, “Yusheng” reflecte sobre a história de amor dos pais, que é bem conhecida por todos os que vivem em Sanhetun, e nesta parte somos levados até ao longínquo ano de 1958. A então jovem de 18 anos “Zhao Di” (Zhang Ziyi) assiste à chegada à aldeia do novo professor primário, o citadino “Luo Changyu” (Zheng Hao). A rapariga enamora-se de imediato, e é correspondida. Acontece que “Changyu” tem problemas com o regime comunista, e é levado de volta à cidade para prestar esclarecimentos acerca dos seus ideais políticos. “Di” fica todos os dias a mirar a estrada de acesso à aldeia, enfrentando condições meteorológicas adversas, esperando que o seu amor retorne. Até que um dia o professor retorna, e finalmente sucede-se o feliz enlace.
De volta ao presente, “Yusheng” percebe a importância da estrada ou do “caminho para casa”, e opera-se um volte face nas suas ideias para as exéquias pai falecido. Igualmente questiona-se acerca do sentido da sua vida.
"O início de uma bela estória de amor"
"Review"
Baseado no romance “Remembrance”, de Shi Bao, autor que igualmente foi o responsável pelo argumento do filme que ora se analisa, “O Caminho Para Casa” constituiu a estreia na sétima arte de Zhang Ziyi. No mundo do trabalho, como em tudo na vida, é preciso ter sempre alguma dose de fortuna, e a aclamada actriz chinesa foi favorecida neste aspecto em grandes dosagens! Teve a oportunidade como debutante de ser dirigida pelo mais emblemático realizador da denominada “5ª geração”, Zhang Yimou, e de participar num filme que tem tanto de belo, que até dói! Mas lá chegaremos.
A película foi alvo de inúmeros e merecidos prémios em vários certames internacionais de cinema, destacando-se o “Urso de Prata” – prémio do grande júri, no Festival Internacional de Cinema de Berlim (foi igualmente nomeado para o “Urso de Ouro”, o galardão máximo do festival, mas não venceu), e o “Audience Award”, na categoria de “Cinema do Mundo”, distinção obtida no conhecido “Festival de Cinema de Sundance”. Foi igualmente o responsável por uma “birra” de Yimou, relacionada com o conhecidíssimo Festival de Cannes, e que passou pelo facto de na edição de 1999 do certame, ter sido decidido exibir o filme do realizador chinês “Nenhum a Menos”, sendo recusada a mostragem de “O Caminho Para Casa”. Yimou respondeu retirando ambos os filmes da competição!“O Caminho Para Casa” é um hino ao bom cinema! Esta é a primeira ideia a reter. Ao mesmo tempo possui uma estória simples, mas extremamente bem contada e significativa, que nos atinge em cheio no coração, enternece-nos e transporta o nosso ser para uma dimensão superior a nível de sensibilidade. Durante hora e meia abstraímo-nos de tudo e de todos, e a mais leve distracção que perturbe o embevecimento perante esta obra magnífica, parece uma heresia cósmica, merecedora de um apedrejamento na praça pública. Além do mais, “O Caminho Para Casa” possui outro factor inolvidável que é fazer com que mesmo aqueles que possuem um coração empedernido, possam acreditar no amor. Foi assim que me senti quando visualizei pela primeira vez “O Caminho Para Casa”, e esta sensação repete-se sempre que revejo esta longa-metragem. Poucos filmes têm o condão de provocar um efeito semelhante na minha pessoa, e este é sem dúvida um deles.
"O professor acompanha os alunos a casa"
Yimou prova, antes da trilogia de “wuxias” que o consagrou definitivamente a nível internacional, que é um realizador de uma divisão superior e de elite na constelação dos grandes nomes da sétima arte. A maneira como gere docemente factos que implicam uma grande tensão sentimental, é de arrepiar. Aqui não existem dramatismos forçados na exposição da estória, fluindo tudo natural e suavemente. O cenário é de sonho, a fotografia é soberba, a banda-sonora de extrema qualidade e fiel aos desígnios do filme. Que poderemos ansiar mais?
