"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

quinta-feira, junho 25, 2009

Férias :) !!!

Como nem só de pão vive o homem, o administrador deste blogue vai de férias! O estaminé fica fechado por 15 dias, mas voltará em força e retemperado como sempre!
Vamos lá ver como é isto aqui:


E aqui:




Abraço a todos!

BESOURO O FILME- TRAILER

Trata-se de um filme de brasileiro, que versa sobre artes marciais, mais propriamente "Capoeira". Será que temos um "Ong Bak" brasileiro em perspectiva, com uns toques de planar à "O Tigre e o Dragão" :) ! Parece ser muito interessante!
Obrigado ao Takeshi, do blog "Age of Asia", pela dica!

quarta-feira, junho 24, 2009

Ashes of Time Redux (2008)

Origem: Hong Kong

Duração: 93 minutos

Realizador: Wong Kar Wai

Com: Brigitte Lin, Leslie Cheung, Maggie Cheung, Tony Leung Chiu Wai, Jacky Cheung, Tony Leung Ka Fai, Li Bai, Carina Lau, Charlie Yeung

"Ouyang Feng e Hung Chi"

Introdução

Como deve ser do conhecimento de muitos que visitam este espaço, “Ashes of Time Redux” não difere muito do original “Ashes of Time”, tratando-se de uma versão melhorada em termos de imagem e outros aspectos relacionados com a produção. É certo que existem alguma subtracções e adições feitas por “Redux”, que darei conta abaixo. Mesmo assim, embora algumas sejam importantes, decidi não elaborar um texto feito à imagem do normal no “My Asian Movies”. Sendo assim, a sinopse infra é a mesma que consta no artigo que elaborei acerca de “Ashes of Time” há três anos atrás. Na “review”, abordarei sobretudo e de uma forma sumária, as diferenças entre ambas as versões, tentando emitir a minha opinião pessoal. Optei igualmente desta vez, por não atribuir a costumeira pontuação, pois entendo que, também neste particular, não deveria fazer uma autonomização das duas obras, sob pena de desvirtuar o pensamento de Wong Kar Wai. A crítica original encontra-se AQUI.

"Huang Yaoshi Aka Evil East"

Sinopse

"Ouyang Feng" (Leslie Cheung), também conhecido sob a alcunha de "Malicious West", é um proprietário de uma taberna situada no meio do deserto. Trata-se de um homem morto emocionalmente, devido ao casamento do seu irmão mais velho com a mulher que ama (Maggie Cheung). Vive do seu negócio e da contratação de espadachins necessitados de dinheiro, tendo em vista a perpetração de assassinatos por encomenda. Estranhas pessoas chegam à taberna, cada qual com a sua história que normalmente converge para a tragédia pessoal. Podemos acompanhar "Huang Yaoshi" (Tony Leung Ka Fai), cujo nome de batalha é "Evil East", um dotado homem da espada, cuja atitude cavalheiresca perante o mundo, a vida e o amor, deixaram-lhe um rasto de remorso e recriminação.

“Murong Yang” (Brigitte Lin), por seu lado, é um jovem em busca de vingança sobre “Evil East”, por este ter abandonado a sua irmã “Murong Yin”. Esta, por sua vez, deseja a morte do irmão, por este andar a tentar matar a sua paixão “Evil East”. “Yin” e “Yang” acabam por revelar serem a mesma pessoa, completamente destroçada pela rejeição de “Evil East” e incapaz de encontrar um caminho para a paz interior. Problemas trágicos são demonstrados por outros elementos da história, desde o espadachim cego (Tony Leung Chiu Wai) que é contratado para liquidar um bando de salteadores e cujo último desejo antes de falecer e ver o desabrochar das flores de cerejeira (em sentido figurado, pois tal serve para designar a esposa) na sua terra-natal, passando pelo assassino de bom coração “Hung Chi” (Jacky Cheung) que não gosta de usar sandálias, acabando na jovem e pobre rapariga camponesa (Charlie Yeung) que tenta comprar vingança com um cesto de ovos e uma mula.


