"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Boat People/Tau ban na hoi - 投奔怒海 (1982)

Capa

Origem: Hong Kong

Duração: 108 minutos

Realizadora: Ann Hui

Com: George Lam, Season Ma, Cora Miao, Andy Lau, Kei Mung Sek

Akutagawa

O jornalista japonês Shiomi Akutagawa”

Sinopse

“Shiomi Akutagawa” (George Lam) é um fotojornalista japonês, que retorna ao Vietname em 1978, três anos após a vitória dos comunistas sobre o Vietname do Sul e os seus aliados norte-americanos. Apesar de as autoridades quererem fazer crer que vivem numa sociedade feliz e justa, o que “Akutagawa” testemunha é bastante diferente. Uma grande falange da população passa fome, a brutalidade policial grassa nas ruas e a corrupção é comum entre os elementos do governo.

Cam Nuong

Cam Nuong”

Nas suas deambulações, “Akutagawa” faz amizade com uma família pobre de Danang, acompanhando de perto “Cam Nuong” (Season Ma), o elemento mais velho dos três irmãos. Por outra via, “Akutagawa” toma contacto com “To Minh” (Andy Lau), um ladrão que é enclausurado num campo de concentração, denominado sugestivamente de “nova zona económica”, onde a sua função é a desminagem. “To Minh” tenta fugir para fora do país num barco de refugiados, mas a aventura acaba em tragédia. “Akutagawa” sente a necessidade de dar a conhecer ao mundo o que na realidade se passa no novo Vietname, mas a sua tarefa corre grande perigo de fracassar.

To Minh

To Minh”

Review”

Para muitos considerado como o filme mais importante da carreira da realizadora Ann Hui, feito numa fase ainda precoce da sua carreira, “Boat People” centra o seu enredo no impacto repressivo e violento da ditadura de Ho Chi Minh nos diversos sectores da sociedade vietnamita. À altura foi considerado, com muita propriedade, uma película extremamente intensa e que mereceu honras de exibição (com polémica á mistura) no festival de Cannes, edição de 1983. A ideia para levar a cabo a empresa que constituiu esta obra, teve origem no grande número de refugiados vietnamitas que começou a chegar em Hong Kong, nos fins dos anos '70. Hui, encarregue de fazer um documentário baseado nesta situação, e após uma série de entrevistas com os fugitivos do regime comunista acerca da queda de Saigão e da vida de então no Vietname, propôs-se a realizar “The Story of Woo Viet”, onde debutava Chow Yun Fat, no papel precisamente de um vietnamita que se refugiava em Hong Kong. Posteriormente, a República Popular da China, daria autorização a Ann Hui para rodar “Boat People” na ilha de Ainan, tornando-se este filme o primeiro de Hong Kong a ser rodado completamente na potência continental, sob o regime comunista. Para quem não sabe, o termo “Boat People”, refere-se aos imigrantes ilegais ou aqueles que procuram asilo num país estrangeiro, e que normalmente usam barcos para chegarem aos seus destinos. A designação teve uma certa afinidade com os vietnamitas, pois o seu êxodo naqueles transportes foi particularmente significativo na época referenciada.

Atendendo à trama e forma como é exposto o regime comunista vietnamita, era de esperar que o filme gerasse alguma controvérsia, tendo sido precisamente o que sucedeu. Considerando que a China tinha travado recentemente, uma curta mas sangrenta guerra com o Vietname, muitos viram “Boat People” como uma propaganda propositada contra este último país. Ann Hui sempre negou este aspecto, enfatizando que o resultado da película baseou-se tão-só nas várias entrevistas com refugiados vietnamitas que manteve em Hong Kong. Igualmente acentuou que os chineses nunca lhe haviam solicitado que orientasse o argumento para a difamação do governo sediado em Hanói. A questão é que até hoje, Hui não se livrou do rótulo de anti-regime vietnamita.

Vítima

Uma vítima jaz sob o estandarte vietnamita”

Efectivamente, o filme faculta um olhar cruel sobre a situação do Vietname pós-guerra e o impacto das reformas do conhecido ditador Ho Chi Minh, sobre o dia-a-dia dos seus conterrâneos. Impera a pobreza e a tirania, que o jornalista “Akutagawa” se apercebe, apesar de alguns esforços dos capangas do regime em esconder a realidade. À medida que o repórter se embrenha cada vez mais no dia-a-dia dos vietnamitas, na cidade de Danang, em especial de uma família com quem trava um conhecimento mais aprofundado, esta visão verdadeiramente aterradora vai tomando forma. E progressivamente vamos nos percebendo as razões daqueles que fogem de um inferno na terra, tendo em vista a procura de uma vida melhor, ou apenas de paz e segurança. Tudo será melhor do que a situação em que vivem actualmente.

Hui dirige o filme com uma mestria de saudar, e faculta-nos diversos momentos fortes e simbólicos. Pense-se nas cenas em que os corpos de pessoas fuziladas, são pilhados pelos seus concidadãos pobres que, mais do que qualquer falta de respeito pelos mortos, querem apenas encontrar algo de valor que os ajude a sobreviver. Mas na realidade, um dos momentos mais fortes e que originaram uma polémica enorme, foi aquela em que o exército vietnamita intercepta um barco de refugiados, e metralha-o impiedosamente, pondo fim à vida de algumas dezenas de pessoas. A realizadora Ann Hui insiste que a situação em concreto foi baseada num evento real, esclarecendo apenas que na sua obra as pessoas são baleadas, enquanto que no acontecimento invocado, o barco foi afundado pelas patrulhas do país da Indochina.

Os actores denotam um trabalho meritório e situado num plano que reputo de elevado. George Lam é credível no papel do jornalista japonês, em busca da verdade e genuinamente preocupado com a miséria do povo vietnamita. Season Ma, enternece no papel jovem de 14 anos, que se vê na contingência de cuidar da família e tudo fazer em prol dela, principalmente do seu irmão mais novo. Na altura, um jovem e desconhecido Andy Lau (sim, esse mesmo!) evidencia que poderia ser um caso sério em Hong Kong. O que é certo é que decorridos 28 anos, Lau é uma das maiores figuras do cinema asiático e do da região administrativa em particular.

