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domingo, dezembro 30, 2007

Cartas de Iwo Jima/Letters from Iwo Jima Aka Red Sun, Black Sand/Io Jima Kara no Tegamî - 硫黄島からの手紙 (2006)

Origem: E.U.A. (U.S.A.)

Duração: 134 minutos

Realizador: Clint Eastwood

Com: Ken Watanabe, Kazunari Ninomiya, Tsuyoshi Ihara, Ryo Kase, Shido Nakamura, Hiroshi Watanabe, Takumi Bando, Yuki Matsuzaki, Takashi Yamaguchi, Eijiro Ozaki, Nae, Nobumasa Sakagami, Akiko Shima, Toshi Toda, Ken Kensei, Luke Eberl

"O general Kuribayashi"

Introdução

O presente texto é efectuado ao abrigo da rubrica deste espaço denominada “Cunho da Ásia”. Apesar de “Cartas de Iwo Jima” ser uma produção norte-americana, a esmagadora maioria dos actores são japoneses, que na película se expressam todos na sua língua materna.

"O barão Nishi, comandante do esquadrão de tanques japoneses"

Estória

1945, ilha de Iwo Jima, terra que pertence ao sagrado império do Japão. O reino do sol nascente está a perder a guerra, e a derrota na batalha do Mar das Filipinas, onde o Japão perdeu uma grande parte da sua frota naval, constituiu um rude golpe. Iwo Jima constitui um ponto estratégico para os contendores, pois a sua localização faz com que possa servir de base de apoio para um ataque em larga escala ao âmago do território japonês.

O general “Tadamichi Kuribayashi” (Ken Watanabe) é encarregue de liderar o exército nipónico e engendrar uma estratégia que trave o avanço norte-americano em Iwo Jima. Cedo “Kuribayashi” enfrenta a oposição do general “Hayashi” (Ken Kensei) e do almirante “Ohsugi” (Nobumasa Sakagami), pois estes defendem que deverão ser escavadas trincheiras nas praias, de forma a impedir o avanço do exército americano. “Kuribayashi”, no entanto, é da opinião que a melhor maneira de proteger a ilha é deixar as praias à mercê do inimigo, e colocar a força japonesa nas montanhas bem defendidas, tentando causar o maior número de baixas possíveis ao opositor.

Entretanto, “Saigo” (Kazunari Ninomiya), um jovem soldado japonês que deixou a mulher grávida na terra-natal, começa a questionar-se acerca das verdadeiras motivações do conflito. O seu pessimismo encontra um adversário titânico na mentalidade do exército a que pertence, que prefere morrer até ao último homem, do que cair em desonra.

Com um exército japonês em clara inferioridade numérica e de recursos, a gigantesca batalha começa, e num manancial de dúvidas, emoções e morte, o desfecho da II Guerra Mundial começará a ser decidido em Iwo Jima.

"O soldado Saigo despede-se da sua esposa"

"Review"

A batalha de Iwo Jima foi um combate determinante para o início do epílogo na guerra do Pacífico, muito se devendo ao facto de ter sido o primeiro ataque de ocupação norte-americano ao solo japonês propriamente dito. A luta foi acérrima, mas bastante desigual pois os efectivos de ambos os exércitos pendiam na razão de 5 para 1, com claro prejuízo para os japoneses. E isto sem contar com a disparidade de meios bélicos, em que os americanos levavam claramente a melhor. Mesmo assim, e para termos ideia da tenacidade do exército imperial do Japão, dos 21.000 soldados nipónicos que combateram em Iwo Jima, 20.700 homens foram mortos e apenas cerca de 300 foram capturados. Tais números revelaram para muitos que o espírito dos antigos samurais ainda residia no coração dos combatentes japoneses, e que a ideia de “antes a morte do que a desonra”, ou “antes quebrar do que torcer” norteava de alguma forma o seu pensamento.

Foi com base nesta importantíssima batalha da II Guerra Mundial, que o actor e realizador Clint Eastwood deu vida a dois filmes no mesmo ano, que expunham os pontos de vista de cada uma das partes em conflito, a saber, o competente “Flags of Our Fathers” no que toca aos americanos, e este maravilhoso “Letters From Iwo Jima” em relação aos japoneses.

Uma pergunta que eu teria muitas dificuldades em responder, seria se preferia o trabalho de Clint Eastwood enquanto realizador ou actor. Não opinarei quanto a este aspecto em particular. Apenas afirmarei que admiro bastante o trabalho da personalidade em questão no respeitante a ambos os aspectos. A riqueza cultural que Eastwood conseguiu erigir, nas facetas que assumiu na sétima arte, faz com que estejamos perante uma das estrelas mais cintilantes do cinema. Em “Cartas de Iwo Jima”, mais uma vez isto é demonstrado, e de forma bem corajosa. Porquê que digo isto? Por uma razão muito simples. Todos nós estamos habituados a visionar películas de guerra de “Hollywood”, em que apenas é abordado o ponto de vista norte-americano dos conflitos em que este país participou. Mesmo assim, nasceram grandes obras da sétima arte com pontos de vista mais ou menos sinceros, e que não são propriamente bastante elogiosas para a grande nação. No entanto, a máquina propagandística americana assume-se, como é do conhecimento de todos, como verdadeiramente infernal, tendo servido não escassas vezes para disfarçar alguns insucessos bélicos. Pense-se nos casos das longas-metragens que tiveram por pano de fundo a guerra do Vietname, ou mais raramente, da Coreia. Eastwood aqui abana o instituído e, como americano, arrisca-se a contar o embate do ponto de vista do “inimigo”. “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, já dizia o poeta Fernando Pessoa, e este filme possui um grande espírito!

