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sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Boat People/Tau ban na hoi - 投奔怒海 (1982)

Capa

Origem: Hong Kong

Duração: 108 minutos

Realizadora: Ann Hui

Com: George Lam, Season Ma, Cora Miao, Andy Lau, Kei Mung Sek

Akutagawa

O jornalista japonês Shiomi Akutagawa”

Sinopse

“Shiomi Akutagawa” (George Lam) é um fotojornalista japonês, que retorna ao Vietname em 1978, três anos após a vitória dos comunistas sobre o Vietname do Sul e os seus aliados norte-americanos. Apesar de as autoridades quererem fazer crer que vivem numa sociedade feliz e justa, o que “Akutagawa” testemunha é bastante diferente. Uma grande falange da população passa fome, a brutalidade policial grassa nas ruas e a corrupção é comum entre os elementos do governo.

Cam Nuong

Cam Nuong”

Nas suas deambulações, “Akutagawa” faz amizade com uma família pobre de Danang, acompanhando de perto “Cam Nuong” (Season Ma), o elemento mais velho dos três irmãos. Por outra via, “Akutagawa” toma contacto com “To Minh” (Andy Lau), um ladrão que é enclausurado num campo de concentração, denominado sugestivamente de “nova zona económica”, onde a sua função é a desminagem. “To Minh” tenta fugir para fora do país num barco de refugiados, mas a aventura acaba em tragédia. “Akutagawa” sente a necessidade de dar a conhecer ao mundo o que na realidade se passa no novo Vietname, mas a sua tarefa corre grande perigo de fracassar.

To Minh

To Minh”

Review”

Para muitos considerado como o filme mais importante da carreira da realizadora Ann Hui, feito numa fase ainda precoce da sua carreira, “Boat People” centra o seu enredo no impacto repressivo e violento da ditadura de Ho Chi Minh nos diversos sectores da sociedade vietnamita. À altura foi considerado, com muita propriedade, uma película extremamente intensa e que mereceu honras de exibição (com polémica á mistura) no festival de Cannes, edição de 1983. A ideia para levar a cabo a empresa que constituiu esta obra, teve origem no grande número de refugiados vietnamitas que começou a chegar em Hong Kong, nos fins dos anos '70. Hui, encarregue de fazer um documentário baseado nesta situação, e após uma série de entrevistas com os fugitivos do regime comunista acerca da queda de Saigão e da vida de então no Vietname, propôs-se a realizar “The Story of Woo Viet”, onde debutava Chow Yun Fat, no papel precisamente de um vietnamita que se refugiava em Hong Kong. Posteriormente, a República Popular da China, daria autorização a Ann Hui para rodar “Boat People” na ilha de Ainan, tornando-se este filme o primeiro de Hong Kong a ser rodado completamente na potência continental, sob o regime comunista. Para quem não sabe, o termo “Boat People”, refere-se aos imigrantes ilegais ou aqueles que procuram asilo num país estrangeiro, e que normalmente usam barcos para chegarem aos seus destinos. A designação teve uma certa afinidade com os vietnamitas, pois o seu êxodo naqueles transportes foi particularmente significativo na época referenciada.

Atendendo à trama e forma como é exposto o regime comunista vietnamita, era de esperar que o filme gerasse alguma controvérsia, tendo sido precisamente o que sucedeu. Considerando que a China tinha travado recentemente, uma curta mas sangrenta guerra com o Vietname, muitos viram “Boat People” como uma propaganda propositada contra este último país. Ann Hui sempre negou este aspecto, enfatizando que o resultado da película baseou-se tão-só nas várias entrevistas com refugiados vietnamitas que manteve em Hong Kong. Igualmente acentuou que os chineses nunca lhe haviam solicitado que orientasse o argumento para a difamação do governo sediado em Hanói. A questão é que até hoje, Hui não se livrou do rótulo de anti-regime vietnamita.

