Love and Honor/Bushi no ichibun - 武士の一分 (2006)
Origem: Japão
Duração aproximada: 121 minutos
Realizador: Yôji Yamada
Com: Takuya Kimura, Rei Dan, Mitsugoro Bando, Takashi Sasano, Kaori Momoi, Nenji Kobayashi, Ken Ogata, Makoto Akatsuka, Toshiki Ayata
“Shinnojo Mimura”
Sinopse
“Shinnojo Mimura” (Takuya Kimura) é um samurai de 30 “koku”, um nível considerado baixo entre os guerreiros japoneses. O seu grande sonho é abrir um “dojo”, onde ele possa ensinar a arte da espada a todas as crianças que necessitem, independentemente da classe a que pertençam. Contudo, os seus ganhos como provador de comida do chefe do clã, asseguram um ganho sustentado para ele e para a sua esposa “Kayo” (Rei Dan), e assim “Shinnojo” vai adiando a sua ambição de vida.
“Kayo”
Um dia, a desgraça bate à porta de “Shinnojo”, pois ele prova um molusco altamente tóxico. Após uns dias em coma, o samurai sobrevive mas fica com uma sequela nefasta: a perda da visão. A família de “Shinnojo” reúne-se, de maneira a arranjar uma forma de o guerreiro e a esposa poderem sobreviver. É decidido que “Kayo” deverá aceitar a ajuda de “Toya Shimada” (Mitsugoro Bando), um samurai de um nível elevado e comandante das tropas do clã, para que este assegure que “Shinnojo” receba o seu salário até ao fim da vida. Acontece que “Kayo”, contra a sua vontade, torna-se amante de “Shimada”, por exigência deste e de forma a assegurar a sobrevivência do seu marido. Quando “Shinnojo” descobre o que está a acontecer, e independentemente de estar cego, desafia “Shimada” para um duelo, tendo em vista salvar a sua honra.
“Kayo e Tokuhei”
“Review”
“O amor a ninguém dá honra e a muitos dá dor”. Este provérbio poderia assentar que nem uma luva à trama de “Love and Honor”, a terceira parte da trilogia não oficial de “chambara” existencialistas de Yôji Yamada. A fórmula básica segue um pouco na linha dos seus predecessores “Twilight Samurai” e “The Hidden Blade”, ou seja, temos um samurai de um baixo nível social, mas bastante respeitado. Um acontecimento, de certa forma trágico, abala a vida relativamente tranquila do guerreiro, e no fim ele terá de se submeter a uma prova de força, cujo resultado é agoniante e eventualmente mortal. A principal inovação e diferença que reside em “Love and Honor”, comparativamente aos outros dois filmes, passará pelo facto desse evento bulir mais directamente com a vida do samurai, ocorrendo dentro das suas próprias portas. Não é demais relembrar que em “Twilight Samurai” e “The Hidden Blade”, Yamada usou como catalisador a rebeldia dentro do próprio clã de samurais, abordando genial e lateralmente aspectos próprios da época. Ora em “Love and Honor” está em causa, como o próprio título indica, o amor e a honra que residem no próprio coração do guerreiro “Shinnojo”, tornando esta película de certa forma ainda mais intimista.
E é precisamente no facto de o filme ser bastante centrado nas expectativas e personalidade de “Shinnojo”, que reside o bom resultado final de “Love and Honor”. Convém sempre alertar os mais desprevenidos ou que desconhecem a obra do realizador japonês, que os “chambara” de Yamada não são cruzadas sanguinárias de luta de sabre. O que normalmente é focado nos seus filmes de samurais, é uma perspectiva mais realista, sentimental e simples da vida dos míticos combatentes. O que se pretende é dar a conhecer o quotidiano e o lado mais humano do homem e não tanto do mestre da “katana”. Não fugindo a este diapasão, “Love and Honor” é uma longa-metragem que se traduz num drama acerca da relação entre o amor e a honra, e que tenta mostrar a perspectiva do samurai quando os dois conceitos se digladiam ou se incompatibilizam. Porque a verdade é que esta obra se pode resumir ao seguinte: “Shinnojo” luta pela sua honra, devido a um conflito desencadeado precisamente por um acto de amor.
