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quarta-feira, abril 30, 2008

The Host - A Criatura/The Host/Gwoemul -
괴물 (2006)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 114 minutos

Realizador: Bong Joon-ho

Com: Song Kang-ho, Byeon Hee-bong, Park Hae-il, Bae Doo-na, Ko Ah-seong, Oh Dal-su, Lee Jae-eung, Lee Dong-ho, Yoon Je-moon, Lim Pil-seong, Kim Roi-ha

"Gang-du"

Sinopse

No rio Han, em Seul, as pessoas deparam-se com uma visão incomum. Um ser estranho encontra-se suspenso numa ponte, e todos, incluindo o retardado “Gung-du” (Song Kang-ho), pasmam-se com a situação. O momento de letargia desaparece abruptamente, quando a criatura resolve atacar a população e espalhar o caos pelas margens do curso de água. “Gung-du” agarra na filha “Hyun-seo” (Ko Ah-seong) e foge em desespero, à semelhança de todos os que se encontram no local. Contudo, e devido ao raciocínio lento de “Gung-du”, a criatura apanha “Hyun-seo” e arrasta-a para as águas do rio.

"Gang-du em fuga com a filha Hyun-seo"

Como se este problema não fosse o suficiente, “Gung-du” e a restante família, o pai “Hee-bong” (Byeon Hee-bong), o irmão Nam-il (Park Hae-il) e a irmã “Nam-joo” (Bae Doo-na) são mantidos em quarentena no hospital, por terem entrado em contacto com o monstro e desta forma se suspeitar que estão infectados com um vírus mortal. Partindo do pressuposto que o benjamim da família se encontra morto, a ideia depressa se altera quando “Gung-du” recebe uma chamada da filha. A rapariga atemorizada, e através de um telemóvel, afirma que está presa no covil da criatura, algures na rede de esgotos perto do rio Han.

A família escapa-se do hospital e une-se no objectivo comum que é resgatar “Hyun-seo”. Para tal, e sendo apenas cidadãos comuns, vão ter que partir à caça da maior ameaça que a cidade de Seul já enfrentou!

"Hyun-seo"

"Review"

Em 2006, directamente da Coreia do Sul, e à semelhança do monstro do rio Han que protagoniza a película, emergia “The Host”, um filme que chamaria a atenção de todo o cinéfilo ocidental para o cinema coreano (coisa rara a estreia de um filme asiático na Madeira, pois também aqui andou a deambular nas salas de cinema). O grande sucesso desta longa-metragem começaria dentro de fronteiras, com “The Host” a desalojar o trono que pertencia a “The King and the Clown”, e a tornar-se por direito próprio, o campeão das bilheteiras na Coreia do Sul, tendo sido visto por 13 milhões de pessoas!!!
No meio de 18 prémios conquistados, sobretudo em festivais de cinema realizados no oriente, sempre se destacará o galardão para melhor realizador conquistado no “Fantasporto”, que viria a repetir em Sitges, assim como o atribuído para melhores efeitos especiais atribuído neste último certame. A sua estreia mundial, teve a grande honra de suceder em Cannes, o que forçosamente tenho de reconhecer que não é para qualquer um. Como se este já pujante cartão de visita não bastasse, a conceituada publicação “Cahiers du Cinema” viria a considerar “The Host”, como o 3º melhor filme de 2006.

Com este digno cartão de visita, sempre se adiantará que ao contrário da esmagadora maioria das críticas que existem espalhadas pela “net”, este texto não irá trilhar os caminhos do endeusamento de “The Host”, nem nada que se pareça. A película tem qualidade, isso é inegável. Mas sinceramente, ainda não descobri, ao fim de 3 visionamentos, o que ela tem assim de tão especial para merecer as apologias hiperbólicas que foram veiculadas um pouco por todo o lado. Por vontade própria, torna-se um texto ingrato para escrever...

Antes de tudo, comecemos pelo principal (de um ponto de vista empírico), ou seja, o monstro que anda a espalhar a miséria pelos habitantes de Seul e por uma família em particular. O facto de a criatura surgir logo no início, ao invés do costumeiro suspense que se costuma fazer, é de saudar e rompe com convenções. Todos nós estamos habituados a que filmes do género, exponham as suas aberrações de uma forma progressiva. Um respirar atroz, um olhar malévolo, um vulto repentino, etc...etc... Em “The Host”, o “simpático” desvio da natureza é-nos dado a conhecer logo de início, e não perde tempo a fazer das suas, ou seja, a atacar as inocentes pessoas que gostam de andar pelas margens do rio Han. E daqui decorre a premissa principal da película e a partir de onde tudo se desenvolve, a saber, o rapto da jovem “Hyun-seo”, filha do principal herói da longa-metragem, “Gung-du”. Nada de rodeios, directo ao assunto!

