"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

quinta-feira, agosto 27, 2009

Ghajini - घजनी (2008)
Origem: Índia
Duração: 186 minutos
Realizador: A.R. Murugadoss
Com: Aamir Khan, Asin Thottumkal, Jiah Khan, Pradeep Singh Rawat, Tinnu Anand, Riyaz Khan, Vibha Chhibber, Sunil Grover, Anjum Rajabali, Sonal Sehgal, Khalid Siddiqui, Kunal Vijaykar
"Sanjay Singhania"

Sinopse

“Sanjay Singhania” (Aamir Khan) é um milionário, presidente da companhia “Air Voice”, a maior empresa de comercialização de telemóveis em toda a Índia. O executivo de 31 anos sofre de uma doença rara, pois perde a memória de eventos e pessoas, após um período de 15 minutos. A razão para a sua maleita, deve-se a uma pancada forte que levou na cabeça, com uma barra de ferro, quando tentou salvar a sua namorada “Kalpana Shetty” (Asin Thottumkal) de ser assassinada. “Sanjay” não foi bem sucedido, e a rapariga é morta de uma forma impiedosa.

"Kalpana Shetty"

Em virtude deste facto, “Sanjay” embarca numa cruzada vingativa contra o gangster “Ghajini Dharmatma” (Pradeep Singh Rawat), o responsável pela morte de “Kalpala”. No entanto, devido aos seus problemas de memória, tem de se socorrer de um bloco de notas onde aponta factos cruciais e de uma máquina “polaroid” onde tira fotografias de pessoas e locais que lhe são importantes. Menos convencional, é o facto de “Sanjay” tatuar notas importantes no seu corpo, de forma a que a vingança e as razões para tal nunca sejam esquecidas.


"Sunita, a jovem estudante de medicina"

"Review"

Em 2005, A.R. Murugadoss realizaria um filme de seu nome “Ghajini”, que viria a ter algum sucesso no meio cinematográfico indiano, embora fosse uma obra do cinema Tamil, também conhecido por "Kollywood". Não custa relembrar que existe um erro recorrente, passando o mesmo por associar o cinema indiano exclusivamente a “Bollywood”. Como já referi anteriormente em outros textos, “Bollywood” é um termo para designar a indústria de cinema sedeada em Mumbai (antiga Bombaim), e é apenas uma das várias cinematografias existentes na Índia. Mesmo assim, continua a ser a maior indústria de cinema do mundo, a nível de número de películas produzidas anualmente. Se contabilizássemos todos as obras das diferentes indústrias regionais de cinema na Índia, o número ainda seria naturalmente maior. Retornando à longa-metragem que me proponho a analisar neste texto, o “Ghajini” de 2005 viria a criar algum “frisson”, e por esse motivo, em 2008 A.R. Murugadoss viria a dirigir um “remake”, desta vez sob os auspícios de “Bollywood”, e com um dos maiores nomes de sempre daquela cinematografia como actor principal. Refiro-me ao “grande” Aamir Khan.

Uma das grandes questões que giram em torno dos dois “Ghajini”, é que ambos são olhados como uma versão indiana do filme “Memento”, de Christopher Nolan, tendo existido inclusive algumas insinuações de plágio. Aamir Khan viria a sair em defesa de A.R. Murugadoss, afirmando que o realizador tinha ouvido falar de um filme chamado “Memento”, e a ideia do mesmo tinha-o fascinado. Sem ver a película, Murugadoss decidiu escrever a sua própria versão do argumento. Após concluir o texto, visionou o filme americano, achou-o bastante diferente do que tinha escrito e decidiu avançar na realização de “Ghajini”. Como pessoa que viu ambos os filmes, e sem querer tirar partidos, tenho a dizer que existe uma inspiração grande e por vezes óbvia de “Ghajini” na película americana. Contudo, existem elementos suficientes para autonomizar ambos os filmes, de forma a torná-los distintos.

Outro dos aspectos pelo qual “Ghajini” é bastante conhecido, passa pelo facto de ser o campeão de bilheteira de toda a história de “Bollywood”, como alguns cartazes alusivos a esta obra fazem questão de apregoar. Se tomarmos em conta unicamente o montante total de receitas auferido nas bilheteiras, esta premissa afigurar-se-á como verdadeira. No entanto, urge densificar um pouco mais este aspecto. A fazer fé no “BoxOffice India”, e ajustando os valores pela inflação, concluiremos que o filme “Sholay”, de 1975, onde despontava a super-estrela de então Amitabh Bachchan, será o filme mais rentável de sempre de “Bollywood”. Tudo não passam de indicadores, que por vezes podem ser de alguma forma torneados. Pretendo aqui apenas chamar a atenção para não tomarem certas verdades como absolutas. Incontornável é o facto de “Ghajini” ser das películas mais bem sucedidas de sempre do espectro “bollywoodesco” ou “bollywidiano”, se preferirem, e a sua enorme aceitação já deu inclusive origem ao primeiro videojogo tridimensional indiano para PC.