Impregnado de humanidade, “Boat People” constitui um filme que facilmente poderá ser acusado de propaganda contra o regime comunista que emergiu vitorioso da guerra do Vietname. O que é certo é que, ao contrário do que alguns dizem, o tempo não consegue apagar tudo e todos nós sabemos, em maior ou menor medida, o quão desumano poderá se tornar uma sociedade marcial, dominada por um poder político ditatorial, que acaba por servir apenas os interesses de alguns. Mesmo questionando-se a mensagem e a veracidade histórica (sempre discutível), estamos perante um bom filme, na tradição de películas fantásticas como “The Killing Fields”, de Roland Joffé. É cru, mas ao mesmo tempo incrivelmente sentimental. Por vezes violento, contém igualmente momentos de uma ternura inesquecível. Atente-se ao epílogo, é centremo-nos no olhar com que “Cam Nuong” fixa no horizonte, à medida que segura no colo o seu pequeno irmão. E se calhar perceberemos minimamente o que é um misto de sonho, expectativa, esperança e algum sofrimento.

A ver com muita atenção!

Cam Nuong e o irmão 2

Cam Nuong fita o horizonte, ao mesmo tempo que embala o irmão mais novo”

imdb 8/10 (128 votos) em 26 de Fevereiro de 2010

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 8

Argumento – 8

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 8

Mérito artístico – 9

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8

Classificação final: 8,13

Beldades da Cultura Asiática - Lee Yeong-ae










Mais informações sobre esta talentosa actriz sul-coreana AQUI.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Linda Linda Linda - リンダリンダ リンダ (2005)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 108 minutos

Realizador: Nobuhiro Yamashita

Com: Bae Doo-na, Aki Maeda, Yu Kashii, Shiori Sekine, Takayo Mimura, Shione Yukawa, Yuko Yamazaki, Masahiro Kômoto, Ken'ichi Matsuyama, Katsuya Kobayashi, Keisuke Koide, Masaki Miura, Lily, Kaori Fujii

The Paran Maum 2

The Paran Maum”

Sinopse

Uma banda do liceu Shibazaki, no Japão, perde a sua guitarrista, quando a mesma lesiona-se na mão durante um evento desportivo. As coisas pioram, quando a vocalista “Rinko” (Takayo Mimura) tem uma altercação com “Kei” (Yu Kashii), a teclista, e decide igualmente abandonar o grupo. Restam apenas para além de “Kei”, a baterista “Kyoko” (Aki Maeda) e a baixista “Nozomi” (Shiori Shekine), e ninguém quer assumir o papel deixado vago por “Rinko”, ou seja, o de cantar. Desesperadas por encontrar uma nova voz para a banda, atendendo a que tem uma actuação marcada para o festival de rock da escola, a escolha acaba por recair em “Son” (Bae Doo-na), uma estudante de intercâmbio sul-coreana.

Kei Tashibana

A guitarrista Kei Tashibana”

Lutando contra as debilidades de “Son” na lingua japonesa, as raparigas decidem avançar e apostam em fazer umas “covers” da popular banda de punk nipónica “The Blue Hearts”, na qual se inclui a música “Linda Linda”. Com apenas setenta e duas horas, as “The Paran Maum” (nome da banda), ensaiam dia e noite, de forma a ter o repertório pronto. No entanto, têm de vencer alguns obstáculos pelo caminho.

Ensaiando às escuras

Ensaiando no escuro”

Review”

Como se depreende da sinopse, o título do filme que ora se analisa provém de uma música muito popular da defunta banda nipónica “The Blue Hearts”, que granjeou muita popularidade em terras do sol nascente, na segunda metade da década de '80 e inícios dos anos '90. O grupo japonês constitui uma inspiração essencial para a aura musical de “Linda Linda Linda”, tanto que até a designação da banda das raparigas, a saber, “The Paran Maum”, significa em coreano precisamente “The Blue Hearts” e mereceu inclusive a gravação de um cd, onde as actrizes debitavam as melodias que cantavam na película.

Sou obrigado a confessar que tenho um especial carinho por filmes que elegem como temática principal a música e o esforço que as bandas fazem para obter os seus objectivos. E por este motivo, “Linda Linda Linda”, tinha francas possibilidades de colher o meu agrado, assim como atraiu a minha atenção. O que se torna interessante, à primeira vista, é que esta obra não possui o argumento mais tradicional do género. O objectivo das raparigas não passa por serem descobertas pelo meio musical, gravar um álbum ou obter um grande sucesso. Nem sequer se trata de vencer algum tipo de competição musical. O que está em questão é superarem os problemas que surgirem na banda e, num curto espaço de tempo, aprenderem um conjunto de músicas de forma a fazerem boa figura perante os seus colegas de liceu. Graças a um par de boas performances, e à actuação final das raparigas, de muito bom nível, o resultado global é bastante satisfatório. Afinal, quem no seu perfeito juízo, resiste a um grupo de jovens bonitas, em uniforme colegial, a tocar rock e punk. Em especial, a espantosa actriz e modelo Yu Kashii, (esposa do conhecido Joe Ôdagiri), que interpreta “Kei”, a guitarrista, neste filme.

Romance à chuva

Kyoko tenta expressar os seus sentimentos à chuva”

A aura de liceu está envolvente, e nada tem a ver com qualquer possível devaneio de “teen movie”. As raparigas, apesar de atraentes (vou insistir novamente em Yu Kashii), parecem estudantes absolutamente normais, sem qualquer tipo de vedetismo ou de onda demasiado “cool”. E mesmo que algum romance potencial expresso na obra, pudesse degenerar em algo que afastasse o filme do seu rumo, tal não acontece. As situações mais sentimentais são expressas com uma naturalidade salutar, à semelhança de qualquer evento que já experienciamos ou assistimos nos tempos de liceu, o que nos faz mostrar um leve sorriso na face, sobretudo de alguma nostalgia.