"O espadachim cego"

"Review"

Precisamente 14 anos depois, o mestre Wong Kar Wai decidia dar um novo corpo ao seu único registo do “Wuxia”, e pessoalmente o meu filme predilecto do valioso espólio cinematográfico do realizador. Desde já se aplaude esta revisita, pelo restauro com a qualidade que esta magnífica obra merece. Como já tinha aludido no meu texto de 2006, e passo a citar “é francamente uma enorme injustiça não existir no mercado uma edição em DVD decente à disposição do público. As existentes são de má qualidade, e tornam-se um verdadeiro crime quando estamos perante uma obra desta envergadura.” Com “Ashes of Time Redux”, o problema fica resolvido, pois com a ajuda do insuspeito Christopher Doyle temos agora à disposição uma edição em condições de ser visionada e admirada. Contudo, existem outros aspectos igualmente importantes, que julgo não terem tomado a direcção correcta.

A principal crítica dirige-se aos cortes que o filme levou, dos quais eu nunca vou perdoar a remoção do grito de sofrimento dado por Brigitte Lin na famosa cena do lago, acompanhado pela música emblemática que associávamos sempre a “Ashes of Time”. Aliás, esta melodia, tal como a conhecíamos, foi removida de vez em “Redux”, notando-se contudo alguma da sua influência nos novos arranjos musicais. Existem outras retiradas e adições, tais como as duas primeiras cenas de luta, pelo que a primeira vez que nos deparamos com os salteadores é o único combate em que está envolvido “Ouyang Feng”, a personagem interpretada por Leslie Cheung. Aproveitando para me referir às cenas mais movimentadas, em “Redux” as lutas são mais perceptíveis, embora neste particular continue a imperar alguma confusão desenfreada. É definitivamente o grande calcanhar de aquiles desta película, como também já tinha aludido no meu anterior texto.


"Ouyang Feng e Murong Yang"

Uma adição que se saúda é o “flashback” relativo à noite do casamento da apaixonada de “Feng”, corporizada em Maggie Cheung, que é mais completa e envolvente do que na versão original. Outra inovação de assinalar, passa pelo derradeiro combate do espadachim cego, interpretado por Tony Leung Chiu Wai, em que Kar Wai opta ora por cortar o som, ou distorcê-lo, assim como tornar a cena mais escura de forma a simbolizar a perda de visão do protagonista. O efeito, sem margem para qualquer dúvida, embrenha mais o espectador na tragédia pessoal da personagem. O sangue carmim, bastante vívido, a jorrar da garganta do espadachim faz o resto. A propositada saturação de cores que predomina em “Redux”, faz com que o filme seja mais estilizado e bonito à vista, aspecto que era extremamente prejudicado pela pobreza de tratamento da versão original. Outro aspecto que é de relevar, passa pelo facto de a grande senhora do cinema asiático, Brigitte Lin, poder debitar agora o seu próprio diálogo em mandarim. Na primeira versão, as falas da actriz eram dobradas para cantonês, havendo alguma detestável dessincronização entre os movimentos da boca e o som. Aqui, felizmente, isto já não se passa.

Sem desprezar os bons predicados que o novo tratamento a “Ashes of Time” mereceu, julgo que o melhor teria sido fazer uma simples, mas efectiva recuperação a esta pérola da sétima arte. “Redux” parece ter sido uma película feita mais para os fãs de Kar Wai, pós - “In The Mood for Love/2046”, desligando-se por vezes do espírito original da obra. Por mim, tudo se mantinha, apenas a imagem e o registo do som eram melhorados. As adições seriam bem-vindas, mas apenas para complementar o que já de bom existia. Quanto à banda-sonora, deixava-a precisamente como estava na versão original, principalmente devido à “tal” música inesquecível, e se possível tentava introduzir de uma forma lógica, o fabuloso violoncelo de Yo Yo Ma que perdura maravilhosamente em “Redux”. Façam pois o favor de confrontar as duas versões, e depois cada um diga de sua justiça! Acima de tudo o que interessa, é que o cerne da questão continua presente: o efeito das tristes memórias passadas na nossa vida presente, e a agonia que as alimenta e as cicatriza no íntimo do nosso ser...

Confiram, nem que seja para observarem o grande e malogrado Leslie Cheung, num dos papéis mais brilhantes da sua carreira!



