"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

sexta-feira, maio 30, 2008

O Pequeno Buda/Little Buddha (1993)

Origem: França/Reino Unido

Duração: 135 minutos

Realizador: Bernardo Bertolucci

Com: Keanu Reeves, Ying Ruocheng, Bridget Fonda, Chris Isaak, Alex Wiesendanger, Raju Lal, Greishma Makar Singh, Sogyal Rinpoche, Khyongla Rato Rinpoche, Geshe Tsultim Gyelsen, Jo Champa, Jigme Kunsang

Introdução

O filme que ora se vai analisar encontra-se incluído na rubrica deste blogue denominada “Cunho da Ásia”.


"Siddhartha Gautama"
Sinopse
O idoso Lama “Norbu” (Ying Ruocheng), um respeitado monge budista que vive no mosteiro Paro no Butão, visa encontrar a reencarnação do seu amado professor, o Lama “Dorje” (Geshe Tsultim Gyelsen). Ao fim de 9 anos, recebe um telegrama animador de “Kenpo Tenzin” (Sogyal Rinpoche), um monge que se encontra estabelecido nos Estados Unidos, na cidade de Seattle. Pelos vistos existe uma criança chamada “Jesse Conrad” (Alex Wiesendanger), que reúne indícios que a tornam um forte candidato a ser a reencarnação do Lama “Dorje”. “Norbu” decide então viajar até aos Estados Unidos, no intuito de conhecer o rapaz.

"Jesse Conrad e Lama Norbu"

Quando “Jesse” entra em contacto com o “Norbu” e os restantes monges, fica fascinado com o saber e tradição budistas, mas o seu entusiasmo não é partilhado pelos seus pais “Dean” (Chris Isaak) e “Lisa” (Bridget Fonda). A tensão sobe ainda mais quando “Norbu” pede aos progenitores para levar “Jesse” ao Butão, a fim de ser testado no que concerne à possibilidade da criança ser a reencarnação do seu mentor. A opinião de “Dean” muda radicalmente quando o seu melhor amigo falece num trágico acidente, fazendo-o aperceber da precaridade da vida. Resolve então aceder aos desejos de “Norbu”, e viaja com o filho para o pequeno país dos Himalaias. Pelo caminho são recolhidas mais duas crianças que poderão ser candidatos à reencarnação do Lama “Dorje”. Em conjunto, o grupo enceta uma demanda pessoal que mudará para sempre as suas vidas.

Paralelamente ao acima veiculado, recuamos cerca de 2500 anos e seguimos a história da vida do príncipe Siddhartha Gautama (Keanu Reeves), desde os seus tempos de ócio no palácio do seu pai, e subsequentemente pelo seu posterior e penoso caminho pessoal até se tornar em Buda, o Iluminado.

"O príncipe Siddhartha em todo o seu esplendor"

"Review"

O afamado realizador italiano Bernardo Bertolucci, na sua importante filmografia, possui duas películas intimamente ligadas ao continente asiático. Uma delas e a que nos ocorre logo à mente é “O Último Imperador”. A outra é este “Pequeno Buda”. Em ambas as longas-metragens são expostos aspectos extremamente importantes no contexto do grande continente. No primeiro filme podemos acompanhar a história do último imperador chinês Puyi, acompanhada de aspectos laterais importantíssimos e bastante informativos, tais como a queda do monarca e a implantação do regime republicano. A experiência resultou bem, e a prova é que esta longa-metragem marcou uma época e venceu nada mais, nada menos que 9 óscares. A segunda e posterior incursão de Bertolucci pela temática asiática já foi um tanto ou quanto diferente. Visando oferecer uma apologia do Budismo e indirectamente da causa tibetana (que eu também sufrago, de certa forma), a película foi um fracasso comercial, não tendo vencido nenhum prémio de relevo, para além da aceitação por parte da crítica não ter sido a melhor. É justo que assim o tenha sido? Já vos digo a minha opinião.

Como se depreende da sinopse, quando analisamos “Pequeno Buda”, estamos perante a tarefa de expôr ideias acerca de duas histórias separadas no tempo por cerca de 2500 anos. No entanto, e através de uma análise mais cuidada, sempre se dirá que existirá um ponto de contacto fundamental entre as narrativas paralelas, porquanto ambas têm como ponto central uma demanda extremamente pessoal. O Lama “Norbu”, uma fictícia figura de vulto no universo budista actual e homem de crenças profundas, prossegue o objectivo fulcral de descobrir a reencarnação do seu mestre. A sua persistência, fá-lo sair do seu mosteiro no inóspito Butão, e viajar até uma nação completamente antagónica no estilo de vida, os EUA. Por outra via, é-nos apresentada uma das mais importantes epopeias religiosas da humanidade. Nada mais, nada menos que a lenda do príncipe Siddharta Gautama, mais conhecido por Buda, o Iluminado, mentor de uma religião (ou usando uma designação preferida por muitos, “filosofia de vida”) professada por cerca de 500 milhões de pessoas em todo o mundo. A interligação entre as duas tramas é essencialmente feita pelo interesse de “Jesse”, quando é confrontado com a possibilidade de ser uma figura importante de uma crença que lhe é completamente alheia e desconhecida. O jovem, com a curiosidade própria de uma criança, desvenda os segredos do budismo e sente-se atraído pelo misticismo e espiritualidade de Siddhartha Gautama.

"Jesse rodeado dos jovens monges budistas"

O forte de “Pequeno Buda” não é um facto consumado. É mais uma tentativa de algo. Não existem dúvidas que Bertolucci tenta homenagear o budismo, através de uma mensagem ideológica muito acentuada, que reputo de extremamente positiva. Contudo, e salvo melhor opinião, ficou-se um tanto ou quanto pelas intenções. É certo que sentimos a aura maravilhosa da religião, cujo ponto mais forte para mim não será tanto o estado de iluminação, mas sim o respeito por todas as coisas vivas (devaneio muito importante: eu adoro esta ideia, embora fizesse uma excepção gloriosa para as aranhas, brrr!!!). No entanto, as situações pouco credíveis que se sucedem no filme, com um encadeamento um tanto ou quanto ilógico, acabam por ferir a seriedade do que se pretendia fazer. Mas alguém acredita no seu perfeito juízo, a título meramente exemplificativo, nesta premissa: a) um casal americano de classe média-alta, pouco religioso, tem um único filho; b) aparecem-lhe à porta um grupo de monges; c) os monges afirmam que o filho poderá ser a reencarnação de um Lama falecido; d) apesar da descrença evidenciada, desde o início permitem sem razão aparente que o filho ande acompanhado pelos monges e se inicie nos trâmites budistas. Bem meus amigos, à velocidade e maneira que as coisas acontecem, isto não pega lá muito bem. Junte-se um Chris Isaak ensosso, sem alma e de trombas (deveria ter ficado pelas cantorias de “Wicked Game”) e o caldo entorna um pouco. Já agora, não parece um tanto ou quanto forçado que o Lama “Dorje” tenha afinal três reencarnações?!

