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segunda-feira, setembro 10, 2007

Millennium Actress - A Chave da Vida/Millennium Actress/Sennem joyû - 千年女優 (2001)
Origem: Japão
Duração: 83 minutos
Realizador: Satoshi Kon
Vozes das personagens principais - versão japonesa: Miyoko Shôji (Chiyoko Fujiwara com 70 anos), Mami Koyama (Chiyoko Fujiwara dos 20 aos 40 anos), Fumiko Orikasa (Chiyoko Fujiwara dos 10 aos 20 anos), Shôzô Îzuka (Genya Tachibana), Shouko Tsuda (Eiko Shimao), Hirotaka Suzuoki (Junichi Otaki), Hisako Kyôda (mãe de Chiyoko Fujiwara), Kan Tokumaru (presidente dos estúdios Ginei), Tomie Kataoka (Mino), Masaya Onosaka (Kyoji Ida), Masane Tsukayama (o homem com a cicatriz), Kôichi Yamadera (o homem da chaves/o amor de Chiyoko Fujiwara)
"Os papéis cinematográficos de Chiyoko Fujiwara ao longo dos anos"

Estória

Na sequência da demolição das instalações do histórico estúdio “Ginei”, “Genya Tachibana”, um produtor de televisão, é contratado para fazer um documentário acerca da sua actriz preferida de sempre, “Chiyoko Fujiwara”. A mulher retirou-se há muitos anos para uma casa num monte, levando desta forma uma vida isolada. “Tachibana” solicita uma entrevista com “Chiyoko”, agora com 70 anos, sendo-lhe a mesma concedida. Em decorrência disto, dirige-se para o refúgio da actriz, acompanhado do seu “cameraman”.

Aquando do início da entrevista, a sala da casa de “Chiyoko” transforma-se num turbilhão de memórias. Começamos por observar o encontro de uma “Chiyoko” adolescente, com um jovem artista revolucionário que é perseguido pelas autoridades. A rapariga esconde-o dos seus perseguidores, e acaba por se apaixonar por ele. O rapaz acaba por fugir para a Manchúria, onde os japoneses combatem, e “Chiyoko” promete que tudo fará para ir ter com ele. Pouco tempo depois, o presidente dos estúdios “Ginei” repara em “Chiyoko” e oferece-lhe um papel num filme de propaganda de guerra, a ser rodado na Manchúria. A rapariga aceita, vendo aqui uma oportunidade para cumprir a sua promessa. No entanto, o encontro com o seu prometido não se chega a realizar.

"Genya Tachibana e o seu cameraman"

A partir daqui deparamo-nos com a cruzada de “Chiyoko”, de filme em filme, sempre com o objectivo que se reconduz a encontrar o seu amor, e a devolver-lhe uma chaves que o mesmo entregou por altura do encontro do casal.

"Chiyoko como gueixa"

"Review"

Qualquer amante de cinema gosta de um filme que relate, de uma forma directa ou indirecta, uma história que verse sobre a sétima arte em si considerada. Qualquer fã de um bom drama, adora uma película que puxe o sentimento até fronteiras quase inalcançáveis. Qualquer apreciador de “anime”, anseia por um produto de elevada qualidade e que premeie a originalidade, atendendo por vezes à profusão de produtos de duvidoso mérito que por aí deambulam.

“Millennium Actress” é um filme que sagazmente, embora não de uma forma frontal, foca a evolução do cinema japonês numa idade considerada de ouro, entre a década de ’40 e ’70, no tempo dos grandes clássicos de Ozu, Mizoguchi e Kurosawa. “Millennium Actress” é um drama belíssimo, mágico, que nos transporta para uma dimensão superior e nos enternece até à exaustão. “Millennium Actress” é um “anime” superior em muitos aspectos, constituindo um dos mais ilustres representantes do segmento onde se insere. “Millennium Actress” é uma MAGNÍFICA longa-metragem de animação!

