"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

quinta-feira, abril 26, 2007

Kagemusha, a Sombra do Guerreiro Aka O Sósia/Kagemusha, the Shadow Warrior/ Kagemusha - 影武者 (1980)

Origem: Japão

Duração: 152 minutos

Realizador: Akira Kurosawa

Com: Tatsuya Nakadai, Tsutomu Yamazaki, Kenichi Hagiwara, Jinpachi Nezu, Hideji Otaki, Daisuke Ryu, Masayuki Yui, Kaori Momoi, Mitsuko Baisho, Hideo Murota, Takayuki Shiho, Koji Shimizu, Noburo Shimizu, Sen Yamamoto, Shuhei Sugimori

"Lorde Shingen, o irmão e o sósia"

Estória

No último quartel do século XVI, a família mais poderosa do Japão é o clã Takeda, liderado pelo carismático e poderoso “Takeda Shingen”. “Kagemusha” é um pobre ladrão, que é apanhado a roubar umas moedas, e em consequência do seu acto, condenado à morte através de crucificação. A sua sorte muda quando “Nobukado”, o irmão de “Takeda Shingen” se apercebe da grande parecença que o delinquente tem com o chefe do clã Takeda e, em virtude disto, apresenta-o ao mesmo. “Shingen” acha que “Kagemusha” poderá ser-lhe útil como sósia em certas ocasiões, decidindo perdoar-lhe o crime e mantê-lo por perto.

Durante um cerco ao castelo do senhor rival “Tokugawa Ieyasu”, líder do clã Tokugawa, “Shingen” é ferido com grande gravidade e morre pouco tempo depois. O seu desejo final foi que a morte se mantivesse secreta durante 3 anos, em ordem a que a sua presença mantivesse os inimigos em respeito. Por lealdade ao seu senhor, o irmão “Nobukado”, conjuntamente com os principais generais e conselheiros do clã, armam um plano que passa por “Kagemusha” substituir o falecido “Shingen”.

A “performance” de “Kagemusha” é bastante convincente, conseguindo enganar tudo e todos, inclusive o neto e as concubinas, para além dos espiões dos Tokugawa e do seu aliado “Oda Nobunaga”, que andavam desconfiados que “Shingen” tinha falecido.

"O Exército do clã Takeda marcha sobre uma paisagem magnífica"

Depois de liderar com sucesso o clã Takeda na batalha de Takatenjin, “Kagemusha” ganha um excesso de confiança, e tenta montar o cavalo de “Shingen”, que apenas permitia ser conduzido pelo seu verdadeiro dono. Tendo falhado neste propósito, o embuste é descoberto e “Kagemusha” expulso do seio do clã, tendo a chefia deste sido assumida pelo filho de “Shingen”, chamado “Katsuyori”.

“Katsuyori” que sempre tinha vivido na sombra do pai, tenta ficar envolto em glória, liderando o poderoso exército dos Takeda contra “Oda Nobunaga”, que controla a capital Quioto, resultando daqui a batalha de Nagashino. “Kagemusha”, meio enlouquecido, assiste e teima fazer parte no combate que decidirá o destino dos Takeda.

"O exército do clã Takeda resplandece debaixo do pôr-do-sol"

"Review"

À partida quando estamos perante um filme da autoria de Akira Kurosawa, e ainda para mais sendo o mesmo um épico “Chambara”, daqueles a que o conceituado mestre japonês tanto nos habituou, só poderemos esperar uma película envolta numa magnificência total e sem praticamente defeito de relevo que se aponte.

Os eventos passados em “Kagemusha” (que literalmente significa guerreiro-sombra), embora de certa forma romanceados e ficcionados, contêm um certo fundamento histórico, pois o senhor “Takeda Shingen” é baseado na figura real de Daimyo Takeda Shingen, um poderoso senhor feudal que tentou obter a supremacia total no reino nipónico. A batalha de Nagashino, igualmente aconteceu, tratando-se de um confronto ocorrido em 1575, embora não com as consequências representadas na película.