No tocante à história de Siddhartha Gautama, existem aspectos mais cativantes, nem que seja pelo interesse da figura histórica em si. É extremamente interessante observarmos o evoluir de Siddhartha na sua epopeia pessoal da descoberta de um mundo desconhecido e incompreensível, até ao culminar do que é comummente conhecido como “iluminação”. O problema é que Keanu Reeves, nesta película não me parece ser um “ser” (passe a repetição, embora com significados distintos) que revele estar à altura da tarefa. O esforço existe, é certo, mas a interpretação tem algo de superficial que não se coaduna nada com a aura da película. As melhores prestações ficam a cargo de Bridget Fonda, que revela uma seriedade acima de quase todas a repreensões e cuja única crítica negativa de relevo não lhe poderá ser assacada. Porquê Bertolucci, no argumento, não fizeram o jovem “Jesse” ser acompanhado pela mãe, na sua viagem até ao Butão ?! Chris Isaak estava claramente a mais no segmento do filme que se passa na Ásia, e cuja presença de Bridget Fonda poderia ter dimensionado as coisas para um espectro completamente diferente no sentido positivo. Mesmo assim, o prémio para melhor actuação caberá a Ying Ruocheng. Uma presença calma e discretamente imponente, no papel de Lama “Norbu”, que nos contagia e prende a atenção . É ele o verdadeiro veículo transmissor da mensagem desta película, e o único que está verdadeiramente à altura do supostamente pretendido: a serenidade no partilhar de uma mensagem assaz positiva, que é o amor por todas as coisas vivas e a consequente compreensão pelo próximo. Maravilhosa a cena da sua meditação final...

Com uma composição agradável do mundialmente conhecido Ryuichi Sakamoto, “Pequeno Buda” tem a virtuosidade de nos introduzir de uma forma leve no interessante mundo do budismo, assim como nos oferece alguns momentos ímpares a nível de fotografia e música. No demais, trata-se de uma obra que acaba por cair na sua própria armadilha, ou seja, pugna por uma profundidade espiritual e acaba por enveredar por alguns trilhos pouco credíveis e, atrever-me-ia a afirmar, superficiais. Evidenciando mesmo assim um nível que catalogo à justa como bom, concluo que a nível de aproximação ocidental do budismo, acho que ainda não há nada como “Kundun” de Martin Scorcese. Este sim, continua a ser o rei dos que querem “cinematograficamente” aproximar-se daquela religião.

"De Siddhartha a Buda, o Iluminado"

Trailer (é mais um segmento emblemático), The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,50





quarta-feira, maio 28, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Kon Ichikawa

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto, basta clicar):

  1. Kakikachi Yama (1934)
  2. Musumi Dojoji (1946)
  3. A Thousand and One Nights With Toho (1947)
  4. Hana Hiraku - Machiko yori (1948)
  5. Sambyakurokujugo ya - Tokyo-hen (1948)
  6. Sambyakurokujugo ya - Osaka-hen (1948)
  7. Sambyakurokujugo ya (1949)
  8. Ningen moyo (1949)
  9. Hateshinaki jonetsu (1949)
  10. Netsudeichi (1950)
  11. Ginja Sanshiro (1950)
  12. Akatsuki no tsuiseki (1950)
  13. Nusumareta koi (1951)
  14. Koibito (1951)
  15. Leraishan (1951)
  16. Bungawan soro (1951)
  17. Kekkon koshinkyoku (1951)
  18. Mukokuseki-sha (1952)
  19. Rakki-san (1952)
  20. Young Generation (1952)
  21. Ashi ni sawatta onna (1952)
  22. Ano te kono te (1952)
  23. Pu-san (1953)
  24. Aoiro kakumei (1953)
  25. Seishun Zenigata Heiji (1953)
  26. Aijin (1953)
  27. Josei ni kansuru junisho (1954)
  28. Watashi no subete o (1954)
  29. Okuman choja (1954)
  30. Kokoro (1955)
  31. Seishun kaidan (1955)
  32. Biruma no tategoto (1956)
  33. Shokei no heya (1956)
  34. Nihonbashi (1956)
  35. Manin Desha (1957)
  36. Tohoku no zunmu-tachi (1957)
  37. Ana (1957)
  38. Conflagration (1958)
  39. Anata to watashi no aikotoba: Sayonara, konnichiwa (1959)
  40. Odd Obsession (1959)
  41. Fires on the Plain (1959)
  42. Jokyo (1960)
  43. Bonchi (1960)
  44. Ototo (1960)
  45. Kuroi junin no onna (1961)
  46. Hakai (1962)
  47. Watashi wa nisai (1962)
  48. Dokonjo monogatari - zeni no odori (1963)
  49. Yukinoju henge (1963)
  50. Taiheiyo hitori-botchi (1963)
  51. Tokyo orimpikku (1965)
  52. Genji monogatari (1966)
  53. Toppo Jijo no botan senso (1967)
  54. Seishun (1968)
  55. Kyoto (1969)
  56. Nihon to nihonjin (1970)
  57. To Love Again (1971)
  58. Matatabi (1973)
  59. Visions of Eight - segmento The Fastest (1973)
  60. Wagahai wa neko de aru (1975)
  61. Tsuma to onna no aida (1976)
  62. Inugamike no ichizoku (1976)
  63. The Devil's Ballad (1977)
  64. Gokumon-to (1977)
  65. Joôbachi (1978)
  66. Hi no tori (1978)
  67. Byoinzaka no kubikukuri no ie (1979)
  68. Koto (1980)
  69. Happiness (1981)
  70. Sasame-yuki (1983)
  71. Ohan (1984)
  72. The Burmese Harp (1985)
  73. Rokumeikan (1986)
  74. Eiga joyu (1987)
  75. Taketori monogatari (1987)
  76. Crane (1988)
  77. Tenkawa densetsu satsujin jiken (1991)
  78. Fusa (1993)
  79. Shinjitsu ichiro (1993)
  80. Kaettekite Kogarashi Monjiro (1993)
  81. Shijushichinin no shikaku (1994)
  82. Yatsu haka-mura (1996)
  83. Shinsengumi (2000)
  84. Alley Cat (2000)
  85. Big Mama (2001)
  86. Escape (2002)
  87. Musume no kekkon (2002)
  88. Ten Nights of Dream (2006)
  89. The Inugamis (2006)


domingo, maio 25, 2008

Feel It...Say It/Tam tam ching suet suet sing (2006)

