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segunda-feira, junho 02, 2008

Welcome to Dongmakgol - 웰컴투 동막골 (2005)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 133 minutos

Realizador: Park Kwang-hyun

Com: Jeong Jae-yeong, Shin Ha-kyun, Kang Hye-jeong, Lim Ha-ryong, Seo Jae-kyeong, Ryu Deok-hwan, Steve Taschler, Jung Jae-jin, Lee Young-yi, Park Nam-hee, Jo Deok-hyeon, Yoo Seung-mok, Shim Won-cheol

"O capitão Neil Smith"

Sinopse

Em 1950 o exército norte-coreano invade o seu vizinho do sul, dando início à tristemente célebre guerra da Coreia. Os sul-coreanos são auxiliados por uma força das Nações Unidas sob o comando dos americanos, na pessoa do general Douglas MacArthur. Na sequência do conflito, o capitão da força aérea norte-americana “Neil Smith” (Steve Taschler) despenha-se com o seu caça perto de uma aldeia isolada conhecida como Dongmakgol. Os habitantes da povoação, apesar de não perceberem uma única palavra em inglês, ajudam “Neil”, e tentam com que ele se sinta em casa.

"Pyo Hin-chul, o tenente do exército sul-coreano"

Entretanto chegam à aldeia três soldados norte-coreanos, sendo os únicos sobreviventes do seu pelotão, cujos restantes elementos foram mortos numa emboscada. O trio é liderado pelo sargento “Lee Sun-hwa” (Jeong Jae-yeong), sendo os membros remanescentes os soldados “Jang” (Lim Ha-ryong) e “Taek-ki” (Ryu Deok-hwan). Os combatentes são conduzidos à povoação por Yeo-il (Kang Hye-jeong), uma rapariga alucinada que “não diz coisa com coisa”. Para completar a lista de visitantes inesperados, temos dois soldados sul-coreanos, o tenente “Pyo Hin-chul” (Shin Ha-kyun) e “Moon” (Seo Jae-kyeong). Como é natural, desde logo surgem problemas entre todos os militares que se encontram em Dongmakgol, atendendo a que combatem em campos opostos. Os aldeões ficam abismados, pois não fazem a mínima ideia que uma guerra está a decorrer.

No meio da confusão, uma granada destrói o armazém onde os aldeões guardavam as suas provisões, fazendo com que os mesmos fiquem sem alimento. Com um sentimento de culpa latente, os contendores fazem uma trégua temporária, de forma a poderem auxiliar os habitantes de Dongmakgol a reabastecerem-se de víveres. À medida que os soldados vão-se adaptando ao estilo de vida dos aldeões, apercebem-se que se encontram num sítio pacífico e isolado, onde as ideologias nada significam. Quando tudo parece correr pelo melhor em sã convivência, forças externas aparecem a ameaçar a tranquilidade de Dongmakgol. Os soldados sentem-se no dever de unirem esforços e proteger a aldeia.

"Os soldados norte e sul-coreanos retratam-se, ajudando a população de Dongmakgol nas colheitas"

"Review"

Baseado num livro do popular escritor sul-coreano Jin Jang, “Welcome to Dongmakgol” constituiu a proposta da Coreia do Sul para os óscares de 2005, e nesse mesmo ano revelaria ser o 4º filme mais visto de sempre no país. Esta premissa assume ainda mais importância, pois o filme estreou uma semana após “Sympathy for Lady Vengeance”, e conseguiu praticamente o dobro dos resultados financeiros na bilheteira. Foi um grande triunfo para o realizador Park Kwang-hyun, ainda mais quando esta longa-metragem foi a sua estreia nas lides da sétima arte. Ou melhor dizendo, “Welcome to Dongmakgol” foi a primeira obra dirigida por Kwang-hyun, e igualmente a única também, pois o realizador nunca mais se aventurou pelas lides cinematográficas desde então. O filme foi bem aceite e esteve em exibição nalguns festivais de cinema importantes, tendo inclusive recebido o prémio de filme preferido da audiência, em Udine, no seu famoso certame de cinema oriental.

À medida que ia visionando “Welcome to Dongmakgol”, recuei até 1997, quando na faculdade, mais propriamente na disciplina de “História das Ideias Políticas”, tive de estudar (entre vários outros autores) Thomas More e a sua conhecida obra “Utopia”. O sentido da sociedade igualitária, onde todos têm uma palavra a dizer e existe uma partilha de bens adequada às necessidades de cada um está bem presente neste filme. A comunidade perfeita, onde todos podem deixar para trás as agruras da vida e serem felizes, aparece como um bálsamo para o grupo de soldados traumatizados pelo conflito. A certa altura, um admirado “Lee”, o líder dos norte-coreanos, questiona o chefe de aldeia como é que consegue fazer com que os habitantes sigam as suas ordens. “Lee” encontra-se ainda mais incrédulo, quando repara que o chefe não necessita de recorrer a expedientes autoritários ou violentos para conseguir se impôr. Serenamente, é-lhe respondido “mantenho-os alimentados e trato-os com amor e respeito”.

