"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

domingo, novembro 29, 2009

Crows Zero/Kurôzu Zero – クローズ (2007)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 130 minutos

Realizador: Takashi Miike

Com: Shun Oguri, Kyôsuke Abe, Meisa Kuroki, Takayuki Yamada, Sansei Shiomi, Ken'ichi Endô, Gorô Kishitani, Kenta Kiritani, Sousuke Takaoka, Yusuke Kamiji, Tsutomu Takahashi, Suzunosuke, Kaname Endo, Sunsuke Taido

Genji rodeado dos seus lugares-tenente

Genji rodeado dos seus lugares-tenente”

Sinopse

“Genji Takaya” (Shun Oguri) é um estudante que foi transferido para o liceu “Suzuran”, considerado a escola mais violenta de todo o Japão, onde “gangs” de estudantes digladiam-se constantemente pelo controlo do estabelecimento. Embora não domine todo o território, o estudante mais temido é “Tamao Serizawa” (Takayuki Yamada), que é conhecido pela sua especial ferocidade que emprega nas lutas, apesar do seu ar inocente. “Genji” começa a dar nas vistas quando sozinho derrota quatro Yakuza, e coloca sob o seu domínio uma das classes, anteriormente chefiada por “Chuta” (Suzunosuke).

Serizawa e o seu gang 2

Serizawa e o seu gang”

“Genji” cai nos bons auspícios do Yakuza “Ken” (Kyosuke Abe), que o aconselha da melhor forma a subir na hierarquia de “Suzuran”. O rapaz, juntamente com “Chuta”, começa a juntar correligionários e a unir facções rivais, de forma a poder ombrear com “Serizawa”. No desígnio, consegue cativar líderes de outras classes, tais como o alucinado, mas leal “Makise” (Takahashi Tsutomu) e o calculista “Izaki” (Sousuke Takaoka). Pelo meio, “Genji” apaixona-se pela bela “Ruka Aizawa” (Meisa Kuroki). “Seizawa” apercebe-se da ascensão de “Genji” no meio, e prepara-se para defender a sua supremacia. Um embate demolidor aproxima-se.

Ken Katagiri e os yakuza

Ken Katagiri e os companheiros yakuza”

“Review”

Baseado na popular manga shonen “Crows”, de Hiroshi Takahashi, o profícuo Takashi Miike faz uma incursão no mundo da juventude delinquente e rebelde, com muita acção e violência à mistura. Dizem os entendidos que o filme é uma fiel adaptação do espectro geral da banda-desenhada, embora se passe numa altura anterior ao enredo ali presente. Confesso que nunca tive a oportunidade de passar os olhos pela manga, pelo que neste particular abster-me-ei, dando tal facto por assente até prova em contrário. À altura, “Crows Zero” constituiu o maior sucesso de bilheteira do realizador, e não é difícil perceber porquê. Trata-se de uma obra muito comercial, cheia de ídolos dos adolescentes japoneses, dos quais se destaca o actor principal Shun Oguri, muito apreciado sobretudo pelo público feminino. A “comercialidade” deste filme levantou várias reticências na crítica e fãs mais puristas de Miike, não fosse o realizador encarado como um “enfant terrible” do actual paradigma cinematográfico nipónico.

O crescendo da fama de Miike, inclusive nos meios internacionais, implica naturalmente a atracção dos grandes estúdios e a possibilidade de obtenção de orçamentos acima da média. Embora existam uma grande diversidade de opiniões, no tocante ao relacionamento destes aspectos com o resultado final em “Crows Zero”, sempre irei pelo meio termo, correndo o risco de ser acusado de “uma fuga para a frente”, ou da resposta fácil. Sendo perceptível que a faceta de um maior número de potenciais apreciadores aumenta em “Crows Zero”, numa relação com anteriores obras de Miike, sempre se reconhecerá que alguns traços típicos do cinema do realizador como a abordagem frontal (embora não visceral) e violenta marcam a sua presença.

Luca Aizawa e Genji

Luca Aizawa e Genji”

Como já acima aflorei, “Crows Zero” é uma longa-metragem que lida com um tema que normalmente tem bastante aceitação no público, principalmente no mais jovem, que passa pela adolescência conturbada que degenera em violência, à semelhança de uma qualquer luta animal ou animalesca que vise a conquista de um grupo determinado. Sendo uma película a explodir de testosterona, sempre tem os seus momentos mais profundos, que passam sobretudo pelas delicadas relações entre os intervenientes. Mesmo assim, esta última premissa assume natureza de excepção. Quem aqui dita a lei são os punhos, com um exagero claramente requisitado, mas com uma capacidade de entretenimento muito elevada. As cenas de acção estão geralmente bem coreografadas, com aspectos claramente hiperbólicos onde são quebradas algumas leis da física, mas aceitáveis face ao espectro geral desta obra. Socos demolidores, pontapés que seriam capazes de deitar abaixo uma parede de tijolos, uma resistência à pancada fora do normal e afins. O aspirante a visionar “Crows Zero” irá deparar-se com um misto de realidade por vezes grotesca, com um enxerto algo fantástico, mas devidamente ali enquadrado.

O ambiente de banda-desenhada encontra-se bastante presente, com as caretas e trejeitos do costume a pontificar e que confere alguma comicidade ao filme. A banda-sonora acompanha fielmente toda a aura rebelde e “carpe diem” da película, com faixas que vão desde o hip-hop interpretado ao vivo pela actriz Meisa Kuroki, até ao “Punk Rockabilly” dos “The Street Beats”, de que recentemente dei conta aqui, colocando um vídeo de uma música que gostei particularmente, intitulada “Eternal Rock n' Roll”, e que ilustra o genérico final do filme.

Com actuações agradáveis de Shun Oguri e Cia., onde desponta muito mais o estilo “fixe” e de impressão à primeira vista, do que algum laivo de genialidade técnica, “Crows Zero” acaba por se revelar uma agradável proposta no segmento do entretenimento. Estará longe de constituir uma das obra de referência de Takashi Miike, mas atrairá imenso a generalidade do público pela sua irreverência. Afinal quem é que resiste a uma história de adolescentes rebeldes, a transbordar de carisma e onde cada dia é vivido como se fosse o último? Acrescente-se uns pequenos condimentos de romance, música da “desbunda”, uma pequena história Yakuza paralela, e o truque está feito.

Ideal para um domingo à tarde!

