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domingo, julho 08, 2007

Heaven's Soldiers Aka Soldiers of the Apocalypse/Cheon-goon - 천군 (2005)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 105 minutos

Realizador: Min Joon-ki

Com: Park Joong-hoon, Kim Seung-woo, Hwang Jeong-min, Kong Yeong-jin, Kim Byeong –choon, Ma Dong-seok, Kim Su-hyeon, Min Joon-ki, Lee Han-sol

"Yi Soon-shin"

Estória

Em 2005, no âmbito da política de aproximação entre as duas Coreias, ambas as nações desenvolvem um projecto conjunto, que passa pela criação de uma ogiva nuclear com um poder de destruição 100 vezes superior ao da bomba lançada sobre Hiroshima, na II Guerra Mundial. Os Estados Unidos da América descobrem as intenções coreanas e resolvem lançar um ultimato para que a arma de destruição massiva lhes seja entregue, o que é aceite por ambos os países.

O oficial norte-coreano “Kang Min-gil” (Kim Seung-woo) não se conforma e furta a bomba, aproveitando pelo caminho para raptar a física nuclear “Kim Su-yeon” (Kong Hyo-jin). O major do exército sul-coreano “Park Jeong-wu” (Hwang Jeong-min) e um grupo de comandos são encarregues de recuperar a ogiva e a cientista, indo no encalço do oficial revoltoso.

Durante uma furiosa troca de rajadas de metralhadora, a anunciada passagem de um cometa desencadeia um vácuo no espaço temporal, que transporta os litigantes até ao ano de 1572, época da dinastia Joseon na Coreia, tempo de grandes conflitos militares que ameaçam a soberania do reino.

"Yi Soon-shin ladeado dos líderes dos soldados sul-coreanos (esquerda) e norte-coreanos (direita)"

Entrando em confronto com uns bárbaros chineses que se digladiavam com camponeses coreanos, os soldados facilmente vencem um pequeno exército, devido ao seu armamento moderno. A população fica fascinada e atribui-lhes o epíteto de “Soldados do Céu”. Posteriormente deparam-se com um ladrão de seu nome “Yi Soon-Shin” (Park Joong-hoon), que não é nada mais, nada menos, que o almirante “Soon-shin”, considerado a personagem mais inspiradora e famosa da história coreana.

Os soldados ficam chocados, em especial os sul-coreanos, por se depararem com um escroque, quando deveriam estar perante o seu ídolo. O major “Park” decide fazer tudo para que “Yi Soon-shin” entre “nos eixos”, e assuma o seu glorioso destino, mas terá que enfrentar inúmeras dificuldades, que vão desde a diferença de costumes e mentalidades, os conflitos latentes com os colegas norte-coreanos e o desejo de voltar à sua época.


"No calor da batalha"

"Review"

Com um forte sentimento nacionalista e porque não dize-lo, completamente anti-americano, “Heaven’s Soldiers” constitui uma película orgulhosa das suas origens e que tudo faz para passar uma mensagem de unificação das duas nações da península coreana, separadas pelo famoso paralelo 38.

É característica indefectível e comum dos aludidos sentimentos nacionalistas, a exteriorização de símbolos que elevem o orgulho de um povo, que normalmente se reconduzem a eventos e épocas gloriosas, ou então a personalidades com um relevo incontornável na história. Pense-se, a título de exemplo, na apologia do império romano que Benito Mussolini tão frequentemente fazia.

Pois é, em “Heaven’s Soldiers”, as honras couberam ao almirante Yi Soon-shin, uma figura que provavelmente não dirá nada à maior parte das pessoas que estão a ler este texto, mas que para os sul-coreanos é um verdadeiro herói militar nacional, com uma pujança talvez ainda maior do que Dom Nuno Álvares Pereira significa para nós portugueses, ou Dom Pedro IV (I do Brasil) para os brasileiros.