"Luta no rio"

The Internet Movie Database (IMDb) link - Refere-se à versão originária de "Ashes of Time"

Trailer

Outras críticas em português:

terça-feira, junho 23, 2009

Beldades do Cinema Asiático - Vicki Zhao









Sem margem para qualquer dúvida, das actizes asiáticas mais deslumbrantes que andam por aí...Mais informações AQUI.

quinta-feira, junho 18, 2009

The Warlords - Irmãos de Sangue/The Warlords/Tau ming chong - 投名状 (2007)

Origem: China/Hong Kong

Duração: 127 minutos

Realizador: Peter Chan e Raymond Yip (co-realizador)

Com: Jet Li, Andy Lau, Takeshi Kaneshiro, Xu Jinglei, Guo Xiao Dong, Shi Zhao Qi, Wang Kuirong, Wang Yachao, Gu Bao Ming, Guo Xiaodong, Zhou Bo

"Pang"

Sinopse

Na China do século XIX, a rebelião dos cristãos Taiping imergiu o reino Qing no caos. O general “Pang” (Jet Li) é o único sobrevivente de uma batalha com os opositores ao imperador, fingindo-se de morto entre os corpos dos homens que comandava. A sua vergonha e covardia perseguem-no, mas “Pang” encontra coragem e redenção numa noite que passa com “Lian” (Xu Jinglei). Esta parte pela manhã, sem deixar pistas acerca do seu destino.

“Pang” parte outra vez sem direcção, até travar conhecimento com “Wu Yang” (Takeshi Kaneshiro), um jovem salteador que é liderado por “Er Hu” (Andy Lau). Os bandidos ganham a vida roubando comida aos soldados e, por vezes, assassinando-os. Demonstrando que tem capacidades de luta muito acima da média, “Pang” junta-se ao grupo de “Er Hu”, ficando chocado quando descobre que “Lian” é a mulher daquele. Quando a aldeia chefiada por “Er Hu” é saqueada pelo exército “Qing”, a ameaça de fome torna-se bastante elevada. Contudo, “Pang” sugere que os salteadores se alistem como soldados, de forma a que possam ter comida, dinheiro e porventura fama e heroísmo.


"Er-Hu"

“Er Hu” e “Wu Yang” concordam, mas atendendo a que “Pang” é novo no grupo, insistem em fazer um juramento conjunto, de forma a assegurar a sua lealdade. Em virtude deste facto, tornam-se irmãos de sangue, unidos por um pacto inquebrável, cuja violação dará direito à morte. Cedo, o grupo começa a ganhar notoriedade, devido a importantes batalhas que conseguem vencer contra os Taiping. No entanto, a amoralidade da guerra, a traição advinda da política e a paixão que tanto “Er Hu” como “Pang” nutrem por “Lian”, irão pôr em causa a amizade assumida pelos três heróis.


"Wu Yang"

"Review"

De há dois anos para cá, confesso que “The Warlords” foi dos filmes que geraram mais expectativas na minha pessoa, fundamentalmente por dois aspectos: é um épico de guerra e possui um “cast” fortíssimo, onde pontificam três dos meus actores asiáticos favoritos. Profusamente premiado em variadíssimos festivais de cinema asiático, Peter Chan para levar a cabo esta empresa baseou-se no clássico “Blood Brothers”, filme que remonta a 1973, assinado por Chang Cheh. O filme impressiona pela sua grandiosidade, e detém mesmo alguns momentos de tirar a respiração. Contudo, não se encontra isento de aspectos menos bons e que a certa altura defraudam um pouco. Diga-se de passagem, e repito, que a obra estava tabelada por cima e o anseio era elevado.

