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quarta-feira, junho 24, 2009

Ashes of Time Redux (2008)

Origem: Hong Kong

Duração: 93 minutos

Realizador: Wong Kar Wai

Com: Brigitte Lin, Leslie Cheung, Maggie Cheung, Tony Leung Chiu Wai, Jacky Cheung, Tony Leung Ka Fai, Li Bai, Carina Lau, Charlie Yeung

"Ouyang Feng e Hung Chi"

Introdução

Como deve ser do conhecimento de muitos que visitam este espaço, “Ashes of Time Redux” não difere muito do original “Ashes of Time”, tratando-se de uma versão melhorada em termos de imagem e outros aspectos relacionados com a produção. É certo que existem alguma subtracções e adições feitas por “Redux”, que darei conta abaixo. Mesmo assim, embora algumas sejam importantes, decidi não elaborar um texto feito à imagem do normal no “My Asian Movies”. Sendo assim, a sinopse infra é a mesma que consta no artigo que elaborei acerca de “Ashes of Time” há três anos atrás. Na “review”, abordarei sobretudo e de uma forma sumária, as diferenças entre ambas as versões, tentando emitir a minha opinião pessoal. Optei igualmente desta vez, por não atribuir a costumeira pontuação, pois entendo que, também neste particular, não deveria fazer uma autonomização das duas obras, sob pena de desvirtuar o pensamento de Wong Kar Wai. A crítica original encontra-se AQUI.

"Huang Yaoshi Aka Evil East"

Sinopse

"Ouyang Feng" (Leslie Cheung), também conhecido sob a alcunha de "Malicious West", é um proprietário de uma taberna situada no meio do deserto. Trata-se de um homem morto emocionalmente, devido ao casamento do seu irmão mais velho com a mulher que ama (Maggie Cheung). Vive do seu negócio e da contratação de espadachins necessitados de dinheiro, tendo em vista a perpetração de assassinatos por encomenda. Estranhas pessoas chegam à taberna, cada qual com a sua história que normalmente converge para a tragédia pessoal. Podemos acompanhar "Huang Yaoshi" (Tony Leung Ka Fai), cujo nome de batalha é "Evil East", um dotado homem da espada, cuja atitude cavalheiresca perante o mundo, a vida e o amor, deixaram-lhe um rasto de remorso e recriminação.

“Murong Yang” (Brigitte Lin), por seu lado, é um jovem em busca de vingança sobre “Evil East”, por este ter abandonado a sua irmã “Murong Yin”. Esta, por sua vez, deseja a morte do irmão, por este andar a tentar matar a sua paixão “Evil East”. “Yin” e “Yang” acabam por revelar serem a mesma pessoa, completamente destroçada pela rejeição de “Evil East” e incapaz de encontrar um caminho para a paz interior. Problemas trágicos são demonstrados por outros elementos da história, desde o espadachim cego (Tony Leung Chiu Wai) que é contratado para liquidar um bando de salteadores e cujo último desejo antes de falecer e ver o desabrochar das flores de cerejeira (em sentido figurado, pois tal serve para designar a esposa) na sua terra-natal, passando pelo assassino de bom coração “Hung Chi” (Jacky Cheung) que não gosta de usar sandálias, acabando na jovem e pobre rapariga camponesa (Charlie Yeung) que tenta comprar vingança com um cesto de ovos e uma mula.


"O espadachim cego"

"Review"

Precisamente 14 anos depois, o mestre Wong Kar Wai decidia dar um novo corpo ao seu único registo do “Wuxia”, e pessoalmente o meu filme predilecto do valioso espólio cinematográfico do realizador. Desde já se aplaude esta revisita, pelo restauro com a qualidade que esta magnífica obra merece. Como já tinha aludido no meu texto de 2006, e passo a citar “é francamente uma enorme injustiça não existir no mercado uma edição em DVD decente à disposição do público. As existentes são de má qualidade, e tornam-se um verdadeiro crime quando estamos perante uma obra desta envergadura.” Com “Ashes of Time Redux”, o problema fica resolvido, pois com a ajuda do insuspeito Christopher Doyle temos agora à disposição uma edição em condições de ser visionada e admirada. Contudo, existem outros aspectos igualmente importantes, que julgo não terem tomado a direcção correcta.