“Os provadores”
Como já tinha acontecido em filmes anteriores, o espectador é paulatinamente introduzido no modo de vida de “Shinnojo”, quando este era corriqueiro e, de certa forma, feliz. O jovem tem os seus sonhos, por vezes é surpreendentemente infantil, mas tem o código dos samurais muito bem interiorizado. É uma personagem que granjeia imenso a simpatia do espectador, porque em “Shinnojo” reside a bondade e a honra, a par de um homem comum que tem anseios palpáveis. Terá de se admitir que “Love and Honor” não é um filme muito movimentado, mas tal não será, neste caso em concreto, sinónimo de chato. Yamada, como realizador com medidas equilibradas de competência e experiência, consegue embrenhar-nos imenso na história. Em decorrência deste factor, os momentos dramáticos têm um respeitável impacto sentimental perante quem os visiona, parecendo sinceros e retirados da vida real. É tudo uma questão de identificação, e conseguimos sentir que nos revemos em algo no filme. Será forçoso desenvolver um pouco mais este particular. O que é determinante para desenvolver a empatia entre o espectador e o filme, passa pelas razões que norteiam as acções de “Shinnojo”, nos momentos em que a sua vida parece uma tragédia, com a impossibilidade de um final minimamente feliz. Não está apenas em causa o código de honra dos samurais, mas algo maior, a saber, o amor que o homem nutre pela sua mulher. Pessoalmente retirei que “Shinnojo” quando desafia “Shimada” para um duelo, não está apenas a salvaguardar a sua honra de samurai e a da sua esposa. Ele acima de tudo parece querer salvar o seu sentimento, e conferir-lhe um novo fôlego.
Poder-se-ia pensar que Takuya Kimura, artista que ficou conhecido por ser membro de uma banda j-pop chamada “Smap”, não estaria à altura do papel que lhe foi conferido. Nada mais enganador. O actor tem uma actuação fantástica, e estoicamente carrega “Love and Honor” nos seus ombros. É bem apoiado pela actriz Rei Dan, muito aprazível no seu papel de esposa devota, capaz dos maiores sacrifícios pelo seu amor, inclusive dando o corpo a uma causa que considerou maior. Merece ainda uma palavra especial, o actor Takashi Sasano, que interpreta “Tokuhei”, o criado do samurai. A sua actuação prima por algum humor inocente, mas sempre acompanhado de um bom senso assinalável que, à partida, seria incomum numa pessoa pouco instruída, que devotou a sua vida ao serviço de terceiros.
Com “Love and Honor”, Yamada conclui de forma bastante feliz a sua trilogia “chambara”. A “finesse” e “savoir fare” com que nos brinda na direcção da película é de relevar, e contribui para mais um bom momento do cinema nipónico. É-nos oferecido um filme honesto, despido de qualquer tipo de pretensiosismo. Há que contar uma história e faze-lo bem. Numa profundidade salutar e assinalável, apraz-me dizer que “Love and Honor” é um bom exemplo do género. Portanto...muito recomendado!
“Duelo”
7.6 em 10 (914 votos) em 31 de Julho de 2010
Avaliação:
Entretenimento – 7
Interpretação – 9
Argumento – 8
Banda-sonora – 8
Guarda-roupa e adereços – 8
Emotividade – 8
Mérito artístico – 8
Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8
Classificação final: 8
4 comentários:
Takuya Kimura é famoso também por protagonizar telenovelas japonesas (os "doramas", como são conhecidos por lá). Eu me surpreendi com sua atuação em "Bushi no Ichibun", não esperava vê-lo encarnando um personagem assim. O meu colega blogueiro Giuliano Peccili fez um estudo sobre o ator: http://www.jwave.com.br/2009/07/takuya-kimura-conheca-kimutaku-o-desejo.html
Ele aqui faz um excelente papel!
Obrigado pela dica!
Abraço!
Me encanta esta película. Es una de mis preferidas de samuráis ^^
Gostei muito Battosai!
Abraço!
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