Em Hong Kong, Peter Chan é mais conhecido pelo seu especial jeito para as longas-metragens que lidam mais com o romance, embora já tenha tido incursões por outros géneros. À primeira vista, julgo que o exemplo mais emblemático passará por “Comrades: Almost a Love Story”. Apesar de “The Warlords” ser um épico, não deixa de ter bem presente uma faceta desenvolvida no tocante à história de amor. Os caminhos escolhidos enveredam muito mais pelo platonismo, do que propriamente pela parte mais física da relação, fazendo com que nos apercebamos crescentemente que “Lian” a mulher de “Er Hu”, será uma das causas principais para que a irmandade sofra um abalo. Desde já se iliba “Lian” de alguma actuação maléfica ou propositada para que tal suceda. As coisas simplesmente tomam o rumo que lhes está destinado. No que toca à amizade supostamente existida entre os três vectores do triângulo do pacto, a mesma não convence muito. “Pang” e “Er Hu” estão demasiado agarrados aos seus códigos de honra e objectivos pessoais. Quanto a “Wu Yang”, o mesmo parece um ser ingénuo, que precisa de orientação. Não se sabe muito bem é onde ele a irá buscar. Os únicos reflexos sintomáticos, embora algo desajustados face ao referido anteriormente, passa pela união dos três guerreiros numa batalha que parece estar irremediavelmente perdida, assim como a tentativa de “Er Hu” de salvar um “Pang” supostamente em perigo de vida. O que é um facto é que parece existir alguma falta de densidade, segurança e equilíbrio narrativo. Prova disto é que na parte final do filme, este dá um volte-face repentino e abrupto, saindo do campo do épico com cenas de acção memoráveis, e entrando na zona da intriga palaciana e da consumação da traição. Existe uma omissão no que concerne a uma ponte de ligação entre estas duas fases.

"Pang caminha sobre a morte"

Outro aspecto que carecia de algum melhoramento, passa pela explicação mais científica e histórica acerca da época em que ocorre a trama. Isto com certeza irá reflectir-se mais perante a audiência ocidental, da qual eu e a maior parte dos que visitam este espaço fazem parte. A rebelião Taiping, que se iniciou em 1850 e prolongou-se por 14 anos, teve muito de cultural e ideológico. Resumidamente, estamos a falar de uma revolta liderada por Hong Xiuqian, um chinês convertido ao cristianismo, e que visou criar um suposto reino que professasse aquela ideologia. Xiuqian desencadeou uma luta contra o império Qing, tendo-se auto-proclamado rei divino e irmão de Jesus Cristo. Tudo viria a ter um fim com a vitória dos exércitos do imperador em 1864. Ora na película, nada disto é explicado e apenas é induzido através de alguma simbologia como as cruzes de cristo. Existe uma claro focar nos temas da guerra, irmandade e romance, algumas vezes com bons resultados, outras assim-assim. A aposta pareceu, à primeira vista, numa maior internacionalização desta longa-metragem, visando agradar o público estrangeiro. Julgo, pelas razões que expliquei, que o desafio não foi completamente ganho pela perda de profundidade em que resultou.

Visualmente, o filme é muito excitante. Existem cenas de batalha excepcionais, muito sangue e algum realismo brutal, embora por outra via se tenha de admitir um certo exagero em nome do aumento da espectacularidade. Pense-se em Jet Li de uma assentada a cortar os pés a cinco ou seis oponentes. No tocante às paisagens, não nos é oferecido as verdejantes florestas de bambu de “O Tigre e o Dragão”, O Segredo dos Punhais Voadores” e tantos outros. Igualmente, não existe a sumptuosidade de “A Maldição da Flor Dourada”, ou o mundo de cores de “Herói”. O que nos é oferecido são desertos e cenas desoladas pela guerra implacável, num registo que de certa forma se aproxima um pouco de “Ashes of Time”. No entanto, a beleza árida ou crua de “The Warlords” não é nada inferior aos mencionados exemplos. Simplesmente, manifesta-se de uma forma diversa, mas muito pungente. No que concerne à actuação dos actores, julgo que os maiores créditos terão de ser atribuídos a Jet Li, e não devido à parte mais física da interpretação, pois “The Warlords” não é uma típica obra de artes marciais ou “Wuxia”. Jet Li desempenha muito bem o seu papel de homem amargurado pela derrota até à ascensão na hierarquia da dinastia Qing, podendo actualmente considerar-se um actor completo. Domina bem a expressividade, que está bastante talhada para papéis mais circunspectos, e sabe expôr verbalmente as suas emoções. Li foi, sem dúvida alguma, um actor que evoluiu imenso durante os últimos anos e cuja melhoria neste aspecto começou-se a notar mais a partir de “Herói”. Andy Lau e Takeshi Kaneshiro, à partida, sentem-se mais à vontade no tocante à representação mais tradicional. Contudo, aqui pedem meças a Li. Lau não tem oportunidade para evidenciar os seus inquestionáveis méritos como actor, e não parece se sentir muito à vontade num papel importante, mas um tanto ou quanto relativizado em relação a Li. Kaneshiro, por outra via, só desponta quando passeia a sua faceta de menino bonito do cinema asiático, que faz suspirar as moças todas. Não quero com isto dizer que Kaneshiro não é um actor de nomeada. Muito pelo contrário. Simplesmente aqui não mostra o que já evidenciou em muitos outros filmes.