"Nam-joo"

Falemos agora do aspecto do “bicho”. Sinceramente não gostei... Para os parâmetros sul-coreanos, podemos afirmar que “The Host” até teve um orçamento relativamente desafogado (cerca de 10 milhões de dólares). No entanto, tal representa uma verba modesta face às grandes produções norte-americanas (a maior parte de valor discutível, diga-se de passagem), com possibilidades de gastar exorbitâncias em efeitos especiais. Segundo consta, o realizador pretendia, em coerência com o argumento, que o monstro se assemelhasse a um animal que tivesse sofrido uma mutação anormal. Não tenho dúvidas nenhumas que o objectivo foi conseguido. Simplesmente estamos a falar de uma questão de pura estética, em que como tudo na vida, os gostos variam e muito. Não achei nada de especial (o “Alien” para mim ainda continua a ser o indisputado campeão). O que me fez preencher um pouco as vistas foram os movimentos acrobáticos da criatura, que são acima de qualquer repreensão. Realistas e naturais, acabam por ser o ponto forte do CGI usado nesta longa-metragem. Confesso que o grande alarido que se fez à altura, em relação a este filme em concreto, possa ter condicionado de alguma forma a opinião aqui expressa.

A crítica aos americanos não é nada de novo na cinematografia sul-coreana, e esta por sinal tem por base factos verídicos. Pelos vistos, em 2000, um cientista que trabalhava para o exército norte-americano baseado na Coreia do Sul, despejou uma grande quantidade de formol nos esgotos de Seul. Tal consubstanciou-se num atentado ambiental de alguma gravidade que causou revolta entre a população. Bong Joon-ho, admite, entre sorrisos esparsos, que o filme poderá conter algum anti-americanismo à mistura. Quanto a mim, é indubitável que se fez algum exercício fantasista no sentido de pensar nas consequências das atitudes irreflectidas de alguns, no sentido de criar um ser que espalhe o terror pela maior metrópole do país. A origem dessa instabilidade nasce de algo exterior à cultura coreana (os americanos), e que a condiciona fortemente. É um monstro, mas poderia ser uma infinidade de coisas mais, sempre com o aspecto nacionalista e político subjacente. O certo é que a maior ditadura do mundo, a norte-coreana (na minha singela opinião) fez uma apologia de “The Host”, o que é certamente uma novidade no que toca aos “filmes subversivos do vizinho capitalista”.

O que é de acentuar mais, na minha humilde opinião, é a união expressa (uma “máfia” no bom sentido, expressão com a qual concordo plenamente quando bem interpretada) de uma família com grandes frustrações no seu seio. Temos como elementos componentes o patriarca “Park Hie-bong”, que tenta ser o elo mais forte, mas que nos podemos aperceber dos erros da juventude e das repercussões subsequentes; o filho mais velho, “Gung-du”, um retardado inconsequente, que foi abandonado com uma filha nos braços; “Nam-il”, que concluiu a sua licenciatura, mas cujo desemprego vota-o ao alcoolismo; “Nam-joo”, uma praticante de tiro com arco, dotada de elevado potencial, mas que falha sempre na hora da verdade. Todos sem excepção unem-se, apesar da sua pouca conveniência social, e prosseguem ligados na prossecução de um objectivo comum: recuperar a sua redenção, corporizada tanto no objectivo como na pessoa mais “normal” da família, a jovem “Hyun-seo”. A partir daí temos o motivo para a exposição de boas interpretações do elenco, sem excepção. O drama, até prova em contrário, continua a ser o que os coreanos executam com mais mestria. Já dizia a personagem “Gyeon-woo” de “My Sassy Girl”, interpretada pelo actor Cha Tae-hyun, “all koreans love melodrama”, e como quem corre por gosto não cansa...

A comédia “nonsense”, para não variar afigura-se um tanto ou quanto dispensável, pois não resulta por aí além e quebra um pouco o espírito do filme. O epílogo é extremamente previsível e não consegue escapar a uma vertente moralista que, embora educativa (o que é sempre de elogiar), dispensava-se um pouco atendendo ao contexto em geral.

Em jeito de conclusão, resta apenas afirmar o quase óbvio para quem leu com atenção este texto. A Coreia do Sul tem obras cinematográficas de um nível bastante superior a “The Host”, e que são praticamente desconhecidas do público ocidental, cujo rol seria exaustivo enumerar. No alto da minha ingenuidade, é para mim um mistério, como as mesmas não conseguem ter a projecção que o filme que ora se disserta alcançou. Sempre se poderá dizer que a explicação terá algo de futebolístico: às vezes não é quem é melhor jogador, mas sim quem tem o melhor empresário ou quem possui um manancial de fintas que não o fazem propriamente um executante de primeira fila. Provavelmente o mais plausível será que a opinião aqui veiculada, pelo facto de ser minoritária, não há de colher vencimento. Mas fazendo uso de um “cliché” acertadíssimo, nem sempre as maiorias têm razão.

