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domingo, julho 18, 2010

Dolls/Dôruzu – ドールズ (2002)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 114 minutos

Realizador: Takeshi Kitano

Com: Hidetoshi Nishijima, Miho Kanno, Tatsuya Mihashi, Chieko Matsubara, Kyoko Fukada, Tsutomu Takeshige, Kayoko Kishimoto, Kanji Tsuda, Yuko Daike, Ren Osugi

Bonecos

O teatro de marionetas Bunraku”

Sinopse

“Matsumoto” (Hidetoshi Nakajima), um jovem executivo, vê-se obrigado a casar com a filha do patrão, devido à pressão dos pais. Acontece que “Matsumoto” estava noivo da sensível “Sawako” (Miho Kanno), que fica destroçada com a opção do seu amor. No dia do casamento, chega ao conhecimento de “Matsumoto” que “Sawako” tentou suicidar-se, e em virtude disto, ficou com debilidades mentais e foi internada num sanatório. “Matsumoto” abandona a noiva no altar, resgata “Sawako” do estabelecimento de saúde, e inicia uma viagem com a rapariga onde o amor sobrevive a par com o sofrimento.

Haruna mira o mar

“Haruna Yamaguchi contempla o mar”

Paralelamente, o velho líder yakuza “Hiro” (Tatsuya Mihashi), descobre que o seu amor de juventude “Ryoko” (Chieko Matsubara), ainda se mantém fiel ao seu sentimento, e aparece todos os dias com o almoço feito para lhe entregar, sentando-se num banco de jardim a aguarda-lo. Sem se identificar, “Hiro” trava novamente conhecimento com “Ryoko”, mas o implacável submundo parece não querer deixar vingar o sentimento que une os dois. Por fim, “Nukui” (Tsutomu Takeshige), o fã fanático da famosa cantora “Haruna Yamaguchi” (Kyoko Fukada), toma medidas desesperadas quando descobre que aquela fica com a cara desfigurada, devido a um acidente de automóvel. Tudo em nome de ter uma possibilidade de falar com a sua razão de viver.

Por-do-sol

“Deambulando sob o por-do-sol”

Review”

Realizado em 2002, “Dolls” quando foi exibido no festival de Cinema de Veneza provocou sentimentos contraditórios. Enquanto uns defendiam que estávamos perante uma obra-prima de Kitano, outros insurgiam-se e afirmavam que estávamos perante um filme banal, que aproveitava meia dúzia de características da cinematografia asiática para se fazer notar. O certame em Veneza deu razão a esta segunda corrente, e “Dolls” partiu do evento sem ter vencido qualquer prémio ou distinção. “Dolls” é dos filmes de Kitano que está englobado nas obras do realizador/actor, onde o mundo do crime não assume preponderância, embora tal ainda seja aflorado na subtrama relacionada com “Hiro”, o chefe yakuza. Cabe ainda referir que ao contrário de muitas longas-metragens por si realizadas, Kitano aqui não actua, ficando-se pela direcção do filme.

O amor deverá muito provavelmente ser uma das temáticas mais abordadas na sétima arte, infelizmente muitas vezes com afloramentos muito simplistas, cuja única visão é a comercial e nada mais. Mas o amor, como o sentimento mais nobre que existe, serve de inspiração para algumas das maiores obras de cinema alguma vez criadas. Ninguém de bom senso, poderá contrariar esta afirmação. Como sentimento rico, profícuo e diversificado, é susceptível de diversas aproximações. Umas mais optimistas, outras verdadeiramente cor-de-rosa, algumas por vezes trágicas e a destilar sofrimento. “Dolls” é um filme que versa sobre o amor, mas não o expõe de uma forma convencional ou dita mais politicamente correcta. Aqui, o eterno sentimento é subsumido a uma perspectiva de sacrifício e arrependimento, mas sempre com uma devoção sem fronteiras.