Apesar de ser um épico de pendor belicista, “The Warlords” tem uma clara mensagem contra a guerra, dando a entender que um conflito em grande escala, não apenas espalha miséria a título global, mas também marca o mundo pessoal de cada um. Sendo uma obra de Peter Chan, é inevitável que não se consiga desligar dos aspectos mais sentimentais. Trata-se de uma película que será bastante consensual, mesmo para aqueles que não estão familiarizados com o cinema asiático. Apesar de ter méritos inegáveis e ser passível de considerarmos um bom filme, confesso mesmo assim, que estava à espera de algo mais.

A ver!

"Wu Yang ergue a cabeça de um inimigo"

The Internet Movie Database (IMDb) link

Trailer

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 9

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,88





Beldades do Cinema Asiático - Yoon So-yi








Mais informações desta beldade do cinema sul-coreano AQUI.

sexta-feira, junho 12, 2009

Origem: Índia
Duração: 113 minutos
Realizadora: Mira Nair
Com: Shafiq Syed, Hansa Vital, Chanda Sharma, Raghuvir Yadav, Anita Kanwar, Nana Patekar, Irrfan Khan, Raju Barnad, Chandrashekhar Naidu, Sarfuddin Quarrassi, Mohanraj Babu, Sanjana Kapoor
"Krishna"
Sinopse
Depois de “Krishna” (Shafiq Syed) pegar fogo à mota de um cliente do irmão, a sua mãe envia-o para trabalhar num circo, deixando claro que este não poderá voltar para casa enquanto não arranjar 500 rupias como forma de compensação pelo sucedido. Após algum tempo a trabalhar no circo, “Krishna” é abandonado pelo seu patrão. Desesperado, resolve comprar um bilhete de comboio para a cidade mais próxima, que é Bombaim (actual Mumbai).
"Sola Saal Aka Sweet Sixteen"

Chegado à grande cidade, “Krishna” ajudado por “Chillum” (Raghuvir Yadav) um pequeno traficante de droga, começa a trabalhar para um vendedor de chá, numa das zonas com mais prostituição em Mumbai. Após a chegada de “Sola Saal Aka Sweet Sixteen” (Chanda Sharma), uma jovem nepalesa virgem, que foi comprada para se prostituir, “Krishna” descobre um novo sentimento, o amor. Após uma gorada tentativa de resgate, “Krishna” perde o seu emprego. A vida piora quando “Krishna” para além de ter de trabalhar em vários biscates, tem de tomar conta de “Chillum”, que também foi despedido e tem graves problemas de toxicodependência. O dia-a-dia na pobreza miserável de Mumbai, rodeado de prostitutas, chulos e traficantes, torna-se cada vez mais insuportável.

"Krishna observa Sola Saal"

"Review"

Premiado em vários certames de cinema mundiais, incluindo Cannes, assim como granjeou uma nomeação para os óscares de Hollywood (a 2ª de um filme indiano, 30 anos após “Mother India”), “Salaam Bombay!” é justamente considerada uma das obras mais emblemáticas do cinema indiano. Vinte anos antes do aclamado “Slumdog Millionaire”, Mira Nair corporizaria um filme que analisava com grande detalhe, o dia-a-dia carregado de infortúnios das crianças que sobrevivem nas ruas de Mumbai. É por demais nítido que o filme de Danny Boyle bebeu alguma inspiração em “Salaam Bombay!”, e não existe razão nenhuma para que se envergonhe acerca deste facto. “Salaam Bombay!” constituiu a película de estreia de Mira Nair, e atenta a qualidade desta longa-metragem, augurava-se um bom futuro para a realizadora indiana. Poder-se-á afirmar que, regra geral, Nair não defraudou as expectativas em obras posteriores.

