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terça-feira, janeiro 30, 2007

Os Sete Samurais/Seven Samurai/Sichinin no samurai (1954)

Origem: Japão

Duração: 202 minutos

Realizador: Akira Kurosawa

Com: Takashi Shimura, Toshiro Mifune, Yoshio Inaba, Seiji Miyaguchi, Minoru Chiaki, Daisuke Kato, Isao Kimura, Keiko Tsushima, Kamatari Fujiwara, Yoshio Kosugi, Bokuzen Hidari, Yoshio Tsuchiya, Kokuten Kodo

"Os Sete Samurais, da esquerda para a direita: Gorobei, Kikuchiyo, Sichiroji, Katsushiro (sentado), Heihachi, Kambei, Kyuzo. Juntos constituem o cerne da força defensora da aldeia."

Estória

O Japão feudal do Séc. XVI vive uma época conturbada, encontrando-se afogado numa guerra civil. Tal propicia a que a criminalidade reine e os mais fracos sejam os alvos preferenciais dos delitos e da desordem reinante.

Uma aldeia de agricultores sofre constantes ataques de um grupo organizado de bandidos, que visam levar o produto das colheitas, deixando os aldeões em situação difícil de subsistência.

Fartos de sofrer, os habitantes da aldeia enviam alguns dos seus, tendo em vista a contratação de samurais que se prontifiquem a lutar com os bandidos. A tarefa não se afigura fácil, pois o único meio de pagamento que os agricultores possuem é oferecer 3 refeições diárias de arroz àqueles que aceitarem o trabalho.

Após algumas peripécias, a delegação consegue com que "Kambei", um experimentado samurai, aceite o trabalho. Gradualmente, "Kambei" com a ajuda do seu amigo "Gorobei", consegue recrutar mais samurais para os ajudarem na demanda tais como o bem disposto "Heihachi", o forte e destemido "Sichiroji", o exímio e frio espadachim "Kyuzo" e o jovem e inexperiente "Katsushiro".

"A aldeã Shino, o amor de Katsushiro"

O grupo é completado com "Kikuchiyo", um guerreiro vagabundo e traumatizado, com perturbações de humor que roçam várias vezes a comicidade.

Os agricultores conduzem o grupo à sua aldeia. Os guerreiros não perdem tempo em preparar a batalha, fortificando a povoação e treinando, tanto fisicamente como mentalmente, os seus habitantes na arte da guerra.

O dia do ansiado e inesquecível confronto chega, e nem todos sobreviverão para no dia seguinte contarem a estória.

"Kambei (Takashi Shimura), o líder dos intrépidos samurais"

"Review"

"Os Sete Samurais" constitui muito provavelmente a obra cinematográfica asiática mais badalada e reconhecida em todo o mundo do cinema, sendo igualmente para muitos o grande triunfo da lenda Akira Kurosawa. Atendendo a profícua obra do realizador, esta afirmação é extremamente arriscada de fazer. No entanto, terá de se convir que o filme que ora se tentará dissertar, é um candidato fortíssimo.

A importância de "Os Sete Samurais" é um factor inegável e facilmente constatável. Serviu de inspiração ao "western" de John Sturges intitulado "Os Sete Magníficos", que praticamente copiou a estória, alterando apenas a localização dos eventos, com todas as decorrências naturais daí inerentes tais como substituir os samurais por "cowboys", etc.

Sendo um filme extremamente longo, com cerca de quase três horas e meia de duração, poder-se-ia pensar que a certa altura o filme se tornaria monótono e repetitivo, fazendo com que o interesse fosse progressivamente se esvanecendo. Nada disto acontece. Apesar de "Os Sete Samurais" não ser um filme que apresente muitas lutas sangrentas protagonizada pelos afamados guerreiros japoneses, mantém um encadeamento muito agradável de seguir, em que muito contribui a personagem interpretada pelo mítico Toshiro Mifune, o instável "Kikuchiyo".

As interpretações dos actores são verdadeiramente fenomenais, revelando uma actuação superior em todos os aspectos e do mais elevado quilate. Mesmo assim, não é bastante difícil afirmar que Toshiro Mifune é quem deslumbra mais. O irreverente "Kikuchiyo" (cumpre dizer que "Kikuchiyo" não é o verdadeiro nome da personagem a que Mifune dá corpo, sendo apenas uma falsa identificação que é usada. Houve quem já propusesse que seria o célebra samurai "Sanjuro", mas esta ideia não parece ter muita sustentação.) é quem verdadeiramente nos conquista, e dá aquele toque humorístico e insano, que inevitavelmente todos apreciam. Isto não quer dizer que as actuações dos restantes intervenientes sejam inferiores, pois a ser proferida tal afirmação, ela revelaria um pouco de desonestidade intelectual. Simplesmente, o que se pretende aqui expor é que Mifune, para além de nos dar a ver um belo "acting", foi extremamente bafejado com o enredo. E ainda bem, pois a personagem adequa-se perfeitamente à sua pessoa.