Depois de visionar “The Host”, e embora sejam pertencentes a géneros completamente distintos, só me resta concluir que o melhor filme de Bong Joon-ho continua a ser “Memories of Murder”. Contudo, será inegável que valerá a pena dar uma espreitadela, nem que seja para chegar a uma conclusão idêntica à minha, ou, pelo contrário, atirá-la completa ou parcialmente para o balde do lixo...


"Nam-joo enfrenta o monstro"

The Internet Movie Database (IMDb) link, Trailer

Outras críticas em português/espanhol:

  1. Cinedie Asia,
  2. Cinema2000,
  3. Zona de Culto,
  4. Royale With Cheese,
  5. Duelo ao Sol,
  6. Cine-Asia
  7. Devaneios
  8. Batto presenta...

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 7

Eotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,50





8 comentários:

Su disse...

gostei de ler.te
sempre atento, minucioso, e coerente na exposição....

posso afirmar, não vou ver o filme; não gostei desse bicho (do que vi) e por 10 milhoes de dolares eu faria um bicho de meter medo:)ehehe

jocas maradas ninja sabido:)

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Obrigado pelo apoio "Su, que ainda tem muito mais valor vindo de quem vem :) !
O filme é engraçado, mas nem de longe, nem de perto, corresponde à mensagem que se quis passar para o exterior!

Beijinho do "ninja sabido" ;) !

Nuno disse...

Amigo Jorge,

Vi o este filme depois de me teres dito que não era de terror (como sabes não consigo ver filmes de terror....infelizmente, já que o cinema asiático tem dos melhores mestres na arte) e afinal concordei contigo. Não é um filme de terror...tem alguma comédia, tem bom ritmo, mas não achei que merecesse a publicidade que teve.
Resumindo, concordo com mais esta fantástica análise tua a um filme que vi por tua culpa...mas não me arrependi. Só que não o recomendarei a ninguém...É o típico filme 6, 6.5 valores, aquele que se pode ver, mas que se não o virmos, tampouco se perde muitíssimo. Neste caso compreendo o teu 7.5, porque tudo o que se relaciona com o dito "monstro" está muito bem produzido. Neste aspecto acho o filme uma boa produção.

Um Abraço

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Caro amigo Nuno,

de facto este "The Host" teve mais fama do que valia! E um filme razoável, mas nem de longe nem de perto, merece aquele alarido todo. O 7,5 é uma conjunção dos oito factores que normalmente analiso. O meu gosto pessoal valerá um 7 por arredondamento, ou seja, o tal 6,5 que referes e com o qual concordo!

Grande abraço, ó trabalhador desgraçado e regressado do exôdo das Maldivas :) !

Unknown disse...

Boa noite Shinobi
Uma longa ausência do teu blog para carpir as mágoas :(
Eheheheehe !!
Este filme não é de terror mas é bastante interessante e prova a viatalidade do cinema coreano.
Gosto particularmente do humor negro, do "monstro" e principalmente da sua origem.A culpa tinha de ser dos norte-americanos :))
Um abraço para ti e para o distinto Nuno.
PS:Existe neste blog alguma critica à obra do realizador Johnnie To?

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Nilton,

antes de tudo saúdo o teu regresso aos comentários deste espaço :) !
Pessoalmente não tenho uma opinião tão positiva quanto a tua em relação a "The Host". Contudo, o filme tem pontos positivos de relevar, além do incontornável sucesso que teve no mundo inteiro e que sem dúvida enobrece uma das melhores cinematografias do mundo, a sul-coreana.
Quanto a críticas acerca da obra de To, infelizmente ainda não tenho nada aqui disponível. Uma falha lamentável, que sem dúvida é preciso remediar!

Grande abraço!

Flávio disse...

Viva! Acho magnífica a ideia de um blogue madeirense sobre filmes asiáticos. Confesso que não sou grande conhecedor do cinema destas paragens, mas sou fã do Kurosawa e do grande Wong Kar Wai.

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Flávio!

Lolol, de facto "um blogue madeirense dedicado ao cinema asiático", não é muito corrente, eh, eh, eh!
Foi um gosto que me surgiu, e simplesmente deu-me para escrever acerca disto e olha...juntas o aspecto de eu ser madeirense e viver no Funchal (embora tenha residido em Lisboa durante 6 anos, entre 1997 e 2003) e aqui tens este cocktail! Ainda bem que gostas deste meu estaminé!

Também sou fã de Kurosawa e Kar Wai, dois dos maiores nomes de sempre do cinema asiático e mundial!

Permite-me que igualmente te dê os parabéns pelo teu blogue "A Bomba", que consulto frequentemente, sendo muito do meu agrado!

Abraço!