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quinta-feira, agosto 27, 2009

Ghajini - घजनी (2008)
Origem: Índia
Duração: 186 minutos
Realizador: A.R. Murugadoss
Com: Aamir Khan, Asin Thottumkal, Jiah Khan, Pradeep Singh Rawat, Tinnu Anand, Riyaz Khan, Vibha Chhibber, Sunil Grover, Anjum Rajabali, Sonal Sehgal, Khalid Siddiqui, Kunal Vijaykar
"Sanjay Singhania"

Sinopse

“Sanjay Singhania” (Aamir Khan) é um milionário, presidente da companhia “Air Voice”, a maior empresa de comercialização de telemóveis em toda a Índia. O executivo de 31 anos sofre de uma doença rara, pois perde a memória de eventos e pessoas, após um período de 15 minutos. A razão para a sua maleita, deve-se a uma pancada forte que levou na cabeça, com uma barra de ferro, quando tentou salvar a sua namorada “Kalpana Shetty” (Asin Thottumkal) de ser assassinada. “Sanjay” não foi bem sucedido, e a rapariga é morta de uma forma impiedosa.

"Kalpana Shetty"

Em virtude deste facto, “Sanjay” embarca numa cruzada vingativa contra o gangster “Ghajini Dharmatma” (Pradeep Singh Rawat), o responsável pela morte de “Kalpala”. No entanto, devido aos seus problemas de memória, tem de se socorrer de um bloco de notas onde aponta factos cruciais e de uma máquina “polaroid” onde tira fotografias de pessoas e locais que lhe são importantes. Menos convencional, é o facto de “Sanjay” tatuar notas importantes no seu corpo, de forma a que a vingança e as razões para tal nunca sejam esquecidas.


"Sunita, a jovem estudante de medicina"

"Review"

Em 2005, A.R. Murugadoss realizaria um filme de seu nome “Ghajini”, que viria a ter algum sucesso no meio cinematográfico indiano, embora fosse uma obra do cinema Tamil, também conhecido por "Kollywood". Não custa relembrar que existe um erro recorrente, passando o mesmo por associar o cinema indiano exclusivamente a “Bollywood”. Como já referi anteriormente em outros textos, “Bollywood” é um termo para designar a indústria de cinema sedeada em Mumbai (antiga Bombaim), e é apenas uma das várias cinematografias existentes na Índia. Mesmo assim, continua a ser a maior indústria de cinema do mundo, a nível de número de películas produzidas anualmente. Se contabilizássemos todos as obras das diferentes indústrias regionais de cinema na Índia, o número ainda seria naturalmente maior. Retornando à longa-metragem que me proponho a analisar neste texto, o “Ghajini” de 2005 viria a criar algum “frisson”, e por esse motivo, em 2008 A.R. Murugadoss viria a dirigir um “remake”, desta vez sob os auspícios de “Bollywood”, e com um dos maiores nomes de sempre daquela cinematografia como actor principal. Refiro-me ao “grande” Aamir Khan.

Uma das grandes questões que giram em torno dos dois “Ghajini”, é que ambos são olhados como uma versão indiana do filme “Memento”, de Christopher Nolan, tendo existido inclusive algumas insinuações de plágio. Aamir Khan viria a sair em defesa de A.R. Murugadoss, afirmando que o realizador tinha ouvido falar de um filme chamado “Memento”, e a ideia do mesmo tinha-o fascinado. Sem ver a película, Murugadoss decidiu escrever a sua própria versão do argumento. Após concluir o texto, visionou o filme americano, achou-o bastante diferente do que tinha escrito e decidiu avançar na realização de “Ghajini”. Como pessoa que viu ambos os filmes, e sem querer tirar partidos, tenho a dizer que existe uma inspiração grande e por vezes óbvia de “Ghajini” na película americana. Contudo, existem elementos suficientes para autonomizar ambos os filmes, de forma a torná-los distintos.