"Sanjay defronta os homens do gangster Ghajini"

“Ghajini” é um clássico filme que aposta essencialmente no conceito de vingança, à semelhança de muitos outros que já foram aqui criticados no “My Asian Movies”, destacando-se pela sua importância inquestionável a trilogia da vingança de Park Chan-wook e os “gun fu” de John Woo. No entanto, “Ghajini”, em nome da necessária empatia e compreensão do espectador com os motivos que norteiam as atitudes violentas que grassam pela película, demonstra algo mais do que actos considerados primários. Sendo assim, esta obra poderá facilmente se dividir em duas partes, a saber, a cruel vingança de “Sanjay” e as peripécias do seu relacionamento com “Kalpala”, através de “flashbacks” que acontecem ao longo desta longa-metragem. No início do filme, somos confrontados com o “Sanjay” actual, que vive num apartamento lúgubre, e cujo único propósito na vida é exterminar o responsável por todas as suas desgraças. Mas “qual a razão para isto tudo ?”, questiona-se o espectador. Através da leitura dos diários de “Sanjay”, por parte de “Sunita” (uma estudante de medicina que se interessa pelo caso do homem) assim como por “Arjun Yadav”, um inspector que investiga as mortes provocadas pelo herói da trama, entramos nas costumeiras analepses. E é aqui que se encontra a parte dita normal numa película de “Bollywood”, que é o romance, o sonho e tudo o mais. Deparámo-nos com um “Sanjay” completamente diferente. Um jovem executivo, bem sucedido, que rocambolescamente conhece uma actriz de comerciais frustrada, mas terrivelmente encantadora. Embrenhamo-nos no amor que começa a despontar e, a certa altura, esquecemo-nos daquele “Sanjay” rancoroso e violento, que parece viver um pesadelo permanente. Contudo, a desgraça inevitavelmente acontece, e já hipnotizados, torcemos para que Aamir Khan comece a espalhar o inferno na terra, com o nosso total apoio. Trata-se de uma técnica narrativa sobejamente usada, mas que, não sei porquê, continua a resultar muito bem. Penso que a razão passará pela nossa própria essência humana, que em algum sítio recôndito acolhe uma “Lei de Talião”, onde a norma principal é “o olho por olho e dente por dente”. O que interessa é que “Sanjay” não defrauda as expectativas neste particular, e parte para a ignorância, transformando “Ghajini” no filme mais violento de “Bollywood” que até hoje tive a oportunidade de visionar.

Aamir Khan dá vida a mais uma interpretação de bom nível e muito forte, de um ponto de vista emocional. Quem conhece minimamente o cinema de “Bollywood”, sabe que estamos perante um dos expoentes máximos do género e um grande actor. Em “Ghajini”, Khan tem de ser mais multifacetado que o normal, ora desempenhando facetas que lhe são mais familiares, como o galã romântico, mas também dando corpo a um homem consumido pela raiva e frustração, que exterioriza através de uma violência sem tréguas. O intérprete preparou-se intensamente para este papel, com muitas horas de ginásio e uma alimentação regrada, de forma a poder ostentar um físico mais poderoso. Mas existe sempre algo que a natureza nos deu e à qual não podemos fugir. Aamir Khan é um actor que não possui uma grande estatura, rondando cerca de 1, 68m de altura. Para o estereótipo do herói violento de acção, designado grosseiramente como “alto e bruto”, Khan fica a perder um pouco neste aspecto. Ainda para mais, quando os combates são desfilados com brutalidade, mas também com exageros, desde empurrões, pontapés ou socos que projectam os seus adversários, francamente maiores, a metros de distância. A credibilidade fica um tanto ou quanto afectada, embora estejamos a falar de um aspecto menor da película. Quanto a Asin Thottumkhal, confesso que nunca tinha ouvido falar anteriormente desta actriz, mas pelos vistos ela também parecia debutar mais por outras cinematografias regionais indianas, que confesso serem totalmente desconhecidas para mim. Tenho a dizer que Asin é belíssima e encantadora, e a mesma não tem pejo ou dificuldade alguma em transmitir isso na película. A sua energia representativa é contagiante, e coloca-nos todos de bom humor. À actriz está reservado o papel de descompressão em “Ghajini”, nas partes em que não nos deparamos com aquela tensão negra da vingança. Uma boa surpresa, e sem dúvida alguma, um jovem valor a acompanhar. O resto do “cast” não consegue acompanhar o duo principal, e em várias partes desta longa-metragem é por demais evidente este aspecto. Apenas o actor Pradeep Singh Rawat, que interpreta o vilão “Ghajini”, consegue fugir um pouco a este diapasão geral.

Com uma banda-sonora claramente mediana, o que constitui uma surpresa quando o compositor é A.R. Rahman, confesso que não consigo entender muito bem o sucesso que rodeou “Ghajini”. É certo que se trata de um bom filme, mas sinceramente está a milhas de outras obras que “Bollywood” já teve o privilégio de oferecer ao mundo do cinema. Julgo que a explicação passará muito pela curiosidade em ver um Amir Khan completamente transfigurado fisicamente, uma excelente campanha de "marketing" e o facto de a película oferecer um tipo de violência e impacto psicológico distinto do que costuma ocorrer por aquelas paragens. Pelo exposto, aconselha-se o seu visionamento sem expectativas desmesuradas!