Sendo uma longa-metragem, com um espectro musical determinante, há que elogiar a competente banda-sonora, que para além das “covers” dos “The Blue Hearts”, é orientada por James Iha, um membro dos conhecidos “Smashing Pumpkins”. As melodias ilustram bem a ambiência da película, e entretêm imenso. Embora não sejam nada de transcendental (isso também dependerá das preferências de cada um), o ritmo “punk rock” é suficiente para nos abanarmos nas cadeiras, e traulitarmos o som. Aliás, um dos elementos das “The Paran Maum” é uma música profissional, o que confere um “quid” de autenticidade à banda. Shiori Sekine, que interpreta a tímida “Nozomi”, é na vida real a baixista dos “Base Ball Bear”, uma banda rock sedeada em Tóquio.

As actuações dos intervenientes do filme explanam-se num nível que reputo de bom, assumindo esta premissa mais acuidade quando muitos dos actores e actrizes primam por alguma inexperiência. As maiores honras, neste particular, deverão ser atribuídas à actriz Bae Doo-na, no papel da vocalista da banda e da jovem estudante estrangeira insegura. Tanto na parte mais dramática, como no “comic relief”, a sul-coreana chega mesmo a brilhar intensamente. Destacaria as dificuldades que “Son”, a personagem interpretada pela actriz, detém na língua japonesa, que faz emergir francos sorrisos. A sua performance na actuação final da banda, está eivada de uma naturalidade impressionante, e assistimos a uma transformação da estrangeira deslocada numa vocalista confiante e com poder para entusiasmar a assistência. As restantes membros da banda exibem-se de forma a que, pelo menos, sintamos simpatia e solidariedade pelas mesmas (e já agora, digo mais uma vez que a Yu Kashii é mesmo um mimo...bem esqueçam!)

“Linda Linda Linda” vale sobretudo pela sinceridade, honestidade, e ausência de pretensiosismo. É um filme simples que fala dos anseios de um grupo de jovens na música, e onde se teoriza acerca do ultrapassar das dificuldades, para além de uma análise refrescante à amizade e até ao amor. Trata-se igualmente de uma obra envolta num grito surdo de saudável rebeldia, e um “look” muito interessante sobre a juventude japonesa, com muito “girl power” (discreto) à mistura. E uma coisa garanto-vos: o refrão da música que inspira a designação vai-vos ficar na cabeça durante dias, “Linda, Linda. Linda, Linda, Linda”, la, la, la.

Recomendado!

imdb 7,8/10 (1.066 votos) em 23 de Fevereiro de 2010

Já agora, fiquem com a actuação das “The Paran Maum”, de “Linda Linda Linda”:

E porque não conferir o original, cantado pelos “The Blue Hearts”, a banda que inspirou as raparigas:

Outras críticas em português:

  1. Cineasia
  2. Cinehanami
  3. Japanpop Cuiabá
  4. Clubotaku

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 8

Argumento – 7

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 8

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,75

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

“Testemunhos” de Miguel Patrício (“Nihon Cine Art”)

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O convidado desta semana é Miguel Patrício, o timoneiro do espaço designado “Nihon Cine Art” (para aceder, favor clicar na foto supra). Igualmente é colaborador do blogue “Retroprojecção”, que foi onde comecei a tomar contacto com os textos do nosso entrevistado. Cabe ainda referir, que é responsável pela parte de cinema da revista online “Waribashi”, uma excelente publicação “on line”, cujo objectivo é divulgar a cultura japonesa através das vertentes anime e manga.  O Miguel é, principalmente mas não só, um cultor do cinema japonês das décadas de `60 e `70, essencialmente das obras que se costumam reconduzir à “Nouvelle Vague” japonesa. O “Nihon Cine Art”, é um recanto que se aconselha tremendamente a visita, onde podemos encontrar material raro, não tão virado para cinema de massas, mas de inquestionável qualidade. Desde filmes, bandas-sonoras, textos profusamente cuidados e bem escritos e muito mais. Vale bem a pena ir dar uma espreitadela a um blogue eivado de uma erudição muito cativante.

Abaixo segue a entrevista.

“M.A.M.”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Miguel Patrício : Primeiro, gostava de agradecer ao Jorge Soares por me ter dado voz neste novo espaço que seguirei atentamente no futuro.

Genericamente, apenas a geografia parece contar. Mas arreigado a isto estão outras culturas, e associadas a estas, ainda outras maneiras de filmar e contar histórias. Definir a diferença entre cultura oriental e cultura ocidental parece-me ser tão complexo que desisto sem sequer tentar. Mas gostaria de dizer isto: quem vê filmes, vê sempre ou quer ver, mesmo inconscientemente, outras culturas. A ideia de Humanidade (no que ela tem de geral e, por isso mesmo, de não local) não é conquistada à priori, mas apenas adquirida quando a trama, o “pathos” nos permite. No princípio, o mundo do cinema é estrangeiro do nosso mundo.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

M.P. : Talvez a tarefa mais difícil seja definir a coisa mais familiar. Nesse sentido, não consigo responder com argumentos. Mas com redundâncias: Porque me fascina!

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

M.P. : O primeiro, não. Deve ter sido algum anime perdido num lugar qualquer da minha infância. Mas o meu primeiro amor (isto para sermos líricos; porque quando se fala de paixões há que sê-lo) foi Sonatine de Takeshi Kitano, num serão estival da RTP2 há uns oito, nove anos atrás. Lembro-me de ser menino e não conseguir dormir à noite pela beleza amarga de tudo aquilo…

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

M.P. : Sou muito parcial no que diz respeito a este tópico. Quem me conhece pensa que defendo incondicionalmente o cinema japonês. Não o faço por menos, é verdade. Mas, de facto (e querendo legitimar a minha afinidade, digamos, injustificável) como posso eu não defendê-lo? Um cinema que passou dos melodramas mais lacrimejantes e das aventuras mais trepidantes e sem par, para a revolução estética e ética da Nouberu Bagu? Um cinema que em todos os domínios se destaca e que constantemente se reinventa? Como não amá-lo de corpo e alma?

