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sábado, janeiro 10, 2009

As Lágrimas do Tigre Negro/Tears of the Black Tiger/Fah talai jone - ฟ้าทะลายโจร (2000)

Origem: Tailândia

Duração: 97 minutos

Realizador: Wisit Sasanatieng

Com: Chartchai Ngamsan, Suwinit Panjamawat, Stella Malucchi, Supakorn Kitsuwon, Arawat Ruangvuth, Sombat Metanee, Pairoj Jaisingha, Naiyana Sheewanun, Kanchit Kwanpracha, Chamloen Sridang

"Dum, o Tigre Negro"

Sinopse

“Rumpoey” (Stella Malucchi) e “Dum” (Charchai Ngamsan) são dois jovens de origens totalmente opostas. A primeira provém de uma família abastada, tendo um pai bastante influente e poderoso. O segundo, é de origens humildes, sendo filho de um agricultor. A evacuação de Banguecoque, durante a II Guerra Mundial, faz com que os mesmos se encontrem no meio rural e tornem-se muito próximos. A paixão inevitavelmente acontece, mas desde o início parece votada ao malogro, atendendo às grandes diferenças sociais e económicas que separam o casal. Terminado o conflito, “Rumpoey” regressa à capital tailandesa, ficando “Dum” a viver no campo.

"Rumpoey"

Dez anos depois, e devido a um acaso, “Rumpoey” e “Dum” encontram-se novamente, desta vez em Banguecoque. A história de amor reata-se, e ambos fazem promessas mútuas de viverem juntos para sempre. Contudo, o destino reserva surpresas desagradáveis. O pai de”Dum” é assassinado por aldeões rivais, e “Rumpoey” é obrigada a tornar-se noiva do capitão “Kumjorn” (Arawath Ruangvuth), num casamento a realizar-se por mera conveniência. Consumido pelo desgosto, “Dum” transforma-se no “Tigre Negro”, o fora-da-lei mais temido do burgo. Apesar das terríveis incidências, a paixão entre “Rumpoey” e o agora “Tigre Negro” permanece intocada. Resta saber se a mesma irá triunfar.

"Duelo, sob um cenário pintado de cores vívidas"

"Review"

Sete anos antes de Takashi Miike realizar “Sukiyaki Western Django”, a cinematografia tailandesa corporizaria uma ideia no mínimo estranha, que era realizar um “western” com contornos asiáticos. O projecto viu a luz do dia, e alcançaria à altura um sucesso sem precedentes para um filme da Tailândia (antes do fenómeno "Ong Bak" em 2003), tendo sido o primeiro filme daquele país a merecer uma presença em Cannes. Salienta-se igualmente a participação em outros certames internacionais, onde fez sensação em Vancouver, no Canadá e Gijón, na vizinha Espanha. Esta película é frequentemente comparada aos filmes de Sergio Leone, essencialmente devido a não se furtar a algumas características mais emblemáticas atribuídas genericamente aos “westerns” daquele realizador. Falamos da violência crua, a banda-sonora bastante distintiva (embora aqui mesclada com alguns ritmos orientais), um pendor romântico mais exacerbado e um manancial de personagens dotadas de características um tanto ou quanto peculiares. Contudo, é necessário ter presente que os “westerns” norte-americanos e os “spaghetti” incidiam quase todos sobre histórias ocorridas no período que mediou entre o fim da guerra civil norte-americana (Guerra da Secessão) e o fim do século XIX. Pelo contrário, os eventos narrados em “As Lágrimas do Tigre Negro” sucedem-se nas décadas de '40 e '50, e por vezes assumem mais contornos de narrativas de boiadeiros (género sertão brasileiro). Mesmo assim, e na sua esmagadora maioria, não subsistem dúvidas que é de um “western” atípico que estamos a falar.

Sendo a estreia na realização de Wisit Sasanatieng, “As Lágrimas do Tigre Negro” vive sob um signo surrealista, com características que o distinguem do comum das longas-metragens. Existem cenas rodadas sob um cenário pintado com cores pastel, que supostamente será uma homenagem ao likay, uma espécie de ópera tradicional tailandesa. O colorido das paisagens rurais é extremamente saturado, e as paredes dos prédios frequentemente estão pintadas de um verde berrante ou cor-de-rosa luzidio. Chegados aqui, já todos perceberam que a película é rodada sob cenários artificiais (que se notam claramente) ou naturais, sob um espectro colorido extremamente acentuado e verdadeiramente espectacular. Outra característica identificativa da película passa pela violência marcante. Temos um apreciável número de mortes, com muitos intervenientes a serem despachados sequencialmente e numa questão de segundos, ao melhor estilo do “gun fu” de John Woo. Tudo acompanhado dos impossíveis litros de sangue que jorram das feridas, e as cabeças a explodir com miolos a voar por todo os lado.