O liceu Suzuran

O liceu Suzuram”

imdb Nota 6.9 (1.024 votos) em 29/11/2009

Outras críticas em português:

  1. Cine Dewonny

Avaliação:

Entretenimento – 9

Interpretação – 7

Argumento – 7

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 9

Mérito artístico – 7

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,75

quarta-feira, novembro 25, 2009

“Testemunhos” de Battosai (Batto presenta…)

Imagem

Esta semana, vamos ter o primeiro convidado, que se expressa em língua espanhola. Falo de “Battosai”, um residente na cidade de Valladolid, o administrador do blogue “Batto presenta…” (carregar na foto, para aceder) e colaborador do “PUNTASIA”. Conheci (virtualmente falando) o “Battosai” na segunda edição do concurso anual que levo a cabo no “ My Asian Movies”, tendo logo se revelado um concorrente destemido e conhecedor de cinema oriental a rodos, classificando-se em 3º lugar e com direito a prémio. Desde então, o entrevistado de hoje é um assíduo frequentador do meu blogue, e enriquece-o bastante com os seus comentários pertinentes, sejam de concordância ou não. O espaço principal do  “Battosai” é, à semelhança de outros pertencentes a entrevistados anteriores, possuidor de uma elevada qualidade. Embora não se dedique por completo ao cinema oriental, o que confere uma agradável diversidade, tem  uma componente asiática muito forte e variada.

A foto que ilustra esta entrevista, exibe a grande admiração que o “Battosai” nutre, e tenho a certeza que não é o único, pelas beldades que pontificam no cinema oriental.

Abaixo segue a entrevista com um ilustre representante de “nuestros hermanos”.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Battosai: El cine occidental me da la sensación de estar hecho (en general, por supuesto siempre hay excepciones) para el consumo inmediato y masivo, preocupándose principalmente por obtener un buen rendimiento en taquilla. En el oriental, y aunque lógicamente también quieran ganar dinero, que de eso viven, los directores parecen más preocupados por poner en imágenes lo que tienen en mente que los de occidente. Gracias a eso nos encontramos con que se atreven a hacer cosas que sería impensable encontrarse en una filmografía occidental.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

B. : La facilidad con la que consigue emocionarme y la calidad de sus actores.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

B. : Hace tanto tiempo que no estoy seguro, pero el primero que recuerdo haber visto es “Mi vecino Totoro”.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

B. : Si tengo en cuenta tanto cine clásico como contemporáneo me quedo sin duda con el japonés. Sin embargo, si considero solo el cine actual, la cosa cambia. En conjunto sigo prefiriendo el japonés, pero si pienso en mis películas preferidas, predominan las coreanas.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

B. : Me cuesta mucho decidir, ya que veo de todo y en todos los géneros encuentro filmes que me fascinan. Lo único que tengo claro es que el género que menos me gusta es el de terror. En cuanto al que más, quizá sea el de amor, tanto dramas como comedias románticas, pero es curioso que esto ocurre solo con el cine oriental, mientras que en el occidental prefiero otros géneros.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

B. : Buf... “Rashomon” y “Los siete samuráis” (Shichinin no Samurai), de Akira Kurosawa; “El intendente Sansho” (Sansho Dayu), de Kenji Mizoguchi; “Dolls”, de Takeshi Kitano; y “Hierro 3” (Bin-jip), de Kim Ki-duk.

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

B. : Akira Kurosawa.

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

B. : Voy a decir uno de cada, pero que conste que si respondiera en otro momento probablemente diría a dos diferentes, ya que hay unos cuantos buenísimos que me encantan y entre los que me cuesta mucho decidir.

Actor: Toshiro Mifune. Actriz: Gong Li.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

B. :All About Lily Chou-chou” y “The Host” (al menos en España no gustó demasiado), respectivamente.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

B. : Queda muchísimo por hacer. Hay algunos festivales o ciclos dedicados a cine asiático en las principales ciudades, pero comercialmente con distribución a nivel nacional solo se pueden ver películas de unos pocos directores (Yimou, Kitano, Miyazaki, Kim Ki-duk, Bong Joon-ho, Park Chan-wook y poco más) o películas que hayan ganado el Oscar de extranjera o algún premio importante en Cannes, Venecia o Berlín. Y encima lo poco que llega se suele estrenar muy tarde, a veces con años de retraso.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

B. : Lo primero, que empiece por aquellas películas que gustan a casi todo el mundo, como pueden ser “My Sassy Girl” o “Red Cliff”; con las que hayan tenido un relativo éxito en occidente, como “Despedidas” (Okuribito) o “La princesa Mononoke” (Mononoke Hime); o con aquellas de las que se haya hecho un remake en Hollywood, que si lo hacen es porque la película es fácilmente accesible a nuestro público. Si le gustan esas, entonces ya debe ir cambiando poco a poco a cosas más típicas de allí y distintas del cine occidental, de manera que cuando acabe viendo las obras asiáticas más personales, diferentes y quizá extrañas para un espectador de aquí no se asuste, ya que se habrá ido acostumbrando gradualmente. Si se le pone directamente una de ese tipo se corre el riesgo de que huya espantado y no vuelva a ver una película de Asia en su vida.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Beldades da Cultura Asiática - Hyori Lee











Esta lindíssima cantora sul-coreana foi sugerida pelo Dewonny. Mais informações AQUI.





THE STREET BEATS - ETERNAL ROCK'N'ROLL

Gostei disto :))) ! Da banda-sonora do próximo filme sobre o qual colocarei um texto aqui ;)!

domingo, novembro 22, 2009

Chungking Express/Chung Hing sam lam - 重庆森林 (1994)

Capa

Origem: Hong Kong

Duração aproximada: 102 minutos

Realizador: Wong Kar Wai

Com: Tony Leung Chiu Wai, Faye Wong, Takeshi Kaneshiro, Brigitte Lin, Valerie Chow, Chen Jinquan, Guan Lina, Huang Zhiming, Zhen Liang, Zuo Songshen, Lynne Langdon

A mulher da peruca loira 2

“A misteriosa mulher da peruca loira”

Sinopse

“He Zhiwu” (Takeshi Kaneshiro) é um polícia que vive um desgosto amoroso, considerando que a sua paixão “May” o abandonou. O seu sofrimento leva-o a desenvolver uma estranha obsessão por datas de validade, que exterioriza alimentando-se de ananás enlatado cuja expiração ocorre no dia 1 de Maio. Chegado à data em questão, “He Zhiwu” promete a si próprio que se irá apaixonar pela primeira mulher que encontrar num bar. Depara-se com uma estranha personagem, de óculos escuros e cabeleira loira (Brigitte Lin), que irá, por momentos, conferir-lhe uma nova perspectiva de vida.