Na análise da equipa que trouxe “Kagemusha” à luz do dia e ao branco das telas, chama à atenção o facto de constarem nos créditos da versão internacional do filme, como produtores, outros dois nomes consagradíssimos da sétima arte: Francis Ford Coppola e George Lucas. Tal se deve ao facto de o orçamento para a rodagem de “Kagemusha”, ter sido excedido, e por esse mesmo motivo, os estúdios “Toho” ficaram com falta de capacidade financeira para a conclusão do filme. Coppola e Lucas, sendo admiradores confessos do trabalho de Akira Kurosawa, convenceram a “20th. Century Fox” a subsidiar o remanescente do filme, tendo obtido em troca os direitos para a distribuição internacional da película.

“Kagemusha” é olhado por alguns como uma preparação para outro épico samurai que Kurosawa viria a realizar 5 anos depois, intitulado “Ran – Os Senhores da Guerra”. Não cabe aqui tomar posição sobre este aspecto, embora se adiante que ambos os filmes têm alguns pontos de contacto, sendo no entanto películas diferentes. Apenas posso adiantar que a minha preferência vai para “Ran”, mas não me choca absolutamente nada que outros prefiram “Kagemusha”. Ambos são obras que merecem todoo respeito e consideração.

Quando visionamos “Kagemusha”, e conhecendo um pouco da biografia de Kurosawa, apercebemo-nos logo que o realizador japonês com certeza teve uma vida muito ligada à escrita e à pintura, tal é o intrincado, mas brilhante enredo presente, assim como os momentos verdadeiramente de sonho no que toca à fotografia.

"O significativo sonho de Kagemusha"

O ladrão sósia de “Shingen” (grande interpretação de Tatsuya Nakadai) recolhe quase de imediato a nossa simpatia, quando deparamo-nos com a dificuldade e estranheza que o mesmo sente em personificar um homem com quem não tem nada em comum, a não ser a aparência. Um é o senhor mais poderoso do Japão, rivalizando com o próprio imperador; o outro, um pobre ladrão. “Shingen” possui uma personalidade forte e destemida, própria de um nobre que sabe o que vale, de onde vem e para onde vai; “Kagemusha” (chamemo-lo assim, porque na realidade nunca sabemos o verdadeiro nome da personagem ao longo do filme), é quase um animal assustado, que não faz a mínima ideia de como um membro da nobreza se deve comportar. O chefe guerreiro é uma “pedra inamovível” (expressão que faz parte do estandarte dos Takeda); o outro, uma pedra rolante (nada de confusões com a expressão “Rolling Stone”, nem os significados comummente decorrentes).

Falar de Kurosawa, significa falar de pormenores. Em “Kagemusha” eles estão lá todos. Pense-se no orgulhoso exército Takeda a marchar numa praia, com um mar revolto e ao mesmo tempo um brilhante arco-iris que pontifica no céu. Reflicta-se acerca do mesmo corpo guerreiro, orgulhosamente espraiando-se numa planície, com o pôr-do-sol a emanar a luz que verdadeiramente pinta as armaduras dos samurais com um brilho esplendoroso. Interiorize-se a chocante imagem do cavalo moribundo, no remanescente da batalha de Nagashino. Mas acima de tudo, deleitemo-nos vezes sem conta, com a carga solitária de “Kagemusha”, contra o exército de Nobunaga, elevando a honra de um clã que nunca foi seu, e a sua última viagem feita no rio, talvez para um lugar melhor, passando lentamente ao pé do estandarte caído dos Takeda.

Se críticas negativas há a fazer a “Kagemusha”, será talvez o facto de não possuir o “pace” de “Sete Samurais” ou “Ran - os Senhores da Guerra”, mas tal só vem ao de cima por estarmos a falar de Kurosawa, um verdadeiro génio da sétima arte, fazendo com que na relação das suas obras umas com as outras, se possa tomar partidos. Quando se trata da comparação dos seus filmes, com os de outros autores, inevitavelmente o realizador nipónico levará na maior parte das vezes vantagem.

Vencedor da Palma de Ouro do festival de Cannes – edição de 1980, "ex-aequo" com "All That Jazz", é uma obra obrigatória para qualquer cinéfilo que se preze.

"O delírio final"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Tempore, Cinedrio, Paixões e Desejos

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 9

Argumento - 9

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 9

Emotividade - 8

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,38





Sem comentários: