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sábado, julho 31, 2010

Love and Honor/Bushi no ichibun - 武士の一分 (2006)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 121 minutos

Realizador: Yôji Yamada

Com: Takuya Kimura, Rei Dan, Mitsugoro Bando, Takashi Sasano, Kaori Momoi, Nenji Kobayashi, Ken Ogata, Makoto Akatsuka, Toshiki Ayata

Shinnojo 2

Shinnojo Mimura”

Sinopse

“Shinnojo Mimura” (Takuya Kimura) é um samurai de 30 “koku”, um nível considerado baixo entre os guerreiros japoneses. O seu grande sonho é abrir um “dojo”, onde ele possa ensinar a arte da espada a todas as crianças que necessitem, independentemente da classe a que pertençam. Contudo, os seus ganhos como provador de comida do chefe do clã, asseguram um ganho sustentado para ele e para a sua esposa “Kayo” (Rei Dan), e assim “Shinnojo” vai adiando a sua ambição de vida.

Kayo 2

Kayo”

Um dia, a desgraça bate à porta de “Shinnojo”, pois ele prova um molusco altamente tóxico. Após uns dias em coma, o samurai sobrevive mas fica com uma sequela nefasta: a perda da visão. A família de “Shinnojo” reúne-se, de maneira a arranjar uma forma de o guerreiro e a esposa poderem sobreviver. É decidido que “Kayo” deverá aceitar a ajuda de “Toya Shimada” (Mitsugoro Bando), um samurai de um nível elevado e comandante das tropas do clã, para que este assegure que “Shinnojo” receba o seu salário até ao fim da vida. Acontece que “Kayo”, contra a sua vontade, torna-se amante de “Shimada”, por exigência deste e de forma a assegurar a sobrevivência do seu marido. Quando “Shinnojo” descobre o que está a acontecer, e independentemente de estar cego, desafia “Shimada” para um duelo, tendo em vista salvar a sua honra.

Kayo e Tokuhei

Kayo e Tokuhei”

Review”

“O amor a ninguém dá honra e a muitos dá dor”. Este provérbio poderia assentar que nem uma luva à trama de “Love and Honor”, a terceira parte da trilogia não oficial de “chambara” existencialistas de Yôji Yamada. A fórmula básica segue um pouco na linha dos seus predecessores “Twilight Samurai” e “The Hidden Blade”, ou seja, temos um samurai de um baixo nível social, mas bastante respeitado. Um acontecimento, de certa forma trágico, abala a vida relativamente tranquila do guerreiro, e no fim ele terá de se submeter a uma prova de força, cujo resultado é agoniante e eventualmente mortal. A principal inovação e diferença que reside em “Love and Honor”, comparativamente aos outros dois filmes, passará pelo facto desse evento bulir mais directamente com a vida do samurai, ocorrendo dentro das suas próprias portas. Não é demais relembrar que em “Twilight Samurai” e “The Hidden Blade”, Yamada usou como catalisador a rebeldia dentro do próprio clã de samurais, abordando genial e lateralmente aspectos próprios da época. Ora em “Love and Honor” está em causa, como o próprio título indica, o amor e a honra que residem no próprio coração do guerreiro “Shinnojo”, tornando esta película de certa forma ainda mais intimista.

E é precisamente no facto de o filme ser bastante centrado nas expectativas e personalidade de “Shinnojo”, que reside o bom resultado final de “Love and Honor”. Convém sempre alertar os mais desprevenidos ou que desconhecem a obra do realizador japonês, que os “chambara” de Yamada não são cruzadas sanguinárias de luta de sabre. O que normalmente é focado nos seus filmes de samurais, é uma perspectiva mais realista, sentimental e simples da vida dos míticos combatentes. O que se pretende é dar a conhecer o quotidiano e o lado mais humano do homem e não tanto do mestre da “katana”. Não fugindo a este diapasão, “Love and Honor” é uma longa-metragem que se traduz  num drama acerca da relação entre o amor e a honra, e que tenta mostrar a perspectiva do samurai quando os dois conceitos se digladiam ou se incompatibilizam. Porque a verdade é que esta obra se pode resumir ao seguinte: “Shinnojo” luta pela sua honra, devido a um conflito desencadeado precisamente por um acto de amor.

Os provadores

Os provadores”

Como já tinha acontecido em filmes anteriores, o espectador é paulatinamente introduzido no modo de vida de “Shinnojo”, quando este era corriqueiro e, de certa forma, feliz. O jovem tem os seus sonhos, por vezes é surpreendentemente infantil, mas tem o código dos samurais muito bem interiorizado. É uma personagem que granjeia imenso a simpatia do espectador, porque em “Shinnojo” reside a bondade e a honra, a par de um homem comum que tem anseios palpáveis. Terá de se admitir que “Love and Honor” não é um filme muito movimentado, mas tal não será, neste caso em concreto, sinónimo de chato. Yamada, como realizador com medidas equilibradas de competência e experiência, consegue embrenhar-nos imenso na história. Em decorrência deste factor, os momentos dramáticos têm um respeitável impacto sentimental perante quem os visiona, parecendo sinceros e retirados da vida real. É tudo uma questão de identificação, e conseguimos sentir que nos revemos em algo no filme. Será forçoso desenvolver um pouco mais este particular. O que é determinante para desenvolver a empatia entre o espectador e o filme, passa pelas razões que norteiam as acções de “Shinnojo”, nos momentos em que a sua vida parece uma tragédia, com a impossibilidade de um final minimamente feliz. Não está apenas em causa o código de honra dos samurais, mas algo maior, a saber, o amor que o homem nutre pela sua mulher. Pessoalmente retirei que “Shinnojo” quando desafia “Shimada” para um duelo, não está apenas a salvaguardar a sua honra de samurai e a da sua esposa. Ele acima de tudo parece querer salvar o seu sentimento, e conferir-lhe um novo fôlego.

Poder-se-ia pensar que Takuya Kimura, artista que ficou conhecido por ser membro de uma banda j-pop chamada “Smap”, não estaria à altura do papel que lhe foi conferido. Nada mais enganador. O actor tem uma actuação fantástica, e estoicamente carrega “Love and Honor” nos seus ombros. É bem apoiado pela actriz Rei Dan, muito aprazível no seu papel de esposa devota, capaz dos maiores sacrifícios pelo seu amor, inclusive dando o corpo a uma causa que considerou maior. Merece ainda uma palavra especial, o actor Takashi Sasano, que interpreta “Tokuhei”, o criado do samurai. A sua actuação prima por algum humor inocente, mas sempre acompanhado de um bom senso assinalável que, à partida, seria incomum numa pessoa pouco instruída, que devotou a sua vida ao serviço de terceiros.

Com “Love and Honor”, Yamada conclui de forma bastante feliz a sua trilogia “chambara”. A “finesse” e “savoir fare” com que nos brinda na direcção da película é de relevar, e contribui para mais um bom momento do cinema nipónico. É-nos oferecido um filme honesto, despido de qualquer tipo de pretensiosismo. Há que contar uma história e faze-lo bem. Numa profundidade salutar e assinalável, apraz-me dizer que “Love and Honor” é um bom exemplo do género. Portanto...muito recomendado!

Duelo

Duelo”

imdb 7.6 em 10 (914 votos) em 31 de Julho de 2010

Avaliação:

Entretenimento – 7

Interpretação – 9

Argumento – 8

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 8

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8

Classificação final: 8

Beldades da Cultura Asiática - Angela Baby







Mais informações acerca desta modelo e actriz emergente de Hong Kong, AQUI.


terça-feira, julho 27, 2010

The Good, the Bad, the Weird – Joheun nom, nabbeun nom, isanghan nom - 좋은 놈, 나쁜 놈, 이상한 놈 (2008)

Capa

Origem: Coreia do Sul

Duração aproximada: 130 minutos

Realizador: Kim Ji-woon

Com: Song Kang-ho, Lee Byung-hun, Jung Woo-sung, Yoon Je-moon, Ryoo Seung-su, Song Young – chang, Son Byeong-ho, Oh Dal-su, Uhm Ji-won

Yon Tae-goo - the Weird 3

Yoon Tae-gu, o esquisito”

Sinopse

Na Manchúria, década de '30, o mítico e sanguinário assassino “Park Chang-yi” (Lee Byung-hun), o “Mau”, assalta um comboio de forma a roubar um mapa dos oficiais japoneses, que supostamente levará a um grande tesouro. Infelizmente para “Chang-yi”, “Yoon Tae-gu”, o “Esquisito”, leva a melhor e foge com o mapa em busca da fortuna.

Park Chang-yi - the bad 2

Park Chang-yi, o mau”

No entanto, as coisas não correm assim tão bem para “Tae-gu”, pois este é capturado por “Park Do-won”, o “Bom”, que ao mesmo tempo é um caçador de recompensas muito conceituado. Tendo tomado conhecimento do tesouro, “Do-won” resolve fazer uma sociedade pouco convencional com “Tae-gu”, e ambos partem em busca da riqueza e glória. Contudo, as coisas não serão fáceis, pois serão perseguidos pelo psicótico “Chang-yi”, por outros grupos de salteadores e pelo próprio exército imperial japonês.

Park Do-won - the good

“Park Do-won, o bom”

Review”

“The Good, the Bad, the Weird” teve honras de estreia no festival de Cannes, edição de 2004, tendo recebido no geral críticas favoráveis, assim como venceu os prémios para melhor realizador e efeitos especiais no conceituado festival de Sitges, o certame de cinema catalão que é uma referência no panorama da sétima arte asiática na Europa.

Com “The Good, the Bad, the Weird”, um conceito à partida estranho, o “western” asiático, marca pontos outra vez. Depois de “Peace Hotel” (Hong Kong), “As Lágrimas do Tigre Negro” (Tailândia) e “Sukiyaki Western Django” (Japão), é chegada a vez de a Coreia do Sul provar que o cinema oriental tem a versatilidade suficiente para emanar obras com conceitos que à partida, estariam culturalmente deslocados do seu horizonte. Claramente tributário do que denomina de “western spaghetti”, o realizador Kim Ji-woon faz apelo à trilogia do “Homem sem Nome”, de Sergio Leone, em especial da lendária película “O Bom, o Mau e o Vilão”. Sendo que até 2009, “The Good, the Bad, the Weird” constituía a longa-metragem mais cara da história do cinema sul-coreano, Kim Ji-woon chamando a si a tradição de acrescentar um nome de uma iguaria à palavra “western”, de forma a individualizar determinado subgénero, chamaria de “kimchee western” à sua obra, em homenagem a um prato tradicional sul-coreano.

Dotado de um ritmo incrível e contagiante, “The Good, the Bad, the Weird” é um exercício divertido e que captará a atenção do espectador até aos créditos finais. Kim Ji-woon sai-se bem na homenagem que faz aos filmes de Leone, criando uma atmosfera própria e típica para o género, embora positivamente introduza elementos mais contemporâneos e actuais. A escolha da Manchúria dos anos '30, dominada pelos japoneses, é bastante feliz e serve de pano de fundo ideal para toda a trama. Os momentos de acção são espectaculares, com tiroteios de suster a respiração, perseguições alucinantes e diálogos emblemáticos, com alguma ironia que nos faz sorrir, típicos de um “western” que se preze como tal.

Os salteadores

O bando de salteadores”

Como o próprio título deste filme indica, está em causa o encontro entre três pistoleiros de renome, sendo os mesmos interpretados por três dos maiores nomes da cena sul-coreana. Song Kang-ho (o “Esquisito”) consegue evidenciar a melhor prestação a que não será alheio o facto de o seu papel ser mais ecléctico e atreito a demonstrar diferentes vertentes de representação. Lee Byung-hun (o “Mau”) consegue sobressair uma aura sinistra que era o que se lhe pedia para a sua actuação. Embora se reconheça que muito do seu trabalho se confina a parecer um “mau com estilo”, o realizador Kim Ji-won, num “flashback” à Sergio Leone, confere mais profundidade a esta personagem em concreto. O terceiro elemento da parelha, Jung Woo-sung (o “Bom”), é quem verdadeiramente sofre com a maneira como o argumento é desfilado, o que sinceramente deveria ter sido algo alterado de forma a relevar este competente actor. Woo-sung sofre de uma falta gritante de minutos, em comparação com os seus dois companheiros da película. Supostamente, e fazendo o paralelo com o anti-herói protagonizado pelo grande Clint Eastwood na película de Leone anteriormente mencionada, Woo-sung é algo maltratado nesta longa-metragem, a nível de protagonismo.

Com a costumeira animosidade anti-japonesa, embora aqui algo dissimulada, “The Good, the Bad, the Weird” é uma boa proposta a nível de entretenimento, que não defraudará os fãs do “western”, da aventura e até dos momentos mais descontraídos e eivados de boa disposição. O seu “pace” é contagiante, as personagens têm o seu “quê” de fascínio, os cenários são mais do adequados, existe acção a rodos e nesta vertente o que é que se pode pedir mais? Mais uma boa proposta para um Domingo à tarde bem passado!

Curiosidade e ao mesmo tempo um desejo escondido: Se o “mestre” John Woo embarcasse num “Asian Western”, e colocasse uma pitada dos seus predicados de “heroic bloodshed”, o que sairia dali?

Luta

Chang-yi cavalga com os seus apaniguados, no meio de uma luta renhida”

imdb 7.4 em 10 (4.961 votos) em 27 de Julho de 2010

Outras críticas em português:

  1. Sake com Sal
  2. Cinecafri
  3. Cinematório
  4. Cinefilia
  5. Omelete

Avaliação:

Entretenimento – 9

Interpretação – 7

Argumento – 7

Banda-sonora – 7

Guarda-roupa e adereços – 9

Emotividade – 8

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,75

 

domingo, julho 18, 2010

Dolls/Dôruzu – ドールズ (2002)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 114 minutos

Realizador: Takeshi Kitano

Com: Hidetoshi Nishijima, Miho Kanno, Tatsuya Mihashi, Chieko Matsubara, Kyoko Fukada, Tsutomu Takeshige, Kayoko Kishimoto, Kanji Tsuda, Yuko Daike, Ren Osugi

Bonecos

O teatro de marionetas Bunraku”

Sinopse

“Matsumoto” (Hidetoshi Nakajima), um jovem executivo, vê-se obrigado a casar com a filha do patrão, devido à pressão dos pais. Acontece que “Matsumoto” estava noivo da sensível “Sawako” (Miho Kanno), que fica destroçada com a opção do seu amor. No dia do casamento, chega ao conhecimento de “Matsumoto” que “Sawako” tentou suicidar-se, e em virtude disto, ficou com debilidades mentais e foi internada num sanatório. “Matsumoto” abandona a noiva no altar, resgata “Sawako” do estabelecimento de saúde, e inicia uma viagem com a rapariga onde o amor sobrevive a par com o sofrimento.

Haruna mira o mar

“Haruna Yamaguchi contempla o mar”

Paralelamente, o velho líder yakuza “Hiro” (Tatsuya Mihashi), descobre que o seu amor de juventude “Ryoko” (Chieko Matsubara), ainda se mantém fiel ao seu sentimento, e aparece todos os dias com o almoço feito para lhe entregar, sentando-se num banco de jardim a aguarda-lo. Sem se identificar, “Hiro” trava novamente conhecimento com “Ryoko”, mas o implacável submundo parece não querer deixar vingar o sentimento que une os dois. Por fim, “Nukui” (Tsutomu Takeshige), o fã fanático da famosa cantora “Haruna Yamaguchi” (Kyoko Fukada), toma medidas desesperadas quando descobre que aquela fica com a cara desfigurada, devido a um acidente de automóvel. Tudo em nome de ter uma possibilidade de falar com a sua razão de viver.