"O impiedoso Ghajini (de camisa branca) ordena aos seus apaniguados que façam mais uma vítima"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Site oficial

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 7

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,63



quarta-feira, agosto 26, 2009

Beldades do Cinema Asiático - Kim So-yeon









Uma beleza incomum (no bom sentido) sul-coreana. Mais informações AQUI.

sábado, agosto 22, 2009

Nausicaa of the Valley of the Wind/Kaze no tani no Naushika - 風の谷のナウシカ (1984)

Origem: Japão


Duração: 116 minutos


Realizador: Hayao Miyazaki


Vozes das personagens principais (versão original japonesa): Sumi Shimamoto (Nausicaa), Mahito Tsujimura (Jihl), Hisako Kyôda (Oh-Baba), Gorô Naya (Yupa), Ichirô Nagai (Mito), Kôhei Miyauchi (Goru), Jôji Yanami (Gikkuri), Minoru Yada (Niga), Rihoko Yushida (Teto), Yôji Matsuda (Asbel), Mîna Tominaga (Rastel), Yoshiko Sakakibara (Kushana), Iemasa Kayumi (Kurotawa)


"Nausicaa e o seu animal de estimação Teto"


Sinopse

1000 anos após a nossa era, na chamada “Idade da Cerâmica”, a raça humana corre um grande perigo e encontra-se na iminência de ser extinta. Tudo se deve ao facto de o homem, no auge do seu poder tecnológico, ter desencadeado um acontecimento apocalíptico denominado “os 7 dias do fogo” que quase destruiu o mundo. Entretanto, “o mar da corrupção”, uma floresta de insectos gigantes e de plantas tóxicas, avança lentamente pela Terra, fazendo com que o planeta se torne cada vez mais inabitável para os humanos.

"Lord Yupa interpõe-se entre Nausicaa e os soldados de Tourmekia"

Mesmo assim, a raça humana parece que não aprendeu a lição, e os reinos remanescentes encetam guerras e conflitos entre si. Uma das poucas nações neutrais é o “Vale do Vento”, que se situa num local idílico, devido ao vento impedir o avanço do “mar da corrupção” para aquela área. O “Vale do Vento” é governado pelo rei “Jihl”, um homem doente e acamado, no entanto a verdadeira líder e a alma do povo é a sua filha, a princesa “Nausicaa”.

A tranquilidade do reino é seriamente abalada quando um conflito eclode entre as nações de “Tourmekia” e “Pejite”, e uma nave tourmekiana despenha-se no “Vale do Vento”. Cedo, “Tourmekia”, sob a liderança da princesa Kushana, invade “Vale do Vento”, de maneira a recuperar um item precioso que se encontrava dentro da nave. “Nausicaa” terá de embarcar numa fantástica aventura, de forma a salvar o seu povo e o planeta Terra.


"O povo do Vale do Vento aprisionado pelos soldados de Tourmekia"

"Review"


Baseado numa manga escrita e desenhada pelo próprio Hayao Miyazaki, é difícil de acreditar que “Nausicaa” foi realizado há 25 anos. A nível dos aspectos ditos mais técnicos, existem muitas animações actuais que estão a milhas da beleza e rigor evidenciados por este filme, assim como a sua mensagem assume uma actualidade impressionante, porventura ainda mais premente hoje em dia. As grandes premissas transmitidas por “Nausicaa”, poder-se-ão reduzir a dois grandes temas: a loucura belicista dos homens e a preocupação pelas questões ecológicas, que o realizador viria a demonstrar em outras obras, mormente “Princess Mononoke”.


Quanto ao primeiro item referido, “Nausicaa” consiste num clássico manifesto anti-guerra, onde Miyazaki critica de uma forma indirecta, mas assumida, o nacionalismo japonês que levou à ruína do país, no pós-II Guerra Mundial, um tema recorrente no cinema nipónico. O filme demonstra um conjunto de líderes que prefere ver o seu próprio povo definhar, do que ceder ao inimigo, e em virtude disso, a destruição propaga-se de uma forma preocupante. Por outra via, a mensagem ecológica é omnipresente. A razão do estado miserável que os humanos vivem, é a sua cegueira pela tecnologia, que destruiu grande parte da natureza. Esta, por sua vez, arranja forma de se defender, e nasce o “mar da corrupção”, cuja função é erradicar o vírus que lesa o planeta, ou seja, a raça humana. Nesta dialéctica dura e cruel, em que a “nossa” civilização é vista pelos restantes seres da terra, como um inimigo comum, aparece “Nausicaa” com uma missão messiânica, uma Gaia cuja função é encontrar o necessário equilíbrio entre todos os interesses em presença.


"Um gigantesco insecto da floresta da espécie Ohmu"

É do conhecimento dos fãs de Miyazaki, que o realizador gosta de ter personagens femininas emblemáticas e fortes nos seus filmes. Podemos afirmar que tudo começou praticamente com “Nausicaa”. Para muitos, considerada a melhor personagem das películas do realizador japonês, a princesa é sem dúvida alguma, uma das grandes heroínas da história da animação. Do meu ponto de vista, apenas “San”, a guerreira da floresta em “Princess Mononoke”, poderá almejar a alguma comparação. “Nausicaa” é apaixonante, irradia confiança por todos os poros, cativa os que a rodeiam, ama todos os seres vivos sem excepção. Para além disto, é dotada de uma coragem que não conhece fronteiras, sendo uma guerreira temível e uma líder inata. Com todas estas características, é impossível o espectador não gostar de “Nausicaa”, pois ela possui praticamente quase todos os predicados que apreciamos num ser humano e que distinguem as pessoas comuns dos eleitos para a grandiosidade.