O filme é justamente dedicado a todas as crianças pobres que deambulam pelas eclécticas e perigosas ruas de Mumbai, como Nair faz questão de salientar no epílogo da película. E nada melhor do que recrutar alguns dos actores principais, directamente nas ruas da grande cidade, de forma a impregnar o maior realismo possível à película. Foi precisamente isto o que aconteceu, aspecto que viria igualmente a ser imitado por Danny Boyle. Nair juntou um grupo de crianças de Mumbai e partilhou com elas as suas experiências quotidianas, visitando os inúmeros bazares existentes na cidade, as suas estações de comboio e ruas quase inteiramente dedicadas à prostituição e tráfico de droga. Desta vivência pessoal da realizadora, nasceu o argumento de “Salaam Bombay!”. Os miúdos, por sua vez, foram ensinados não a representar, pois Nair queria que eles agissem o mais naturalmente possível, mas sim a sentirem à vontade perante uma câmara de filmar. Por sua vez, nenhuma cena foi rodada dentro de um estúdio. Tudo se passa nos cenários que a realizadora pretende expôr, ou seja, as próprias ruas de Mumbai. Inclusive, algumas das cenas foram filmadas com câmaras escondidas, de forma a captar as reacções normais dos habitantes. A cena da procissão funerária é um dos exemplos. O resultado foi uma obra que tanto tem algum espírito de documentário, como elementos de um drama extremamente poderoso.

"Baba e Rehka"

“Salaam Bombay!” não é um típico filme de “Bollywood”. Muito pelo contrário. Rompe totalmente com as convenções do género, e de certa forma chega a parodia-las. É certo que nos é mostrado a grande importância que o cinema tem para os indianos, principalmente no entretenimento que proporciona à população, fazendo-a esquecer dos problemas do dia-a-dia. Contudo, “Salaam Bombay!” foca-se na realidade, sem grandes presunções ou subterfúgios, aniquilando por completo o mundo de sonho e o escape à realidade, típico das obras de “Bollywood”. Isto provoca algum celeuma quando hoje em dia, os realizadores mais rebeldes da meca do cinema indiano, decidem enveredar por este caminho. Imagine-se há mais de 20 anos atrás! Um reflexo típico desta premissa presente em “Salaam Bombay!”, passa por não termos as costumeiras músicas e danças, tão típicas de “Bollywood”. O que nos é apresentado são as crianças a delirar com os filmes, e traulitando alegremente as músicas que ouviram, à semelhança de alguns de nós quando estão no duche.

As crianças actuam a um nível bastante elevado, talvez pelo facto de estarem a ser elas mesmas nas ruas que tão bem conhecem. A sua inexperiência não se nota minimamente, e é bem temperada com os actores mais experientes, salientando-se um fenomenal Raghuvir Yadav, que brilha imenso como “Chillum”, em especial nas crises provocadas pela falta de droga. É com grande pena minha que não vejo estas crianças prosseguirem uma bem sucedida carreira como actores, e subsequentemente terem condições de fartura para terem uma vida bem melhor. Pelo mesmo caminho, parecem ir os petizes de “Slumdog Millionaire”. Imagine-se que Shafiq Syed, o actor principal de “Salaam Bombay!”, supostamente vive como condutor de um riquexó em Bangalore (ver mais AQUI)!

“Sallam Bombay!” é uma obra incontornável para todos aqueles que queiram conhecer a Índia profunda e o seu cinema. Aliás, é uma película imperdível para qualquer um que viva para o que de melhor que a sétima arte tem. Revela ser uma lição de vida enternecedora, dada à tela por uma das maiores realizadoras provenientes da Ásia. Para além dos aspectos mais cinematográficos, onde se incluem um argumento acima da média e uma envolvência brutal, temos sempre a possibilidade de aprimorarmos a nossa cultura acerca de uma das sociedades mais fascinantes e intrigantes do mundo.

Obrigatório!