He Zhiwu e a mullher da peruca loira 2

He Zhiwu e a sua estranha paixão”

O “polícia 663” (Tony Leung Chiu Wai) igualmente anda com os seus problemas de ordem romântica. A sua namorada, uma hospedeira do ar (Valerie Chow), deixou-o e o sentimento de solidão começa a destruí-lo por dentro. No entanto, o polícia é amado sem saber por “Faye” (Faye Wong), uma empregada de um estabelecimento de comida rápida chamado “Midnight Express”. Incapaz de demonstrar directamente o seu amor, “Faye” entra na vida do “polícia 663” de uma forma original.

Faye

Faye dança ao som de Califonia Dreamin´”

“Review”

“Se a minha memória dela tiver um prazo de validade, que seja de dez mil anos...”. É com esta “tagline” que “Chungking Express” se apresenta ao espectador, estando criado o mote para um dos filmes mais fascinantes acerca de uma temática que julgo ser cara a qualquer ser humano, o amor. Dez mil anos em muitas culturas é um número que reflecte o conceito de “para sempre”. Isto para dizer que a frase que ilustrou inicialmente o debutar do filme que ora se propõe analisar um pouco, visa no fundo evidenciar o conceito de memórias de paixão que se pretendem ver eternizadas. Mesmo que as mesmas sejam dolorosas. Wong Kar Wai rodaria “Chungking Express” no mesmo ano em que daria a vida a outra película de eleição. Falo de “Ashes of Time”, a única incursão do realizador no “wuxia”. Aliás, “Chungking Express” seria o produto do descanso do realizador de Hong Kong, quando o mesmo recuperava da grande exigência e esforço despendido no seu épico de artes marciais. A feitura da película foi num tempo recorde, mais ou menos três meses, e o resultado redundou num desafogo financeiro, principalmente depois de “Ashes of Time” não ter sido bem aceite pelo público em geral.

Tendencialmente enquadrado em algo que nos faz lembrar “pop art”, Kar Wai propõe-se a nos apresentar uma história de paixão e emoções, onde os intervenientes são pessoas na casa dos vinte e muitos anos e que tem por pano de fundo uma Hong Kong no limiar da transição para a soberania chinesa. A ânsia em viver as emoções ao máximo, parece se coadunar com uma miríade de situações. Desde o estabelecimento de um qualquer prazo para a duração de uma relação intensa, ou evidenciar uma crítica política subtil no sentido de a entrega do território à China ser uma eventual expiração da validade das liberdades individuais, incluindo a de experienciar o amor ao máximo. Salvo melhor opinião, sempre considerei “Chungking Express” como a obra que estabeleceu definitivamente Kar Wai como uma certeza e um autor de eleição. Ou sendo um pouco mais lírico, como o poeta do amor, do romance, do sonho, das cores e das emoções. À semelhança de praticamente todas as obras do autor, a natureza individual do ser humano e a sua interacção sentimental constitui o cerne da trama. As personagens principais do filme vivem um rodopio na maneira como lidam com o sentimento de perda, que parece por vezes estranha, para não dizer alienada, mas que causa um certo sentido de familiaridade. E neste aspecto, Kar Wai acerta no alvo em cheio. Não pretendendo, como aliás também é seu timbre, manter um ritmo coerente no argumento, o objectivo é fazer com que o espectador encontre, por si só, algo muito íntimo e com o qual se consiga identificar.

Como seria de esperar, ou não estivéssemos a falar de um filme de Kar Wai, “Chungking Express” rebenta a escala em estilo. O uso das cores e da fotografia é algo quase impossível de descrever em palavras, e julga-se que é daquelas coisas que só vendo para acreditar. O uso da técnica de filmagem, ora em acelerações de imagem, ou num costumeiro “slow motion”, confere uma apreciável dinâmica que se interliga de uma forma bastante feliz com os demais aspectos da película. O apresentar intencional de imagens enevoadas, ou a filmagem no meio do bulício de Hong Kong, onde muitos dos transeuntes não fazem a mínima ideia de que uma película está a ser rodada, faz com que a aura mágica se interpenetre com a realidade quotidiana, num resultado muito satisfatório, diferente mas muito envolvente. A nível da trama, existe alguma descompensação, porquanto o segmento Tony Leung Chiu Wai/Faye Wong é mais longo, perceptível e regra geral melhor que o de Takeshi Kaneshiro/Brigitte Lin, embora se possa reconhecer que este último talvez esteja dotado de mais profundidade.

Beijo

Um beijo ardente”

A fenomenal banda-sonora merece aqui um pequeno parágrafo. Entre alguma música étnica e “reggae” de entretenimento auditivo bastante apreciável, somos presenteados com uma versão cantonesa de “Dreams” dos “The Cranberries” que resulta muito bem, e se enquadra às mil maravilhas no ambiente geral do filme. Mas os momentos verdadeiramente divinais, e não apenas por ser uma preferência pessoal, é a saturação de “California Dreamin'”, dos Mamas and Papas. São inesquecíveis os momentos em que Faye Wong dança no “Midnight Express”, embrenhada no seu mundo bastante pessoal. O inesquecível êxito dos anos 60, que pontificou em muitas películas por esse mundo fora, confere grandiosidade e faz Faye Wong ainda brilhar mais.

Os actores exibem-se num plano muito elevado, ou não estivéssemos a lidar com um “cast” extremamente forte. Pessoalmente, aprecio imenso a forma como Kar Wai dirige os intérpretes dos seus filmes, retirando o que de melhor têm para dar. E embora aprecie imenso as actuações nesta obra de Tony Leung Chiu Wai, Takeshi Kaneshiro, Brigitte Lin e Valerie Chow, há que reconhecer que Faye Wong está absolutamente divinal. A actriz exibe uma personagem alienada, que nas suas próprias palavras, ouve música em volume alto, pois assim inibe-se de pensar. Wong passeia classe pela tela e deixa-nos siderados com o seu sonho íntimo, as suas actuações aparentemente incompreensíveis e a maneira como se intromete na tortura pessoal de Tony Leung Chiu Wai, é algo digno de se ver. E por vezes questiono-me como é que Faye Wong, que já demonstrou ter grandes capacidades como actriz, não entrou na esfera das super-estrelas, à semelhança de uma Maggie Cheung ou de uma Gong Li?