Esse é, talvez, a grande vantagem do cinema nipónico em relação a todo o outro cinema oriental: um é mais completo do que o outro. Tal deve-se, no meu ponto de vista, ao facto do Japão ter crescido muito mais depressa do que o resto da Ásia. Só muito recentemente é que os outros países dão de si de maneira maciça. Em muitos casos, não deixam de ser ainda filmes de terceiro-mundo (o que não significa falta de qualidade), isto quer dizer, filmes em que as questões sociais se sobrepõem às psicológicas, em que muitas vezes o documentário anda de mãos dadas com a ficção.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virada para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

M.P. : Gosto sobretudo do género anti-género, isto é, os meios mediante os quais algo se torna dissidente, transgressor.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

M.P. : A pergunta anuncia a impossibilidade dessa tarefa. Mas se puder mudar o critério, consigo. Top 5 de filmes excelentes. Aí vão alguns:

Eros Plus Massacre (Kiju Yoshida, 1969), The Man Who Left His Will on Film (Nagisa Oshima, 1970), Mandala (Akio Jissoji, 1972), Pastoral: To Die in the Country (Shuji Terayama, 1974), Noisy Requiem (Yoshihiko Matsui, 1988).

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

M.P. : De entre estes, venha o diabo e escolha: Shuji Terayama, Kiju Yoshida, Nagisa Oshima, Yasujiro Ozu, Takeshi Kitano… etc e etc.

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

M.P. : No dia em que respondo a este questionário (9 de Novembro) comemora-se não só o vigésimo aniversário da queda do muro de Berlim, mas igualmente os 20 anos da morte de um grande actor, Yusaku Matsuda. Um bem-haja para ele.

Actrizes… qual escolher? É sabido que o amante de cinema é também um amante solitário de actrizes. Mas eu não sou como a maior parte dos fetichistas. A mim dá-me especial carinho ver as actrizes envelhecer, e não permanecer naquela imagem eterna do filme planeado. Nesta perspectiva, gostava bastante de ver como está Setsuko Hara, depois de tanto tempo excluída do mundo do cinema e não só.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

M.P. : Não penso que haja apenas filmes sobre ou subvalorizados. Existem épocas e correntes. Se na pintura e literatura é assim, porque não no cinema?

Posto isto, penso ser sobrevalorizado todo o fascínio que o Ocidente nutriu pela radicalidade física do cinema japonês do final dos anos 90. Falo dos filmes de gore e horror (dando, por conseguinte, muitas e variadas ideias para “remakes” americanos) que pavoneavam os festivais de cinema, mesmo os mais intelectualóides.

Uma época subvalorizadíssima são os anos 60/70 japoneses, o que corresponde à Nouvelle Vague Japonesa. Essa pertence à arqueologia cinematográfica, vício novo que eu e mais uns quantos cultivamos.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

M.P. : Em Portugal os meios são escassos e os “nichos” insuficientes, como se sabe. Não existem, é certo, motivações que se posicionem para além do lucro na nossa modesta e interesseira difusão. Quando não farejam lucro, os distribuidores viram as costas irremediavelmente. Uns queriam uma “Hollywood” de olhos-em-bico para poderem reconquistar o mesmo público de sempre (estes têm por norma associar tudo ao Tarantino), outros, mais senhores de si, vão a Cannes e a Veneza com intuitos heróicos de levar para casa um cinema de autor para os “hospedeiros do costume”, que pagam mais para ver qual foi aquele filme exótico que ganhou o festival X.

Ousadia e honestidade não são palavras que constem no seu dicionário pessoal. A maior bênção, por isso mesmo, é a Internet: faz-nos não estar dependentes dessa gente.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

M.P. : Se essa pessoa já tiver algum gosto oriental a germinar, é fácil cativar-lhe o interesse. Se não, primeiro e antes do mais, que saiba inglês ou francês. Depois, que tenha Internet (e não tenha amigos ou parentes próximos na polícia) e se prepare para ser um indigente, um ilegal. Finalmente que não tenha medo. Que isto do cinema ladra, mas não morde.

domingo, fevereiro 21, 2010




Este espaço está de luto pelas vítimas da intempérie que se abateu sobre a minha amada cidade do Funchal, e pela minha ilha, a Madeira. As minhas condolências às famílias afectadas.

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

O My Asian Movies está no Facebook

Facebook

Para aderir ao grupo, basta carregar na foto acima, ou em alternativa, no campo que está abaixo à direita. A página ainda está em construção, mas com o tempo prometo que a ponho mais apresentável.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Sad Movie/Sae-deu Moo-bi – 새드무비 (2005)

Capa

Origem: Coreia do Sul

Duração aproximada: 108 minutos

Realizador: Kwon Jong-kwan

Com: Jung Woo-sung, Im So-jeong, Cha Tae-hyun, Yum Jung-ah, Sin Min-a, Son Tae-yeong, Lee Ki-woo, Yeo Jin-gu, Kim Seung-cheol

Ahn Su-jeong

Ahn Su-jeong”

Sinopse

“Jin-woo” (Jung Woo-sung), um bombeiro com um sentido de dever muito apurado, mantém uma relação com “So-jeong” (Im So-jeong), uma intérprete para surdos-mudos, que trabalha num canal televisivo. O amor entre os dois é muito forte, e tudo indica que o casal está apto a dar o passo seguinte, ou seja, o casamento. Contudo, a perigosa profissão do rapaz, funciona como um inibidor para ambos, devido às constantes preocupações de “So-jeong” com os riscos que “Jin-woo” corre. “So-jeong” vive com a sua irmã “So-eun” (Sin Min-a). Apesar de “So-eun” apoiar imenso o relacionamento da irmã, possui igualmente os seus problemas amorosos. Ela trabalha num parque de diversões, e apaixona-se por um jovem pintor que passa por lá o dia. O problema é que “So-eun” é uma surda-muda, com uma proeminente cicatriz na face. Estas suas debilidades fazem com que a rapariga seja incapaz de se aproximar da sua paixão, sem que esteja indumentada com o seu fato pouco convencional de Branca de Neve.