"Krishna ampara um desesperado Chillum"

The Internet Movie Database (IMDb) link

3 clips do filme

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 10

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,50






quarta-feira, junho 10, 2009

Beldades do Cinema Asiático - Koyuki










Uma beleza resplandecente do país do sol nascente e pessoalmente uma das minhas preferidas. Mais informações AQUI.

quarta-feira, junho 03, 2009

Ichi - 壱 (2008)

Origem: Japão

Duração: 120 minutos

Realizador: Fumihiko Sori

Com: Haruka Ayase, Takao Osawa, Shido Nakamura, Yôsuke Kubozuka, Akira Emoto, Riki Takeuchi, Go Riju, Mayumi Sada, Ryosuke Shima, Eri Watanabe


"Ichi"

Sinopse

“Ichi” é uma “goze”, uma mulher invisual que ganha a vida cantando e tocando o instrumento designado como “shamisen”. Devido ao facto de ser cega, mas igualmente possuidora de uma grande beleza, as pessoas tentam sempre abusar da sua confiança e normalmente as coisas não acabam bem. Porquê? A razão passa por “Ichi”, além de não possuir visão, ser linda, e uma trovadora, é igualmente uma espadachim temível, tendo uma lâmina bem afiada, disfarçada de bordão. A jovem deambula pelo Japão, em busca do espadachim cego que a tratou como um pai e a ensinou a manejar a espada.



"Ichi e o samurai Toma"

Certo dia, e através de um incidente com o temível gangue “Banki”, “Ichi” trava conhecimento com o samurai “Toma Fujihira” (Takao Osawa), que a tenta salvar dos bandidos, mas que devido à sua questionável capacidade para o combate, acaba é por ser defendido por “Ichi”. O casal chega à pequena povoação chamada “Bito”, onde os “Banki”, sob a égide do seu temível líder também chamado “Banki” (Shido Nakamura), aterrorizam a população. Após mais um reencontro com elementos dos “Banki”, “Toma” é contratado como guarda-costas por “Toraji” (Yôsuke Kubozuka), o chefe dos “Shirakawa”, o clã opositor dos “Banki” e que tenta acabar com o terror imposto por estes. “Toraji” dá emprego a “Toma” convencido que o samurai derrotou alguns membros dos “Banki”, quando na realidade foi “Ichi” que os venceu.

“Ichi” e “Toma” começam a ficar cada vez mais próximos, e uma paixão começa a nascer. No entanto, o inevitável conflito entre os “Shirakawa” e os seus opositores aproxima-se e o casal terá de enfrentar a batalha mais difícil da sua vida contra os “Banki”.

"Os Banki"

"Review"

Como já aludi anteriormente, a propósito do texto elaborado sobre a película “Zatôichi”, realizada e protagonizada por Takeshi Kitano, a personagem do afamado espadachim cego foi profusamente representada na sétima arte. Desta vez, o conto do mais famoso invisual da história do cinema nipónico, quiçá do oriental, é transposto para a tela mais uma vez, destarte sob a forma feminina corporizada na goze “Ichi”. Não estamos perante o campo do “chambara” mais estilizado ou com motivos fantásticos, dos quais constituem exemplos relativamente recentes “Azumi”, Shinobi: Heart Under Blade” ou “Dororo”. O que nos é dado a conhecer é um clássico filme de samurais, que usa técnicas mais modernas, mas que mantém os arquétipos clássicos do género. O realizador Fumihiko Sori não está interessado em adoptar qualquer orientação revisionista de uma fórmula de comprovado sucesso. O filme afigura-se mais como uma sequela de “Zatôichi”, nem que seja pelo facto de nos ser induzido que a rapariga é a filha do famoso espadachim. Pessoalmente e como fã deste tipo de obras acho, à partida, entendo que a decisão de Sori é de saudar.