Destilando sensualidade por todos os poros e com um manancial de frases emblemáticas inesquecíveis, “Chungking Express” mantém-se até hoje como uma das maiores obras do realizador Wong Kar Wai e um verdadeiro marco do cinema mundial. Há quem considere mesmo que se estará presente perante o produto mais forte que, até hoje, Kar Wai deu vida. Eu não concordo, mas percebo bem as válidas razões de quem produz tal afirmação. Sendo um maravilhoso exemplo “new wave”, explora efectivamente os meandros dos corações desolados e de uma certa alienação e depressividade urbana. É certo que as poucas cenas de acção parecem algo atabalhoadas, mas é preciso interiorizar que o objectivo deste filme não é expôr qualquer trama criminosa, ou enveredar pelo diapasão de movimento exagerado. “Chungking Express” é um romance com cariz muito pessoal, e o seu maior trunfo será sempre a exposição de várias perspectivas do amor , e a percepção directa da sua magia. Já agora, e como é discernido do filme, será que fazer demasiado exercício, como “jogging”, faz-nos desidratar tanto, que não restam lágrimas para derramar?

Imperdível para qualquer fã de cinema e da beleza!

O polícia 663 e a hospedeira

O polícia 663 e a hospedeira”

imdb Nota 8.0 (15.154 votos) em 22/11/2009

 

Outras críticas em português:

  1. Additional Camera
  2. Sítio da Bela Lua

Avaliação:

Entretenimento – 7

Interpretação – 9

Argumento – 8

Banda-sonora – 10

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 9

Mérito artístico – 9

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 8

Classificação final: 8,50

terça-feira, novembro 17, 2009

“Testemunhos” de Ibirá Machado (“Cinema Indiano”)

Ibirá

O entrevistado desta semana é Ibirá Machado, o mentor de um dos espaços mais emblemáticos em língua portuguesa acerca de cinema indiano, que, passe a repetição, é o “Cinema Indiano”. A designação do blogue do Ibirá não é inocente, e serve para desmistificar um erro recorrente que eu próprio aqui já tentei esclarecer. O cinema indiano não se resume unicamente a “Bollywood”, que é a expressão que serve para nomear os filmes de dialecto hindi, sediados em Mumbai. É uma realidade muito mais vasta e que abrange vários tipos de industrias cinematográficas como “Kollywood”, “Tollywood”, entre outras. O canto do Ibirá esclarece estas questões e outras, pelo que aqueles que pretendam ter um conhecimento mais aprofundado deste tema e de mil e uma coisas relacionadas com os “cinemas” daquelas paragens, têm absolutamente de dar um pulo ao “Cinema Indiano”. O Ibirá é um verdadeiro conhecedor e apaixonado deste segmento da sétima arte, e isto nota-se na enorme variedade de assuntos que são tratados no seu espaço. Lá encontrarão críticas a filmes, orientações para bandas-sonoras, notícias, vídeos e muito mais.

Para acederem ao maravilhoso site do Ibirá, basta carregar na foto que ilustra esta entrevista. Aproveito para esclarecer que a mesma foi tirada em Nova Deli (sim, o Ibirá já esteve na Índia) numa popular festa indiana, chamada Holi, o festival das cores. Abaixo ficam as respostas que o Ibirá, amavelmente, acedeu a conceder ao “My Asian Movies”.

My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Ibirá Machado : Acho que cada país possui uma estética própria que se manifesta em todas as possibilidades de artes, o que inclui o cinema. No caso do cinema que entendo melhor (além do cinema brasileiro), que é o cinema indiano, é evidente uma estética muito diferente em vários níveis, a começar pelo roteiro, passando pela própria cinematografia (maneira mesmo de filmar e editar), os cenários, o enredo, as músicas, enfim. De qualquer forma, eles também fazem o que podemos chamar de cinema de arte, ou seja, com uma estética mais ocidental (sobretudo europeia).

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

I.M. : A outra forma de ver o mundo, que não pelo prisma cartesiano do ocidente. No oriente, o padrão coletivo e uma visão mais sistêmica faz muita diferença em como as suas artes são expressadas. Isso é o que me atrai.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

I.M. : Não tenho a menor ideia. Filme indiano foi Asoka (2001), mas oriental em si... não sei. Vi muitos e muitos antes dos anos 2000.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

I.M. : Eu sou muito suspeito a falar. Não acho que a Índia faça efetivamente os melhores filmes, mas é quem faz MAIS filmes, e isso é muito importante. A China produz obras maravilhosas, e mesmo o Japão também cria filmes que Deus do céu!

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

I.M. : Ah... pra mim o filme tem que ser original, bem feito e cativar o espectador. O seu gênero em si não faz muita diferença pra mim. Pode ser de terror, pode ser de amor, pode ser suspense ou de ninjas; sendo bem feito, recomendo a todos :)

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

I.M. : Ui, que difícil! Vou fazer uma lista dos meus filmes indianos preferidos, porque acho que terei muita dificuldade de incluir na lista filmes de outros países asiáticos que também considero fantásticos, mas que são tão diferentes... bom, lá vai:

Taare Zameen Par (2007)

Rang De Basanti (2006)

The Terrorist (1999)

Jodhaa Akbar (2008)

Black (2004)

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

I.M. : Aamir Khan

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

I.M. : (Não gosto disso, pois sinto-me obrigado a restringir algo que talvez eu internamente não restrinja, mas vamos tentar)

Aamir Khan e Aishwarya Rai

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

I.M. : Dentro do cinema indiano, acho que Devdas (2002) é muito sobrevalorizado, e já disse isso no meu blog. E The Terrorist (1999) é um que, a meu ver, mereceria muito mais destaque.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

I.M. : Em São Paulo temos bons acessos a filmes orientais, mas não aos indianos. Nenhum filme indiano jamais veio aos cinemas brasileiros, embora alguns possam ser encontrados em vídeolocadoras. Minha luta hoje é quebrar o paradigma de que filme indiano é ruim e abrir uma porta para que eles entrem no Brasil oficialmente.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

I.M. : Antes de tudo, nem sei porque alguém deveria ter reticências com qualquer tipo de cinema. Ninguém nesse mundo deveria pensar que somente Estados Unidos e Europa sabem fazer filmes. O ser humano faz filmes, isso é o que deveria importar a todos. E assim todos deveriam conhecer o que o ser humano produz, independentemente da origem. Não?

segunda-feira, novembro 16, 2009

Beldades da Cultura Asiática - Mika Nakashima












Esta beleza verdadeiramente estonteante e "de outro mundo" foi sugerida pelo "Takeshi", do excelente blog "Age of Asia". Mais informações acerca desta lindíssima actriz e cantora AQUI.