Satoshi Kon, o realizador, tem de ser encarado, sem margem para dúvida, como um caso bastante sério no domínio da animação proveniente do reino do sol nascente. Já tinha chamado à atenção com “Perfect Blue”, posteriormente realizou a obra-prima que aqui se discorre um pouco, e mais recentemente atingiu verdadeiramente os mercados globais com o aclamado “Paprika”. Constitui uma certeza, e no futuro, com mais dois ou 3 filmes do nível dos que já nos mostrou, poderá partilhar com Miyazaki um trono no qual este último tem estado sentado solitariamente. Não tenho dúvidas nenhumas disso!

O impacto emocional de “Millennium Actress” é tremendo, e está ao nível do que de melhor se fez até hoje na cinematografia mundial, quer se trate de um filme de animação ou não. É impossível não sermos contagiados pela ternura de Chiyoko na busca do seu amor, e no périplo que faz pelo cinema da sua terra-natal, tornando-se inclusive num dos seus nomes mais sonantes. O próprio “comic relief” proporcionado por “Tachibana”, um verdadeiro “otaku” no que toca a “Chiyoko”, desperta-nos as mais belas sensações elevadas pelo seu amor platónico, sentimento que perdura há mais de 30 anos.

"Desde muito jovem, Chiyoko persegue o seu amor"

Constitui igualmente um interesse notável, o acompanhar da carreira como actriz da protagonista, e a interacção que se promove entre as películas que protagoniza e a busca do seu amor, o rapaz activista e pintor de telas. A referência aos filmes é abundante, a que não será alheio o facto de muitos defenderem que a famosa actriz japonesa Setsuko Hara, serviu de inspiração à personagem de “Chiyoko Fujiwara”. Satoshi Kon chegou a admitir a influência da actriz japonesa na construção da personagem principal de “Millenium Actress”. Quanto às películas propriamente ditas, das quais podemos encontrar reminiscências em “Millenium Actress”, salta logo à vista “Trono de Sangue” de Kurosawa (pense-se no espectro que prevê a maldição da eterna busca do amor por parte de “Chiyoko). No entanto, podemos identificar influências dos melodramas familiares japoneses que tiveram alguma profusão nos anos 50, indo até a algumas cenas que relacionamos com um dos monstros mais conhecidos da história, ou seja, “Godzilla” (“Gojira”). Algo mais se poderia apontar, mas tal seria fastidioso e eventualmente retiraria um pouco da magia ao visionamento daqueles que ainda não tiveram o privilégio de ver esta obra.

A designação do filme, “Millennium Actress”, parecendo óbvia à primeira vista, no que toca a uma vida longa à procura de algo maior, tem um pouco mais que se lhe diga. Numa observação mais atenta, (e que neste aspecto confesso que não tive, tendo me apercebido do que estava em causa após a leitura de um pequeno ensaio acerca desta longa-metragem e confirmado com um segundo visionamento do filme) vê-se por várias vezes imagens da ave conhecida como grou ao longo da película. Pelos vistos, o grou é um dos símbolos nacionais do Japão e nas fábulas do reino nipónico, frequentemente é-lhe atribuída uma longevidade de 1000 anos (daqui provavelmente justificar-se-á o termo “Millennium”). Igualmente o grou constitui um símbolo de fidelidade, porquanto só tem um parceiro durante toda a sua vida, sendo frequentemente referenciado como um ícone da paz no período pós-guerra do conflito que quase levou à ruína do país.

A animação não é nada de outro mundo, sendo inclusive considerada algo normal quando comparado com outras obras, principalmente as provenientes do estúdio Ghibli. No entanto o seu teor, para alguns minimalista, serve na perfeição os propósitos da película, porquanto temos de ter presente que estamos perante um “anime” porventura virado para um público adolescente e adulto, do que propriamente infantil. A sua densidade narrativa assim o justifica e é por este meio ainda mais acentuada e amada.

No final, “Chiyoko” conclui, à semelhança do que alguns de nós já tínhamos nos apercebido ao longo do filme, que se calhar amava mais a ideia de procurar o seu amor, do que propriamente o homem em si. Quantos de nós já não sentimos o mesmo em relação à alma considerada gémea, e não nos questionamos por exemplo se amávamos determinada pessoa, ou na realidade ansiávamos as sensações que a mesma nos oferecia. Quantos de nós já não olhamos para o céu, fechámos os olhos e perguntamo-nos se almejávamos a tal pessoa ou o ideal que ela transmitia, ou até mesmo a razão que ela constituía e que nos fazia ter algum objectivo na vida?

