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terça-feira, dezembro 04, 2007

Millennium Mambo/Qianxi manbo (2001)

Origem: Taiwan

Duração: 100 minutos

Realizador: Hou Hsiao Hsien

Com: Shu Qi, Jack Gao (Kao), Tuan Chun Hao, Jun Takeuchi, Chen Yi Hsuan, Doze Niu

"Vicky"

Estória

Vicky (Shu Qi) é uma jovem e bonita rapariga de Taiwan, que sai da sua terra-natal Keelung, indo viver para a capital Taipei, tendo em vista experenciar novos ambientes. Conhece “Hao” (Tuan Chun Hao), um rapaz toxicodependente obcecado por música de dança, e ambos encetam um relacionamento que tem tudo menos de harmonioso.

“Hao” revela ser bastante possessivo e ciumento, controlando todos os movimentos de “Vicky”, afectando de sobremaneira a estabilidade emocional da jovem. Ela passa os seus dias desempregada, discutindo com o namorado, embebedando-se e tomando drogas. As noites invariavelmente desembocam nas discotecas até altas horas da madrugada.

"Hao Hao"

“Vicky” acaba por separar-se de “Hao” e arranja emprego num clube de “strip”. Aí conhece um homem de meia-idade chamado “Jack” (Jack Gao), membro de uma tríade. Um novo relacionamento nasce para “Vicky”, mas bastante distinto do que mantinha com “Hao”. “Jack” revela ser uma figura paternalista, que ajuda “Vicky” a superar as suas frustações e medos, enveredando a relação por um certo platonismo.

Certo dia, “Jack” é obrigado a dirigir-se para o Japão, devido a um problema bastante sério relacionado com o submundo. “Vicky” resolve dirigir-se para aquele país, em busca do homem que lhe deu uma nova esperança na vida.

"Jack"

"Review"

Quando li a sinopse de “Millennium Mambo”, um grande desejo em visionar o filme nasceu em mim, pois das coisas que eu adoro são estórias que versem sobre a vida de adolescentes e jovens adultos, que se deparam com problemas que os arrastam para os lados mais obscuros da vida, roçando por vezes a degradação humana. Não é à toa que, por exemplo, uma das minhas películas de eleição é “Trainspotting”, a obra-prima de Danny Boyle. Este meu gosto, aliado a um trailer chamativo e ao facto de Hou Hsiao Hsien ser um dos mais emblemáticos e inteligentes realizadores asiáticos da actualidade, fizeram o resto. Pelo exposto, não descansei enquanto não pus as minhas mãos em cima de “Millennium Mambo”. Valeu a pena tanto porfiar? Já veremos.

Se atendêssemos apenas ao currículo do filme, poderíamos afirmar que esta película já era uma aposta ganha, não fosse a mesma um nomeado para a “Palma de Ouro” de Cannes – edição de 2001, tendo mesmo vencido um prémio no certame (“Technical Grand Prize”). Outras vitórias e nomeações poder-se-ão associar a “Millennium Mambo”, o que apenas darão força à ideia da elevada qualidade do filme. Confesso que depois de ter saboreado o prato, fiquei satisfeito, mas longe de considerar que estava perante uma obra-prima que me fizesse sonhar.

O início promete e entusiasma de sobremaneira. Observar Shu Qi a desfilar em câmara lenta, num túnel embrenhado de tons azuis e ao som de uma batida a puxar para o “techno” é um dos mais belos inícios de filme que tive a oportunidade de visionar (como não há nada melhor do que ver com os próprios olhos, é favor ir AQUI). O discreto e maroto olhar da bela actriz asiática para uma câmara que acompanha fielmente os seus movimentos, o fumar descontraído, a sensação de caminhar sem destino, a narrativa de fundo encorpada numa voz nostálgica, a fotografia de sonho…estavam já prometidos mundos e fundos para este fã.

"Tentativa de sedução"

Posteriormente deparo-me com o tal típico filme de jovens que cedo começam a arruinar a vida. Através dos olhos de “Vicky”, vemos a rapariga meter-se numa cruzada urbana por Taipei, onde usa e abusa do tabaco, droga e bebidas, voando de discoteca para discoteca, ou definhando num minúsculo apartamento, acompanhada do namorado delinquente “Hao Hao”. Como já acima foi referido, uma leve redenção começa a operar-se na jovem rapariga, através da sua vivência com o homem mais maduro “Jack”. Tudo bem, agradável, a estória até convence. Simplesmente não entusiasma.

Hou Hsiao Hsien, na minha humilde opinião, preocupou-se em demasia com os aspectos mais visuais do filme, em detrimento dos ditos mais substanciais. Tanto que por vezes sentimos que estamos perante um “videoclip” musical muito bem produzido e de regalar a vista, mas algo oco por dentro. Nunca sabemos muito da estória da rapariga, e inclusive acabamos por descobrir muito mais acerca das outras personagens, principalmente acerca de “Hao”, sem dúvida a personagem mais explorada e bem retratada nesta longa-metragem. Este aspecto revelou ser um pouco frustrante para mim. Eu queria conhece-la muito melhor!