Por-do-sol

“Deambulando sob o por-do-sol”

Review”

Realizado em 2002, “Dolls” quando foi exibido no festival de Cinema de Veneza provocou sentimentos contraditórios. Enquanto uns defendiam que estávamos perante uma obra-prima de Kitano, outros insurgiam-se e afirmavam que estávamos perante um filme banal, que aproveitava meia dúzia de características da cinematografia asiática para se fazer notar. O certame em Veneza deu razão a esta segunda corrente, e “Dolls” partiu do evento sem ter vencido qualquer prémio ou distinção. “Dolls” é dos filmes de Kitano que está englobado nas obras do realizador/actor, onde o mundo do crime não assume preponderância, embora tal ainda seja aflorado na subtrama relacionada com “Hiro”, o chefe yakuza. Cabe ainda referir que ao contrário de muitas longas-metragens por si realizadas, Kitano aqui não actua, ficando-se pela direcção do filme.

O amor deverá muito provavelmente ser uma das temáticas mais abordadas na sétima arte, infelizmente muitas vezes com afloramentos muito simplistas, cuja única visão é a comercial e nada mais. Mas o amor, como o sentimento mais nobre que existe, serve de inspiração para algumas das maiores obras de cinema alguma vez criadas. Ninguém de bom senso, poderá contrariar esta afirmação. Como sentimento rico, profícuo e diversificado, é susceptível de diversas aproximações. Umas mais optimistas, outras verdadeiramente cor-de-rosa, algumas por vezes trágicas e a destilar sofrimento. “Dolls” é um filme que versa sobre o amor, mas não o expõe de uma forma convencional ou dita mais politicamente correcta. Aqui, o eterno sentimento é subsumido a uma perspectiva de sacrifício e arrependimento, mas sempre com uma devoção sem fronteiras.

Assentando a sua narrativa no teatro de marionetas “bunraku”, a trama assume por vezes uma faceta surreal mas bem estruturada, onde flutuamos num sonho. Esta forma de exposição, assenta muito bem na natureza contemplativa e até filosófica da película, revelando inteligência e uma saudável frescura. “Dolls” é um exercício trágico, em que o sentimento de tristeza por vezes assume proporções quase apocalípticas, onde as fraquezas sentimentais das personagens vão emergindo, momento atrás de momento, esbofeteando as nossas convicções. Efectivamente, esta longa-metragem não oferece respostas fáceis às questões que vão surgindo à medida que desfrutamos do visionamento. Contudo, não se poderá encarar esta premissa como uma fraqueza do filme, mas sim como um dos seus pontos fortes. Desprezando o mais convencional ou óbvio, ou qualquer moralismo mais barato, “Dolls” dá uma margem estimulante ao espectador, para que este possa fazer as suas próprias reflexões e uma salutar liberdade de interpretação.

Sawako

“Sawako”

“Dolls” possui igualmente uma fotografia fabulosa, que nos irá maravilhar a visão e estimular o nosso gosto pela beleza. O trabalho neste particular, a cargo de Katsumi Yanagishima, um “habitué” da equipa de Kitano, é comparável aos feitos do mago Christopher Doyle, o que será o melhor elogio que aqui se poderá fazer. Tudo maravilha os olhos, em especial as paisagens mais rurais e campestres japonesas, onde as cores são meticulosamente trabalhadas, tanto para impressionar como para enternecer. Este desfile brutal de imagens e tons, acentua ainda mais o pendor trágico da película, culminado numa conjugação eficiente de elementos que nos tocam bem lá no fundo. Há quem lhe chame “poesia visual”. A designação afigura-se perfeita.