Aproveito o ensejo para informar que alterei o título desta rubrica. A palavra "cinema" foi retirada e substituída por "cultura", pois as caras lindas do oriente não se resumem, felizmente, apenas à sétima arte :) !


sábado, novembro 14, 2009

Dororo – どろろ (2007)

Capa

Origem: Japão

Duração: 141 minutos

Realizador: Akihiko Shiota

Com: Satoshi Tsumabuki, Kou Shibasaki, Kiichi Nakai, Yoshio Harada, Mieko Harada, Eita, Anna Tsuchiya, Kumiko Asô, Hitori Gekidan, Satoshi Hakuzen, Taigi Kobayashi

Hyakkimaru 7

Hyakkimaru”

Sinopse

O senhor da guerra “Kagemitsu Daigo” (Kiichi Nakai) está a perder a guerra que trava contra um clã rival e, no “Templo do Inferno”, faz um acordo com 48 demónios. Em troca de 48 partes vitais do seu filho ainda por nascer, exige que o seu exército não tenha opositores à altura no campo de batalha. Os demónios concordam, e quando o filho de “Kagemitsu” nasce, cada um dos demónios apropria-se da sua grotesca oferenda. O facto de o acordo ter sido aceite pelos seres infernais não é, como seria de esperar, inocente. Estava profetizado que a criança um dia iria ter o poder de vencer todos os demónios, e estes como é óbvio, não estão nada interessados em que isso aconteça. O bebé é abandonado num cesto, e lançado rio abaixo.

Dororo 3

“Dororo”

Felizmente para a criança, a mesma é encontrada pelo mágico e inventor “Jukai” (Yoshio Harada). Olhando para ele como o filho que nunca teve, “Jukai” fazendo uso das suas incríveis capacidades, cria próteses e tudo o mais que é necessário para que o rapaz sobreviva. Dotando-o de espadas, entre as quais uma famosa lâmina por ser fatal para os demónios, cobertas por braços protésicos, “Jukai” treina-o nas artes do combate e transforma-o num temível guerreiro. Vinte anos depois, “Hyakkimaru” (Satoshi Tsumabuki), a criança salva por “Jukai”, inicia a sua demanda, de forma a matar os demónios e recuperar as suas partes do corpo originais. E terá em “Dororo” (Kou Shibasaki), uma ladra com um triste passado, a sua mais fiel aliada.

Hyakkimaru 6

As espadas pouco convencionais de Hyakkimaru”

“Review”

“Dororo” é baseado numa manga de Osamu Tezuka, um dos mais aclamados desenhadores do estilo, tendo igualmente uma profícua carreira no domínio da animação, não fosse o próprio por apelidado do “avô” do “anime”. O sucesso da banda-desenhada justificou a feitura de uma série no longínquo ano de 1969, tendo inclusive dado origem a um jogo de computador para a PlayStation 2, elaborado pela Sega. Chegados ao ano de 2007, “Dororo” mereceria honras de filme com personagens de carne e osso, e é agora desta faceta, naturalmente, que me proponho a dissertar um pouco.

Tem sido posto em causa por alguns conhecidos críticos e fãs do cinema asiático, a própria designação da saga, invocando-se para o efeito que a mesma adoptou o nome da companheira de “Hyakkimaru”, secundarizando desta forma a personagem principal do filme. Julgo que aqui estará patente algum exagero na observação. “Dororo” é uma palavra para descrever um monstro com forma humana, e que é atribuído à rapariga pelo próprio “Hyakkimaru”, atendendo a que a mesma não possui um nome próprio, não quer dizer ou não se lembra. Contudo, a interpretação que faço é que a expressão “Dororo” se aplica ao próprio “Hyakkimaru”, pois ele considera-se, devido à maldição que impende sobre si, como um monstro que aparentemente é humano. E isto é revelado pelo próprio herói que, ao apelidar a rapariga de “Dororo”, reconhece que a designação é mais apropriada para ele.

Pessoalmente, julgo que quando “Dororo” foi realizado, não pretendia se tornar uma obra emblemática do género. Contentou-se em ser mais uma adaptação de uma manga de sucesso, com intuitos propositadamente, para não dizer exclusivamente, comerciais. E efectivamente isto transpira um pouco por toda a película. Como não podia deixar de ser, atendendo à trama que está em causa, os efeitos especiais têm de ditar um pouco a lei. E para ser sincero o mais possível, alguns são de qualidade muito, mas mesmo muito duvidosa, enquanto outros se evidenciam num plano bastante elevado. Como exemplo do menos positivo, escolho o demónio réptil, que parece uma versão pobretanas do “Godzilla” e que é capaz de arrancar algumas gargalhadas devido a ser o mais tosco possível, sem curar do facto de ser evidente que é um homem num fato que faria sucesso numa festa de carnaval decadente. Pelo contrário, o demónio da floresta será passível de se considerar uma criação “CGI” com qualidade, conseguindo impressionar.

Hyakkimaru e Kagemitsu Daigo

“Hyakkimaru e o seu pai Kagemitsu Daigo”

As lutas não são nada que nos deixe deslumbrados, apesar do coreógrafo ser o conhecido Ching Siu Tung. Os efeitos especiais pulverizam tudo o que possa ser mais palpável, e apenas se salvam algumas cenas reconduzíveis ao típico “chambara” que se clama por mais, mas que não aparecem assim tanto. O signo do mórbido e do macabro marca fortemente a sua presença. Mas aqui também temos de perceber que, face ao argumento da manga, a orientação não poderia ser diversa. O laboratório de “Jukai”, o pai adoptivo de “Hyakkimaru”, está cheio de partes diversas de corpos, na melhor tradição de “Frankenstein”. O que impressiona mais, é que esses diversos membros pertenceram a crianças em idade precoce, cujo fim chegou devido à calamidade e à guerra. É isto que será a matéria-prima para as próteses. Contudo, devido ao clima “tosco” que invariavelmente grassa por esta obra, o atrás referido não parecerá tão arrepiante como eventualmente sucederia à primeira vista.