Quanto à trama propriamente dita, estamos perante uma mulher que é cega, mas como já referi acima, linda de morrer. Por este motivo, “Ichi” é constantemente confrontada com abusos de terceiros, que fazem com que a mesma tenha uma visão extremamente pessimista da vida e da injustiça da sociedade feudal do Japão. Estas situações chegam mesmo a acontecer perante outras pessoas que possuem a mesma deficiência física do que ela, e que se encontram perante um estatuto social semelhante. Cumpre dizer que o antigo Japão não era bastante clemente para com aqueles que possuíam deficiências físicas ou mentais, pois entendia-se que tal constituía um castigo dos deuses. Por estas e outras razões, e apesar de enfrentar os contratempos com uma elevada e por vezes violenta dignidade, “Ichi” não encontra sentido na vida. Nos dizeres da própria protagonista, a mesma não consegue ver a diferença entre o dia e a noite, entre o bem e o mal, não conhece o que não corta com o sabre. Ela está na fronteira entre a vida e a morte, e a sua única motivação é encontrar o homem que ela acredita ser o seu pai, antes de penar pelos tortuosos caminhos da vida até ao fim da sua existência. Uma possível forma de redenção, parece ser personificada no samurai “Toma”. O homem continua a lutar, em nome dos seus sentimentos, para que “Ichi” ganhe alegria e subsequentemente lute pela vida.


"Ichi demonstra as suas inegáveis qualidades como espadachim"


A acção é-nos apresentada de uma forma bastante intensa, na esteira dos melhores clássicos do “chambara”, não fosse o coreógrafo Hiroshi Kozune, o responsável pelas magníficas batalhas de “Ran”, do grande mestre Akira Kurosawa ou pelo belo filme de Yôji Yamada, “The Twilight Samurai”. O que aqui se critica é os litros de sangue derramado, fruto de muito “CGI” (imagens geradas por computador) que por vezes são irrealistas e pecam por alguma falta de qualidade. A banda-sonora é, à falta de melhor adjectivo, espectacular. Desde já se informa que não é da autoria de um japonês, ou qualquer autor oriental, mas sim da compositora australiana Lisa Gerrard, que conta de entre os seus inúmeros trabalhos uma colaboração com Hans Zimmer no filme “Gladiador”. Como se tal não fosse suficiente, é uma das mentoras do eterno grupo musical “Dead Can Dance”.

Fiquei extremamente impressionado com a performance de Haruka Ayase. Ela consegue transmitir na perfeição a aura melancólica e o pessimismo existencialista de “Ichi”. O seu semblante carregado de uma infindável tristeza e desilusão, enternece-nos grandemente e nunca chega a ser enfadonho. E ajuda bastante ser uma das actrizes japonesas mais bonitas que vi em toda a minha vida! Takao Osawa e Shido Nakamura são dois nomes consagrados da cena nipónica, mas aqui exibem-se a níveis diferentes. Enquanto Osawa consegue almejar o pretendido, ou seja, ser um “sidekick” à altura de “Ichi”, Nakamura desiludiu-me bastante. Isto assume proporções maiores, quando eu sou um fã do trabalho do actor. Não tem alma na actuação, assumindo por vezes poses perfeitamente disparatadas e que não lhe ficam nada bem. Porventura, a forma como foi congeminado o seu papel no argumento, não fez jus às inegáveis capacidades deste intérprete. Osawa, pelo contrário, exterioriza bem o homem pouco confiante que vai buscar a sua força interior ao sentimento que começa a nutrir por “Ichi”, e que o ajuda a combater a injustiça reinante e a se afirmar como samurai, mas acima de tudo como homem.

“Ichi”, a espadachim, amante e música, poderá estar limitada num dos seus cinco sentidos, mas a sua tristeza e aura fadada à tragédia, muitas vezes farão com que nós consigamos perceber o âmago da sua própria alma. Num “cocktail” de muita emoção e momentos de acção extasiantes, “Ichi” configura-se como uma película com predicados sentimentais de muita qualidade e visualmente bastante apelativa. Contudo, falta-lhe alguma densidade e exploração argumentativa, que constitui uma característica essencial que distingue os bons filmes das obras de verdadeira eleição. O facto de possuir um estranho Shido Nakamura, capaz de bem melhor do que aqui revela, assim como não reinventar o género (à parte o carácter mais trágico da personagem principal), sendo algo estereotipado, também não ajuda muito a uma suposta grandiosidade. Contudo entre prós e contras, a balança pende claramente para o lado positivo, e admito desta forma que gostei do filme!


"A tocar shamisen e a cantar a sua triste melodia"

The Internet Movie Database (IMDb) link

Trailer

Esta crítica encontra-se igualmente disponível "on line" em Clubotaku

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,88