Podemos caracterizar “Welcome to Dongmakgol” como uma película composta por 50% de comédia e 50% de drama. O aspecto mais bem disposto do filme é bem conseguido, girando em torno da natural ingenuidade dos habitantes da aldeia. Estes nunca viram uma arma de fogo na vida, e por esse mesmo motivo, não sabem como reagir perante uma, ignorando que a mesma constitui uma ameaça. Igualmente tem alguma dose de piada observar os aldeões a tentar comunicar com o capitão “Smith” em inglês, redundando tudo numa total baralhada. Como absolutamente não pode existir um filme sul-coreano sem a sua quota parte de drama, à medida que caminhamos para o epílogo o mesmo vai tomando forma “leve, levemente”, até à tragédia da ordem. Esta parte da obra resulta bem, mas daí nada menos seria de esperar do filme, atendendo à sua origem. É comovente, embora não bastante credível, observar a coragem de um diminuto grupo de combatentes fazer face a um prelúdio de um bombardeamento norte-americano, tudo em nome de algo maior, um paraíso chamado “Dongmakgol”. Não haverá aqui um pouco do espírito de “Os Sete Samurais”?!

"O professor Kim, observado pelos aldeões de Dongmakgol, tenta comunicar em inglês"

Os actores regra geral cumprem de uma forma competente no esgrimir das suas interpretações. Como costumo sempre destacar alguém nos meus textos, o prémio aqui irá para a excelente actriz Kang Hye-jeong, a “Mi-do” de “Oldboy”. O seu desempenho como a insana “Yeo-il” é fresco, eivado de uma loucura saudável e de uma incontornável ternura. Resta-me ainda fazer uma apologia à exuberante e maravilhosa fotografia presente na película, que em muito ajuda a formar a ideia de um paraíso na terra a que, aliada a uma aldeia que custou um milhão de dólares a construir, ajuda a produzir o efeito pretendido.

“Welcome to Dongmakgol” tenta passar a mensagem que é possível os norte e sul-coreanos resolverem as suas diferenças, e trabalharem num objectivo comum, como se fossem uma nação una. Os americanos, mais uma vez são o alvo a abater e considerado o inimigo externo. São eles que querem destruir “Dongmakgol” e em consequência pôr termo ao paraíso e à união dos povos irmãos. É certo que temos um americano bom da fita, a saber, o capitão “Smith”. Contudo, “Smith” acaba por se tornar um cidadão de “Dongmakgol”, e tudo faz igualmente para proteger a terra onde se conseguiu encontrar, inclusive lutando contra os seus próprios conterrâneos. Um clássico caso de “ressocialização” ?!

No entanto, confesso que já começo a ficar um tanto ou quanto saturado da repetição de temas e inspiração que alguns filmes sul-coreanos teimam em enveredar. É certo que o nacionalismo faz parte da cultura sul-coreana, caracterizado por duas ou três ideias essenciais, a saber, a reunificação das duas Coreias, o antagonismo contra a presença norte-americana no país e o ressentimento de sempre contra o Japão. Não estou obviamente a afirmar que os sul-coreanos não têm razão em muitos aspectos. É perfeitamente natural que os coreanos se queiram unificar, atendendo às características étnicas e culturais que detêm entre si. Igualmente torna-se legítimo que não se sintam muito satisfeitos com o facto de os norte-americanos ocuparem pacificamente uma parte do seu país, unicamente com objectivos militares e económicos. É compreensível que não vejam com muito bons olhos o império nipónico, atendendo ao longo historial de conflitos que mantiveram com aquela nação, e que redundaria mesmo em ocupação do seu território soberano. É uma questão cultural sem dúvida nenhuma. O que critico é a repetição de conceitos, sem qualquer tipo de inovação. E neste ideal, “Welcome to Dongmakgol”, com todos os seus méritos (e são alguns), nada traz de novo.

“Welcome to Dongmakgol” é uma película de qualidade, que possui características positivas, tornando-a justamente num dos produtos mais emblemáticos oriundos da Coreia do Sul. Contudo, e ao contrário do que muitas críticas que se podem encontrar um pouco por toda a internet querem fazer crer, não é uma longa-metragem de tão elevado nível que se possa qualificar de eleição.

Com interesse!

"Da esquerda para a direita: o capitão da força aérea norte-americana Neil Smith, o tenente do exército sul-coreano Pyo Hin-chul e o sargento das forças norte-coreanas Lee Sun-hwa"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emoividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,50





4 comentários:

Nuno disse...

Amigo Jorge,

Mais um filme que me é completamente desconhecido. Realizador incluído. De qualquer forma dá-me a sensação, pela tua análise (mais uma estupenda) que eu haveria de gostar deste filme.
É um palpite...

Um Abraço

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Caro Nuno,

o filme é interessante e sem dúvida nenhuma merecedor de uma espreitadela! Contudo, julgo que não é assim tão bom como alguns textos que eu li querem fazer crer.

No entanto, e como sempre digo,é uma opinião e vale o que vale :) !

Grande abraço!!!

Anónimo disse...

Eu seria um pouco menos generoso, mas concordo. Um simpático blockbuster que chamou a atenção também pelos actores, nomeadamente o grande Shin e a Kang mas que está longe de ser memorável.

abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá tf10!

Perfeitamente de acordo! Quanto à generosidade, modéstia à parte, reconheço que sou um mãos largas :D !

Um abraço!