Com interpretações aceitáveis dos jovens Satoshi Tsumabuki e Kou Shibasaki, com sinal mais para esta última, e com um entretenimento que não defraudará aqueles que gostam de filmes menos compenetrados, “Dororo” evidencia no fim ser uma obra mediana, com alguns motivos de interesse. Acredito que muitos se apaixonem à primeira vista por “Dororo”, pois trata-se de uma película que causa uma impressão positiva à primeira vista. Mas disseque-se a mesma com algum cuidado e atenção, e inevitavelmente concluiremos que o sucesso de “Dororo” é algo imerecido. No entanto, não se deixem prender pela minha opinião e, principalmente os apreciadores de adaptações de “manga” temperadas com o fantástico e umas pitadas generosas de algum “chambara”, passem os olhos por esta obra e digam de sua justiça. Como se apercebe pelo epílogo do próprio filme, haverá sequência à história, ou melhor duas, uma a estrear neste ano e outra em 2010. Cá estaremos, se o futuro o permitir, para opinarmos mais uma vez.

imdb

 

Outras críticas em português:

  1. Asian Fury

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 7

Argumento – 7

Banda-sonora – 7

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 7

Mérito artístico – 7

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,38

quarta-feira, novembro 11, 2009

"Testemunhos" de Luis Canau ("Cinedie Asia”)

Foto

É para mim uma grande honra apresentar o próximo entrevistado. Trata-se de Luis Canau, o mentor do site “Cinedie Asia” (para aceder, cliquem na foto supra), um espaço incontornável no panorama dos amantes do cinema asiático em Portugal. Durante alguns anos, ficou a cargo do Luis as despesas da difusão no meu país, do melhor que se fazia na sétima arte oriental. “On line” desde 1 de Dezembro de 2002, o “Cinedie Asia” é um espaço deveras completo, que não se limita às sempre importantes críticas, mas cujo objecto se expande por horizontes muito mais longínquos. Desde as sempre bem-vindas notícias do outro lado do mundo, até aos relatos na primeira pessoa de importantes festivais de cinema asiático (o Luis já esteve em alguns, na Coreia do Sul e não só) e de entrevistas feitas pelo próprio com protagonistas dos filmes, sejam eles actores, produtores ou realizadores. Todos os artigos, sem excepção, são cuidadosamente elaborados, com uma escrita escorreita, inteligente e apelativa. Alguns deles, inclusive, têm a honra de estarem expostos no campo “external reviews”, que normalmente aparecem na página individual que cada filme possui no “Internet Movie Database” (IMDb).

Se me é permitida uma confidência pessoal, posso dizer, apesar de não ser comparável, que o “Cinedie Asia” verdadeiramente foi a grande inspiração para o aparecimento do “My Asian Movies”. E, apesar de não conhecer o Luis pessoalmente, sempre lhe ficarei grato por isso. Vamos todos pois, torcer para que o nosso ilustre entrevistado de hoje, ponha o “Cinedie Asia” em velocidade de cruzeiro outra vez e o mais breve possível. Principalmente porque se trata de um contributo inestimável para o aprofundar do conhecimento, em língua portuguesa, das cinematografias orientais que todos nós apreciamos. Abaixo segue o resultado da pequena entrevista levada a cabo com o Luis Canau:

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Luis Canau: A língua? Bom, a sério, penso que, de um modo geral, se pode falar do que distingue as demais cinematografias de Hollywood, e que é a ausência de uma mentalidade comercial que tende a considerar que se um filme não for desmiolado não pode funcionar nas bilheteiras. "Genericamente", poderíamos ir por aí. De forma algo simplificada, no plano metafórico e correndo o risco de ser um pouco grosseiro, também se poderia falar em prostituição versus afectividade. Mas isto, claro, como tendência.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

L.C. : Além do que referi anteriormente, há um nível de afinidade, cultural, estética, etc. - algo que por vezes pode ser pouco racional. Algum cinema tem um dinamismo invulgar, outro uma sensibilidade e sinceridade raras de encontrar no cinema culturalmente mais próximo. Mas isto também tem que ver com os públicos, sobretudo quando se fala de (melo)drama. É fina a linha entre o que é "sensível" e o que é "xaroposo", e o público ocidental é mais irónico e auto-consciente. Mas é difícil de responder em termos de "tipo" de cinema, pois trata-se, na verdade, de inúmeros tipos.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

L.C. : Não. Provavelmente algum Kurosawa na RTP 2 há muitos anos. Mas tenho bem presente o terceiro filme de «A Chinese Ghost Story» de Tsui Hark, visto em 90 e pouco no Fantasporto, como a obra que me chamou a atenção para o cinema "popular" de Hong Kong.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

Começou por ser Hong Kong/China, Japão, Coreia,... É difícil escolher uma, ainda que actualmente o cinema de Hong Kong esteja mais "apagado", ou, pelo menos, longe dos esquemas de produção dos anos 80 e 90. Em termos "afectivos" poderia escolher a Coreia, mas é provavelmente no Japão onde se produzem filmes que me fazem sentir mais confiante que vou entrar numa sala de cinema, de forma aleatória, sem qualquer referência - sinopse, género ou realizador -, e esperar ser surpreendido pela positiva. Aconteceu muitas vezes e espero que continue a acontecer.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

L.C. : Tenho tido "fases", se assim se pode dizer. Tenho uma atracção particular por cinema de terror, artes marciais/wuxia, animação (que não é exactamente um género), mas não escolheria um género com o qual me identificar.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

L.C. : Seria sempre diferente de todas as vezes que fizesse um... Esquecendo os clássicos, posso escolher cinco filmes que se destacaram na altura em que os descobri, sem ordem de preferência, e tentando diversificar as origens: The Bride with White Hair (Hong Kong, 1993), Ashes of Time (Hong Kong, 1994), Failan (Coreia do Sul, 2001), Save the Green Planet (Coreia do Sul, 2003), Josée, the Tiger and the Fish (Japão, 2003). Devo dizer, no entanto, que foi uma desilusão "rever" o Ashes of Time na sua forma "redux" (mas não ajudou que o IndieLisboa tivesse apresentado uma betacam e não película).

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

L.C. : É difícil escolher só um, mas posso destacar o coreano Bong Jun-ho. Menos por «The Host», do que por todos os outros.

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

L.C. : Igualmente difícil, não o posso pôr em termos de "preferência", mas vou novamente para a Coreia: Choi Min-sik e Jeon Do-yeon, actores muito completos, e que se entregam completamente aos papéis que desempenham.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

L.C. : Um qualquer do Tsai Ming-liang para o sobrevalorizado. Subvalorizado pode ser o «Dolls» do Kitano.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

L.C. : A difusão do cinema fora de Hollywood não está nada bem, mas os distribuidores não andam nisto para perder dinheiro. O país é demasiado pequeno e os gostos demasiado generalistas. Há muito que "fazer", certamente, para reduzir a quota de Hollywood, e aumentar a estreia de cinema de outras proveniências. Sobretudo o "comercial", porque o "exótico" ou de "arte e ensaio", vai sendo visto. Lá está, é uma questão de públicos.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

L.C. : Não sei bem porque é que uma pessoa que se sente reticente em experimentar algo terá, simultaneamente, curiosidade em conhecê-lo, mas se calhar falamos de pessoas como uns espectadores da recente Mostra de Cinema de Hong Kong de Lisboa que comentavam à entrada da sessão do «Once Upon a Time in China»: "espero que não tenha muitas artes marciais". Será um pouco como a pessoa que pede o único prato picante do menu e depois diz "olhe, mas pouco picante, se faz favor". Não sei se chega a ter "peso" de conselho, ou sequer se quero dar conselhos, mas acho importante não ter preconceitos de origem nem de género, nem seguir uma recomendação preparado para avaliar o filme com a exigência de que tem de ter alguma coisa de "especial" porque é Oriental.