Com interpretações soberbas dos intervenientes, destacando-se o casal Hidetoshi Nishijima e Miho Kanno, uma beleza de imagem a toda a prova, uma banda-sonora que cumpre e momentos por vezes crus, mas sempre muito significativos, “Dolls” é uma película que revela o que de melhor o cinema nipónico é capaz na exploração do amor e do sofrimento associado a este. Com uma aura extremamente desafiante, retirei para mim que talvez sejamos marionetas dos nossos sentimentos, no sentido de serem eles a nos dominar e não o contrário. E mesmo que esta ideia seja algo óbvia, principalmente para os que ouvem mais o coração do que a razão, todos nós sabemos muito bem que nem sempre é assim. Expondo a minha estranheza e discordância acerca de muitas das críticas negativas que foram efectuadas a “Dolls”, cabe-me concluir no sentido de estarmos perante um filme de uma grandeza maior, que se aconselha definitivamente o visionamento. Os leitores que por aqui passam, saberão certamente fazer a sua escolha.

Sawako e Matsumoto 3

“Sawako e Matsumoto”

imdb 7.7 em 10 (7.210 votos) em 18 de Julho de 2010

Outras críticas em português/espanhol:

  1. Batto presenta…
  2. Cinedie Asia
  3. Flickr Maria Eugénia
  4. Arquitetura do Nada
  5. Quarto 2046
  6. Sete Ventos
  7. Cine-Asia
  8. Cinema 2000

Avaliação:

Entretenimento – 7

Interpretação – 9

Argumento – 9

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 9

Mérito artístico – 10

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8

Classificação final: 8,50

quinta-feira, julho 01, 2010

Nayagan aka Nayakan (1987)

Capa

Origem: Índia

Duração aproximada: 145 minutos

Realizador: Mani Ratnam

Com: Kamal Hassan, Saranya, Janagaraj, Tinnu Anand, Nasser, Delhi Ganesh, Nizhalgal Ravi, M. V. Vasudeva Rao, Kartika, Pradeep Shakti

Nayakan

“Velu”

Sinopse

“Shakti Velu” é uma criança que assassina o polícia que matou o seu pai, e por este facto, vê-se obrigado a fugir para Mumbai, onde acaba por ser adoptado por um pescador muçulmano, que possui uma personalidade bondosa e extremamente justa. Com o decorrer dos anos, o agora jovem adulto “Velu” (Kamal Hassan) e o seu amigo “Selva” (Janagaraj) desenvolvem um sentimento de ódio para com a polícia, devido ao facto de esta tratar de uma forma brutal as pessoas que vivem nos sítios mais pobres de Mumbai. Devido à morte perpetrada pelas forças da lei contra aquele que o acolheu em criança, “Velu” mata o oficial responsável, e embrenha-se no mundo do crime, onde o contrabando e os gangues ditam a lei.

Nayakan é torturado pela polícia

Tortura policial”

Posteriormente, “Velu” conhece “Neela” (Saranya), e apaixonados, contraem matrimónio, daqui nascendo dois filhos. Entretanto, o percurso do protagonista no mundo da criminalidade organizada vai trilhando caminho, e “Velu” acaba por tornar-se num dos mais proeminentes chefes do submundo de Mumbai. Tendo em conta este facto, a tragédia bate à porta de “Velu” outra vez, quando a sua esposa é morta num ajuste de contas entre rivais. O infortúnio constitui o mote para que “Velu” parta novamente para a vingança, elimine os seus oponentes e torne-se no indisputado líder.

À medida que os anos passam, um período de acalmia parece finalmente chegar. No entanto, “Velu” depara-se novamente com a desgraça familiar, desta vez com o casal que significa tudo para ele no mundo, os seus filhos.

Nayakan e a esposa

“Velu e Neela”

Review”

Em 1987, quando o filme “Nayagan” viu a luz do dia, estava criado um sucesso sem precedentes no que ao cinema Tamil diz respeito, tendo a sua grandiosidade se espraiado por toda a Índia, tendo inclusive sido a proposta deste país no que aos óscares do referido ano diz respeito. Em 2005, a conceituada revista “Time” viria a colocar “Nayagan” num verdadeiro pedestal, ao considerar esta película como um dos 100 melhores filmes de sempre. Um currículo de respeito, portanto.