O anti-americanismo é aflorado algumas vezes, sendo mesmo analisada a hipótese de as duas Coreias, em conjunto, declararem guerra ao colosso norte-americano. Ponderam-se ataques preventivos, formas de defesa posterior, etc. Contudo o bom senso prevalece, pois chega-se à conclusão que um conflito com os americanos, resultaria numa inevitável derrota. Só se pode concluir que a existência de filmes coreanos na linha ideológica deste “Heaven’s Soldiers”, são a prova da existência de uma facção da sociedade sul-coreana, nomeadamente a mais intelectual, que não está satisfeita com a influência norte-americana no país. O mesmo se poderá dizer em relação aos habitantes do Japão, que amiúde expressam o seu descontentamento.


"O exército dos bárbaros chineses"

Sendo um filme sul-coreano, nação que actualmente abriga a quarta indústria cinematográfica mundial, a nível do número de produção de filmes (apenas ultrapassada pela Índia, E.U.A. e Hong Kong/China), existem certas características que não poderiam deixar de constar na película.

Desde logo ressalta uma enérgica volubilidade, que vai desde os momentos de comédia mais pura, ao já esperado e exacerbado melodrama, sem o qual um filme sul-coreano não pode, pura e simplesmente, subsistir e/ou existir.

As partes cómicas reconduzem-se, como era de esperar, ao choque sociológico existente entre coreanos separados por quatrocentos e tal anos de existência. Ao armamento é dado um especial enfoque. Veja-se a cena em que o inspector da polícia interroga dois soldados coreanos que foram capturados, e teima em tirar e retirar a cavilha de uma granada, desconhecendo que tinha nas mãos uma arma com bastante potencial destrutivo.

O inevitável drama é guardado mais para a segunda parte do filme, onde o almirante Yi Soon-shin desperta para a sua missão divina, ou seja, liderar os coreanos contra todas as ameaças externas opressoras. Sob o signo de uma extrema previsibilidade, quase que adivinhamos tudo o que se vai passar, e os já costumeiros sacrifícios e mortes que vão ocorrer.

Interessantes de se observar são os conflitos latentes entre os soldados norte e sul-coreanos. Começam pelas discussões sobre quem venceu os japoneses, com os elementos da nação comunista a pugnarem pelo mérito ser atribuído ao amado líder Kim Ill-sung, sendo contrariados pelos vizinhos democráticos, que tentam explicar que muito antes disso, no século XVI, o almirante Yi Soon-shin tinha evitado a dominação japonesa numa guerra que teve como culminar a batalha naval de Myeongnyang (13 navios sul-coreanos contra 333 navios japoneses!!!). Posteriormente, chegam a dividir a casa do então ladrão Yi Soon-shin em dois lados, um sul e um norte, fazendo uma atabalhoada versão da zona desmilitarizada do paralelo 38. Escusado será dizer que atendendo ao objectivo do filme, as amizades começarão a surgir e estes aspectos “menores” serão deixados para trás.

Sendo um filme que lida com alguns aspectos de ficção científica, ou não estivéssemos a falar de viagens no tempo, os efeitos especiais têm forçosamente que marcar a sua presença. A qualidade é acima da média, o que só prova que as nações asiáticas dotadas de grande evolução tecnológica, sendo os exemplos mais evidentes, o Japão e a Coreia do Sul, começam a dirigir o seu “know how” para a indústria cinematográfica.

Quanto aos restantes itens, todos se encontram praticamente num nível bom. Cenas de luta bem feitas, excelente fotografia, música de pendor épico, actuações aceitáveis, embora longe de qualquer laivo de brilhantismo.

“Heaven’s Soldiers” é um filme agradável de ver, embora tenha defraudado um pouco as minhas expectativas, estando longe de ser considerado um dos melhores produtos cinematográficos coreanos, essencialmente pelo facto de nada trazer de novo, ao contrário do que tenta fazer transparecer.

"Kang Min-gil, líder dos soldados norte-coreanos, na iminência do confronto"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 7

Mérito artístico - 7

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,25





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