Nota: Para a semana, publicarei mais uma entrevista com um ilustre amante do (s) cinema (s) que todos nós gostamos.

 

segunda-feira, novembro 09, 2009

Beldades do Cinema Asiático - Elanne Kong











Mais informações sobre esta "interessante" actriz, AQUI.

domingo, novembro 08, 2009

“Testemunhos” de H. (“O Véu Pintado”)

banner-veupintado

Para iniciar a rubrica “Testemunhos”, convidei a H., a administradora do blogue “O Véu Pintado” (para aceder, basta clicar na imagem acima). Apesar da sua juventude, H. já é uma veterana na blogosfera, tendo tido sob os seus comandos anteriormente alguns blogues de cinema mais generalista, dotados de excelente qualidade. Colaborou na difusão do cinema asiático, auxiliando o saudoso blogue “Cine-Asia”, infelizmente no presente fora de actividade. Igualmente, publicou artigos para revistas cujo escopo se norteia pela sétima arte, e não só. Pessoalmente adoro o seu estilo de escrita, para além do cuidado e coerência com que dota as suas exposições. O seu projecto actual, o blogue “O Véu Pintado”, não se limita a debruçar-se sobre o cinema asiático, mas possui um objecto muito mais abrangente: a cultura chinesa, incluindo as suas regiões administrativas, dotadas de autonomia. Igualmente foca-se sobre Taiwan, onde a H. esteve recentemente (Nota pessoal: estou a morrer de inveja!), assim como a diáspora das citadas culturas pelo mundo inteiro. Ocasionalmente, temas sobre outros países asiáticos também são tratados. Gentilmente, como é seu apanágio, a H. acedeu a partilhar aqui algumas das suas opiniões. O resultado segue já abaixo.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

H. : Depende dos autores e dos filmes, mas diria as (diferentes) formas de olhar a(s) realidade(s) social(is).

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

H. : Pegando na resposta anterior: as formas de olhar a(s) realidade(s) social(is) (no passado e no presente).

“M.A.M.” : Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

H. : Provavelmente “O Tigre e o Dragão” quando estreou nos cinemas portugueses, filme que me suscitou um enorme interesse e vontade de descobrir outros filmes asiáticos, chineses em particular.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

H. : Taiwan, pela capacidade particular de reflectir e explorar filmicamente a sua história e a sua identidade cultural (mas ressalvo que o meu conhecimento de algumas cinematografias asiáticas, como por exemplo a filipina ou a tailandesa, é bastante limitado).

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virada para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

H. : Dramas e documentários.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

H. : Difícil… entre mais antigos e mais recentes, não consigo fazer um top da Ásia no geral, pelo menos sem ser por país, por isso escolho apenas 5 autores da Ásia que aprecio particularmente:

Jia Zhang Ke, Wong Kar Wai, Hou Hsiao Hsien, Yasujiro Ozu, Abbas Kiarostami

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

H. : Jia Zhang Ke

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

H. : Actor: Tony Leung Chiu Wai

      Actriz: Gong Li

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

H. : Sobrevalorizado: “Herói”, de Zhang Yimou

Subvalorizado: “Sedução, Conspiração”, de Ang Lee (embora o problema seja mais com os “desconhecidos” que com os “subvalorizados”)

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

H. : Em Portugal a difusão é bastante má, mas sempre vão existindo iniciativas meritórias como as mostras da Zero em Comportamento ou a presença de alguns filmes asiáticos em festivais de cinema, como o Fantasporto, o IndieLisboa ou o DocLisboa. A difusão no circuito de estreias comerciais é lamentável e no mercado de DVD bastante limitada.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

H. : Ver filmes, vários. Eles falam por si. Não há “cinema asiático” há “cinemas asiáticos”. Nem num só país há uma produção homogénea, creio. Por isso vejam muitos e diferentes filmes e tenho a certeza que, algures pelo caminho, se vão fascinar também.

 

Nota: Desde já agradeço imenso, a prontidão com que outros administradores de blogues e não só, já colaboraram nas entrevistas. Como a rubrica “Testemunhos” será semanal, as suas entrevistas acabarão por ser aqui publicadas.

sábado, novembro 07, 2009

Rubrica "Testemunhos"


Em nome da dinâmica do blogue, vou dar início a mais uma rubrica no "My Asian Movies". Trata-se do espaço "Testemunhos" que visa, numa lógica de interacção, dar a conhecer a opinião de bloguistas e não só, acerca do cinema asiático. Trata-se de responder a 11 perguntas que colocarei aos visados, e com a sua permissão, publicarei aqui. Espero contribuir para um espaço aberto de discussão e troca de ideias acerca da cinematografia que todos gostamos. Anseio que a ideia, que está longe de ser original, seja do vosso agrado. Por outra via, espero que os interpelados contribuam sem qualquer tipo de rodeios para que esta nova iniciativa seja um sucesso. Estou a contar publicar semanalmente um "testemunho", mas tudo dependerá da boa vontade dos entrevistados.
Vamos a isto então! Os bloguistas e frequentadores assíduos deste espaço que estejam atentos à caixa de correio electrónico :) !

