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domingo, fevereiro 18, 2007

Battle of Wits/Muk gong (2006)

Origem: China/Hong Kong

Duração: 133 minutos

Realizador: Jacob Cheung

Com: Andy Lau, Ahn Sung-kee, Fan Bing Bing, Nicky Wu, Wang Zhiwen, Choi Si-won, Wu Ma, Chin Siu Ho, Hung Tin Chu

"Ge Li, o herói pacifista"

Estória

Em 370 A. C., durante o período da história da China conhecido como o dos "Estados Guerreiros" (Warring States Period - Zhanguo Shidai 战国时代) , a pequena cidade de Liang sofre a ameaça iminente de uma invasão por parte do muito mais poderoso reino de Zhao. Liang possui apenas umas centenas de soldados, enquanto Zhao detém um exército com milhares de efectivos, comandado pelo lendário general "Xiang Yanzhang" (Ahn Sung Kee).

Liang pede ajuda à tribo dos Mozis, os seguidores de uma filosofia denominada moísmo, que prega o amor universal e a rectidão moral, e despreza actos agressivos e a luxúria. Embora os mozis sejam por natureza pacifistas, são igualmente conhecidos por serem excelentes estrategas militares no que concerne à defesa de fortalezas cercadas.

Ao contrário do que o reino de Liang esperava, os Mozis enviam apenas um único homem chamado "Ge Li" (Andy Lau). Desesperados, ponderam render-se às forças invasoras, mas "Ge Li", através da persuasão, consegue convencer os habitantes de Liang a resistirem.


"O General Xiang Yanzhang, líder máximo do exército de Zhao"

"Ge Li" é nomeado o supremo comandante das forças de Liang, e começa de imediato a preparar a defesa da pequena cidade. De início "Ge Li" enfrenta a suspeição do príncipe "Liang Shi" (Choi Si-won) e do ministro "Si Tu" (Wu Ma), atendendo a que ambos são obrigados a obedecer a "Ge Li" no que concerne a todos os aspectos militares, mas eventualmente "Ge Li" acaba por conquistar a confiança do herdeiro da casa real.

Desde o início, "Ge Li" arranja dois preciosos aliados que acreditam nas suas intenções, e o ajudam de sobremaneira na sua tarefa hercúlea. São eles o comandante dos arqueiros "Zi Yuan" (Nicky Wu) e a chefe da unidade de cavalaria Yi Yue (Fan Bing Bing). Esta última começa mesmo a nutrir sentimentos por "Ge Li".

Começada a batalha, "Ge Li", devido à sua cuidada estratégia, consegue levar de vencida as tropas de Zhao e torna-se num herói para o povo de Liang.

O problema é que o sucesso do guerreiro começa a atrair a inveja e o ciúme do rei, que põe os seus próprios interesses à frente dos súbditos...

"Yi Yue, a chefe da cavalaria de Liang e apaixonada por Ge Li"

"Review"

O período dos "Estados Guerreiros" serviu de inspiração a vários filmes e séries chinesas, dando o enfoque sobretudo ao reino de Qin e ao primeiro imperador chamado Qin Shi Huang . Muitos exemplos poderiam ser aventados, mas à primeira vista lembro-me logo de "Herói" (é mais forte do que eu, desculpem!) e a importante, embora algo incompreendida, obra de Kaige Chen intitulada "O Imperador e o Assassino". O que estas películas tinham em comum a nível argumentativo, era o facto de os reinos vencidos por Qin, nomeadamente o de Zhao (porventura o mais poderoso a seguir ao de Qin), contratarem guerreiros para assassinar o primeiro imperador, tendo em vista salvaguardarem a sua soberania e independência.

Desde logo o que chama a atenção em "Battle of Wits", baseado surpreendentemente numa manga japonesa chamada "Bokko" de Hideki Mori, é que o papel do reino de Qin é secundário, e serve apenas para ilustrar e explicar o período da história em que se desenrola o filme. Servirá igualmente para explicar o abandono de parte das tropas de Zhao que fazem o cerco a Liang, em ordem a retornarem ao seu reino, para defende-lo da avalanche das tropas Qin. Em "Battle of Wits" compreendemos que o período dos "Estados Guerreiros" não se resumia a 6 reinos reinos a lutarem contra "Qin", pois eles próprios digladiavam-se frequentemente e tentavam obter a supremacia uns sobre os outros.

Já houve quem afirmasse que quando visionamos "Battle of Wits", ficamos com a sensação que estamos a ver dois filmes. Eu pessoalmente discordo desta ideia. Acho, isso sim, que estamos a mirar um filme com três (não duas!) partes muito próprias, e correctamente interligadas entre si.

