"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

“Testemunhos” de Nuno Barradas Jorge Aka Atomo (“Bitlogger”)

atomo

O convidado desta semana, acima epigrafado, fez-me o grande favor, sem para tal ser solicitado, de me remeter uma mini-biografia que passo a transcrever: “Nuno Barradas Jorge (aka Atomo!) é um blogger, artista multimédia, ilustrador e académico de cinema. Vive, trabalha e estuda no Reino Unido. Durante 4 anos editou Bitlogger (para aceder, carreguem na foto acima). Como em tudo na vida, leva estes questionários a sério, mas sem grande stress ou coerência. Afinal o Cinema é um antes do mais um prazer: exige insistência, goza-se de forma errática e ao sabor dos desejos e sabe sempre bem!”.

Na parte que me compete, tenho a dizer que o “bitlogger” sempre foi um espaço que colheu imenso o meu respeito e do qual fui um assíduo visitante. O seu conteúdo era vastíssimo, e embrenhava-se por uma diversidade de assuntos extremamente interessantes que, no que toca ao cinema, abarcava uma imensidão de temas onde as cinematografias não tinham fronteiras, nem tempo. Na parte mais “asiática” da coisa (e não só), o Nuno sempre teve uma sensibilidade especial para expor as suas ideias, numa escrita cuidada, compreensível e cativante. Por estar a falar no passado, já se percebe que o “bitlogger” parece ser um espaço extinto. Faço votos para que um dia seja reactivado, pois estava dotado de uma grande qualidade. Visitem-no e confiram “in loco”. Vale bem a pena!

Abaixo fica o resultado da entrevista.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Nuno Barradas Jorge : Actualmente pouco, já que o cinema oriental (sobretudo o mainstream) que nos chega à Europa está em sintonia como moldes de produção globais. No entanto existem alguns realizadores que conseguem marcar diferenças que normalmente atribuímos ao cinema oriental: orientação (cinemato)gráfica diferente da ocidental, narrativa mais complexa que a tradicionalmente explorada pelo cinema mainstream clássico (ou de Hollywood), um certo pendor para uma contemplação da imagem, algo inexistente actualmente na produção comercial americana e europeia.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

N.B.J. : Penso que inicialmente foi um certo ‘exotismo’ por tipo(s) de cinema diferente(s) do que estava habituado a ver na televisão e a uma cultura diferente que não conhecia de todo. Sentir esse frisson penso que será algo que muitos cinéfilos devem sentir quando deparam com algo novo. Actualmente penso que é a descoberta de filmes ou ‘franjas’ cinematográficas que ainda conseguem ser inovadoras, algo já difícil numa cultura global cada vez mais uniforme e homogeneizada.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

N.B.J. : Confesso que não, embora esteja quase certo que deverá ter sido alguma coisa do Kurosawa que estaria a dar na televisão. Lembro-me de quando era criança de ficar estupefacto a olhar para a televisão ao ver os Sete Samurais ou os Contos da Lua Vaga. Essas são das primeiras memórias que tenho do cinema oriental … e do tal frisson de que estava a falar antes.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

N.B.J. : Se estivermos a contar apenas com o trio do costume (Coreia do Sul, Hong Kong e Japão) parece-me que actualmente a Coreia do Sul ainda me consegue surpreender, sobretudo com realizadores esquecidos que agora estão a ser re-descobertos como Ki-young Kim.

Mas se abrangermos mais o espectro, parece-me que muita coisa interessante vem da Tailândia. O cinema de acção Thai goza de algum culto, a comédia é ainda bastante fresca e existe um tipo de comédia muito 'transgender' que realmente é inovadora nas filmografias orientais. Mesmo com a censura, a Tailândia consegue manter uma certa surpresa cinematográfica. Talvez seja porque ainda não é muito conhecida fora da zona, mas pessoalmente acho que também deve ser porque não estão muito preocupados em exportar para mercados globais, como actualmente o Japão e a Coreia do Sul, que capitalizam muito num cinema de terror já esgotado.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

N.B.J. : Essa é difícil! De tudo um pouco, realmente! Mas se quisermos dividir as coisas por ‘géneros’, gosto bastante dos filmes dos anos 60 e 70 (japoneses) de Samurais e das excentricidades dos super heróis e monstros nos filmes Tokusatsu… sobretudo os mais antigos… e gosto muito de um certo drama e da comédia offbeat coreana e japonesa… nem só de bizarria vive o homem!