Uma flor no parque

“So-eum, escondida por trás do fato, recebe uma flor da sua paixão”

Paralelamente, tomamos contacto com “Ju-yung” (Yum Jung-ah), uma mãe que devido ao seu trabalho, não presta a atenção que devia ao seu filho, o pequeno “Hui-chan” (Yeo Jin-gu). As coisas mudam quando “Ju-yung” é internada no hospital devido a um cancro. Durante a permanência de “Ju-yung” no hospital, “Hui-chan” descobre os diários da mãe e conhece a verdade acerca da sua concepção, nascimento e os primeiros anos. Uma ligação forte nasce finalmente entre mãe e filho. Numa noite num parque, “Hui-chan” quando se lamentava da sorte da progenitora, trava conhecimento com “Ha-seok” (Cha Tae-hyun), um homem desempregado que ganha algum dinheiro servindo de saco de boxe para lutadores locais. “Ha-seok” namora com “Suk-hyun” (Son Tae-yong), e esta já se encontra farta de o companheiro não arranjar um emprego estável, tanto que acaba por deixá-lo. Após convencer a namorada a lhe conferir uma nova oportunidade, “Ha-seok” arranja um trabalho pouco convencional. Cria uma agência de separações, cujo função é transmitir mensagens de homens e mulheres que querem acabar as relações com os seus companheiros.

Beijo

“Jin-woo e So-jeong beijam-se apaixonadamente”

Review”

A sinopse acima é longa, facto pelo qual o subscritor deste texto se penitencia por uma eventual falta de capacidade de síntese, mas não é fácil resumir um argumento que possui quatro histórias distintas no mesmo filme que, a certa altura se interligam, mas de uma forma muito ténue. Com um elenco composto de muitas estrelas do espectro cinematográfico sul-coreano, “Sad Movie” é uma película que, ao contrário do que o seu título possa indiciar, não é uma viagem constante de dor e lágrimas. A parte mais melodramática, está sem dúvida alguma reservada para os minutos finais, e aí podemos referir com propriedade que o epíteto desta longa-metragem encontra-se preenchido.

Embora com momentos algo imaginativos, a análise da trama de “Sad Movie” poder-se-ia ater basicamente a estarmos presentes perante personagens que colhem a nossa simpatia, detendo as mesmas problemas relacionados com o jogo de sentimentos e que a certa altura parecem estar no bom caminho para resolve-los. Depois de criar esta sensação no espectador, tudo é deitado por terra, em alguns casos de uma forma brutal. Apesar de possuir algumas características que associamos ao verdadeiro subgénero do “K-Drama”, “Sad Movie” envereda mais pela comédia romântica em grande parte do seu trajecto, o que só vem potenciar mais o efeito dramático final. As diversas situações com que nos deparamos nesta obra, são fórmulas que já foram profusamente utilizadas. Existe o casal com problemas de compromisso, devido a factores externos como o trabalho; a rapariga tímida que se apaixona pelo homem dos seus sonhos, mas que se sente relutante na aproximação, devido a algo que a envergonha; o clássico drama da doença terminal, que potencia a relação mãe-filho; e por fim, o rapaz que tenta evitar ser largado pela namorada, metendo-se em negócios pouco convencionais.

Mãe e filho

“Ju-yung com o seu filho Hui-chan”

A comédia encontra-se algo presente, o que entretém de certa forma e serve para afastar algum pendor demasiado dramático que “Sad Movie” pudesse eventualmente deter. Aliás, ao longo da película, quem faz mais as despesas de “tear jerker” será o segmento a cargo das personagens “Ju-yung” e “Hui-chan”, e toda a envolvência à volta da doença terminal daquela e os pensamentos expressos no seu diário pessoal. No que concerne aos momentos mais descontraídos e bem dispostos, o conhecido Cha Tae-hyun de “My Sassy Girl” brilha na sua pouca convencional profissão de transmitir mensagens de separação entre casais.

Após o visionamento de “Sad Movie”, facilmente se concluirá que estaremos perante mais uma obra que não revolucionará nada o “K-Drama”, e apenas será mais uma adição para as dezenas de exemplos que existem na bem sucedida indústria do género na Coreia do Sul. As actuações pautam-se pelo requisitado, sendo que a dupla Yum Jung-ah e Yeo Jin-gu, respectivamente mãe e filho nesta obra, exibem-se num plano bastante elevado. A banda-sonora consiste numa música agradável que essencialmente se houve pelo filme todo e quanto às situações que servem de base ao argumento, já todos as vimos anteriormente de uma forma ou de outra. Será um filme obrigatório da lista, para todos aqueles que cultivam o drama provindo daquela região asiática e são fãs incontornáveis de Jung Woo-sung e companhia. Para os restantes, consistirá em mais um exercício de curiosidade acerca das lutas pelas quais passam os casais para manter os seus relacionamentos de boa saúde, ou observar o sofrimento de uma criança pela condição da mãe. Parece muito, mas quem visionar “Sad Movie”, perceberá que o tratamento não é tão elevado assim.

O sifrimento de uma criança

O sofrimento de uma criança”

imdb 7,6/10 (862 votos) em 17 de Fevereiro de 2010

Outras críticas em português:

  1. Dorama fãs

Avaliação:

Entretenimento – 7

Interpretação – 8

Argumento – 7

Banda-sonora – 7

Guarda-roupa e adereços – 7

Emotividade – 9

Mérito artístico – 7

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,38

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

“Testemunhos” de Nuno Barradas Jorge Aka Atomo (“Bitlogger”)

atomo

O convidado desta semana, acima epigrafado, fez-me o grande favor, sem para tal ser solicitado, de me remeter uma mini-biografia que passo a transcrever: “Nuno Barradas Jorge (aka Atomo!) é um blogger, artista multimédia, ilustrador e académico de cinema. Vive, trabalha e estuda no Reino Unido. Durante 4 anos editou Bitlogger (para aceder, carreguem na foto acima). Como em tudo na vida, leva estes questionários a sério, mas sem grande stress ou coerência. Afinal o Cinema é um antes do mais um prazer: exige insistência, goza-se de forma errática e ao sabor dos desejos e sabe sempre bem!”.