"O fanático tenente Ito"

A trama baseia-se em eventos reais (naturalmente romanceados), tendo por suporte os livros “Picture Letters from a Commander in Chief”, da autoria do general Tadamichi Kuribayashi (isso mesmo, o comandante das forças japonesas em Iwo Jima), e “So Sad to Fall in Battle: An Acount of War”, de Kumiko Kakehashi, tendo ambas as obras sido adaptadas para o grande ecrã através do argumento escrito por Iris Yamashita. Acima de tudo, e mais do que relatar um conflito bélico, “Cartas de Iwo Jima” humaniza o soldado japonês e desmistifica a ideia do combatente frio, cruel e mal-humorado. É certo que temos exemplares com estas características, sendo porventura o expoente máximo o tenente “Ito” (interpretado pelo excelente Shido Nakamura). Contudo, é deveras interessante observar o confronto de perspectivas que ocorre no seio do próprio exército japonês, e que se materializa desde logo no comando do general Kuribayashi. A sua liderança é considerada covarde pela maioria dos outros oficiais, mas na realidade trata-se de um comando inteligente e realista face às circunstâncias. Numa hierarquia muito mais baixa, vemos um frustrado soldado “Saigo” a ser discriminado por apenas querer voltar para a sua esposa e filha recém-nascida, e achar que não vale a pena lutar por um lugar ermo e desolado, que pouco mais tem que areia e montes. “Kubayashi” e “Saigo”, cada um à sua maneira, representam o anti-herói japonês, mas nem por isso deixam de fazer a sua parte e lutar pelo que verdadeiramente acreditam com a mesma valentia dos restantes.

As interpretações dos actores são do mais elevado quilate, destacando-se naturalmente Ken Watanabe, um actor que emergiu das profundezas do Japão e atingiu que nem um soco a cena cinematográfica mundial. Actualmente, afigura-se como candidato a desempenhar um papel asiático em tudo o que seja uma grande produção norte-americana (pense-se nas participações do actor em "Memórias de uma Gueixa" ou "O Último Samurai").

Este texto estaria incompleto, se não houvesse ainda uma palavra especial para mais dois aspectos. O primeiro passará pelo uso dos tons cinzentos e castanhos na imagem, que confere uma beleza singela a um filme que tem uma grande tragédia por fundo. O outro reconduzir-se-á ao trabalho de casa e profissionalismo com que Eastwood encarou a feitura da película, mormente no respeitante aos costumes e modo de agir do exército japonês.

Com cenas que irão figurar por muitos anos no panteão do que de melhor se fez no mundo maravilhoso do cinema (pense-se no suicídio dos soldados japoneses com granadas), e um vencedor de um Óscar e de um globo de ouro, para além de outros prémios importantes, “Cartas de Iwo Jima” constitui um marco indelével!


"As tropas japonesas no calor do combate"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cinema Cafri, Fanaticine, Público, Cine Repórter, Cine Críticas, A Cinematic Vision, Cine Pt, Docas nas Asas do Desejo, Axasteoquê ?, Mulholland Drive, gonn1000

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 9

Argumento - 9

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 9

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,50






2 comentários:

Anónimo disse...

Jorge,

Fizeste muito bem em incluir este filme "Cartas de Iwo Jima" no teu blogg apesar de ser de um realizador ocidental (e que realizador!!) Adorei o filme, achei simplesmente fantástico e vou dizer-te algo, que no meu ponto de vista, me fez gostar ainda mais do filme...e que aconselho, a quem ainda não o viu, a fazer: vejam primeiro o "Flags of our Fathers" e, só depois, vejam este... Acho que se gosta ainda mais deste, depois de se ter visto o outro. É só a minha opinião, obviamente, porque o filme só por si é fantástico, como fantática é mais esta análise tua a um filme... Acabaste o ano em grande...é bom pronuncio para 2008.

Um Abraço
Nuno

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Pois é, Nuno!

Quando criei a secção "Cunho da Ásia" aqui no blog, fi-lo porque entendi que existiam filmes que embora não fossem 100% asiáticos, tinham uma relação com o grande continente que não podia ser desprezada! "Cartas de Iwo Jima" é sem dúvida uma dessas películas, e por sinal uma das melhores!

Concordo inteiramente contigo quando dizes que apreciamos melhor "Cartas de Iwo Jima", quando visionamos primeiro "Flags of Our Fathers".

No restante, só tenho a agradecer o ânimo para me continuar a entreter com este estaminé!

Abraço!