Assentando a sua narrativa no teatro de marionetas “bunraku”, a trama assume por vezes uma faceta surreal mas bem estruturada, onde flutuamos num sonho. Esta forma de exposição, assenta muito bem na natureza contemplativa e até filosófica da película, revelando inteligência e uma saudável frescura. “Dolls” é um exercício trágico, em que o sentimento de tristeza por vezes assume proporções quase apocalípticas, onde as fraquezas sentimentais das personagens vão emergindo, momento atrás de momento, esbofeteando as nossas convicções. Efectivamente, esta longa-metragem não oferece respostas fáceis às questões que vão surgindo à medida que desfrutamos do visionamento. Contudo, não se poderá encarar esta premissa como uma fraqueza do filme, mas sim como um dos seus pontos fortes. Desprezando o mais convencional ou óbvio, ou qualquer moralismo mais barato, “Dolls” dá uma margem estimulante ao espectador, para que este possa fazer as suas próprias reflexões e uma salutar liberdade de interpretação.

Sawako

“Sawako”

“Dolls” possui igualmente uma fotografia fabulosa, que nos irá maravilhar a visão e estimular o nosso gosto pela beleza. O trabalho neste particular, a cargo de Katsumi Yanagishima, um “habitué” da equipa de Kitano, é comparável aos feitos do mago Christopher Doyle, o que será o melhor elogio que aqui se poderá fazer. Tudo maravilha os olhos, em especial as paisagens mais rurais e campestres japonesas, onde as cores são meticulosamente trabalhadas, tanto para impressionar como para enternecer. Este desfile brutal de imagens e tons, acentua ainda mais o pendor trágico da película, culminado numa conjugação eficiente de elementos que nos tocam bem lá no fundo. Há quem lhe chame “poesia visual”. A designação afigura-se perfeita.

Com interpretações soberbas dos intervenientes, destacando-se o casal Hidetoshi Nishijima e Miho Kanno, uma beleza de imagem a toda a prova, uma banda-sonora que cumpre e momentos por vezes crus, mas sempre muito significativos, “Dolls” é uma película que revela o que de melhor o cinema nipónico é capaz na exploração do amor e do sofrimento associado a este. Com uma aura extremamente desafiante, retirei para mim que talvez sejamos marionetas dos nossos sentimentos, no sentido de serem eles a nos dominar e não o contrário. E mesmo que esta ideia seja algo óbvia, principalmente para os que ouvem mais o coração do que a razão, todos nós sabemos muito bem que nem sempre é assim. Expondo a minha estranheza e discordância acerca de muitas das críticas negativas que foram efectuadas a “Dolls”, cabe-me concluir no sentido de estarmos perante um filme de uma grandeza maior, que se aconselha definitivamente o visionamento. Os leitores que por aqui passam, saberão certamente fazer a sua escolha.

Sawako e Matsumoto 3

“Sawako e Matsumoto”

imdb 7.7 em 10 (7.210 votos) em 18 de Julho de 2010

Outras críticas em português/espanhol:

  1. Batto presenta…
  2. Cinedie Asia
  3. Flickr Maria Eugénia
  4. Arquitetura do Nada
  5. Quarto 2046
  6. Sete Ventos
  7. Cine-Asia
  8. Cinema 2000

Avaliação:

Entretenimento – 7

Interpretação – 9

Argumento – 9

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 9

Mérito artístico – 10

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8

Classificação final: 8,50

3 comentários:

Battosai disse...

Hacía mucho tiempo que esperaba que comentaras esta película. Ya sabes que me encanta y es de mis favoritas.

Me ha gustado mucho el post y estoy de acuerdo con todo lo que dices. Eso sí, yo mencionaría también la banda sonora de Joe Hisaishi, que me parece magnífica. Uno de sus mejores trabajos, en mi opinión.

Pásalo bien ^^

bárbara disse...

Subscrevo tudo o que o Battosai disse.
Dolls é um filme maravilhoso.

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Battosai: Fico contente que tenhas gostado do texto. Apesar de eu ser um fã de Joe Hisaishi, e ter achado a banda-sonora num nível muito aceitável, acho que ele tem trabalhos melhores. Mas daí é só uma opinião.
Grande abraço!

barbie-o: O filme é lindíssimo. Era daqueles que faltavam por aqui, sem dúvida!
Bjs.!