"A fúria de Kikuchiyo (Toshiro Mifune)"

Outro dos pontos fortes consiste no bem estruturado argumento, consubstanciado no evoluir da própria trama. A ambiguidade moral encontra-se bastante presente, reflectindo-se no facto dos "bons" não serem por vezes assim tão angélicos e acima de qualquer suspeita ética. Veja-se o exemplo dos aldeões. Anseiam por quem os defenda, mas quando os samurais chegam à povoação nem se dignam a recebe-los condignamente. Os homens tentam esconder as mulheres dos samurais, com medo que estes as seduzam. Pagam com três refeições de arroz por dia, quando possuem alguma carne e "saké" escondidos. Os bandidos, por sua vez, apesar de aparentarem ser sempre a pior escumalha que existe à face da terra, não nos podemos esquecer que porventura a sua situação é criada pela extrema e difícil condição que o reino nipónico vive, com a fome e a miséria a grassar. Escolhem o caminho mais fácil, que passa por atacar quem não se pode defender, em ordem a conseguirem suprir as suas necessidades mundanas. Será que isto hoje em dia não acontece? De quem é a culpa afinal?

Há que ressaltar igualmente o carácter humano da película, arte que Kurosawa é um verdadeiro e exímio executante. Os samurais, embora sejam vistos como "os salvadores da pátria", revelam igualmente as suas fragilidades emocionais e o seu lado mais humano no relacionamento com a comunidade que se propuseram a defender. Neste aspecto, terei que referir novamente "Kikuchiyo", pois no fundo ele é que funciona como o elo de ligação e até de união entre os aldeões e os samurais. É ele que "quebra o gelo" e aproxima ambos os estratos sociais. A sua insensatez, aliada ao grande discernimento de "Kambei", fazem com que o equilíbrio permaneça. No fim, o resultado é uma união e comunhão de esforços, em que os samurais acabam por estar a defender uma ideia que sentem verdadeiramente como sua. Não estamos a falar de honra, aspecto tão querido dos guerreiros. Muito menos estamos a pensar em ambição. Refiro-me a fazer o que é certo, apenas por achar que é certo!

Ao tempo em que ocorria a batalha entre os aldeões e os bandidos, quantos conflitos da mesma estirpe não ocorreriam no Japão e no mundo inteiro? Como já foi aludido, o próprio império do sol nascente encontra-se imerso numa sangrenta guerra civil, onde ocorriam encontros bélicos com milhares de intervenientes de ambos os lados. Qual então a importância de uma "guerrazita" de região, em que temos 40 bandidos de um lado, e sete samurais acompanhados de um grupo mísero de aldeões do outro? É o verdadeiro sentido da vida humana que interessa, variável de homem para homem e de mulher para mulher! A real beleza de "Os Sete Samurais" passa acima de tudo por transformar uma estória relativamente simples, num verdadeiro épico humano!

Quem não viu este filme, possui um grande vazio cinematográfico na sua vida...

"O ataque dos bandidos"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 10

Argumento - 10

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 10

Gosto pessoal do "M.A.M." - 9

Classificação final: 9







4 comentários:

Artur disse...

Não posso estar mais de acordo com a frase com que encerra a crítica. O filme é longo, mas não se dá pelo tempo a passar. É uma jóia entre os filmes de acção, pela união perfeita entre o olhar social e a visão cinematográfica. Definitivamente, um dos meus filmes favoritos.

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Nem mais, caro Artur, nem mais...

Agradeço o seu elucidativo comentário, com votos que continue a aparecer por aqui!

Cumprimentos,

Samir disse...

A própria emoção de me lembrar deste filme me priva de palavras para descrevê-lo. É uma grande satisfação pensar que tive a oportunidade de assistir a "Os Sete Samurais"; e com a leitura dessa resenha, que considero certamente à altura da obra, revivo com felicidade aquela emoção. Tomara que muitos tenham acesso ao "My Asian Movies", para que todos possam satisfazer-se com as primorosas indicações que aqui constam. Sinto-me maior e mais completo depois de prestigiar essas obras (os filmes, e também este valioso blog!).

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Amigo Samir,

antes de tudo quero agradecer os elogios feitos aqui ao blogue, que em muito o prestigiam dão uma grande força para continuar!

"Os Sete Samurais" é uma grande obra não só do cinema asiático, mas igualmente da cena global. Espero que o texto tenha homenageado minimamente esta fabulosa obra da sétima arte!

Mais uma vez muito obrigado e apareça sempre!

Abraço!