A propósito de “Millennium Mambo”, o realizador viria a proferir uma dissertação num tom poético, a meu ver, simplesmente fantástica e porventura esclarecedora das reais motivações deste filme. Sinto-me na obrigação de a transcrever:

“Looking at the youthful friends around me, i find that their cycle and rhythm of birth, age, illness and death are moving several times faster than those of my generation. This is particularly true of young girls: like flowers, they are fading almost immediately upon blooming. The process occurs in an instant. I do not remember who say this: “of so many leaves drifting everywhere in the sky above us, there is about one leaf which comes to and eternal halt at the very moment of being watches persistently by us with understanding and sympathy.” With this image in mind I hope shot a movie of the story of this youthful girl”.

Talvez isto explique de alguma forma que Hsou Hsien pretendia demonstrar mais através de imagens, do que propriamente através de palavras, deixando-nos a liberdade de preencher as lacunas dentro das nossas cabeças. O realizador lança com a afirmação supra referenciada, e aliado ao nosso visionamento da película, um diapasão e porventura o aviso para as crises da adolescência que indubitavelmente irão marcar para o resto da vida. Em casos extremos, fica o alerta para o poço sem fundo que poderemos mergulhar e eventualmente nunca sair. Porventura, seria o seu máximo intento, expor as percepções visuais acerca da juventude “young and dangerous” que pontifica na sua terra-natal, em especial das raparigas que despontam muito precocemente. E ninguém nega que neste particular, o realizador acabou, de certa forma, por ser bem sucedido. Simplesmente, entendo que existiu a grande oportunidade (e porque não dizê-lo a intenção) de explorar melhor um tema que me é bastante caro, a redenção, e tal se afigurou um tanto ou quanto letárgico. Não estou a referir-me obviamente a um qualquer anseio por um final feliz, ou coisa do género. O que pretendo acima de tudo afirmar é quem vê “Millennium Mambo”, fica com a sensação que todos caminham para algum lado, e ao mesmo tempo para lado algum, e que algo mais devia de ser explicado. “Hao Hao” luta pela namorada que sempre quis, e de repente desaparece de uma forma abrupta da estória. “Jack” revela prenúncios do seu ocaso, mas tudo acontece depressa demais. Ao mesmo tempo, ouvimos a voz de uma “Vicky” narradora, de 2010 ou 2011, a destilar nostalgia e mais nostalgia, de uma forma por vezes exasperante. Por vezes, neste manancial, não se consegue evitar um certo desnorte.

“Millennium Mambo” constitui uma agradável experiência para nós, e no global, passível de ser considerado um bom filme. Simplesmente, e aqui assumo todas as culpas devido às expectativas desmesuradas que criei, fica aquém do esperado. No entanto, sou obrigado a reconhecer um aspecto determinante. Shu Qi dá corpo a um dos melhores papéis da sua carreira, e eu era capaz de me apaixonar por aquela bela e rebelde “Vicky” todos os dias e mais alguns! Sei do que falo…

Aconselhável!

"Vicky (ao centro) e o seu séquito de jovens amigas boémias"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Rascunho, Um Cine, Marcelo Ikeda

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,75







8 comentários:

Anónimo disse...

Hsiao Hsien é GRANDE!!(um, do trio maravilha de Taiwan) Sou grande fã do seu estilo pausado, longos planos-sequência, sempre num tom intimista e contemplativo! Este Millennium é um bom filme, mas ele tem coisas ainda melhores! "A City of Sadness", "A Time to Live, a Time to Die", "Good Men, Good Women" ou até o último "Three Times" que entrou no meu top10 de 2005, são alguns exemplos e alguns dos meus favoritos!

Parabéns pela critica sincera! Espero que outros dos seus filmes te "preencham as expectativas", porque ele merece!

abraço!
asian-virus.com

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá tf10!

Pelos vistos estamos de acordo! De todos os filmes que mencionaste, só não vi o "Three Times", embora espere preencher essa lacuna em breve. Quanto aos outros, achei-os regra geral melhores que "Millennium Mambo".

Grande abraço para ti e para o excelente fórum de referência de cinema asiático!!!

Nuno disse...

Jorge,

Nem sei que diga. Já vi o filme há algum tempo... e não me lembro de nada. Das duas , uma: ou estou a ficar senil, ou não o achei grande coisa. Espero que se trate da segunda hipótese, de qualquer modo vou rever o filme para certificar-me que a idade não tem nada que ver com este esquecimento. É que é ja a seguir.

Um Abraço
Nuno

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Nuno!

Como eu acho que não deves estar a ficar senil (pelo menos os teus comentários aqui no blogue não revelam isso, lol), acho que a segunda hipótese deverá ser a mais provável.

Como já afirmei na crítica, eu acho que "Millennium Mambo" será passível de, no global, ser considerado um bom filme. Agora é também minha franca opinião que ficou além das expectativas. Não haja dúvidas nisso!

Grande abraço!

Anónimo disse...

Hou Hsiao Hsien é um mestre! Tenho aqui este Millenium Mambo ainda por ver mas as poucas outras obras que vi dele deixaram-me rendida...

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá H.!

Sem dúvida que Hsiao Hsien é um realizador de grande mérito. E por esse mesmo motivo, estava à espera de um pouco mais de "Millennium Mambo". Mesmo assim, o filme não deixa de ter encanto.

Cumps!

Anónimo disse...

Vê O Mestre das Marionetas (The Puppet Master no título internacional)... uma obra-prima!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Esse ainda não vi. Fica a sugestão, que com certeza seguirei.

'jinhos!