Vítima

Uma vítima jaz sob o estandarte vietnamita”

Efectivamente, o filme faculta um olhar cruel sobre a situação do Vietname pós-guerra e o impacto das reformas do conhecido ditador Ho Chi Minh, sobre o dia-a-dia dos seus conterrâneos. Impera a pobreza e a tirania, que o jornalista “Akutagawa” se apercebe, apesar de alguns esforços dos capangas do regime em esconder a realidade. À medida que o repórter se embrenha cada vez mais no dia-a-dia dos vietnamitas, na cidade de Danang, em especial de uma família com quem trava um conhecimento mais aprofundado, esta visão verdadeiramente aterradora vai tomando forma. E progressivamente vamos nos percebendo as razões daqueles que fogem de um inferno na terra, tendo em vista a procura de uma vida melhor, ou apenas de paz e segurança. Tudo será melhor do que a situação em que vivem actualmente.

Hui dirige o filme com uma mestria de saudar, e faculta-nos diversos momentos fortes e simbólicos. Pense-se nas cenas em que os corpos de pessoas fuziladas, são pilhados pelos seus concidadãos pobres que, mais do que qualquer falta de respeito pelos mortos, querem apenas encontrar algo de valor que os ajude a sobreviver. Mas na realidade, um dos momentos mais fortes e que originaram uma polémica enorme, foi aquela em que o exército vietnamita intercepta um barco de refugiados, e metralha-o impiedosamente, pondo fim à vida de algumas dezenas de pessoas. A realizadora Ann Hui insiste que a situação em concreto foi baseada num evento real, esclarecendo apenas que na sua obra as pessoas são baleadas, enquanto que no acontecimento invocado, o barco foi afundado pelas patrulhas do país da Indochina.

Os actores denotam um trabalho meritório e situado num plano que reputo de elevado. George Lam é credível no papel do jornalista japonês, em busca da verdade e genuinamente preocupado com a miséria do povo vietnamita. Season Ma, enternece no papel jovem de 14 anos, que se vê na contingência de cuidar da família e tudo fazer em prol dela, principalmente do seu irmão mais novo. Na altura, um jovem e desconhecido Andy Lau (sim, esse mesmo!) evidencia que poderia ser um caso sério em Hong Kong. O que é certo é que decorridos 28 anos, Lau é uma das maiores figuras do cinema asiático e do da região administrativa em particular.

Impregnado de humanidade, “Boat People” constitui um filme que facilmente poderá ser acusado de propaganda contra o regime comunista que emergiu vitorioso da guerra do Vietname. O que é certo é que, ao contrário do que alguns dizem, o tempo não consegue apagar tudo e todos nós sabemos, em maior ou menor medida, o quão desumano poderá se tornar uma sociedade marcial, dominada por um poder político ditatorial, que acaba por servir apenas os interesses de alguns. Mesmo questionando-se a mensagem e a veracidade histórica (sempre discutível), estamos perante um bom filme, na tradição de películas fantásticas como “The Killing Fields”, de Roland Joffé. É cru, mas ao mesmo tempo incrivelmente sentimental. Por vezes violento, contém igualmente momentos de uma ternura inesquecível. Atente-se ao epílogo, é centremo-nos no olhar com que “Cam Nuong” fixa no horizonte, à medida que segura no colo o seu pequeno irmão. E se calhar perceberemos minimamente o que é um misto de sonho, expectativa, esperança e algum sofrimento.

A ver com muita atenção!

Cam Nuong e o irmão 2

Cam Nuong fita o horizonte, ao mesmo tempo que embala o irmão mais novo”

imdb 8/10 (128 votos) em 26 de Fevereiro de 2010

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 8

Argumento – 8

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 8

Mérito artístico – 9

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8

Classificação final: 8,13

2 comentários:

Takeo Maruyama disse...

Jorge, acredite se quiser, mas o ASIAN FURY despertou do sono de 1 ano!!!!

Um grande abraço.

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Graças a Deus!

Bem-vindo, Takeo!

Abraço!