“Millennium Actress” é daqueles filmes que nos fazem sonhar e sentirmo-nos afortunados por gostar de cinema! Só tenho pena e uma infindável mágoa em não conseguir exprimir em palavras, o que todo o meu coração sentiu ao visionar esta obra-prima do cinema mundial.

Entusiasmante, mas acima de tudo brilhante!!!

"Chiyoko contempla a recordação que o jovem pintor revolucionário lhe deixou"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cinedie Asia, AnimeHaus

Avaliação:

Entretenimento - 9

Animação - 8

Argumento - 10

Banda-sonora - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 9

Classificação final: 8,85







8 comentários:

Anónimo disse...

Caro Jorge,

Já vi "A chave da vida " há algum tempo e é de facto um belo filme (ontem vi o "Paprika" e, apesar de ter gostado, não se compara a este). No entanto continuo a ter como grande ídolo Hayao Miyazaki. Sei que já viste a Princesa Mononoke (que está no teu top 20) e estou seguro que também já viste a "Viagem de Chihiro" e o "Castelo Andante" (eu ainda vi a série Conan) e achei estes 3 filmes de Miyazaki simplesmente fantásticos... imbatíveis na minha opinião....
Uma vez mais apresentas uma fantástica análise /review de um filme... simplesmente espectacular...como todos. Parabéns. Estou seguro que com estas "reviews" consiguirás com que mais gente começe a gostar de ...Asian Movies.
Um abraço,
Nuno

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Caro Nuno,

De facto é muito complicado comparar "animes" de tão elevada qualidade como "A Chave da Vida" e as obras-primas de Miyazaki como aquelas que mencionaste.

Gosto de todos os filmes de Miyazaki, sem excepção, embora a minha preferência pessoal vá para "Princesa Mononoke". No entanto, há já algum tempo que estava para escrever um texto acerca da "Chave da Vida", por considerar este filme um dos melhores que já vi.

É complicado tomar partidos, quando estamos perante películas desta qualidade!

Mais uma vez só tenho a agradecer as amáveis palavras com que me brindaste e ao meu blogue. Espero que de facto este pequeno espaço consiga um dos seus objectivos, que é atrair mais gente para o maravilhoso e variado mundo do cinema asiático!

Grande abraço!

C. disse...

Adoro! Já viste o 'Paprika'?

Mas a minha preferência também recai no mestre Miyazaki, apesar de estarmos aqui no campo do muito bom/excelente! ;)

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Wasted Blues!

Infelizmente ainda não vi o "Paprika", embora o tenha algures numa prateleira aqui em casa. Mas são tantos os filmes para ver e rever, e o tempo por vezes é pouco...há dias que deveriam ter no mínimo 30 horas, eh, eh, eh!

Como obra considerada no seu todo, Miyazaki tem de forçosamente ser considerado o melhor realizador de anime. No entanto, este "A chave da vida" tem qualquer coisa que o distingue dos demais filmes do seu género...

Cumps. cinéfilos!

Dewonny disse...

Adoro animações japonesas, não conhecia essa, mas já achei, e estou baixando, só não achei a legenda, gostei muito do seu comentário e fiquei bem interessado.

Gosto muito das animações de Miyazaki: "O Castelo Animado", "A Princesa Mononoke" e "Meu Vizinho Totoro" e "Porco Rosso", viu todas essas? Recomendo!
Abs!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Já vi todas essas obras, e sem excepção, constituem todos grandes filmes!

Eu gostei bastante de "Millennium Actress" pois tem uma carga sentimental e uma mensagem extremamente profunda! É simplesmente delicioso!

Ah! E quem ama cinema, obrigatoriamente tem de gostar desta obra, pois ela gira muito em torno da história da sétima arte no Japão!

Abraço!

Battosai disse...

Creo que esta es la película en la que menos de acuerdo estamos hasta la fecha. Acabo de verla y no me ha gustado nada de nada :(

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá, Battosai!

Não podemos estar sempre de acordo :) ! Para mim, é um dos melhores animes que já vi.

Adorei!