Em 1984, Miyazaki criaria uma obra de animação com uma qualidade magnífica, onde já se nota distintivamente a excelência do seu desenho e os efeitos de uma beleza quase indescritível. É certo, devido às naturais limitações tecnológicas da altura, que perderá um pouco para os trabalhos mais recentes do realizador. Contudo, urge situar as coisas no seu tempo, e “Nausicaa” neste particular é um monstro sagrado na verdadeira acepção da palavra. O misturar das características de épocas diversas é delicioso, com guerreiros cuja indumentária é uma armadura, mas que tanto possuem espadas como armas de fogo pesadas e capazes de uma destruição sem par. O amor de Miyazaki pelas máquinas voadoras é extremamente demonstrado em “Nausicaa”, onde podemos observar naves futurísticas com um grande poder bélico, que se digladiam nos céus. A própria figura da princesa “Nausicaa”, em cima do seu planador, constitui um dos ícones da animação mundial mais reconhecidos.

Com a chancela do maior nome da animação japonesa, Hayao Miyazaki, com a produção de outro fantástico executante do género, Isao Takahata (“Grave of the Fireflies”), e banda-sonora de Joe Hisahishi (que recentemente foi o responsável pelas melodias de “Departures”), “Nausicaa” é das melhores realizações de sempre da animação mundial. Com um pendor épico e transcendental, Miyazaki escolheu a grandiosidade ao adoptar o nome de uma personagem da Odisseia de Homero, para baptizar a sua mais bela filha. Numa altura em que o realizador encontrava-se longe do reconhecimento que detém hoje, “Nausicaa” foi um sonho belo tornado realidade e o catalisador para o nascimento dos estúdios Ghibli. Por aqui se afere a importância desta magnífica longa-metragem de desenhos animados, que deslumbrará, mas igualmente educará tanto miúdos como graúdos.

Essencial e imperdível!


"A contagiante alegria de Nausicaa, num dos seus hobies favoritos, voar"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Animação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 10

Gosto pessoal do "M.A.M." - 9

Classificação final: 8,71





sexta-feira, agosto 21, 2009

Beldades do Cinema Asiático - Yumiko Shaku










Mais informações sobre esta beldade do Japão, AQUI.

quarta-feira, agosto 19, 2009

Ip Man - 葉問 (2008)
Origem: Hong Kong
Duração: 107 minutos
Realizador: Wilson Yip
Com: Donnie Yen, Simon Yam, Gordon Lam, Lynn Xiong, Louis Fan, Hiroyuki Ikeuchi, Xing Yu, Wong Yau Nam, Chen Zhihui
"O grande mestre Ip Man"

Sinopse

Em 1930, a cidade de Foshan é conhecida pelo grande número de praticantes de artes marciais, e pelas várias escolas que rivalizam entre si. “Ip Man” (Donnie Yen) é de longe o melhor lutador, mas a sua humildade faz com que não aceite discípulos, e leve uma vida abastada e calma com a sua família e amigos, para além de treinar e tentar aperfeiçoar as suas habilidades. De vez em quando, “Ip Man” luta privadamente com outros mestres, inapelavelmente vencendo-os sempre, inclusive o lutador forasteiro “Jin” (Louis Fan) que pretendia desonrar os combatentes de Foshan.

"Ip Man e a sua família"

Em 1937, com o incidente Marco Polo, o Japão invade em força a China e ocupa Foshan. O outrora rico “Ip Man”, vê-se privado da sua casa que se torna o quartel-general das forças nipónicas e cai na miséria. Obrigado a trabalhar numa mina de carvão e posteriormente na fábrica de algodão do amigo “Quan” (Simon Yam), “Ip Man” apercebe-se da tirania dos japoneses perante os habitantes de Foshan, e começa a criar um sentimento nacionalista e de defesa da pátria ocupada. Vencendo vários japoneses em combates de artes marciais, “Ip Man” acaba por desafiar o general “Miura” (Hiroyuki Ikeuchi), o comandante local, para uma luta perante os habitantes da cidade.

"Ip Man, rodeado por dez lutadores japoneses"

"Review"

“Ip Man” visa ser um filme biográfico acerca de uma das personagens contemporâneas mais importantes do mundo das artes marciais, chamado precisamente Ip Man. Este mestre de artes marciais é bastante conhecido na China e em Hong Kong, tendo sido celebrizado no ocidente por ter sido mentor de, nada mais, nada menos que Bruce Lee. O projecto de fazer um filme acerca da vida de Ip Man já existia há algum tempo, desde 1998, mas parecia votado ao abandono. Contudo, o conhecido produtor Raymond Wong, após ter obtido o consentimento dos filhos de Ip Man, foi de armas e bagagens para Foshan, de forma a investigar o passado do famoso praticante de Wing Chun. Estreada a película, a recepção foi francamente positiva, com críticas bastante favoráveis e a consagração nos Hong Kong Film Awards, onde a obra viria a arrecadar o prémio para melhor filme e para melhor coreografia de acção. Sendo a primeira parte de uma trilogia, a sequela chega já em 2010, onde a personagem de Bruce Lee, aparecerá com a tenra idade de 10 anos.