Capa

Friend/Chingoo – 친구 (2001) 

Origem: Coreia do Sul

Duração: 116 minutos

Realizador: Kwak Kyung-taek

Com: Yu Oh-seong, Jang Dong-kun, Seo Tae-hwa, Jeong Un-taek, Kim Bo-kyeong, Gi Ju-bong, Ju Hyeon, Chang Yun

Os 4 amigos

“Os 4 amigos. Da esquerda para a direita: Sang-taek, Joon-suk, Dong-su e Jong-ho”

Sinopse

Em 1976, na cidade de Busan (também conhecida por Pusan), quatro jovens são amigos inseparáveis e partilham todos os seus momentos bons e maus. Cada um deles, possui uma personalidade muito própria e distinta dos demais. “Joon-suk” (Yu Oh-seong) é o filho de um líder Jopok (crime organizado sul-coreano), e o lutador mais destemido do grupo. “Dong-su” (Jang Dong-kun) sofre de um complexo de inferioridade, devido ao seu pai ser coveiro. De forma a ultrapassar a sua insegurança, exterioriza uma personalidade muito forte e faz tudo para impor a sua vontade. Torna-se no braço direito de “Joon-suk” no seu “gang” de jovens delinquentes, e apesar de serem bons amigos, existe sempre uma grande tensão entre ambos quando se encontram sós. “Jong-ho” (Jeong Un-taek) é o bobo da corte, e tudo faz para divertir o grupo. Por fim, “Sang-taek” é o estudante modelo, que apesar de prezar os amigos como irmãos, evita certo tipo de actividades, e evidencia óptimos resultados escolares. As experiências dos amigos acompanham o evoluir dos tempos de então, de que constitui exemplo o depararem-se com o primeiro vídeo-gravador, que usam para visionar “pinku eiga” japoneses, um género erótico cujo começo da popularidade remonta aos anos '60-'70.

Luta

Joon-suk enfrenta um grupo de rivais”

Com o passar dos anos, o grupo separa-se, enveredando por caminhos diversos. “Sang-taek” e “Jong-ho” continuam os seus estudos na universidade, enquanto que “Joon-suk” e “Dong-su” desistem da escola e seguem a sua vida em organizações criminosas distintas. Em relação a estes últimos o conflito torna-se inevitável e uma guerra de personalidades deflagra. “Sang-taek” e “Jong-ho” tentam, em nome da amizade resolver as diferenças entre aqueles a quem consideram irmãos, mas o correr de sangue parece inevitável.

Sang-taek ampara Joon-suk

Sang-taek ampara Joon-suk”

Review”

Quando “Friend” viu a luz do dia, tornou-se quase instantaneamente no filme mais bem sucedido de sempre nas bilheteiras da Coreia do Sul, ostentando um orgulhoso recorde de mais de 8 milhões de sul-coreanos nas salas de cinema do país. Entretanto, e como o cinema é uma actividade extremamente dinâmica, “Friend” neste particular já foi batido por “Silmido”, “Taegukgi”, “The King and the Clown”, “Speedy Scandal” e “The Host”. Contudo, é indesmentível que estamos perante um marco do cinema daquelas paragens. A película é uma espécie de semi-autobiografia do realizador Kwak Kyung-taek, onde este disserta acerca da experiência com os seus amigos, ocorrida em anos passados na sua cidade natal, que é precisamente Busan.

Normalmente costuma-se dividir “Friend” em duas partes, embora ache mais adequado autonomizar uma terceira. A primeira incide sobre a meninice dos amigos, onde experimentam as vivências comuns das crianças e acompanham com intensa curiosidade as novidades que se lhes vão deparando. Pense-se no vídeo-gravador que põe atónitos os miúdos, ou os filmes “pink” que ajudam o seu despertar para a sexualidade. A segunda parte, a que julgo merecer honras de apreciação própria, foca-se na adolescência dos intervenientes. Aqui começamos a nos aperceber de qual será o rumo que cada um irá tomar na sua vida, existindo uma bipartição no grupo. Enquanto “Jong-ho” e principalmente “Sang-taek”, parecem caminhar no rumo certo, obtendo resultados aceitáveis nos estudos, “Joon-suk” e “Dong-su” abandonam a escola e começam aos poucos a se impor como criminosos. No entanto, a amizade mantém-se, apesar de se notar uma tensão crescente entre estes dois últimos. Por fim, a terceira parte reconduz-se ao reencontro dos amigos, em circunstâncias adversas, onde “Joon-suk” e “Dong-su” estão em “gangs” de Jopok rivais, e a tensão está prestes a eclodir. A apreciação geral do argumento é positiva, embora se admita que o mesmo não é constante e por certas vezes se afigure algo desequilibrado. A primeira parte é sem dúvida a mais constante, onde é recriada uma Busan dos anos setenta, que me parece bastante fidelizada e onde apreciamos imenso a construção da personalidade dos jovens e a sua interacção. A segunda e terceira partes, embora mais emotivas, desembocam mais num filme Jopok, que será o equivalente sul-coreano às películas Yakuza no Japão, ou das Tríades na cinematografia de Hong Kong. Nada de mal existe nisto, até porque o autor deste texto é particularmente atreito ao género. Simplesmente nesta fase, “Friend” incide muito mais sobre a relação amor-ódio existente entre os amigos que degeneram para a delinquência, “Joon-suk” e “Dong-su”. Em consequência, os restantes elementos do quarteto que não descarrilaram, a saber, “Jong-ho” e “Sang-taek”, são menorizados na trama e em certos momentos, quase erradicados. Este factor provoca uma certa descompensação, porquanto é-nos incutido uma forte relação a quatro, desde o início da película.

A observar o mar

Dong-su contempla o mar, acompanhado por um capanga”

Não obstante a transformação do drama juvenil, para o filme Jopok, as cenas de acção e a tensão crescente entre as facções rivais, são algo digno de se ver. Embora embrenhada de alguns clichés próprios do género, é interessante acompanhar os meandros do crime organizado sul-coreano, muito centrado em certas actividades aparentemente fidedignas e legais, como o sector das pescas ou a construção civil. O “vai, não vai” entre os dois outrora amigos e agora rivais, funciona bem, e consegue-nos incutir algumas dúvidas sobre se a violência efectivamente vai grassar entre ambos. Mesmo sabendo que, inevitavelmente, tal terá de acontecer. Os momentos dedicados à luta das facções criminosas são muito efectivos e realistas, destacando-se a que intervém “Dong-so” quase no epílogo do filme, que almeja causar alguns arrepios e porque não dizê-lo, compaixão.

Com interpretações bastante competentes e uma cinematografia radiosa, “Friend” é mais um bom produto da escola da Coreia do Sul. Pode não estar no topo, mas rege-se pela bitola do bom, num plano mais elevado. O ano de 2001, foi de viragem para a cinematografia da Coreia do Sul, onde apareceram muitos obras de grande respeitabilidade, onde destacaria o grandioso “Failan”. “Friend” é passível de ser considerado como um dos grandes responsáveis deste momento bom e que viria a ser catalisador para que outras futuras longas-metragens sul-coreanas vissem a luz do dia e o caminho para a maior internacionalização começasse.

Vale a pena conferir!

Dong-su em apuros

Dong-su em apuros”

The Internet Movie Database (IMDb) link

Trailer

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 8

Argumento – 7

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 8

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,75