"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

terça-feira, março 16, 2010

“Testemunhos” de Sérgio Andrade (“Kino Crazy”)

Templo Zu Lai 031

O convidado desta semana é Sérgio Andrade, o administrador do excelente blogue brasileiro “Kino Crazy” (para aceder, clicar na foto acima, onde se pode ver o Sérgio no conhecido templo Zu Lai). Gosto especialmente de trocar ideias com este entrevistado e visitar o seu espaço, pois o Sérgio é dotado de uma vasta cultura cinematográfica, que se estende por bastantes géneros de cinema, sobre os quais encontramos sempre uma opinião significativa e muito fundamentada. Por isso, aconselho vivamente a descobrirem o espaço deste amante de cinema que sabe do que fala.

Abaixo fica o resultado da entrevista. 

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Sérgio Andrade: Creio que seja uma sensibilidade particular na compreensão do ser humano, a coragem em abordar assuntos polêmicos, um modo de observar o mundo bem diverso do nosso, ocidentais.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

S.A. : Além do que disse na pergunta anterior, me fascina também toda a parte técnica: os enquadramentos, a utilização da música, das cores, cenários, figurinos, o modo de interpretação dos atores e, last but not least, a beleza das mulheres orientais.

“M.A.M.”:  Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

S.A. : Tenho quase certeza que foi “Mothra”, como é conhecido no ocidente o filme de monstro “Mosura”, de Ishirô Honda. Vi quando tinha uns 6 anos e nunca mais revi, mas me impressionou de tal forma que ainda lembro de várias cenas, como as diminutas irmãs gêmeas cantoras ou a lagarta gigante destruindo a cidade com o bater das asas.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

S.A. : Apesar de não ter mais a mesma força que tinha até uns 20 anos atrás, minha cinematografia oriental favorita continua sendo a japonesa, que ainda consegue revelar diretores de raro talento como Kiyoshi Kurosawa, Sion Sono, Takashi Miike e outros.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

S.A. : Quando me fazem esse tipo de pergunta sempre digo que gosto de Cinema, o que equivale dizer que me identifico com filmes de todos os gêneros, desde que sejam bons, claro rsss!

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

S.A. : Caramba, Jorge, essa é difícil...Por que não 50? Ou 500? Mas vamos lá (em ordem alfabética de título no Brasil):

Os Amantes Crucificados (Chikamatsu Monogatari) – Kenji Mizoguchi

Era uma vez em Tóquio (Tokyo Monogatari) – Yasujiro Ozu

O Império dos Sentidos (Ai no Korida) – Nagisa Oshima

O Mundo de Apu (Apur Sansar) – Satyajit Ray

O Profundo Desejo dos Deuses ( Kamigami no Fukaki Yokubo) – Shohei Imamura

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

S.A. : Shohei Imamura

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

S.A. : Chishu Ryu, o alter ego de Ozu e Gong Li, a musa de Zhang Yimou.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

S.A. : Sobrevalorizado: Ashes of Time (Redux ou não), de Wong Kar Wai .

Subvalorizado: Invisible Waves, de Pen-Ek Ratanaruang.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

S.A. : A cidade de São Paulo tem uma grande colônia japonesa, concentrada em sua maior parte no bairro da Liberdade. Foi assim que, entre o final da década de 40 e início dos anos 80 do século passado, São Paulo se transformou no paraíso do cinema japonês. As grandes companhias produtoras como Toho, Shochiku e Nikkatsu abriram salas na Liberdade, onde lançavam seus filmes às vezes com apenas alguns meses depois da estréia no Japão. Nos primeiros anos os filmes eram lançados sem legendas, mas com a profissionalização do setor começaram a ser legendados. Eram quatro ou cinco cinemas voltados exclusivamente para o filme  japonês (Niterói, Nippon, Jóia, etc.). Dessa forma muitos cineastas, como Yasujiro Ozu, p.ex., foram descobertos por nossa crítica muito antes da consagração na Europa ou nos EUA. O cinema japonês também exerceu grande influência nos diretores paulistanos, como Walter Hugo Khoury, e quase todo pessoal do movimento chamado “Cinema Marginal”, de Carlos Reichenbach à João Callegaro, de Ozualdo Candeias à João Silvério Trevisan.

Nos anos 80, com o surgimento do videocassete e a mudança de comportamento da nova geração a frequência às salas foi diminuindo e no final da década todos aqueles cinemas estavam fechados. Durante algum tempo foram pouquíssimos os filmes orientais que estrearam por aqui. Hoje em dia a coisa melhorou um pouco, temos recebido filmes japoneses, chineses, coreanos e até tailandeses, mas em sua maioria são filmes de gênero (terror, principalmente). Assim, temos pouco contato com o que de melhor tem sido feito no cinema oriental. Então, respondendo a sua pergunta, ainda há muito para fazer.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

S.A. : Se você gosta de cinema ou tem curiosidade em saber como é a vida no oriente, você só poderá se enriquecer com as lições de arte e vida dadas pelo cinema oriental.

2 comentários:

Sergio Andrade disse...

Meu caro Jorge, grato pelas palavras carinhosas.
É uma honra estar aqui. Obrigado mais uma vez pelo convite para a entrevista.

Grande abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

De nada Sérgio! Eu é que agradeço teres acedido a participar nesta iniciativa do "My Asian Movies"!

Abração!