Origem: Hong Kong

Duração: 91 minutos

Realizador: Benny Chan

Com: Eric Kot, Candy Lo, Anson Leung, Tiffany Lee, Tats Lau, Jerry Lamb, Sam Lee, Chin Kar Lok, Simon Lui, Emily Kwan, Asuka Higuchi

"Ma Yeung e Dick Luk"

Sinopse

“Zmon Heung” (Eric Kot), também conhecido por “Dick Luk” (repare-se no trocadilho com a expressão inglesa “dick look”), é um médico especialista em doenças venéreas, que possui uma clínica isolada, onde todos os seus pacientes se podem dirigir sem terem que dar muito nas vistas. A maior parte dos doentes de “Heung”, traíram os seus companheiro(a)s e tiveram o azar de apanhar infecções de cariz sexual, querendo curas rápidas de forma a que a cara-metade não se aperceba das “facadinhas na relação”. No seu ofício, “Heung” é auxiliado pela enfermeira “Ma Yeung” (Candy Lo), uma pessoa extremamente competente e dedicada ao trabalho.

"Os traidores Fei e Bing, após uma "sessão agitada" num automóvel"

As coisas começam a complicar-se quando a bela jornalista “Faye Wong” (Tiffany Lee), a namorada de “Heung”, enceta um relacionamento paralelo com “Bing” (Anson Leung), um massagista que também é o companheiro de “Ma”. Eventualmente “Heung” e “Ma”, habituados a saber das traições de terceiros, descobrem que desta vez são eles as vítimas. Desolados, terminam as respectivas relações e encetam uma viagem bastante pessoal, de forma a tentarem perceber o que leva alguém a trair o parceiro. Nesta demanda, e sem que ambos esperassem, aproximam-se mais do que o previsto...

"A espiar os amantes"

"Review"

Antes de tudo, convém esclarecer que Benny Chan, o realizador do filme que apresento agora, não é o famoso Benny Chan, que teve a seu cargo obras emblemáticas de Hong Kong como “New Police Story”, “Gen X Cops” ou “Rob-B-Hood”. Este é um Benny Chan diferente, em que “Feel It...Say It” constitui apenas o seu segundo filme. A primeira longa-metragem deste realizador remonta a 2001, sendo uma película desconhecida de terror, intitulada sugestivamente de “Human Pork Chop”. Este Chan é uma figura de terceira linha da cinematografia daquelas paragens, cujas únicas razões pelas quais adquiri “Feel It...Say It” foram o seu argumento original e a pontuação extremamente elevada que ostenta na “IMDb” (actualmente 8,2, embora convenha dizer que apenas 8 votos foram considerados. Se atenderem ao meu, serão 9). As esparsas críticas que eu li, foram regra geral abonatórias para a película, pelo que aliado a um dvd a preço acessível, decidi arriscar e descobrir este filme. Ansiava obviamente que daqui adviesse uma boa surpresa.

Não existem praticamente dúvidas nenhumas que o filme expõe uma história de amor pouco convencional e dotada de uma originalidade muito própria. Com uma visão que eventualmente podemos catalogar de pós-modernista, “Feel It...Say It” prima por uma abordagem fresca sobre as dificuldades e incertezas na procura daquela pessoa que nos enche as medidas. Aqui não existe espaço para grandes laivos dramáticos, com jorros de lágrimas aliadas a cenas de paixão explosivas e de antologia. Tudo é analisado com uma frieza algo metódica e desapaixonada, em que os únicos momentos de algum êxtase são as cenas de amor entre os “traidores” “Fei” e “Bing”, para além da comédia extremamente “nonsense” que se repete ao longo de todo o filme. Comédia essa que é muito focada nas trapalhadas sexuais dos pacientes, e que é expressa através de trocadilhos com uma manancial de doenças venéreas, aliados a comentários feitos directamente para a câmara, possuidores de um conteúdo algo despropositado e fora do fio da narrativa. Um número musical surrealista também vem ajudar à festa! Convém ainda informar que temos um par de referências cinematográficas, que não vos consigo elucidar se têm um segundo sentido ou não. A primeira refere-se ao nome da namorada de “Dick”, que é homónima da conhecida actriz asiática Faye Wong. A segunda passará pelo apelido do casal japonês desavindo, que se chamam precisamente Kurosawa e dão origem a uma alegoria samurai rocambolesca.

"Com os Kurosawa, um casal japonês com problemas conjugais"

O que de facto é de relevar será sem dúvida as prestações do casal formado por Eric Kot e Candy Lo, impregnadas de uma honestidade a quase toda a prova. Os melhores momentos desta película serão sem dúvida quando o realizador dá largas à liberdade de interpretação daqueles dois actores que, embora não sejam bastante entusiasmantes, primam por nos fazer acreditar em cada uma das palavras que saem das suas bocas. Os intérpretes em questão parecem a maior parte das vezes nem estar a representar, mas a ter uma normal conversa corriqueira do quotidiano. Para o à vontade e interagir expresso por Kot e Lo, poderá ter contribuído o facto de “Feel It...Say It” ser a terceira colaboração no ano de 2006 (?!) em que ambos representam um par romântico (as outras duas foram “Half Twin” e “Cocktail”).

“Feel It...Say It” é um filme honesto, mas que não aspira a grandes voos nem a nada que se aproxime. Valerá acima de tudo pelas interpretações convincentes de Eric Kot e de Candy Lo, assim como pelo sua trama interessante. Ideal para um público menos “mainstream”, que adora discutir e imaginar pormenores de atalaia, onde os mesmos não existem! Apesar dos temas que constituem o seu cerne argumental é uma película pouco entusiasmante e, atrever-me-ia a dizer, um tanto ou quanto frígida ! Mas também não deve ser fácil fazer uma comédia romântica, onde as doenças venéreas e a infidelidade constituem os pormenores principais...