Na parte que me compete, tenho a dizer que o “bitlogger” sempre foi um espaço que colheu imenso o meu respeito e do qual fui um assíduo visitante. O seu conteúdo era vastíssimo, e embrenhava-se por uma diversidade de assuntos extremamente interessantes que, no que toca ao cinema, abarcava uma imensidão de temas onde as cinematografias não tinham fronteiras, nem tempo. Na parte mais “asiática” da coisa (e não só), o Nuno sempre teve uma sensibilidade especial para expor as suas ideias, numa escrita cuidada, compreensível e cativante. Por estar a falar no passado, já se percebe que o “bitlogger” parece ser um espaço extinto. Faço votos para que um dia seja reactivado, pois estava dotado de uma grande qualidade. Visitem-no e confiram “in loco”. Vale bem a pena!

Abaixo fica o resultado da entrevista.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Nuno Barradas Jorge : Actualmente pouco, já que o cinema oriental (sobretudo o mainstream) que nos chega à Europa está em sintonia como moldes de produção globais. No entanto existem alguns realizadores que conseguem marcar diferenças que normalmente atribuímos ao cinema oriental: orientação (cinemato)gráfica diferente da ocidental, narrativa mais complexa que a tradicionalmente explorada pelo cinema mainstream clássico (ou de Hollywood), um certo pendor para uma contemplação da imagem, algo inexistente actualmente na produção comercial americana e europeia.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

N.B.J. : Penso que inicialmente foi um certo ‘exotismo’ por tipo(s) de cinema diferente(s) do que estava habituado a ver na televisão e a uma cultura diferente que não conhecia de todo. Sentir esse frisson penso que será algo que muitos cinéfilos devem sentir quando deparam com algo novo. Actualmente penso que é a descoberta de filmes ou ‘franjas’ cinematográficas que ainda conseguem ser inovadoras, algo já difícil numa cultura global cada vez mais uniforme e homogeneizada.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

N.B.J. : Confesso que não, embora esteja quase certo que deverá ter sido alguma coisa do Kurosawa que estaria a dar na televisão. Lembro-me de quando era criança de ficar estupefacto a olhar para a televisão ao ver os Sete Samurais ou os Contos da Lua Vaga. Essas são das primeiras memórias que tenho do cinema oriental … e do tal frisson de que estava a falar antes.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

N.B.J. : Se estivermos a contar apenas com o trio do costume (Coreia do Sul, Hong Kong e Japão) parece-me que actualmente a Coreia do Sul ainda me consegue surpreender, sobretudo com realizadores esquecidos que agora estão a ser re-descobertos como Ki-young Kim.

Mas se abrangermos mais o espectro, parece-me que muita coisa interessante vem da Tailândia. O cinema de acção Thai goza de algum culto, a comédia é ainda bastante fresca e existe um tipo de comédia muito 'transgender' que realmente é inovadora nas filmografias orientais. Mesmo com a censura, a Tailândia consegue manter uma certa surpresa cinematográfica. Talvez seja porque ainda não é muito conhecida fora da zona, mas pessoalmente acho que também deve ser porque não estão muito preocupados em exportar para mercados globais, como actualmente o Japão e a Coreia do Sul, que capitalizam muito num cinema de terror já esgotado.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

N.B.J. : Essa é difícil! De tudo um pouco, realmente! Mas se quisermos dividir as coisas por ‘géneros’, gosto bastante dos filmes dos anos 60 e 70 (japoneses) de Samurais e das excentricidades dos super heróis e monstros nos filmes Tokusatsu… sobretudo os mais antigos… e gosto muito de um certo drama e da comédia offbeat coreana e japonesa… nem só de bizarria vive o homem!

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

N.B.J. : Essa ainda é mais difícil! Vou subverter a coisa e fazer um jogo tipo Bruno Aleixo: 5 filmes orientais dos últimos 20 anos que escolhia para ver em loop até morrer :

Electric Dragon 80.000 V (Sogo Ishii, 2001)

Ping Pong (Fumi Sori, 2002)

Chungking Express (Wong Kar Wai, 1994)

Linda, Linda, Linda (Nobuhiro Yamashita, 2005)

My Sassy Girl (Jae Young Kwak, 2001)

Nenhum deles poderá ser considerado uma obra-prima, mas enfim…

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

N.B.J. : Agora é que rebentastes a escala de dificuldade! Pelas filmografias completas: Jae-young Kwak, Sogo Ishii, Yasujiro Ozu. Esses são os 3 que me lembro assim agora… de certeza que se tiver que olhar para isto daqui a 5 minutos vou encontrar mais 3 diferentes… muito sádica esta pergunta (lol)!

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

N.B.J. : A coreana Du-na Bae e o japonês Tadanobu Asano… raros serão os filmes desses dois actores que deixaria de ver.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

N.B.J. : Pessoalmente não entendo a hiper-valorização que se costuma dar a certas obras do Takashi Miike, embora reconheça o valor desse realizador. Também não entendo o enaltecimento de filmes mais espampanantes como Sakuran (2006). Acho que sobretudo este filme joga muito com uma certa ‘orientalidade’ para corresponder a uma distorção da visão do que é o cinema oriental, em parte devido as expectativas ‘patronizadoras’ das audiência ocidentais. Deixa uma sensação de que o cinema japonês actual é apenas apelativo visualmente, algo que é errado. Por outro lado existe ainda muita coisa para descobrir, no cinema mais recente... lembro-me assim de repente do Hsiao-hsien Hou, que é um tipo idolatrado pela critica, mas que tem sido ignorado pelo público, o que é pena. E claro, os filmes do Sogo Ishii, que são algo subvalorizados por serem mais low-budget. Mais isto, como tudo aqui expresso, são gostos pessoais!

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

N.B.J. : Em Portugal (o meu pais de origem), não sei muito bem, pois não tenho acompanhado o mercado. No pais onde vivo de alguns anos para cá, o Reino Unido, o mercado é algo pobre em diversidade, ficando-se muito pelos títulos do costume, sobretudo no que toca ao J-Horror e afins. As salas de cinema independente (fora de Londres entenda-se) vivem muito de um certo ‘indie’ formatado pelo gosto anglo-saxónico (muito pouco independente realmente). O que chega a essas salas de oriental são filmes que foram ao Sundance ou festivais assim… pouco do que chega, por exemplo, a França (um pais central para divulgação de filmografias orientais) vai para a esse tipo de cinema independentes.