Outro dos aspectos pelo qual “Ghajini” é bastante conhecido, passa pelo facto de ser o campeão de bilheteira de toda a história de “Bollywood”, como alguns cartazes alusivos a esta obra fazem questão de apregoar. Se tomarmos em conta unicamente o montante total de receitas auferido nas bilheteiras, esta premissa afigurar-se-á como verdadeira. No entanto, urge densificar um pouco mais este aspecto. A fazer fé no “BoxOffice India”, e ajustando os valores pela inflação, concluiremos que o filme “Sholay”, de 1975, onde despontava a super-estrela de então Amitabh Bachchan, será o filme mais rentável de sempre de “Bollywood”. Tudo não passam de indicadores, que por vezes podem ser de alguma forma torneados. Pretendo aqui apenas chamar a atenção para não tomarem certas verdades como absolutas. Incontornável é o facto de “Ghajini” ser das películas mais bem sucedidas de sempre do espectro “bollywoodesco” ou “bollywidiano”, se preferirem, e a sua enorme aceitação já deu inclusive origem ao primeiro videojogo tridimensional indiano para PC.



"Sanjay defronta os homens do gangster Ghajini"

“Ghajini” é um clássico filme que aposta essencialmente no conceito de vingança, à semelhança de muitos outros que já foram aqui criticados no “My Asian Movies”, destacando-se pela sua importância inquestionável a trilogia da vingança de Park Chan-wook e os “gun fu” de John Woo. No entanto, “Ghajini”, em nome da necessária empatia e compreensão do espectador com os motivos que norteiam as atitudes violentas que grassam pela película, demonstra algo mais do que actos considerados primários. Sendo assim, esta obra poderá facilmente se dividir em duas partes, a saber, a cruel vingança de “Sanjay” e as peripécias do seu relacionamento com “Kalpala”, através de “flashbacks” que acontecem ao longo desta longa-metragem. No início do filme, somos confrontados com o “Sanjay” actual, que vive num apartamento lúgubre, e cujo único propósito na vida é exterminar o responsável por todas as suas desgraças. Mas “qual a razão para isto tudo ?”, questiona-se o espectador. Através da leitura dos diários de “Sanjay”, por parte de “Sunita” (uma estudante de medicina que se interessa pelo caso do homem) assim como por “Arjun Yadav”, um inspector que investiga as mortes provocadas pelo herói da trama, entramos nas costumeiras analepses. E é aqui que se encontra a parte dita normal numa película de “Bollywood”, que é o romance, o sonho e tudo o mais. Deparámo-nos com um “Sanjay” completamente diferente. Um jovem executivo, bem sucedido, que rocambolescamente conhece uma actriz de comerciais frustrada, mas terrivelmente encantadora. Embrenhamo-nos no amor que começa a despontar e, a certa altura, esquecemo-nos daquele “Sanjay” rancoroso e violento, que parece viver um pesadelo permanente. Contudo, a desgraça inevitavelmente acontece, e já hipnotizados, torcemos para que Aamir Khan comece a espalhar o inferno na terra, com o nosso total apoio. Trata-se de uma técnica narrativa sobejamente usada, mas que, não sei porquê, continua a resultar muito bem. Penso que a razão passará pela nossa própria essência humana, que em algum sítio recôndito acolhe uma “Lei de Talião”, onde a norma principal é “o olho por olho e dente por dente”. O que interessa é que “Sanjay” não defrauda as expectativas neste particular, e parte para a ignorância, transformando “Ghajini” no filme mais violento de “Bollywood” que até hoje tive a oportunidade de visionar.