Ao longo de muitos anos, foram realizadas várias películas das cinematografias de Hong Kong, China e Coreia do Sul, cujo inspiração principal passava pela resistência a um invasor estrangeiro. Em muitas delas, o alvo principal eram os japoneses, pelas razões históricas que todos conhecemos, e que não vale a pena estar a explorar muito agora, pois já o fiz profusamente antes, a propósito de outras críticas. No caso em concreto do cinema de artes marciais, tal premissa deu origem a obras emblemáticas como “Fist of Fury”, “Fist of Legend”, “Fighter in the Wind” e “Fearless”, tendo desta forma quase nascido um subgénero no meio. “Ip Man” é uma obra que se enquadra bastante na linha anteriormente mencionada, tendo inclusive uma cena no dojo em que o mestre chinês dá uma verdadeira lição de pancadaria a um grupo de japoneses. O paralelo é fácil de se aperceber para os mais informados na matéria, não fossem existir cenas parecidas em “Fist of Fury” ou “Fist of Legend”, cujos intervenientes foram Bruce Lee e Jet Li, respectivamente. O nacionalismo está bastante presente, evidenciando-se em vários momentos. “Ip Man” é um herói chinês que recusa a vergar-se perante a opressão que lhe está a destruir o país e subsequentemente a vida. Podemos ver o mestre a tomar diversas atitudes de resistência contra a dominação japonesa, e até contra as aproximações mais amigáveis destes. Exemplo disto é a recusa do pedido do general “Miura” por parte de “Ip Man”, e que consistia em ensinar Wing Chun aos soldados nipónicos. Consta que esta parte não tem nada de mito, mas aconteceu mesmo na realidade, salvaguardando-se desta forma algum rigor histórico.

"Ip Man em acção"

As cenas de acção estão extremamente felizes, com um Donnie Yen numa forma invejável aos 45 anos. A situação só pode melhorar com a coreografia a cargo do insuspeito Sammo Hung, com uma vastíssima e por demais conhecida experiência na matéria. As entusiasmantes cenas de artes marciais estão bem temperadas com a parte mais dramática da trama, fazendo com que os combates não sejam insípidos e plenamente justificados face às circunstâncias. Cumpre dizer que Yen é bem secundado por actores que detém experiência no domínio das artes marciais, como são Louis Fan e Hiroyuki Ikeuchi, sendo este último um cinturão negro em judo.

Donnie Yen, exibe-se num bom plano, e atrever-me-ia a dizer que é dos papéis mais bem conseguidos da sua carreira. Justifico-me pelo facto de normalmente associarmos Donnie Yen às personagens exclusivamente de acção, em que lhe é apenas exigido que se exiba num bom plano a nível do seu inquestionável domínio das artes marciais. Aqui é-lhe imposto algo mais. Yen tem de aliar a parte física à parte mais representativa que ligamos a um actor dito mais convencional. O resultado foi bastante satisfatório. Donnie Yen sem deslumbrar, demonstra que não é apenas um dos melhores executantes de filmes de acção a nível mundial, mas também é capaz de se adaptar a papéis onde efectivamente tem de agir a um nível mais erudito. Na minha opinião, este mito de Hong Kong precisava de um papel assim, nem que fosse para desmistificar algum estereótipo que lhe havia sido colocado. O próprio Donnie Yen haveria de confessar que este tinha sido o trabalho mais difícil da sua profícua carreira. Além de estar meses a preparar-se mentalmente para representar Ip Man, Yen entrou numa dieta exigente de vegetais e consumia apenas uma refeição diária. Treinou imenso Wing Chun e estudou arduamente a vida de Ip Man, de forma a se embrenhar melhor na personagem.

Um dos pontos bem conseguidos de “Ip Man”, é que ao lado de Yen, Fan e Hikeuchi, despontam bons actores, com provas dadas na representação em filmes de géneros distintos do das artes marciais. Gordon Lam possivelmente é o que se sai melhor. O seu papel de um ex-polícia, que se torna um tradutor para os japoneses (e por este motivo, visto como um traidor), é profundo e bem executado. Sentimos as dúvidas que Lam sente ao longo do filme, e o seu desempenho faz-nos questionar acerca da reacção que teríamos numa situação semelhante. Por este motivo, acabamos por justificar muitas das suas acções, e no fim, de uma forma diversa, o heroísmo de Lam acaba por ser quase tão grande como o do próprio Donnie Yen. Igualmente não se pode esquecer a presença do competente e emblemático actor Simon Yam, que se exibe num nível aceitável, embora não dê tanto nas vistas como o já citado Gordon Lam.

Com uma bela banda-sonora do conhecido compositor japonês Kenji Kawai, “Ip Man” constitui uma agradável surpresa e um marco na carreira, tanto do realizador Wilson Yip, como do mítico Donnie Yen. É certo que falha bastante (pelo menos, atendendo ao que li) como biografia do verdadeiro Ip Man, mas ganha no entretenimento e no enredo ficcionado. É pois, com alguma ânsia, que se aguarda “Ip Man 2”, esperando que se enverede pela mesma linha do primeiro filme, onde a acção está bem temperada com o drama. E sempre teremos a oportunidade de ver quem é que Donnie Yen vai desancar em Hong Kong, já que não terá os japoneses como alvo a abater. E sim, como já referi acima, vamos ter como uma das personagens um miúdo chamado Bruce Lee, a dar os primeiros passos na direcção da sua saga no mundo das artes marciais. A curiosidade aumenta ainda mais, quando Wong Kar Wai está a preparar o seu próprio “biopic” do mestre e que terá Tony Leung Chiu Wai como protagonista principal. Desconfio, e tenho a certeza que não estou sozinho neste particular, que iremos nos deparar com uma abordagem completamente distinta da vida de “Ip Man”, provavelmente mais contemplativa e incidente sobre outros aspectos ditos mais existencialistas e dramáticos. Quanto a este “Ip Man”, é sem margem para qualquer dúvida, uma boa obra do cinema de Hong Kong, que entusiasma e, por essa via, merecerá uma atenta espreitadela.