A primeira poderá ser reconduzida ao período em que "Ge Li" chega a Liang como o "salvador da pátria", influencia os seus habitantes a resistirem a um inimigo muito mais poderoso, enfrenta o exército de Zhao, e acaba por conseguir que o mesmo se retire. Trata-se de um período da longa-metragem que entusiasma bastante pela sua acção, com grandiosas e realísticas (tirando um exagero de CGI ou outro) cenas de batalha feitas com muitos figurantes.

Na segunda parte, após a presumida retirada das tropas de Zhao, podemos assistir às intrigas palacianas para descredibilizar "Ge Li", motivadas como já foi aludido, pela inveja e ciúme do rei que se vê substituído no papel de herói e figura mais respeitada pelo povo. O resultado acaba por ser a fuga de "Ge Li", ajudado pelo outrora rival, o príncipe "Liang Shi". Este segmento do filme é fortemente impregnado pelo debate cultural e ideológico do Moísmo, professado por "Ge Li" e suporte de todo o seu comportamento ao longo da estória.

A terceira e última parte refere-se ao resultado nefasto das acções do rei de "Liang", que quase acaba por perder o seu reino, não fosse o voluntarismo e a honra de "Ge Li", que retorna e aparece mais uma vez para "salvar o dia". Acaba por se revelar uma competente união das duas anteriores partes do filme, demonstrando ser um misto de acção e filosofia muito bem engendrado.

"Ge Li conjuntamente com o povo de Liang prepara a defesa do reino"

Outro dos aspectos profundamente interessantes de "Battle of Wits" é o acérrimo debate ideológico que ronda à volta dos defensores de "Liang", em que igualmente acaba por intervir o general Xiang Yanzhang, o líder das forças de Zhao.

"Ge Li" tenta sempre incutir aos homens que tem sob o seu comando, a admissibilidade em matar apenas para defender, tentando pôr de parte a raiva e a violência gratuita. Não amiúde defronta-se com atitudes por parte dos defensores de Liang, que contrariam tudo aquilo em que acredita, tais como o massacre de um contingente de tropas de Zhao, que já tinha deposto as armas e rendido.

É isto que "Ge Li" pretende ser. Um guerreiro que odeia a guerra, e que apenas a trava para proteger os oprimidos e os mais fracos. Ele defende, nunca ataca!

Focando-me resumidamente nos aspectos mais palpáveis desta longa-metragem, sempre tenho a dizer que a banda-sonora do filme é de um nível bastante acima da média, com melodias de um pendor épico, que acompanham fielmente a natureza do filme.

As interpretações dos actores são apreciáveis, destacando-se, como não podia deixar de ser, Andy Lau, que está vivo e se aconselha vivamente. É incontestavelmente um dos grandes ícones de Hong Kong, sendo bem secundado pelo grande intérprete sul-coreano Ahn Sung-kee.

Sendo um épico, em todo o esplendor da natureza, transmite uma mensagem pacifista de assinalar e que é bem sintetizada no epílogo martirizante da película:

"Ge Li saiu de Liang acompanhado de um séquito de órfãos, e passou o resto da sua vida a espalhar uma mensagem de paz por todos os cantos da China..."

Merece ser visto e interiorizado!

"Confronto entre as forças de Liang e de Zhao"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,13







5 comentários:

Anónimo disse...

Ótima resenha, Jorge. Até me incentivou a visioná-lo no cinema, algo que, por algum motivo, achei que não valesse a pena. Vou ver se ainda está em cartaz aqui em Nagano.

Um abraço

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Eu gostei bastante do filme Takeo. Desde já posso tranquilizá-lo e dizer que o filme é um épico, mas sem "wire-fu", ou seja, os combatentes não voam por tudo o que é sítio. O combate é muito "terra-a-terra".
Espero que goste e não venha cobrar o dinheiro do bilhete de cinema caso o filme não seja do seu agrado, eh, eh, eh!

Um abraço

Ricardo disse...

Jorge,

Apesar de adorar cinema, como bem sabes, o cinema oriental não é a minha especialidade, Zhang Ziyi à parte. Mas já despertaste a minha curiosidade.

Achei curioso como levas a sério esta tarefa, não só pela longa descrição do filme mas principalmente pelas categorias que o avalias.

Quanto a discutir política no "calor" dum jantar bem regado não me parece uma boa ideia. Falemos antes de filmes, é mais pacífico...

Abraço e parabéns pelo blogue,

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Eh Eh Eh! Combinado! É sempre um prazer discutir cinema contigo Ricardo, atendendo a que sabes mesmo do que estás a falar! Abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Ah, e obrigado pelo elogio ao blog, que retribuo sinceramente ao filho do 25 de Abril!