Como já cima foi referido, “O Caminho Para Casa” constituiu a película que deu a conhecer essa jovem, embora já flamejante estrela do cinema asiático, Zhang Ziyi. E à altura, não seria muito difícil de perceber que estaríamos perante um caso bastante sério no panorama cinematográfico oriental, como cerca de dois anos depois se viria a confirmar com a participação da actriz em “O Tigre e o Dragão”. Zhang Ziyi é fenomenal no papel de “Zhao Di”, ao ponto de fazer com que eu desejasse ser um professor na China rural do fim dos anos 50, e deixar a “treta” da papelada que costumo estar envolvido no meu emprego, e me "azucrina" o juízo! A força da sua interpretação e a pureza com que transmite os seus sentimentos, atropela-nos de sobremaneira, enternecendo-nos ao ponto máximo. Foram bastante raras as estreias de actores que denotassem esta qualidade, asseguro-vos.
Muitas vezes se afirma que as coisas simples são as mais belas da vida. “O Caminho Para Casa” é um filme simples, sem grandes pretensiosismos. Igualmente constitui uma das mais belas obras do cinema asiático que tive oportunidade (e neste caso a felicidade) de visionar. Se algum defeito de maior lhe pode ser assacado, é a sua curta duração (menos de hora e meia) e que assume maior relevância quando estamos deslumbrados com tamanha magnificência. No entanto, sempre se poderá dizer em abono da verdade, que nada fica por contar e que porventura o mérito da película será ainda maior por conseguir atingir o seu objectivo, quando outros filmes com o dobro do tempo falham redondamente as suas premissas. Muitas vezes navegando nas mesmas águas de “O Caminho Para Casa”. Isto faz lembrar quase aquela estória do "falam, falam e não dizem nada", ao invés daqueles que com poucas palavras transmitem de uma forma concisa e deveras explicativa a sua mensagem.
Um triunfo “simplesmente” imperdível!
"A última morada de um homem amado por todos"
Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link
Outras críticas em português: Marcelo Ikeda, Cinedie Asia, Veja On Line, Terra Cinema, Contracampo, Cine-Ásia
Avaliação:
Entretenimento - 7
Interpretação - 9
Argumento - 9
Banda-sonora - 10
Guarda-roupa e adereços - 8
Emotividade - 10
Mérito artístico - 9
Gosto pessoal do "M.A.M." - 9
Classificação final: 8,88
6 comentários:
Jorge,
Mais uma fantástica crítica de um fantástico filme de um fantástico realizador.
Um abraço,
Nuno
Caro Nuno,
ainda bem que o texto foi do teu agrado. O filme é sem duvida uma obra magnífica do cinema asiático e não só. Quanto ao realizador,todos nós sabemos (ou deviamos saber) que Yimou é de outra galáxia, ou seja, soberbo!
Grande abraço!
Esse filme é excelente, um dos meus favoritos da Ziyi e um dos primeiros q vi dela, e já me apaixonei, adoro ela, sua atuação é encantadora no filme numa bela história muito bem contada por Yimou! Nota 9.0!
Parabéns pela crítica excepcional!
Abs!
Também adorei o filme. "O Caminho Para Casa" é a prova viva que sem um grande orçamento e com uma simplicidade e sensibilidade enorme, podemos realizar grandes obras-primas da sétima arte.
Obrigado pelo elogio à crítica, e embora a nota seja 8,88 (uma nota elevadíssima para este blogue), repare que no item de "Gosto pessoal do M.A.M." ele teve um 9!
Abraço!
Esse negócio de notas é bem relativo, cada um tem seus critérios, o importante é sabermos apreciar belas obras da melhor forma. Abs e ótimo final de semana!
Sem dúvida Dewonny!
Um óptimo final de semana para si também!
Abraço!
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