"Ma e Dick aproximam-se na ressaca das suas relações"

Trailer (não disponibilizado), The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento: 7

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 7

Mérito artístico - 7

Gosto pessoal do "M.A.M." - 6

Classificação final: 7,13





quinta-feira, maio 22, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Park Chan-wook

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto, basta clicar):

  1. Moon Is the Sun's Dream (1992)
  2. Trio (1997)
  3. Judgement (1999)
  4. J.S.A: Joint Security Area (2000)
  5. Sympathy For Mr. Vengeance (2002)
  6. If You Were Me - segmento Nepal (2003)
  7. Three Extremes... - segmento Cut (2004)
  8. Sympathy For Lady Vengeance (2005)
  9. I'm a Cyborg But That's Ok (2006)


terça-feira, maio 20, 2008

Infiltrados II/Infernal Affairs II/Mou gaan dou II -
無間道II

Origem: Hong Kong

Duração: 119 minutos

Realizadores: Andrew Lau e Alan Mak

Com: Anthony Wong, Eric Tsang, Carina Lau, Shawn Yue, Edison Chen, Francis Ng, Hu Jun, Chapman To, Roy Cheung, Liu Kai Chi, Yu Chiu, Kara Hui, Andrew Lin, Henry Fong, Arthur Wong, Peter Ngor, Teddy Chan, Joe Cheung, Wan Chi Keung, Wu Kwan, Kelly Fu, Alexander Chan, Hera Lam, Eva Wong, Brian Ireland, Bey Logan

"O jovem Lau, o infiltrado da tríade na polícia"

Sinopse

No ano de 1991, o inspector “Wong” (Anthony Wong) leva a cabo uma luta sem tréguas contra as mais poderosas tríades de Hong Kong, tendo por aliado um membro daquelas organizações chamado “Sam” (Eric Tsang). Um dos objectivos de “Wong” é colocar “Sam” numa posição hierárquica elevada, de forma a poder controlar com mais segurança as actividades mafiosas que povoam a actual região administrativa chinesa. Contudo, “Sam” vive sob o jugo da poderosa família Ngai, que tem em “Kwun” (Joe Cheung), o seu líder incontestável.

O equilíbrio é seriamente afectado quando “Kwun” é assassinado por “Lau” (Edison Chen), a toupeira que “Sam” tem infiltrada na polícia de Hong Kong. A chefia da família Ngai é assumida por “Hau” (Francis Ng), e este trata logo de instituir uma nova ordem, que passa por assassinar os “4 grandes”, expressão que se refere aos quatro mais poderosos chefes de tríades, a seguir ao próprio “Hau”.

"O inspector Wong"

Entretanto o jovem “Yan” (Shawn Yue) é expulso da academia de polícia, por ser meio-irmão do poderoso “Hau”. “Wong”, que pressente a honestidade do rapaz, propõe-lhe que ele seja um espião das forças da autoridade no clã Ngai. Dividido entre a lealdade à família e o sentido de dever, “Yan” acaba por aceitar, e torna-se na toupeira da polícia.

A guerra entre as tríades começa a subir de tom, assim como o conflito entre os criminosos e a polícia. Em 1997, ano em que Hong Kong transitou para a administração chinesa, um ciclo velho igualmente vai morrer no crime organizado, e um novo se iniciará.

Mary Hon, a esposa do gangster Sam"

"Review"

Após o estrondoso e merecido sucesso de “Infiltrados”, Andrew Lau e Alan Mak não perderam tempo e no ano seguinte lançaram para as telas de cinema “Infiltrados II”, de forma a dar continuidade à saga, e se possível fazer rentabilizá-la ao máximo. Eu disse continuidade? Talvez não seja bem assim. A expressão em causa referir-se-á propriamente à feitura de um segundo filme e não à narrativa propriamente dita. A razão para esta minha afirmação passa pelo facto de “Infiltrados II” ser uma prequela a “Infiltrados”, não se baseando em eventos que tenham ocorrido posteriormente aos relatados neste filme. Pelo contrário, são apresentados os acontecimentos que decorrem num espaço temporal que se inicia em 1991 (dez anos antes da trama de “Infiltrados”) e que termina em 1997, ou seja, o ano em que Hong Kong transita para a esfera da República Democrática da China, embora mantendo um estatuto autónomo.

Tendo por base esta premissa, conseguimos perceber com mais detalhe os percursos dos infiltrados “Yan” (na tríade) e “Lau” (na polícia) na sua juventude, assim como as motivações pessoais de cada um que os levam a enveredar pela espionagem no campo do inimigo. Mas apesar de as personagens representadas aqui por Shawn Yue e Edison Chen, serem supostamente o motor da história (e já agora do resto da saga), isto não quer dizer necessariamente que o enredo tenha que girar completamente em volta deles. Poder-se-ia pensar que seria assim, mas não é o que sucede. Verdadeiramente quem detém em “Infiltrados II” a primazia, e ofusca a história dos restantes intervenientes são o inspector “Wong”, o líder mafioso “Sam” e a sua esposa “Mary”, interpretados por Anthony Wong, Eric Tsang e Carina Lau respectivamente. É certo que os realizadores tentam não se afastar do rumo da trilogia (em 2003, veria igualmente a luz do dia “Infiltrados III”), e em consequência tudo fazer para que nos apercebamos da iniciação de “Yan” e “Lau” nos primórdios dos seus perigosos ofícios . Contudo, é dado mais relevo aos aspectos pessoais dos “mestres das marionetas”, ou seja, o inspector “Wong” que introduz “Yan” como espião no mundo das tríades e “Sam”, como o mentor de “Lau”, na sua ascensão. E ainda bem que assim o é, pois sem dúvida nenhuma que ficamos com uma visão mais abrangente de tudo o que se sucede, e em consequência entendemos vários aspectos que ficam um pouco por explicar em “Infiltrados”, essencialmente devido à sua curta duração.

O acima descrito terá de ter obviamente incidências nas actuações dos actores, do ponto de vista de “quem brilha mais”. Não é segredo para ninguém que Anthony Wong, Eric Tsang e Carina Lau constituem três monstros sagrados de Hong Kong. As suas inegáveis capacidades representativas fazem com que eles formem uma santíssima trindade, com actuações quase irrepreensíveis e ao nível do seu inegável estatuto. Merece relevar igualmente a boa interpretação do profissional Francis Ng, com uma carreira no cinema asiático susceptível de pouquíssimos reparos. Todos excelentes professores para a dupla dos então jovens promissores Shawn Yue e Edison Chen, hoje em dia certezas do “show business” (Edison Chen, infelizmente anunciou uma paragem por tempo indeterminado da sua carreira devido ao escândalo sexual que abanou Hong Kong, em que estiveram envolvidas igualmente Cecilia Cheung, Gillian Chung e outras cinco jovens estrelas em ascensão – ver mais AQUI).

