Avalon Aka Gate to Avalon (2000)

Origem: Japão/Polónia

Duração: 102 minutos

Realizador: Mamoru Oshii

Com: Malgorzata Foremniak, Wladyslaw Kowalski, Jerzy Gudejko, Dariusz Biskupski, Bartek Swiderski, Michal Breitenwald, Zuzanna Kasz, Alicja Sapryk

"Ash"

Considerações pessoais/Introdução

"Avalon" constitui um filme pouco comum no âmbito das cinematografias asiáticas, pelo facto de não possuir nenhum actor proveniente daquelas paragens, sendo os mesmos todos polacos. Mesmo assim e atendendo a que o realizador e praticamente toda a sua equipa técnica são japoneses, para além dos capitais investidos na feitura da película, considero que estes factos constituem motivos suficientes para que "Avalon" mereça um comentário aqui no "My Asian Movies".

Nota: Esta crítica foi elaborada antes da criação da secção denominada "Cunho da Ásia".

"Bispo"

Estória

"Ash" é uma das melhoras jogadoras de "Avalon", um "RPG" de guerra muito pouco convencional, pelo facto de os jogadores interagirem de tal forma que tudo parece real.

A rapariga fazia parte de um grupo conhecido como "Wizards", uma equipa praticamente invencível e que actualmente encontra-se desmantelada, devido a um acontecimento estranho, que deixou o seu líder "Murphy" a subsistir num estado vegetativo num quarto de hospital.

Após este evento, "Ash" continua a participar no jogo e vive dos prémios que ganha devido às suas extraordinárias "performances". Encontra-se perfeitamente viciada na competição, sendo uma fumadora compulsiva e uma pessoa solitária que tem como único amigo um cão de raça "Basset Hound", vivendo ambos num lúgubre apartamento.

Tudo muda quando um dia "Ash", habituada a não ter rival no "Avalon", assiste ao desempenho de um concorrente com a categoria elevada e rara de "Bispo" (os jogadores possuem categorias que indicam a sua mestria no jogo), que supera qualquer actuação que ela já tenha conseguido fazer no jogo.

"Ash" tenta obter informações acerca do rival, mas nada consegue pois tudo leva a crer que o "Bispo" opera dentro do próprio jogo, enquanto a maior parte das pessoas tem que aceder a partir do mundo real.

Decorrido algum tempo, o "Bispo" contacta "Ash" tendo em vista recrutá-la para uma equipa que está a formar para o maior desafio que qualquer jogador de "Avalon" pode ambicionar: aceder ao nível "Classe Especial A"! Esta fase do jogo existe, sendo no entanto praticamente um mito, pois qualquer um que lá acedeu, nunca voltou em condições mentais sãs para contar o que se passou. São por esta razão conhecidos como "os que não retornam".

"Ash" aceita a proposta pois é a única maneira de saber o que na realidade se passou com "Henry", iniciando desta forma o jogo mais difícil da sua vida!

"As sombras"

"Review"

Os filmes de Mamoru Oshii apresentam características que por vezes se reconduzem a uma aura obscura impregnada de solidão e com um extremo cuidado nos detalhes. Outro detalhe que chama a atenção é a fixação por cães, uma constante em quase todos os seus filmes.

Cinco anos após a sua obra mais aclamada, o "anime" "Ghost in the Shell", Oshii apresenta-nos "Avalon".

Desde logo podemo-nos questionar o porquê da feitura do filme na Polónia, exclusivamente com actores deste país e falado em polaco. Só Oshii nos poderia responder directamente a estas questões. Talvez passe pelo facto do leste da Europa possuir uma atmosfera propícia à aura fantasmagórica, ilustrada pelo cinza-acastanhado da fotografia. Não sei. Porventura até poderá haver uma razão de índole mais prática para isto ter sucedido.

As representações dos actores são em tudo à imagem do filme, dotadas de um circunspectivismo tal, traduzido pelo facto de os intervenientes limitarem-se a descarregar emoções da maneira mais fria possível. Não se trata de uma crítica negativa! Quem visionar "Avalon" perceberá a razão para esta constatação.

A própria escolha das personagens demonstra em pleno o estilo do realizador japonês, apresentando uma heroína fria como um cubo de gelo e que apenas denota algum rasto mínimo de emoção, quando o seu querido "Basset Hound" desaparece do apartamento.

"Jogador eliminado!"

O argumento é de boa qualidade, procurando constantemente dissertar acerca da fronteira entre a realidade "real" (passe a redundância) e a realidade virtual, usando um jogo fictício como o palco ideal para a exploração exaustiva deste tema, nunca fornecendo uma resposta directa, antes colocando questões perspicazes.

Verdadeiramente bons são os efeitos especiais, sendo os mesmos dotados de "designs" maravilhosos. As rajadas violentíssimas das metralhadoras dos tanques, os bombardeamentos efectuados pelos helicópteros e a maneira indicativa da eliminação dos jogadores na competição são arte do mais elevado quilate. Acima de tudo o que mais me impressionou, foi o aparecimento das "Sombras", personificadas por raparigas de tenra idade, com um ar bastante inocente, mas que detêm um papel importante no jogo. O contraste de cores existente entre estas personagens e os cenários é de regalar a vista!

A banda-sonora acompanha a elevada qualidade desta longa-metragem, com a ópera a servir de parceiro ideal para o que se pretende transmitir. No epílogo, há um verdadeiro clímax neste aspecto em particular.

"Avalon" é uma proposta dotada de grande substância e mérito, que aconselho sem dúvida o visionamento. Apesar de viver num cenário de guerra urbana, não é uma película especialmente movimentada, pelo que os amantes de acção poderão sentir-se algo desiludidos.

Uma obra que mereceu a selecção para Cannes, e que possui uma edição nacional bastante aceitável da "New Age".

"Helicóptero sui generis"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Do You speak movies, Mkenobi, Crítica de arte

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 7

Argumento - 8

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,88