Mesmo assim existem realmente boas surpresas. Em DVD (mais baratos que em Portugal) a oferta tem melhorado visivelmente nos últimos 3 anos e encontram-se títulos pouco divulgados e a preço acessível (a minha cópia do ‘Tokyo Zombie’ custou-me o equivalente a 5 euros!). E existem sempre surpresas, sobretudo porque algumas pessoas se mexem para trazer certos filmes e realizadores orientais a festivais pequeninos. O Bong Joo Ho (o realizador do Gwoemul) vai estar por aqui dentro de poucos dias a apresentar o seu último filme… algo surpreendente! (Nota: A entrevista do Nuno já foi remetida há algum tempo, pelo que se pede aos leitores a devida adaptação em função do contexto temporal, no que concerne à última frase).

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

N.B.J. : Isso vai depender dos gostos pessoais dessa pessoa, mas no geral o que se pode dizer às pessoas que têm curiosidade será a de irem pelos 'valores seguros'. Aquelas obras que (vai-se lá saber porquê) conseguiram ficar na mente do público ocidental. Filmes tão diferentes como "My Sassy Girl", "Yojimbo", ou "A Viagem de Chihiro" decerto que serão bons pontos de partida para quem tiver alguma curiosidade e não estiver muito condicionado pelo gosto dominante dos blockbusters. Essas obras normalmente abrem portas para outros realizadores e filmes e, sobretudo 'acostumam' muitas pessoas que pertencem a uma certa audiência preguiçosa a ser curiosa e procurar mais – é assim que as trends cinematográficas começam! Ser curioso é a melhor qualidade em alguém que gosta de cinema, e essa é a melhor arma para esse tipo de condicionantes.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Beldades da Cultura Asiática - Ayumi Hamasaki










Mais informações sobre esta belíssima e popular cantora (com algumas incursões no cinema) nipónica AQUI.


segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Lady Snowblood/Shurayukihime - 修羅雪姫 (1973)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 97 minutos

Realizador: Toshiya Fujita

Com: Meiko Kaji, Toshio Kurosawa, Hôsei Komatsu, Eiji Okada, Sanae Nakahara, Noburu Nakaya, Miyoko Akaza, Yoshiko Nakada, Hitoshi Takagi, Mayumi Maemura

Shurayuki Kashima

“Shurayuki Kashima”

Sinopse

Na época Meiji, “Sayo Kashima” (Miyoko Akaza) depara-se com um evento traumatizante, que passa por assistir ao impiedoso homicídio do marido e do jovem filho. Presa por matar um dos quatro assassinos, “Sayo” começa a tentar gerar um filho, de forma a que este se torne no instrumento da sua vingança. Para o efeito, tem relações sexuais com vários homens e finalmente consegue engravidar. No dia do parto, “Sayo” falece, dando à luz uma menina a quem põe o nome de “Shurayuki”.

Treino

O treino da jovem Shurayuki”

Passados vinte anos, e tendo sido treinada duramente nas artes marciais por um sacerdote, “Shurayuki Kashima” (Meiko Kaji) torna-se numa bela mulher e numa impiedosa assassina, cujo único propósito é levar a cabo a vingança ditada pela mãe. Auxiliada, entre outros, pelo jornalista “Ryûrei Ashio” (Toshio Kurosawa), “Shurayuki” inicia uma cruzada de revanchismo, imbuída de jorros de sangue.

Os 4 assassinos

Os quatro assassinos, objecto da vingança de Shurayuki”

Review”

Baseada na “manga” homónima de Kazuo Koike, “Lady Snowblood” é uma película com uma importância histórica determinante no panorama cinematográfico oriental, e que constitui um ícone dos filmes que detêm o conceito de vingança como pano de fundo. A sua influência é bastante patente em algumas obras cinematográficas, das quais se destaca “Princess Blade”, de Shinsuke Sato, e num âmbito mais universalmente conhecido, de “Kill Bill”, do sobejamente conhecido Quentin Tarantino. A conhecida obra do realizador norte-americano, dividida em duas partes, denota uma inspiração profunda de “Lady Snowblood” em vários momentos, de que constituem exemplo o cenário de neve usado na luta entre a “Noiva” e “O-Ren Ishii”, ou então o uso de músicas que fazem parte da banda-sonora da longa-metragem objecto deste texto. Falamos das melodias “Flower of Carnage” e “Urami-Bushi”, interpretadas pela própria Meiko Kaji, a protagonista principal de “Lady Snowblood”.

Como acima aflorei, “Lady Snowblood” gravita essencialmente sob o signo do tema “vingança”, e acrescentaria, no seu estado mais puro. Trata-se de uma obra que se poderá reputar de violenta, onde predomina muito sangue, que jorra profusamente, com um certo exagero requisitado mas extremamente simbólico. As cenas de acção estão bem conseguidas, onde se confia nos combates rápidos e certeiros, em detrimento de lutas prolongadas e épicas de artes marciais. Em detrimento de uma técnica de combate apurada, não faltarão os desmembramentos e as lâminas afiadas a desferirem cortes fatais e verdadeiramente ilustrativos do seu poder mortífero.

Mais uma vítima

Shurayuki faz mais uma vítima”

A estética do filme é algo digno de ser ver e admirar. O vermelho do sangue, conjuntamente com alvura da neve, dão lugar a imagens emblemáticas, que fazem jus ao epíteto desta longa-metragem (“snowblood”). Este efeito é perfeitamente reflectido na própria personagem de “Shurayukihime”, que desfila com os seus quimonos brancos, muitas vezes tingidos com litros de sangue quando a jovem decide mostrar aos seus oponentes o cruel sabor da violência e da morte. E embora por vezes se note que a película provavelmente não tenha sido dotada de um orçamento generoso, as suas imagens são competentemente descritivas do Japão da era Meiji, com paisagens assombrosas e que ajudarão a embrenhar o espectador na trama. Aliás, um dos pontos extremamente interessantes em “Lady Snowblood”, passará pelo seu “background” histórico e os aspectos políticos que dominavam o país do sol nascente à altura, com a modernização, a abertura ao ocidente e as purgas dos vários sectores conflituantes. Através do jornalista “Ryûrei Ashio”, aqui no papel também de narrador, tomamos contacto com as importantes e radicais transformações que ocorreram na sociedade japonesa à altura.