"Hau aponta uma arma à cabeça de Sam"

Como sequela, ou melhor prequela...no fundo o segundo filme da saga, “Infiltrados II” corria o sério risco de uma abordagem repetitiva e sensaborona, que faria com que estivesse aqui a reclamar o quanto as sequelas e prequelas desgastam um conceito bom, que mais valia terem ficado por um filme, que estragaram uma ideia e execução com mérito, etc...etc...Quantas vezes qualquer um de nós já deve ter efectuado este exercício mental, dando a resposta inevitável que numa saga, normalmente o primeiro filme é o melhor. No caso da trilogia de “Infiltrados”, não restam muitas dúvidas que o primeiro episódio é superior. Mas só apenas esta ideia determinante corresponde à realidade. A feitura do segundo filme não estragou o conceito, simplesmente complementou-o de uma forma francamente boa. À ideia muito presente na primeira obra do “ jogo do gato e do rato”, é aditada aqui por uma abordagem mais violenta, no sentido da luta pelo poder dentro das tríades, o seu funcionamento interno e “modus operandi” É gratificante ver que os realizadores Andrew Lau e Alan Mak não enveredaram por qualquer tipo de facilitismo, conseguindo dotar esta película de uma identidade própria. Se eu nunca tivesse visto “Infiltrados”, estaria habilitado a olhar para “Infiltrados II”, como uma realidade una e considerá-lo um filme praticamente completo.

Resta dizer que a banda-sonora e a fotografia evidenciadas na primeira película, repetem-se aqui ao mais alto nível, dando continuidade ao que tudo de bom se fez anteriormente. Estando imbuído de um verdadeiro espírito “tríadesco” (inventei esta expressão agora, portanto não vale a pena ir a dicionários da Porto Editora e afins), e revestido de uma aura negra de vingança e crime (o chefe da tríade “Hau” afirma algumas vezes que “o meu pai costumava dizer que na rua cá se fazem cá se pagam”), “Infiltrados II” constitui um meritório segundo episódio de uma saga inesquecível. Ao mesmo tempo, e apesar de ser um filme posterior, dá o mote para o fim de um ciclo e o início de outro exposto em “Infiltrados”. A simbologia assente no facto do epílogo do filme suceder precisamente no dia 1 de Julho de 1997, data em que o Reino Unido transferiu a soberania do território, demonstra isso. No meio das comemorações, as personagens principais da película (as que sobreviveram ao digladiar) tentam cicatrizar feridas recentes e olhar expectantes para o futuro.

Sendo uma longa-metragem com grande valia e dotada de um esforço sincero, não consegue o milagre de ultrapassar ou igualar o primeiro “Infiltrados”. As razões são muito simples. Em 1º lugar, foi o “primeiro” (passe a repetição), e por esse motivo soprou uma estonteante lufada de ar fresco no panorama de Hong Kong (como já dizia o outro, “não há amor como o primeiro” - passe a repetição mais uma vez). A 2ª e 3ª razões são bastante objectivas e passíveis de unificação. Por mais que se tente, é quase impossível substituir um Tony Leung Chiu Wai e Andy Lau em grande forma!

A não perder!

PS: Ei Scorcese, vai um "The Departed II"?!?! Sempre se poupa um bocadinho nas ideias...

"Execução impiedosa"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,25





terça-feira, maio 13, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.


Yôji Yamada

Informação


Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto, basta clicar):

  1. Nikai no tanin (1961)
  2. Shitamachi no taiyou (1963)
  3. Baka marudashi (1964)
  4. Baka ga tanku de yatte kuru (1964)
  5. Likagen baka (1964)
  6. The Loveable Tramp (1966)
  7. Un ga yokerya (1966)
  8. Ippatsu daiboken (1968)
  9. Fukeba tobuyona otokodaga (1968)
  10. Tora San Our Loveable Tramp (1969)
  11. So Sad Is Man (1969)
  12. Tora San's Runaway (1970)
  13. Where Spring Comes Late (1970)
  14. Tora San's Shattered Romance (1971)
  15. Tora San, the Good Samaritan (1971)
  16. Tora San's Love Call (1971)
  17. Home From the Sea (1972)
  18. Tora San's Dear Old Home (1972)
  19. Tora San's Dream Come True (1972)
  20. Tora San's Forget Me Not (1973)
  21. Tora San Loves an Artist (1973)
  22. Tora San's Lovesick (1974)
  23. Tora San's Lullaby (1974)
  24. The Village (1975)
  25. Tora San, Love Under One Umbrella (1975)
  26. Tora San, the Intellectual (1975)
  27. Tora San's Sunrise and Sunset (1976)
  28. Tora's Pure Love (1976)
  29. Tora San Meets His Lordship (1977)
  30. The Yellow Handkerchief (1977)
  31. Tora San Plays Cupid (1977)
  32. Stage-struck Tora San (1978)
  33. Talk of the Town Tora San (1978)
  34. Tora San, the Matchmaker (1979)
  35. Tora San's Dream of Spring (1979)
  36. Tora's Tropical Fever (1980)
  37. A Distant Cry from Spring (1980)
  38. Foster Daddy, Tora (1980)
  39. Tora San's Love in Osaka (1981)
  40. Tora San's Promise (1981)
  41. Hearts and Flowers for Tora San (1982)
  42. Tora San, the Expert (1982)
  43. Tora San's Song of Love (1983)
  44. Tora San Goes Religious ? (1983)
  45. Marriage Counselor Tora San (1984)
  46. Tora San's Forbidden Love (1984)
  47. Tora San, the Go-between (1985)
  48. Tora San's Island Encounter (1985)
  49. Final Take: The Golden Age of Movies (1986)
  50. Tora San's Bluebird Fantasy (1986)
  51. Tora San Goes North (1987)
  52. Tora San Plays Daddy (1987)
  53. Hope and Pain (1988)
  54. Tora San's Salad-Day Memorial (1988)
  55. Tora San Goes to Vienna (1989)
  56. Tora San, My Uncle (1989)
  57. Tora San Takes a Vacation (1990)
  58. My Sons (1991)
  59. Tora San Confesses (1991)
  60. Tora San Makes Excuses (1992)
  61. A Class to Remember (1993)
  62. Tora San's Matchmaker II (1993)
  63. Tora San 47 (1994)
  64. Tora San the Final (1995)
  65. A Class to Remember 2 (1996)
  66. Niji o tsukamu otoko (1996)
  67. Gakko III, the New Voyage (1998)
  68. A Class to Rememeber 4: Fifteen (2000)
  69. The Twilight Samurai (2002)
  70. Love and Honor (2006)
  71. Kabei: Our Mother (2008)


segunda-feira, maio 12, 2008

Bang Rajan - The Village Warriors/Bang Rachan -
บางระจัน (2000)