"O capitão Kumjorn"

As hipérboles são claramente requisitadas em vários aspectos, e isso transpira por todos os poros. Os actores assumem uma postura virada para a paródia, com poses e expressões propositadamente exageradas. Foi intenção de Wisit Sasatanieng não escolher intérpretes consagrados do cinema tailandês, pois entendeu que os mesmos não possuiriam o espírito descontraído necessário para um filme desta estirpe. O pretendido seriam intérpretes que não se importassem de se sujeitarem ao ridículo de certas cenas. Sendo assim, o “cast”, com uma ou outra excepção, passa por nomes de segunda linha, que cumprem ao fornecerem o ar amador necessário para que esta obra cumpra os seus objectivos. A caracterização acompanha, de uma forma intencional, o tom geral desta longa-metragem. Atente-se aos notórios bigodes pintados em algumas personagens ou as roupas garridas, que acentuam o tom bizarro da película.

Com um estilo bastante “kitsch” e algo “cartoonesco”, confessado e exteriorizado pelo realizador Wisit Sasatanieng, “As Lágrimas do Tigre Negro” é um filme que valerá sobretudo por alguns aspectos bastante criativos, algo inovadores e inconvencionais. O exagero e o “non sense” é explanado de uma forma intencional, obtendo-se momentos interessantes. Contudo, é minha perspectiva que esta longa-metragem não será passível de ser levada muito a sério, pois apesar de ser considerada um marco artístico por muita da crítica de cinema, não possui predicados suficientes para que possa almejar um estatuto que se possa reconduzir a uma obra de eleição. A sua exuberância valeu-lhe um reconhecimento apreciável, mas passado o efeito de “lufada de ar fresco”, julga-se que apenas os amantes do cinema mais burlesco, continuarão a relembrar esta obra com um sorriso nos lábios. No fundo, como em quase tudo na vida, tudo se resumirá a uma questão de preferências e de gostos pessoais.

"Tiroteio entre a polícia e o bando de foras-da-lei"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 6

Argumento - 6

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,50





14 comentários:

Juniper Girl disse...

Eu nao sabia de este filme. Há de ser muito interesante.
Eu agora tenho um pegue com o cinema tailandes.

^^

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Juniper Girl!

O filme é bastante original, e tem momentos interessantes. Julgo que vale a pena dar uma espreitadela. No entanto, existem obras do cinema tailandês muito melhores, na minha opinião!

Bjs.!

Nuno disse...

Amigo Jorge,

Já vi os últimos 15 minutos do filme há uns tempos (2 anos?) na RTP2...e entretanto comprei o filme mas ainda não o vi na íntegra.

Um Abraço

Takeshi Age of Asia disse...

Olá Jorge! Eu nunca havia ouvido falar neste filme, recentemente assisti ao Sukiyaki Western Django e este cenário de "cores vívidas" lembra mesmo onde Quentin Tarantino conta a história.

Filipe Machado disse...

Caro Shinobi,

Para quem é totalmente ignorante no cinema asiático, que obras recomendas para uma pequena introdução?

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Amigo Nuno,

não fazia ideia que o filme tinha passado na RTP 2, embora não me admire pois este canal costuma passar obras de cinema menos "mainstream". Tens de conferir o filme todo, e ver se efectivamente tenho alguma razão no que digo, ou se pelo contrário, só disse asneira :)))!

Grande abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Takeshi Ishii!

Apesar de serem dois "Westerns orientalizados", são filmes diferentes. "As Lágrimas do Tigre Negro" vive mais da sátira e do exagero. Pessoalmente, gostei mais de "Sukiyaki (...)".

Abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Filipe Machado!

Tudo dependerá do género com que te identificas mais. O "top 20" do "My Asian Movies" poderá ser um bom ponto de partida. Julgo que deverás começar talvez pelas obras mais conhecidas de Zhang Yimou, Wong Kar Wai e Akira Kurosawa. O resto advirá naturalmente.

Um abraço!

Anónimo disse...

Eu gostei deste colorido pastiche de um dos mais criativos realizadores Tailandeses da actualidade! Mas quanto a mim não chega ao nivel do seu delicioso "Citizen Dog"!

Acho que muita da atenção que teve se deveu somente ao facto de explorar o universo Western, algo que agita sempre os fãs e sobretudo menos fãs de cinema asiático....excitação essa que sinceramente que me causa algumas náuseas.....

abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá tf10!

Pessoalmente confesso que o filme não foi muito do meu agrado, embora reconheça que detém alguns méritos artísticos bastante interessantes. Mesmo assim, e como tentei dar a perceber no texto, julgo que não é uma obra para ser levada muito a sério...Pode ser que mude de ideias acerca do realizador, com a película que sugeriste no teu comentário ;) !

Grande abraço!

Filipe Machado disse...

Muito obrgado pelas dicas! Como gosto de qualquer género de filmes, vou seguir as tuas recomendações. Após os visionamentos, vou dando feedback. Um abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Volta sempre Filipe!

Um abraço!

spring disse...

Caro Shinobi!
Vi este filme já lá vão longos anos aquando da sua estreia em Portugal, no cinema King e tal como os restantes espectadores fiquei profundamente surpreendido e adorei o filme.
Abraço cinéfilo
Rui Luís Lima

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Rui Lima!

Efectivamente tinha a impressão que este filme tinha passado no King, pois em 2000, 2001 eu residia em Lisboa (estava a estudar na faculdade). ´
É incontestável que a película prima pela originalidade, mas sinceramente estava à espera de mais.

Um abraço!