A figura de “Shurayuki” é fascinante e constitui, como não podia deixar de ser, o grande trunfo do filme. A actriz Meiko Kaji, corporiza uma personagem que embora seja um instrumento de morte e violência, é dotada de uma personalidade por vezes frágil e muito emotiva. Estas características servem para tornar a cruzada de vingança muito mais interessante, e não apenas um desfilar grotesco de brutalidade e pouco mais. Apercebemo-nos que efectivamente o que move a demanda de “Shurayuki” é o destino que a mãe lhe fadou, e não propriamente uma vingança motivada por desejos da própria. Tal leva a alguns momentos de incerteza, como aquele que nos deparamos quando a rapariga estabelece um contacto próximo com a filha de um dos assassinos a quem incumbe pôr termo à vida.

Sendo um clássico de eleição, “Lady Snowblood” é uma das obras relevantes no espectro dos filmes que elegem a vingança como um tema a abordar profusamente. Possui um manancial de características extremamente apelativas e atraentes, desde vários momentos de acção visceral, passando por uma heroína trágica e lindíssima, tendo por pano de fundo um ambiência histórica deveras interessante. Sendo um dos expoentes máximos do género, será obrigatório para todos os amantes daqueles que gostam do cinema “olho por olho, dente por dente”.

Muito apreciado por estes lados!

Shurayuki Kashima 2

Shurayuki na neve”

imdb Nota 7,8/10 (3.003 votos) em 08/02/2010

Outras críticas em português:

  1. Cinedie Asia
  2. Salvo Erro

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 8

Argumento – 8

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 9

Emotividade – 8

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8

Classificação final: 8,25

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

“Testemunhos” de Pablo Rodriguez Melo (“O Mundo Asiático”)



O convidado desta semana é o Pablo Rodriguez Melo, um dos administradores do blogue “O Mundo Asiático” (para aceder, clicar no “banner” do citado espaço, que se encontra acima). O espaço em causa, faz jus à sua designação, e tem um interesse de grande relevância, para todos aqueles que se interessam não apenas pelas cinematografias asiáticas, mas igualmente por outros aspectos culturais daquelas paragens, como por exemplo, a musica. Está sempre dotado de notícias com actualidade, e várias sugestões interessantes tais como curiosidades, fotos, trailers, melodias e um manancial de coisas mais. Igualmente, é um site muito bom para quem preza a componente mais dramática da sétima arte. É pois, um grande prazer para mim, trazer esta semana uma pessoa que, conjuntamente com outras, muito se dedica à divulgação da cultura oriental.


Abaixo segue o resultado da entrevista.


“M.A.M.”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?


Pablo Rodriguez Melo: Diria eu a maneira como contam as histórias, na maioria das vezes sem cair na “mesmice” do cine ocidental, e também a mistura de gêneros que eles fazem dentro de uma mesma obra, fazendo você ir do riso às lágrimas em poucos minutos. E claro, a cultura tão diferente a nossa.


“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?


P.R.M. : A simplicidade das histórias contadas. Acho que esse é um dos pontos fortes do cinema oriental. Uma simplicidade próxima a vida real, que atrai, que faz você sentir suas emoções na própria pele. E o mérito disso vai para os excelentes atores que há por lá.


“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?


P.R.M. : Hmm... pra dizer a verdade não faz muito que entrei nesse mundo, mas não lembro exatamente qual foi; memória ruim hehehe... Mas poderia ter sido Memories of Murder ou Windstruck, com a minha atriz favorita hoje em dia.


“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?


P.R.M. : Bom, ainda tenho muito que ver, mas para mim é a Coréia. Sou um grande admirador do cinema coreano, e é o que mais vejo. E deixando de lado as obras mais conhecidas, há muitos trabalhos escondidos, ou que passam desapercebidos, e que infelizmente o público não tem muito interesse, mas que são verdadeiras obras-primas desse cine.


“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...


P.R.M. : Falando francamente, um bom drama, ou romance/drama; é o que me chama mais a atenção. Depois vem de artes marciais ou comédia. Mas vejo de tudo, sem nenhum tipo de preconceito sobre gênero ou tema.


“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?


P.R.M. : Pergunta complicada! Se me perguntasse um top 20 continuaria sendo complicada hahaha…


Vou dizer um top 5 dos filmes que vi esse ano.


Redcliff II, (impecável e grandioso)


Breathless (não esperava muito dele, mas foi uma grata surpresa)


With The Girl Of Black Soil (outra surpresa e um filme muito emotivo)


All About Lily Chou Chou


Nanking! Nanking!


“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?


P.R.M. : Park Chan-wook


“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?


P.R.M. : Só vale um? Tenho vários!! Mas vamos lá.


Atriz: Jeon Ji-hyun, mesmo estando numa área pouco conhecida e atuando em outro idioma, ela tem uma presença incrível.


Ator: Kang-ho Song, um ator camaleônico. Encaixa bem em tudo que faz.


“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?


P.R.M. : Depois de responder essa pergunta acho que não poderei sair mais na rua... hahaha. Embora tenha minha atriz preferida e os dois atores foram ótimos e é um filme muito bom, acho que My Sassy Girl é muito sobrevalorizado. Depois que se começa a conhecer mais sobre esse cinema, você vê que há trabalhos melhores. Um subvalorizado... difícil responder, mas os “desconhecidos”, com pouco interesse da mídia, esses são os subvalorizados.


“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?


P.R.M. : Não poderia te responder com segurança, pois nesse momento não estou no meu país de origem, mas pela pouca informação que tenho, no Brasil ainda engatinha de maneira muito lenta. E o que chega lá são apenas os trabalhos de diretores com grandes renome no exterior, e/ou os filmes que fazem estrondoso sucesso em todo mundo. Corrijam-me se estou errado.


“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?


P.R.M. : Que não se apegue apenas às opiniões alheias. Comece pelo gênero que acha que tem mais simpatia e depois vá abrindo a mente à outros gêneros. Ásia tem muito que nos mostrar, e garanto que não se arrependerá ao entrar nesse mundo.