A principal crítica dirige-se aos cortes que o filme levou, dos quais eu nunca vou perdoar a remoção do grito de sofrimento dado por Brigitte Lin na famosa cena do lago, acompanhado pela música emblemática que associávamos sempre a “Ashes of Time”. Aliás, esta melodia, tal como a conhecíamos, foi removida de vez em “Redux”, notando-se contudo alguma da sua influência nos novos arranjos musicais. Existem outras retiradas e adições, tais como as duas primeiras cenas de luta, pelo que a primeira vez que nos deparamos com os salteadores é o único combate em que está envolvido “Ouyang Feng”, a personagem interpretada por Leslie Cheung. Aproveitando para me referir às cenas mais movimentadas, em “Redux” as lutas são mais perceptíveis, embora neste particular continue a imperar alguma confusão desenfreada. É definitivamente o grande calcanhar de aquiles desta película, como também já tinha aludido no meu anterior texto.


"Ouyang Feng e Murong Yang"

Uma adição que se saúda é o “flashback” relativo à noite do casamento da apaixonada de “Feng”, corporizada em Maggie Cheung, que é mais completa e envolvente do que na versão original. Outra inovação de assinalar, passa pelo derradeiro combate do espadachim cego, interpretado por Tony Leung Chiu Wai, em que Kar Wai opta ora por cortar o som, ou distorcê-lo, assim como tornar a cena mais escura de forma a simbolizar a perda de visão do protagonista. O efeito, sem margem para qualquer dúvida, embrenha mais o espectador na tragédia pessoal da personagem. O sangue carmim, bastante vívido, a jorrar da garganta do espadachim faz o resto. A propositada saturação de cores que predomina em “Redux”, faz com que o filme seja mais estilizado e bonito à vista, aspecto que era extremamente prejudicado pela pobreza de tratamento da versão original. Outro aspecto que é de relevar, passa pelo facto de a grande senhora do cinema asiático, Brigitte Lin, poder debitar agora o seu próprio diálogo em mandarim. Na primeira versão, as falas da actriz eram dobradas para cantonês, havendo alguma detestável dessincronização entre os movimentos da boca e o som. Aqui, felizmente, isto já não se passa.

Sem desprezar os bons predicados que o novo tratamento a “Ashes of Time” mereceu, julgo que o melhor teria sido fazer uma simples, mas efectiva recuperação a esta pérola da sétima arte. “Redux” parece ter sido uma película feita mais para os fãs de Kar Wai, pós - “In The Mood for Love/2046”, desligando-se por vezes do espírito original da obra. Por mim, tudo se mantinha, apenas a imagem e o registo do som eram melhorados. As adições seriam bem-vindas, mas apenas para complementar o que já de bom existia. Quanto à banda-sonora, deixava-a precisamente como estava na versão original, principalmente devido à “tal” música inesquecível, e se possível tentava introduzir de uma forma lógica, o fabuloso violoncelo de Yo Yo Ma que perdura maravilhosamente em “Redux”. Façam pois o favor de confrontar as duas versões, e depois cada um diga de sua justiça! Acima de tudo o que interessa, é que o cerne da questão continua presente: o efeito das tristes memórias passadas na nossa vida presente, e a agonia que as alimenta e as cicatriza no íntimo do nosso ser...

Confiram, nem que seja para observarem o grande e malogrado Leslie Cheung, num dos papéis mais brilhantes da sua carreira!



"Luta no rio"

The Internet Movie Database (IMDb) link - Refere-se à versão originária de "Ashes of Time"

Trailer

Outras críticas em português:

1 comentário:

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá, Ernesto!

Vale bem a pena ver o filme, ou melhor, os dois filme.

A versão original para mim é melhor, mas tem o problema do pobre tratamento de imagem...

Abraço!