Origem: Tailândia

Duração: 113 minutos

Realizador: Tanit Jitnukul

Com: Jaran Ngamdee, Winai Kraibutr, Theerayut Pratyabamrung, Bin Bunluerit, Bongkoj Khongmalai, Chumphorn Thepphithak, Suntharee Maila-or, Phisate Sangsuwan, Theeranit Damronggwinijchai

"Nuat Kheo, o líder dos combatentes de Bang Rajan"

Estória

No ano de 1765 o reino da Birmânia (actual Myanmar) decide anexar o vizinho do Sião (agora Tailândia). O exército birmanês é composto por uma força de 200.000 homens, fortemente treinados e armados. Os atacantes são divididos em dois corpos, compostos por 100.000 combatentes cada um, que visam cercar Ayutthaya, a capital do Sião.

O exército que segue pelo Norte, espalha o caos e a destruição, mas inesperadamente é atacado e travada a sua progressão em Bang Rajan, uma aldeia composta por agricultores e caçadores. Durante uma das escaramuças, o chefe de Bang Rajan, o valente “Taen” (Chumporn Thepphitak) é ferido gravemente. O guerreiro idoso e sábio, apercebe-se que não está em condições de dirigir a resistência contra os birmaneses, e aconselha a procura de um líder forte e destemido.

"O casal Sa e Inn"

A solução é encontrada na aldeia vizinha Nang Bat, na pessoa de “Nuat Kheo” (Jaran Ngdandee), um guerreiro destemido. “Nuat”, imbuído de um espírito patriótico, aceita a tarefa que lhe é incumbida e consegue fazer com que um pequeno grupo de homens e mulheres consigam se opôr com ferocidade a um inimigo muito mais poderoso.

Os birmaneses, estarrecidos com a resistência fazem sete investidas contra a aldeia de Bang Rajan, mas são sempre inevitavelmente rechaçados. No entanto, o desequilíbrio das forças em confronto torna-se cada vez mais evidente, em ordem ao resultado final.

"O valente Tong Menn"

"Review"

“Bang Rajan” é mais um épico tailandês, impregnado de nacionalismo, que visa expôr a história de uma vila a cuja designação o filme foi buscar o seu título. Baseada em factos verídicos, a narrativa encontra-se alicerçada num evento ocorrido em 1765, que viria a inspirar o patriotismo de todo um povo. Como decorre da sinopse, o exército birmanês, no seu costumeiro conflito com o Sião, resolve invadir um reino que na altura se encontra fragilizado. Inesperadamente, a maior resistência que encontra, provém de uma vila que encontra na sua marcha para Ayutthaya, a capital, e que o obriga a travar oito onerosos combates. Eventualmente, a destruição dos valentes aldeões acabaria por chegar, atendendo à desproporção de efectivos e armamento. No entanto, os custos traduziriam-se numa “vitória de Pirro ou pírrica”, ou seja, uma vitória obtida à custa de um alto preço que eventualmente comportará prejuízos irreparáveis. Estamos pois perante uma espécie de “Fort Alamo” tailandês, onde à semelhança da célebre batalha travada na localidade texana, muito poucos acabariam por fazer tanto. É este o espírito presente em “Bang Rajan”.

A película teve uma boa expressão internacional, tendo sido exibida nos festivais de Toronto, Seattle, Vancouver, Havai e Montreal. Neste último, viria a ser considerado o segundo melhor filme asiático em exibição, sendo apenas suplantado por um rival de peso, “Sympathy For Mr. Vengeance”, de Park Chan-wook, e superando “Musa, the Warrior”, que se ficaria pelo 3º lugar (uma clara injustiça!). Mesmo assim, não há nada como um realizador norte-americano de nomeada reparar num filme asiático, e num gesto de altruísmo, atribuir-lhe a chancela “qualquer coisa presents”, e expondo-o na montra do cinema dos Estados Unidos da América. Quentin Tarantino fê-lo com “Herói” e Francis Ford Coppola com “A Lenda de Suriyothai”. O senhor amável, seria nada mais nada menos que o conhecidíssimo Oliver Stone, que viria a patrocinar uma exibição de “Bang Rajan”, por algumas salas de cinema norte-americanas.

“Bang Rajan” é mais um épico tailandês, à semelhança de “King Naresuan” ou “A Lenda de Suriyothai”, que evoca o espírito lutador do povo tailandês contra o vizinho do lado, o reino da Birmânia. A abordagem à questão conflitual que nos é facultada por “A Lenda de Suriyothai”, é mais polida e política, sendo por este motivo uma película mais refinada. “Bang Rajan”, pelo contrário, aposta muito mais na acção em detrimento do factor argumentativo. E esta premissa é revelada logo no início do filme, em que apenas nos é facultado um pequeno enquadramento histórico, em jeito de narração, para passarmos logo a assistir um ataque dos aldeões da localidade tailandesa a um esquadrão birmanês. Nada de introduções para que nos possamos ambientar e compreender verdadeiramente o que está em jogo. É logo pancada de meia-noite! Pessoalmente, não sou afã deste estilo de realização, tanto nos épicos como nos filmes de acção. Tenho uma clara preferência por aquelas longas-metragens que nos expõem as situações que estão em causa, de forma a que estejamos habilitados a percepcionar o remanescente do filme, num sentido crescente e controlado. Existem excepções, é claro, mas “Bang Rajan” não é uma delas.