Bom filme!


"O general Miura Vs. Ip Man"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Site oficial

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 7,88




terça-feira, agosto 18, 2009

Beldades do Cinema Asiático - Lee Eun-joo








Uma actriz talentosa e belíssima, que infelizmente já não se encontra entre nós...mais informações AQUI.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Attack the Gas Station!/Juyuso seubgyuksageun -주유소 습격 사건 (1999)
Origem: Coreia do Sul
Duração: 113 minutos
Realizador: Kim Sang-jin
Com: Lee Sung-jae, Yu Oh-seong, Kang Seong-jin, Yu Ji-tae, Park Yeong-gyu, Jun Jeong, Lee Yu-won, Lee Jeong-ho, Kim Su-ro, Lee Won-jong, Jeong So-yeong
"Da esquerda para a direita: Bulldozer, Ddan Dda-ra, No Mark e Paint"
Sinopse
“No Mark” (Lee Sung-jae), “Bulldozer” (Yu Oh-seong), “Ddan Dda-ra” (Kang Seong-jin) e “Paint” (Yu Ji-tae) são quatro amigos delinquentes, que uma noite decidem assaltar uma bomba de gasolina. Depois de provocarem danos avultados e roubarem todo o dinheiro do estabelecimento, parecem partir bastante satisfeitos. Contudo, num dia em que se sentem entediados, decidem repetir a façanha. Acontece que desta vez, já não encontram um pecúlio dito interessante. Por esse motivo, decidem sequestrar o dono da bomba de gasolina, e todos os seus empregados. Igualmente, decidem tomar conta do negócio, servindo os clientes e guardando o dinheiro para si.

"O gerente e os trabalhadores da bomba feitos reféns"

À medida que a noite vai avançando, os amigos prendem mais reféns, vão-se metendo com o rapaz de entregas do restaurante de comida chinesa e entram em confrontos com “gangs” rivais que se metem no território que consideram deles. Resistindo a todos os desafios que se lhes vão deparando, os rapazes continuam a desenvolver de uma forma pouco ortodoxa, o seu negócio. Contudo, e através dos confrontos que vão arranjando com todos, chega a uma altura que todos os caminhos vão dar à bomba de gasolina. Por esse motivo, a polícia e os rivais dos jovens chegam para um inevitável ajuste de contas.

"No Mark"

"Review"

“Attack the Gas Station!” foi uma película que, atendendo ao seu conteúdo, teria de gerar alguma polémica na sua cinematografia de origem, a Coreia do Sul. Para além de evidenciar uma juventude rebelde, que desrespeita instituições e padrões sociais instituídos, foi realizada numa altura em que a Coreia do Sul enfrentava uma grave crise económica. Um dos sintomas deste período foi o despedimento de milhares de trabalhadores da indústria automóvel sul-coreana, actualmente a quinta maior do mundo. Várias alusões a este facto são feitas durante o filme, desde a polícia corrupta e amante de “borlas” a rebaixar a forma como os veículos nacionais são produzidos, evidenciando falhas de estrutura, passando pela personagem “Paint” destruir uns cartazes que encorajavam os trabalhadores do sector a serem produtivos. A inevitável crítica ao imperialismo norte-americano haveria igualmente de aparecer, com um dos elementos do quarteto, o músico “Ddan Dda-ra”, a ser ofendido por consumir uma “Pepsi”. O próprio realizador Kim Sang-jin haveria de confessar, durante a exibição da película no festival internacional de cinema de Vancouver, que as personagens principais desta obra teriam inspirado alguns sul-coreanos a cometer crimes contra bombas de gasolina.


“Attack the Gas Station!” é um filme bastante imbuído de aspectos prementes de uma sociedade contemporânea decadente, e que falha muitas vezes em suportar os seus membros nas ditas situações de crise. Neste caso em concreto, o filme gira em torno da rebeldia da juventude sul-coreana e da forma como a mesma supostamente gera em pura delinquência. Quando nos deparamos pela primeira vez com o grupo de quatro jovens, não sentimos qualquer simpatia pelos mesmos ou pelo seu modo de agir. Eles são violentos, brutos, e despreocupados com os outros, a não ser com eles próprios. No entanto, e à medida que o filme avança, começamos a nos aperceber que as coisas não são bem assim. Acaba por ser evidenciado que o “gang” tem um código moral bastante próprio, e que acaba por revelar uma destrinça aceitável entre o que é justo e o que se revela imoral. Simplesmente, os protagonistas têm uma maneira pouco “normal” em demonstrar as suas convicções perfeitamente aceitáveis. Numa mini-sociedade criada no espaço a que corresponde a bomba de gasolina, “No Mark” e os seus seguidores conseguem revelar capacidades em punir aqueles que são desonestos ou aproveitam-se dos mais indefesos, assim como são capazes de proteger ou recompensar os reféns que são honestos ou carentes. A certa altura, e de uma forma progressiva, concluímos que os presumíveis delinquentes, começam a mudar de forma positiva a vida de todos os que os rodeiam, quão paladinos do antigamente.

