“Wong Fei Hung” (Jackie Chan) é um jovem irresponsável que só se mete em sarilhos, provocando desta forma bastantes cabelos brancos ao pai, e ao mesmo tempo afectando a honra da escola de artes marciais da família. Um dia “Fei Hung” pisa o risco, fazendo umas tropelias com as pessoas erradas, a saber, a tia e a prima. O pai farto das acções do filho, decide discipliná-lo de uma forma veemente, e deixa-o ao cuidado de um tio chamado “So Hai” (Simon Yuen).
“So Hai” é um velho e mítico mestre de artes marciais, especializado na técnica dos “8 deuses bêbados”. O nome do estilo que pratica encaixa bem em “So Hai”, pois o mesmo é um alcoólico inveterado, que só pensa em ingerir vinho, sendo esta bebida o suporte fundamental para o sucesso do seu kung-fu. O mestre tem uma fama tenebrosa e que passa por deixar os seus alunos permanentemente aleijados, devido à exigência dos seus treinos, aspecto que “Fei Hung” cedo sente na pele.
O herói farta-se do regime a que se encontra sujeito, e foge da tutela de “So Hai”. Contudo, cruza o caminho com “Yan” (Hwang Jang Lee), um poderoso assassino, e leva uma autêntica tareia daquele. Humilhado, “Fei Hung” decide voltar para “So Hai” e finda o seu treino, tornando-se num especialista na técnica inventada pelo seu mestre.
Entretanto, “Yan” é contratado para matar o pai de “Fei Hung”, o que provocará inevitavelmente um novo conflito. Só que desta vez, o herói encontra-se muito mais bem preparado!
"A tia de Fei Hung defende a honra da filha"
"Review"
Tecer considerações acerca de “Drunken Master”, é falar de um dos míticos filmes de Hong Kong, sendo considerado para muitos uma das mais brilhantes comédias de artes marciais provenientes da região administrativa chinesa, assim como um dos filmes de eleição da lenda daquelas paragens, Jackie Chan (à altura um jovem com 24 anos).
Não sendo eu propriamente um fã das longas-metragens do chamado “kung-fu old school”, ao contrário de por exemplo o Takeo ou a Aline, sou no entanto forçado a reconhecer que este meu pequeno espaço estava deveras incompleto sem uma resenha acerca de um filme que iniciou uma das mais populares sagas do cinema asiático, conquistando uma legião de fãs um pouco por todo o mundo. Já agora se me permitem o pequeno devaneio, este espaço nunca será um 100% completo, pois faltará sempre um filme emblemático para discorrer e trocar ideias com todos vocês. Ainda bem que assim o é, pois só prova que a realidade cinematográfica em geral, e a asiática em particular, se afigura dinâmica e anti-estanque. Tal constituirá sempre um desafio pessoal para a minha pessoa e que motivará a existência do “My Asian Movies” para o que der e vier. Amén!
O que significa então “Drunken Master” para um consumidor de cinema como eu, que possui as características de não nutrir uma particular admiração tanto pela cinematografia de kung-fu, assim como pela lenda Jackie Chan?
"O vilão Yan demonstra o seu potencial no kung fu"
Antes de tudo bastante entretenimento e boa disposição. “Drunken Master” (esqueçam agora o título que lhe foi dado em português), constitui uma película em que a acção e a comédia nunca nos abandonam até aos créditos finais e que revela ser uma excelente opção no final de um dia de trabalho extenuante, em que apenas queremos nos distrair com algo. As cenas de luta estão muito bem coreografadas, e entretêm ao máximo, sendo de uma grande elevação cómica o denominado “drunken boxing”. A habilidade natural de Jackie Chan a isso ajuda, e aqueles pontapés de Hwang Jang Lee são inesquecíveis (a versão dobrada foi neste caso feliz, ao denominar a personagem de Lee como "Pernas de Trovão - Thunderlegs"). Confesso, um pouco contra a minha vontade (será que ouvi alguém gritar faccioso?!), que a representação de Jackie Chan do estilo do 8º deus bêbado (neste caso uma deusa bêbada) “Miss So”, (para saber mais sobre a lenda dos oito deuses bêbados ir AQUI) me arrancou algumas gargalhadas sinceras. As mesmas foram potenciadas, quando a edição que comprei a um preço irrisório na “Worten” (cerca de 4 euros, para os visitantes brasileiros rondará 10,91 reais), tinha uma “certa particularidade”, que passo a explicar. Como a esmagadora maioria de nós, eu não aprecio nada os filmes “dobrados” em inglês. Então toca lá a pôr nas opções a língua originária dos intervenientes, com as legendas em português. Tudo corria bem, até de repente as personagens começarem a expressarem-se em inglês por um minuto ou dois, até voltarem novamente à língua autóctone (pelo que investiguei, o problema não parece ser apenas da edição portuguesa do filme). Não sei porquê, mas em vez de me chatear de sobremaneira, houve situações em que ri até ao delírio, como por exemplo numa cena Jackie Chan ser o herói Wong Fei Hung, e na outra logo a seguir já se transformar num ser denominado “Fred Wong”. Bem, sem comentários…quanto ao remanescente da comédia, o cabelo de “So Hai” (dahh, ninguém percebe que é uma peruca primária) e o ambiente geral de “nonsense” infantil fazem o resto!
Outro aspecto interessante desta longa-metragem é a abordagem à própria personagem de Wong Fei Hung. Como já foi referido noutras críticas deste espaço, Wong Fei Hung é um herói popular, que realmente existiu. E sendo uma figura tão importante para os chineses, é perfeitamente normal que a abordagem nos filmes revele um pendor heróico porventura exacerbado, e com um tratamento um pouco mais sério. Pense-se na saga “Era Uma Vez na China”, de Tsui Hark (para críticas neste blogue, ir AQUI e AQUI). No entanto, em “Drunken Master”, Fei Hung é tratado de uma forma completamente diferente. Os defeitos abundam, e aquele homem é um filho que todos os pais não sonham ter. É irresponsável, zaragateiro, oportunista, embora com um coração do tamanho do mundo. É claro que o heroísmo acaba por vir ao de cima, e degenere num excitante combate final.
Simon Yuen, o pai do realizador deste filme e o coreógrafo mundialmente conhecido Yuen Woo Ping, é “So Hai”, o genuíno “mestre bêbado” (passe a tradução livre). Jackie Chan, que dispensa qualquer tipo de apresentação (para o bem ou para o mal) é o discípulo ideal. Hwang Jang Lee é um vilão extremamente competente. As limitações representativas são por demais evidentes (não nos referimos às artes marciais, claro!), e o ar de série B da película não ajuda nada.
No entanto, sempre se aconselhará com alguma segurança o visionamento deste filme por algumas razões. É uma película com grande interesse histórico para a cinematografia asiática, para além de entreter e mostrar um Jackie Chan nos seus melhores momentos. Para os fãs do “kung fu old school”, é por demais obrigatório! Já agora, os mais eruditos poderão querer fazer uma pausa e descontrair de vez em quando…
Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link
Outras críticas em português/espanhol:
Avaliação:
Entretenimento - 10
Interpretação - 7
Argumento - 7
Banda-sonora - 8
Guarda-roupa e adereços - 7
Emotividade - 9
Mérito artístico - 8
Gosto pessoal do "M.A.M." - 7
Classificação final: 7,88