"Rodeados na batalha"

“Bang Rajan” tem elementos que nos fazem lembrar “Sete Samurais”, na parte em que uma vila inferiorizada perante um inimigo externo, consegue fazer face às adversidades graças a um punhado de guerreiros dotados de uma grande alma e força de vontade. Terá igualmente algum do espírito presente em “Braveheart”, essencialmente devido às sangrentas batalhas que nos são apresentadas e que constituem sem dúvida alguma, o ponto forte do filme. Os combates são impregnados de um grande realismo, e o que faz mais impressão sem dúvida nenhuma, é a maneira como os guerreiros tailandeses combatem. Fazem-no sem qualquer tipo de protecção como uma armadura. Marcham para a guerra em tronco nu, armados com os seus sabres e machados extremamente afiados. Estas armas quando entram em acção ao cortar a carne do oponente, só nos fazem lembrar o talhante lá do bairro a fazer o seu trabalho. Brrrr..... O realizador Tanit Jitnukul filma as lutas em larga escala, mas igualmente intimista e de uma forma um tanto ou quanto desorganizada. Isto acaba por ter efeitos positivos na película. A câmara acompanha a ferocidade dos guerreiros de muito perto e com movimentações que acentuam a acção. Inclusive, nos combates travados em lama, as lentes ficam completamente conspurcadas quando os guerreiros tombam. Qualquer tipo de guerra convencional não parece existir, mas antes uma guerrilha organizada e tribal, eivada de uma violência quase sem precedentes.

Os “clichés” e estereótipos da ordem encontram-se presentes, de forma a possibilitar que esta longa-metragem conquiste uma certa empatia perante quem a visiona. Existe “Tong Menn”, o homem que caminha e pena pela estrada da vida da vida, agarrado ao álcool e à sua miséria pessoal, tornando-se desta forma a personagem trágica do filme; “Nuat Kheo”, o herói relutante, que acaba por corajosamente assumir a responsabilidade pelos destinos de um povo que à partida tem o seu destino selado; “In”, o conscencioso guerreiro que ama a sua esposa, mas ciente do seu dever para com a comunidade, tudo faz para equilibrar os seus deveres familiares com a sua honra no campo de batalha.

O epílogo já se está mesmo a ver que apostará tudo no drama exacerbado e nas cenas emblemáticas. Por mim, tudo bem! É das facetas que gosto mais dos épicos asiáticos, confesso! No entanto, afigura-se-me que a forma como os “tearjerkers” foram inseridos, acabaram por tornar as cenas potencialmente mais fortes do filme, numa piroseira que deve bastante à credibilidade. Embora reconheça que sou bastante permeável a estes jogos sentimentais que os realizadores asiáticos adoram fazer (é uma questão cultural, acima de tudo), e que tal constitui um factor importante para o meu propalado gosto por esta cinematografia, haverá sempre que distinguir o excelente, do bom, do mediano e do mau. Não nego que fiquei tocado pelos amantes moribundos a rastejarem num campo de batalha, de forma a se poderem tocar por uma última vez. Simplesmente entendo que se calhar é preciso reinventar um pouco o género. Em defesa de “Bang Rajan”, sempre se poderá invocar que o filme é de 2000, e portanto antecedente de muitas obras célebres que enveredaram pelo mesmo diapasão. No entanto, fico com a franca impressão que a nível de representação e do caminhar pelas estradas do “jogo de lágrimas”, os tailandeses terão ainda muito que aprender com as restantes cinematografias asiáticas de eleição.

“Bang Rajan” constitui um épico aceitável, cujo visionamento se aconselha. Isto assume mais acuidade, quando a edição de dvd de dois discos da Contender é um verdadeiro mimo, com extras fenomenais!


"Monumento aos heróis de Bang Rajan"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,50




terça-feira, maio 06, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.

Sammo Hung
Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto, basta clicar):
  1. The Iron-Fisted Monk (1977)
  2. Warriors Two (1978)
  3. Enter the Fat Dragon (1978)
  4. Game of Death (1978)
  5. Knockabout (1979)
  6. The Magnificent Butcher (1979)
  7. Lightning Kung Fu (1980)
  8. Close Encounters of the Spooky Kind (1980)
  9. Game of Death II (1981)
  10. Carry On Pickpocket (1982)
  11. Men's Inhumanity to Men (1982)
  12. The Prodigal Son (1982)
  13. 5 Lucky Stars (1983)
  14. Project A (1983)
  15. The Owl Vs. Bumbo (1984)
  16. Wheels On Meals (1984)
  17. My Lucky Stars (1985)
  18. Twinkle, Twinkle, Lucky Stars (1985)
  19. Heart of Dragon (1985)
  20. Spooky, Spooky (1986)
  21. Eastern Condors (1986)
  22. Millionaire's Express (1986)
  23. Dragons Forever (1988)
  24. Seven Warriors (1989)
  25. Pedicab Driver (1989)
  26. Best Is the Highest (1990)
  27. Pantyhose Hero (1990)
  28. Ghost Punting (1991)
  29. Slickers Vs. Killers (1991)
  30. Don't Call Me Gigolo (1993)
  31. Blade of Fury (1993)
  32. Kung Fu Cult Master (1993)
  33. China's First Swordsman (1994)
  34. Don't Give a Damn (1995)
  35. Mr. Nice Guy (1996)
  36. Once Upon a Time in China and America (1997)

domingo, maio 04, 2008

Cinema Mágico/Electric Shadows/Meng ying tong nian -
梦影童年 (2004)

Origem: China

Duração: 93 minutos

Realizadora: Xiao Jiang

Com: Xia Yu, Li Haibin, Zhang Yijing, Qi Zhongyang, Wang Zhengjia, Zhang Haoqi, Xia Yuquing, Jiang Shan, Zhenhua, Jiang Yihong

"As crianças Ling Ling e Mao Dabing"

Sinopse

O jovem “Mao Dabing” (Xia Yu) é um moço de entregas que distribui água engarrafada e possui uma paixão pelo cinema, em especial o de acção. Certo dia quando se dirigia apressado para a sala de espectáculos do burgo, choca com a sua bicicleta contra uma pilha de tijolos. Ao tentar-se erguer, é agredido por uma rapariga surda chamada “Ling Ling” (Qi Zhongyang). A mulher usa um dos tijolos e acerta com o mesmo na cabeça de “Dabing”, fazendo-o desmaiar.

“Ling Ling” é detida pela polícia, mas mesmo assim pede a “Dabing” que alimente os peixes que se encontram no seu apartamento. “Dabing”, sem perceber porquê que vai fazer um favor a uma pessoa que o agrediu, acaba por anuir no pedido da jovem.