"Bulldozer em acção"

Passando de uma fase em que abominávamos o comportamento dos rapazes, e começamos a admirar as suas atitudes de justiça, começamos a nos interrogar acerca das razões pelas quais os jovens agem criminosamente, envolvendo-se em rixas e ataques contra o património alheio. Tudo tem de ter uma explicação, e na altura certa o realizador Kim Sang-jin introduz, de uma forma previsível mas meritória, os conhecidos “flashbacks”. Espaçada e individualmente, cada um dos jovens quando se depara com determinada situação, aviva a memória e viaja até um acontecimento penoso que o marcou, e subsequentemente, provocou “o virar da página”. “No Mark” é um ex-jogador de basebol injustiçado; “Ddan Dda-ra” tinha uma banda de “rock”, mas um problema com dívidas afastou-o do mundo da música; “Paint” teve de enfrentar um pai que não entendia a sua veia artística para a pintura; por fim, “Bulldozer” era constantemente castigado de uma forma peculiar, nos tempos de liceu.

Sendo uma comédia, um tanto ou quanto “sui generis”, esta obra possui momentos de entretenimento bastante divertidos e de fácil apreensão para um espectador ocidental. Misture-se esta prerrogativa do filme, com cenas de acção bem conseguidas, e temos um produto bastante agradável de seguir. Os actores, principalmente os quatro protagonistas do filme, são bastante autênticos nas suas interpretações. E isto assume mais acuidade, quando estamos a falar de papéis que facilmente poderiam transparecer um bando de jovens completamente superficiais ou vazios, à semelhança de muitos “teen movies” norte-americanos.

Um dos grandes trunfos de “Attack the Gas Station!” é expôr uma crítica social, sem ter necessidade de recorrer a grandes pretensiosismos ou a discursos de aparente antologia, mas completamente ocos por dentro. A sua saudável sátira social, bastante incomum para quem está habituado aos produtos de “Hollywood”, é cativante e facilmente conquistará aqueles que visionarem esta película. Merecia uma banda-sonora mais imponente e trabalhada, atendendo a que possui uma personagem virada para o mundo musical e que faz questão de demonstrar essa faceta. Não será uma obra maior do cinema sul-coreano, mas esforça-se por ser uma lufada de ar fresco, numa cinematografia que por vezes está apegada a determinados géneros. E nós por estas bandas, à semelhança de muitos, gostamos de alguma originalidade, portanto...

Uma boa proposta!

Nota: Em 2010, vamos ter uma sequela intitulada "Attack the Gas Station! 2", também dirigida por Kim Sang-jin. Aguardemos, então!

"Pancadaria na bomba de gasolina"

The Internet Movie Database (IMDb) link

Trailer

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Intérprete - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,75







terça-feira, agosto 11, 2009

Beldades do Cinema Asiático - Haruka Ayase










Em relação a esta actriz que é a protagonista da rubrica desta semana, perdoem-me a sinceridade, só me apetece dizer "eu dou Graças a Deus todos os dias, por, na sua infinita sabedoria, ter moldado belezas como estas..."! Disse! Mais informações sobre esta divindade terrena AQUI.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Blood: O Último Vampiro/ Blood: The Last Vampire (2009)

Origem: Hong Kong/Japão/França/Argentina

Duração: 91 minutos

Realizador: Chris Nahon

Com: Jun Ji-hyun (Aka Gianna Jun), Koyuki, Allison Miller, Liam Cunninghan, JJ Feild, Yasuaki Kurata, Larry Lamb, Andrew Pleavin, Liu Lei, Michael Byrne, Colin Salmon, Masiela Lusha, Ailish O'Connor, Constantine Gregory

"Saya"

Sinopse

Desde há centenas de anos atrás, uma guerra grassa entre os humanos e uma raça de demónios sedenta de sangue. Em pleno século XX, mais propriamente em 1970, os demónios parecem ter uma actividade muito intensa na base área de Yokota, uma instalação militar do exército norte-americano, situada no Japão. A razão para tal, parece prender-se com o retorno de “Onigen” (Koyuki), o líder máximo dos seres sobrenaturais e o seu elemento mais poderoso. O “Conselho”, uma organização que se dedica a combater os demónios, apercebe-se do que está para acontecer, e envia “Saya” (Jun Ji-hyun), uma mulher metade humana, metade vampira, para combater os demónios e eliminar “Onigen”.

"Onigen"

“Saya” é colocada no liceu de Yokota como estudante, de forma a poder investigar a situação e agir em conformidade. Na escola, “Saya” faz amizade com “Alice” (Allison Miller), a filha do comandante supremo da base, o general “McKee” (Larry Lamb). Após as raparigas viverem uma série de peripécias, chega o dia em que “Saya” terá de enfrentar “Onigen” num duelo final, e ser-lhe revelado um facto surpreendente.

"Kato, o mestre de Saya"

"Review"