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

N.B.J. : Essa ainda é mais difícil! Vou subverter a coisa e fazer um jogo tipo Bruno Aleixo: 5 filmes orientais dos últimos 20 anos que escolhia para ver em loop até morrer :

Electric Dragon 80.000 V (Sogo Ishii, 2001)

Ping Pong (Fumi Sori, 2002)

Chungking Express (Wong Kar Wai, 1994)

Linda, Linda, Linda (Nobuhiro Yamashita, 2005)

My Sassy Girl (Jae Young Kwak, 2001)

Nenhum deles poderá ser considerado uma obra-prima, mas enfim…

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

N.B.J. : Agora é que rebentastes a escala de dificuldade! Pelas filmografias completas: Jae-young Kwak, Sogo Ishii, Yasujiro Ozu. Esses são os 3 que me lembro assim agora… de certeza que se tiver que olhar para isto daqui a 5 minutos vou encontrar mais 3 diferentes… muito sádica esta pergunta (lol)!

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

N.B.J. : A coreana Du-na Bae e o japonês Tadanobu Asano… raros serão os filmes desses dois actores que deixaria de ver.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

N.B.J. : Pessoalmente não entendo a hiper-valorização que se costuma dar a certas obras do Takashi Miike, embora reconheça o valor desse realizador. Também não entendo o enaltecimento de filmes mais espampanantes como Sakuran (2006). Acho que sobretudo este filme joga muito com uma certa ‘orientalidade’ para corresponder a uma distorção da visão do que é o cinema oriental, em parte devido as expectativas ‘patronizadoras’ das audiência ocidentais. Deixa uma sensação de que o cinema japonês actual é apenas apelativo visualmente, algo que é errado. Por outro lado existe ainda muita coisa para descobrir, no cinema mais recente... lembro-me assim de repente do Hsiao-hsien Hou, que é um tipo idolatrado pela critica, mas que tem sido ignorado pelo público, o que é pena. E claro, os filmes do Sogo Ishii, que são algo subvalorizados por serem mais low-budget. Mais isto, como tudo aqui expresso, são gostos pessoais!

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

N.B.J. : Em Portugal (o meu pais de origem), não sei muito bem, pois não tenho acompanhado o mercado. No pais onde vivo de alguns anos para cá, o Reino Unido, o mercado é algo pobre em diversidade, ficando-se muito pelos títulos do costume, sobretudo no que toca ao J-Horror e afins. As salas de cinema independente (fora de Londres entenda-se) vivem muito de um certo ‘indie’ formatado pelo gosto anglo-saxónico (muito pouco independente realmente). O que chega a essas salas de oriental são filmes que foram ao Sundance ou festivais assim… pouco do que chega, por exemplo, a França (um pais central para divulgação de filmografias orientais) vai para a esse tipo de cinema independentes.

Mesmo assim existem realmente boas surpresas. Em DVD (mais baratos que em Portugal) a oferta tem melhorado visivelmente nos últimos 3 anos e encontram-se títulos pouco divulgados e a preço acessível (a minha cópia do ‘Tokyo Zombie’ custou-me o equivalente a 5 euros!). E existem sempre surpresas, sobretudo porque algumas pessoas se mexem para trazer certos filmes e realizadores orientais a festivais pequeninos. O Bong Joo Ho (o realizador do Gwoemul) vai estar por aqui dentro de poucos dias a apresentar o seu último filme… algo surpreendente! (Nota: A entrevista do Nuno já foi remetida há algum tempo, pelo que se pede aos leitores a devida adaptação em função do contexto temporal, no que concerne à última frase).

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

N.B.J. : Isso vai depender dos gostos pessoais dessa pessoa, mas no geral o que se pode dizer às pessoas que têm curiosidade será a de irem pelos 'valores seguros'. Aquelas obras que (vai-se lá saber porquê) conseguiram ficar na mente do público ocidental. Filmes tão diferentes como "My Sassy Girl", "Yojimbo", ou "A Viagem de Chihiro" decerto que serão bons pontos de partida para quem tiver alguma curiosidade e não estiver muito condicionado pelo gosto dominante dos blockbusters. Essas obras normalmente abrem portas para outros realizadores e filmes e, sobretudo 'acostumam' muitas pessoas que pertencem a uma certa audiência preguiçosa a ser curiosa e procurar mais – é assim que as trends cinematográficas começam! Ser curioso é a melhor qualidade em alguém que gosta de cinema, e essa é a melhor arma para esse tipo de condicionantes.

3 comentários:

atomo! disse...

Obrigado pelas palavras elogiosas ao BitL (e exageradas tb!) e um grande abraço de um leitor assiduo!

a!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Não foram nada exageradas, Nuno! O blogue era óptimo na minha opinião!

Grande abraço!

Nuno disse...

Excelente entrevista. Parabéns. Como acontece com todos os entrevistados, coincidimos em algumas, em outras menos, mas o importante é que coincidimos todos, cada um à sua maneira, no gosto pelo cinema.

Abraço