"Xuehua e Pan"

Na morada de “Ling Ling”, “Dabing” descobre o diário da rapariga e começa a folheá-lo com bastante interesse. Aqui somos levados a recuar vinte e poucos anos até à China rural. A mãe de “Ling Ling”, “Xuehua” (Jiang Yihong) é abandonada com uma filha bebé (a jovem “Ling Ling”) nas mãos. “Xuehua” conhece “Pan” (Li Haibin), um projeccionista de cinema. Uma grande ternura nasce entre os dois, e ambos acabam por se casar. “Ling Ling” e o seu amigo irreverente “Dabing”, entram num mundo de sonho, que é o cinema ao ar livre, retrospectivando uma série de películas aconselhadas pela ditadura chinesa, muitas protagonizadas pela actriz Zhou Xuan (uma intérprete chinesa que fez furor na segunda metade da década de 30 até aos anos 50). O mundo idílico da jovem sofre um grande abalo, quando nasce o seu irmão, fazendo com que “Ling Ling” comece a sentir-se relegada para segundo plano. O sentimento de angústia cresce, até desembocar num evento trágico.

Retornados ao presente, “Dabing” apercebe-se que “Ling Ling” era a sua jovem companheira das brincadeiras de meninice e das noites de cinema, e luta para reunir a filha aos seus pais.

"Numa sessão de cinema privada"

"Review"

Em relação a “Cinema Mágico”, Andrew Sun” do “The Hollywwod Reporter” afirmou textualmente “que é o equivalente chinês de Cinema Paraíso”. Uma afirmação bastante temerária por sinal, e que faz questão de ilustrar a edição portuguesa em dvd (e não só)! Estabelecer comparações com uma das melhores obras cinematográficas da história do cinema e pessoalmente a minha preferida, é bastante arriscado e poderá pôr em causa a credibilidade de quem as profere. É um elogio enorme e um tanto ou quanto sensacionalista, que impõe uma pressão devastadora nos ombros de uma película honesta e enternecedora, mas que nem de longe nem de perto, poderá almejar a atingir o estatuto e o significado da obra-prima do cinema italiano.

“Electric Shadows” é a tradução literal da expressão “dian ying”, que é o termo usado pelos chineses cujo idioma é o mandarim, para se referirem a “cinema” (esta palavra que significa tanto para todos nós; portanto se forem algum dia a uma parte mandarim do país, já sabem o que têm a dizer). Esta longa-metragem teve uma aceitação positiva por parte da cena internacional, tendo desfilado nos ecrãs dos festivais de Toronto, Marraquexe, Vancouver e Pusan, sendo elogiada pela crítica, relevando-se sobretudo a simplicidade e o amor ao cinema demonstrado pela realizadora Xiao Jiang.

À semelhança de muitos, um dos meus “calcanhares de Aquiles” são os filmes acerca de cinema, ou que a sétima arte em si tenha um papel preponderante no enredo. Quando existe um cunho bastante pessoal na feitura deste género de películas, as obras ainda marcam mais uns pontos na minha consideração. “Electric Shadows” preenche quase na sua plenitude estes requisitos, sendo uma semi-biografia da realizadora Xiao Jiang. Ao mesmo tempo, estamos perante uma carta de amor aos seus tempos de criança em que não existia televisão ou vídeos na casa dos chineses, e a projecção de cinema ao ar livre era determinante para a ocupação dos tempos livres das pessoas residentes nas províncias mais isoladas.


O enquadramento histórico dos eventos não é esquecido, fazendo-se algumas referências ao regime ditatorial chinês. Tais factos reconduzem-se essencialmente à censura imposta aos filmes e música que eram permitidos chegar aos olhos e ouvidos da população. Igualmente, é curioso observar a influência que as películas do regime causam nas crianças e nas suas brincadeiras quotidianas. “Mao Dabing” (cujo nome significa literalmente “soldado de Mao” - entenda-se o deificado líder chinês Mao Tse Tung ou Mao Zedong), veste-se como um filho do poder instituído e as brincadeiras com os seus amigos enveredam sempre por batalhas fictícias contra os inimigos subversivos do país. Aqui não se pretende fazer uma crítica velada ao regime, mas apenas expor os condicionalismos sociais existentes à altura. Acima de tudo, e como já foi aflorado, é sintomático e perceptível que Xiao Jiang almeja homenagear o cinema, em concreto todos os realizadores e filmes chineses que enriqueceram a sua vida quando era uma petiz. Isto acaba por ter um efeito positivo na nossa cultura cinematográfica, pois é-nos dado a conhecer um pouco da história da cinematografia chinesa, passando à frente dos nossos olhos filmes como “Street Angel” (1937), “Railway Guerrillas” (1956), “The Red Lantern” (1970), “Red Detachment of Women” (1971), “Shining Red Star” (1974) e “The Back Alley” (1981) . Como por vezes é perceptível pelo título, quase todas estas longas-metragens são propagandísticas das virtudes do regime comunista chinês e, já agora, completamente desconhecidas para a minha pessoa. Inclusive existe uma importante referência a uma obra albanesa intitulada "Victory Over Death", protagonizada pela actriz Mila Galani. A tal facto, não passará despercebido a simpatia que o poder político chinês nutria pelo país satélite da antiga União Soviética, comandado durante anos por Enver Hoxha.

"Pan numa projecção de cinema ao ar livre"

O argumento acaba por ser enternecedor e desafiador para os nossos sentimentos. Contudo, é necessário que seja dito que é altamente previsível, e não consegue evitar cair em situações forçadas e incredíveis. A actuação dos actores é genuína, fazendo com que todos nós a aceitemos sob o signo da credibilidade. O destaque irá para a bela actriz Jiang Yihong, cujo amor e luta por algo melhor para os filhos, transcende o ecrã. Quanto à banda-sonora, a mesma é exposta de uma forma competente, acentuando alguns picos mais dramáticos desta longa-metragem.

“Cinema Mágico” constitui, enquanto obra de estreia de Xiao Jiang, um bom esforço impregnado de idealismo e, como é normal, de alguma inexperiência. Contudo é suficiente para que o meu interesse por futuros trabalhos da realizadora esteja despertado. Uma coisa é certa! Tirando o facto de ambos os filmes exporem o amor de alguém pelo cinema e a importância que este tem para a vida de todas as pessoas, é altamente ofensivo comparar este filme a “Cinema Paraíso”. A obra italiana está a anos-luz de distância da película que é objecto deste texto. Curiosamente “Cinema Mágico” constitui até agora a única obra conhecida da realizadora. No espaço de 4 anos nada mais aconteceu, o que nos fará questionar se não houve uma falsa partida na carreira de alguém...

Com interesse!


"Os jovens Mao Dabing e Ling Ling"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cine-Asia

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,50






sexta-feira, maio 02, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.

Satoshi Kon
Filmografia - não inclui séries (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto, basta clicar):
  1. Perfect Blue (1998)
  2. Tokyo Godfathers (2003)