Baseado no anime com o mesmo título, realizado por Hiroyuki Kitakubo e anteriormente criticado neste espaço (ver AQUI), “Blood: The Last Vampire” foi um filme que gerou-me imensa expectativa por várias razões. Quando escrevi um pequeno texto acerca da animação, eu ainda não estava bem interiorizado acerca do universo onde se movimentava “Saya”, e posteriormente tive elementos adicionais que me fizeram perceber melhor o enredo. Deparei-me com uma história fascinante, embora negra e por vezes mórbida, cheia de personagens de antologia, daquelas que ficam na memória. Foi por esse motivo que quando em 2006, o produtor Bill Kong, com intervenção em “O Tigre e o Dragão”, anunciou que “Blood (...)” iria tornar-se num filme com personagens de carne e osso, o entusiasmo foi crescente. Pelos comentários que emergiram por todo o universo especializado, o sentimento de contentamento não se aplicou apenas à minha pessoa, mas foi de certa forma generalista. A empresa, numa fase inicial, foi entregue ao conhecido realizador de Hong Kong, Ronny Yu. Posteriormente, e com a entrada em cena da companhia francesa Pathé, como co-produtora em conjunto com a I.G., a direcção da película viria a ser entregue ao francês Chris Nahon, ficando reservado para Yu o papel de produtor. As belíssimas Jun Ji-hyun (que alteraria o seu nome artístico para Gianna Jun, de forma a soar mais “ocidental") e Koyuki seriam recrutadas, o que granjearia à partida “glamour” e um olhar embevecido dos fãs masculinos. O lendário actor japonês de filmes de acção Yasuaki Kurata completaria o elenco asiático, no que se refere a nomes de primeira linha. Os restantes actores, quer da parte ocidental, quer oriental, são de um campo secundário. No início, estava estabelecido que o argumento decorreria essencialmente num campo militar norte-americano, no Japão pós-II Guerra Mundial. No fim, venceu a ideia que já constava no anime, e a trama sucede-se numa base aérea norte-americana, por altura da guerra do Vietname. A propósito deste aspecto, cumpre informar que Yokota existe mesmo (site oficial AQUI), e nos precisos termos em que é descrita na história.

O anime que serviu de referência a “Blood (...)” foi um inegável sucesso no meio, embora na minha opinião pessoal, algo exagerado. No entanto, tratava-se de um produto que, como acima referi e mais tarde aprofundei, possuía uma ideia fascinante e original, que merecia um desenvolvimento à altura. Desde já posso adiantar que “Blood (..)" é, atendendo ao “frisson” gerado, uma tremenda desilusão, com proporções quase estratosféricas! Com excepção de Jun Ji-hyun e os poucos minutos que Yasuaki Kurata e Koyuki têm direito, a representação atinge por vezes um amadorismo incrível. Os diálogos são entediantes, sem credibilidade ou sentimento praticamente algum. Allison Miller, supostamente teria de agir como “sidekick” e amiga de “Saya”, para além de dar uma desculpa para descobrirmos mais acerca da vida da heroína. Contudo, mais parece uma adolescente enfadonha e chata, e a certa altura rezamos para que “Saya” deixe de salvá-la das complicações em que se mete. O resto dos actores segue no mesmo diapasão fastidioso, e apenas Andrew Pleavin, no papel de “Frank”, consegue a espaços convencer.

"Allison McKee"

Muitas críticas negativas têm sido feitas aos efeitos especiais presentes nesta película, e a mim só me resta dar a mão à palmatória e ser mais um que se junta no clube do “bota abaixo”. Tirando um ou outro pormenor, regra geral são uma calamidade. Os litros de sangue jorrados na película, são expressados num “CGI” da pior qualidade, que deveriam pedir o dinheiro de volta a quem foi entregue o desiderato. A transformação em monstros, também desilude imenso e fiquei com a impressão que se tentou fazer uma péssima imitação da saga “Underworld”. Inclusive, a cena do ataque ao camião que precede a rota final para o epílogo, faz lembrar imenso uma outra que constou em “Underworld: Evolution”, mas num nível claramente inferior, para não dizer despiciendo.

No meio desta amálgama de aspectos menos felizes, sempre se pode afirmar que a acção não defraudará, embora também não seja nada de outro mundo. O responsável por este departamento é o conhecido Corey Yuen, que teve participações a nível de coreografia em “The Moon Warriors”, Fong Sai Yuk”, Red Cliff” e “Red Cliff II”. Mesmo assim, é por demais óbvio que aqui existe uma preocupação direccionada para o estilo, com a inevitável ajuda dos guindastes, e muito menos para a substância e técnica. Verdade se diga, no elenco, apenas Yasuaki Kurata estaria sobejamente creditado para mais, atendendo ao seu inegável historial na matéria em causa. E a prova do que estou a afirmar é que os melhores momentos de acção no filme, passam-se num “flashback” que é efectuado até ao Japão feudal, onde Kurata consegue dar um ar das suas excelentes capacidades no domínio das artes marciais.

Caindo num erro incalculado, mas seriamente previsível, em transformar “Blood (...)” numa mistura pouco ortodoxa da trilogia “Blade” com “Buffy, Vampire Slayer”, a primeira ideia a reter acerca desta obra é a sua evidente banalidade. No entanto, sempre se dirá que tem o mérito de agradar aos fãs pouco exigentes do filme de acção. Igualmente, trata-se da primeira experiência da actriz Jun Ji-hyun num filme quase todo debitado em língua inglesa, onde a bela coreana até nem se sai mal, podendo de alguma forma ser mais versátil, e não se limitar aos papéis exclusivamente dramáticos ou de comédia. Concluímos que haverá algum espaço para os géneros mais movimentados no seu reportório. Outra vantagem, principalmente em relação ao anime, passa por ser facultado uma melhor percepção da história de “Saya”, as suas origens e como é que ela se tornou na figura que nos é apresentada. No restante, trata-se de uma película que não deixará saudades a ninguém, e em alguns, um travo amargo na boca.


"Saya defronta Onigen, no duelo final"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Site oficial (Reino Unido)

Outras críticas em português/espanhol:

Avaliação:

Entretenimento - 9

Interpretação - 6

Argumento - 6

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 6

Gosto pessoal do "M.A.M." - 6

Classificação final: 7