Mas efectivamente sobre o que versa “Nayagan”? Não é segredo para ninguém que todos os países têm, em maior ou menor medida, estruturas de crime organizado que por vezes assumem a dimensão de verdadeiras sociedades à parte, ou então uma realidade muito própria dentro de determinado contexto social. A Índia, na sua imensidão geográfica e étnica, não constitui excepção. “Nayagan” foi buscar a sua inspiração a uma personagem real. Refiro-me ao “gangster” Varadajan, que controlou o submundo de Mumbai, principalmente na década de '80. As suas actividades reconduziam-se principalmente ao contrabando nos portos, evoluindo depois para os assassinatos e outras actividades ilícitas. Conta-se que Varajadan tinha criado um sistema judicial paralelo na sua comunidade tamil, onde ele próprio seria juiz e executor da lei. Conhecido como um benemérito, Varajadan era um símbolo muito forte da comunidade tamil residente em Mumbai e defensor dos direitos do seu povo, face a uma esmagadora maioria constituída pela população hindi.

“Nayagan” significa “o herói” ou “o líder”, e sem dúvida alguma que Varajadan, ou “Shakti Velu” como é chamado nesta longa-metragem, é reportado como um herói do povo, que protege os oprimidos e os que estão no degrau mais baixo do espectro social. Na senda da grande influência exercida pela saga “Godfather”, Mani Ratnam dá corpo a um épico relacionado com o crime organizado, usando como inspiração um dos “gangsters” mais conhecidos da história indiana. Contudo, “Velu” nunca é visto propriamente como um sanguinário líder criminoso, mas sim como um homem de bom coração, que é perseguido pela tragédia ao longo da sua vida, e que usa as actividades ilícitas, especialmente o contrabando, para auxiliar os que mais precisam. Repare-se que frequentemente “Velu” faz apelo a uma frase e lição de vida que lhe foi transmitida pelo seu pai adoptivo, a saber, “se é para ajudar as pessoas, não é errado”.

Dança

Dança no barco”

O enredo é algo intrincado, onde vão-se arranjando situações cada vez mais dramáticas, algumas bastante forçadas, mas que atingem o alvo pretendido. No entanto, sempre se dirá que não faltarão cenas emblemáticas em “Nayakan”. Pense-se na resistência estóica de “Velu” aos ataques da polícia com mangueiras de água, a sua luta mortal com o inspector nas favelas de Mumbai ou nas discussões que leva a cabo com a sua filha, acerca da relatividade do bem e do mal.

Os actores cumprem o que lhes é solicitado, mas o destaque terá de ir forçosamente para o actor Kamal Hassan, que representa de uma forma elevada, o papel do protagonista da trama. Consegue, em igual medida e numa actuação segura, exteriorizar a revolta de “Velu” numa idade mais precoce, o poder que detém no auge da sua vida e por fim a vulnerabilidade evidenciada na velhice. A sua reacção, face à perda dos entes queridos, é deveras comovente e credível. Um bom trabalho!

Com uma banda-sonora bastante aceitável, onde se destaca o repertório inicial e que se repete um pouco ao longo de toda a película e um final que traz à mente “Gandhi”, de Richard Attenborough, “Nayakan” é sem margem para dúvida uma obra maior da cena cinematográfica tamil. Não reconhecendo o brilhantismo que muitos teimam em atribuir a esta longa-metragem, é indubitável que estamos presentes perante uma película dotada de uma alma profunda, e com um elevado interesse, que servirá para justificar um visionamento atento.

A conferir!

Nayakan 3

Velu é confrontado pela filha”

imdb 8.3 em 10 (2.201 votos) em 1 de Julho de 2010

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 8

Argumento – 7

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 7

Emotividade – 8

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,63