Aamir Khan dá vida a mais uma interpretação de bom nível e muito forte, de um ponto de vista emocional. Quem conhece minimamente o cinema de “Bollywood”, sabe que estamos perante um dos expoentes máximos do género e um grande actor. Em “Ghajini”, Khan tem de ser mais multifacetado que o normal, ora desempenhando facetas que lhe são mais familiares, como o galã romântico, mas também dando corpo a um homem consumido pela raiva e frustração, que exterioriza através de uma violência sem tréguas. O intérprete preparou-se intensamente para este papel, com muitas horas de ginásio e uma alimentação regrada, de forma a poder ostentar um físico mais poderoso. Mas existe sempre algo que a natureza nos deu e à qual não podemos fugir. Aamir Khan é um actor que não possui uma grande estatura, rondando cerca de 1, 68m de altura. Para o estereótipo do herói violento de acção, designado grosseiramente como “alto e bruto”, Khan fica a perder um pouco neste aspecto. Ainda para mais, quando os combates são desfilados com brutalidade, mas também com exageros, desde empurrões, pontapés ou socos que projectam os seus adversários, francamente maiores, a metros de distância. A credibilidade fica um tanto ou quanto afectada, embora estejamos a falar de um aspecto menor da película. Quanto a Asin Thottumkhal, confesso que nunca tinha ouvido falar anteriormente desta actriz, mas pelos vistos ela também parecia debutar mais por outras cinematografias regionais indianas, que confesso serem totalmente desconhecidas para mim. Tenho a dizer que Asin é belíssima e encantadora, e a mesma não tem pejo ou dificuldade alguma em transmitir isso na película. A sua energia representativa é contagiante, e coloca-nos todos de bom humor. À actriz está reservado o papel de descompressão em “Ghajini”, nas partes em que não nos deparamos com aquela tensão negra da vingança. Uma boa surpresa, e sem dúvida alguma, um jovem valor a acompanhar. O resto do “cast” não consegue acompanhar o duo principal, e em várias partes desta longa-metragem é por demais evidente este aspecto. Apenas o actor Pradeep Singh Rawat, que interpreta o vilão “Ghajini”, consegue fugir um pouco a este diapasão geral.

Com uma banda-sonora claramente mediana, o que constitui uma surpresa quando o compositor é A.R. Rahman, confesso que não consigo entender muito bem o sucesso que rodeou “Ghajini”. É certo que se trata de um bom filme, mas sinceramente está a milhas de outras obras que “Bollywood” já teve o privilégio de oferecer ao mundo do cinema. Julgo que a explicação passará muito pela curiosidade em ver um Amir Khan completamente transfigurado fisicamente, uma excelente campanha de "marketing" e o facto de a película oferecer um tipo de violência e impacto psicológico distinto do que costuma ocorrer por aquelas paragens. Pelo exposto, aconselha-se o seu visionamento sem expectativas desmesuradas!


"O impiedoso Ghajini (de camisa branca) ordena aos seus apaniguados que façam mais uma vítima"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Site oficial

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 7

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,63



6 comentários:

bárbara disse...

Yello!
Eu própria fiquei um pouco cega pela excelente campanha de marketing deste filme e um pouco surpreendida porque não correspondeu totalmente às minhas expectativas (que já eram demasiado elevadas. E a música, tirando uma ou duas, é do piorio.
Mas é, de qualquer forma, um filme emocionante (principalmente para o público indiano, menos habituado à pancadaria).

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá bárbara!

É precisamente a minha opinião!

Beijinho!

tf10 disse...

Epá, o filme tem muito, mas mesmo muito....mau aspecto! :)

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

tf10, existem muitas obras de "bollywwod", principalmente de 2000 para cá, que são bem melhores do que este "Ghajini".
É por isso que, apesar de o filme possuir alguns predicados positivos, continuo sem perceber todo o "frisson" gerado.
A fotografia do filme até é boa. Eu é que não arranjei imagens de jeito (tirando uma ou outra) para pôr no texto :) !

Abraço!

Dewonny disse...

Eu vi esse, a achei a história apenas parecida com o filme do Nolan, por que na comparação, ambos são distintos e diferentes, Gajhini teve mais história pra contar, pois é bem mais longo que o filme americano, e aquelas lutas no final fechou bem o filme, fiquei surpreso, pois sabemos q o cinema indiano ñ tem muita intimidade em colocar cenas de luta em seus filmes, esse eu acho q é o primeiro q vi algo do gênero. nota 7.5!
Abs! Diego!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Quanto à amplitude do filme, a mesma é normal tratando-se de uma obra de "Bollywood". Não me lembro de ter visto uma película desta indústria que tenha menos de duas hora e meia de filme :)!
No respeitante às lutas, de facto é uma surpresa. No entanto, e como já referi antes, nota-se uma tentativa de internacionalização de "Bollywood" cada vez mais presente, pelo que não me espanta nada que novas "nuances" sejam introduzidas. O que importa é que esta indústria nunca perca as características positivas que a distinguem das demais :)!

Abraço!