"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

terça-feira, julho 29, 2008

Sympathy for Mr. Vengeance/Boksuneun naui geot -
복수는 나의 것 (2002)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 121 minutos

Realizador: Park Chan-wook

Com: Song Kang-ho, Shin Ha-kyun, Bae Doo-na, Lim Ji-eun, Han Bo-bae, Kim Se-dong, Lee Dae-yeon, Ryu Seung-beom

"Park Dong-jin, o pai vingativo"

Sinopse

“Ryu” (Shin Ha-kyun) é um surdo-mudo que trabalha numa fábrica e cuida da irmã (Lim Ji-eun) que possui um problema de saúde muito grave, cuja única forma de ser resolvido é através de um transplante renal. O jovem já poupou os necessários 10.000 won (a moeda da Coreia do Sul), sendo agora necessário encontrar um dador compatível com a sua irmã. A situação é tão crítica, que esta já perdeu a esperança toda em viver, e solicitou a “Ryu” que a enterrasse nas margens do lago onde brincavam quando eram crianças.

Após ser despedido, “Ryu” encontra um panfleto numa casa de banho pública, onde se publicita uma venda ilegal de órgãos humanos. Seguindo os contactos aí expostos, trava conhecimento com uma idosa toxicodependente e os seus filhos psicóticos. O negócio passa por “Ryu” entregar os 10.000 won aos traficantes, assim como um dos seus rins. No dia seguinte, o rapaz acorda nu num edifício abandonado, sem o dinheiro e com uma incisão que indica que o seu rim foi retirado. Enganado pelos traficantes, o seu desespero aumenta ainda mais quando o médico que segue a doença da irmã informa “Ryu” que finalmente um dador foi encontrado, e que a mesma será operada em troca do dinheiro.

"Ryu e a pequena Yu-sun"

Sem nada a perder, “Ryu” conjuntamente com a sua namorada “Yeong-jin” (Bae Doo-na), uma activista comunista e defensora do regime norte-coreano, planeiam raptar “Yu-sun” (Han Bo-bae) a pequena filha de “Park Dong-jin” (Song Kang-ho), o ex-patrão de “Ryu”. O objectivo é trocar a criança pelo dinheiro necessário para efectuar a operação. Acidentalmente, “Ye-sun” morre, fazendo com que “Park” inicie uma cruzada de vingança contra aqueles que ele considera responsáveis pelo falecimento da sua filha.

"A rebelde e revolucionária Yeong-jin"

"Review"

Chegou agora o momento de dissertar um bocadinho acerca do primeiro filme que compõe a conhecida trilogia não oficial de Park Chan-wook, a qual tem sido vendida sob a designação pomposa, mas feliz, de “Trilogia da Vingança”. Para os mais desatentos ou menos esclarecidos acerca do tema em concreto, o trio de películas fica completo com “Oldboy” (2003) e “Sympathy for Lady Vengeance” (2005).

Assim como se costuma dizer que “de génio e de louco, todos nós temos um pouco”, sempre se poderá igualmente afirmar que por mais pacíficos, amáveis e compreensivos que sejamos no dia-a-dia, haverá sempre uma centelha que eventualmente acordará o que de pior existe dentro de nós, e subsequentemente, nos levar a cometer actos monstruosos. Digamos que é uma espécie, a modos de dizer, de "Dr. Jekyll e Mr. Hide", tal e qual Robert Louis Stevenson os imaginou. Sinceramente, nunca duvidei desta ideia e considero-a das verdades mais absolutas que existem nesta vida. “Sympathy for Mr. Vengeance” vive um pouco desta premissa, e executa-a com mestria, embora possamos afirmar que não chega à quase-perfeição. Embora ande por lá perto por alguns momentos, disso não se pode duvidar. Trata-se de mais um filme que leva a natureza humana aos seus limites, no que toca à violência e porque não dizê-lo da demência. Os raptores “Ryu” e “Yeong-jin”, embora não se configurem como pessoas ditas “normais”, no sentido do cidadão comum, não são seres malévolos. Como já foi aludido na sinopse, o rapaz é surdo-mudo e um tanto ou quanto traumatizado devido à enfermidade da irmã. “Yeong-jin” é uma revoltada com o sistema capitalista reinante na Coreia do Sul, e visa causar uma revolução comunista (em transição para o anarquismo) na sociedade, onde os americanos são vistos como opressores (mais uma vez, o estereótipo anti-americano está presente numa obra sul-coreana; quanto à costumeira maledicência contra os japoneses, ela não marca presença neste filme). Cada um, de uma forma ou de outra, não se enquadram na comunidade onde vivem, e face a uma situação desesperada, tomam medidas extremas, a saber, o rapto de uma criança. Contudo, não a maltratam. Pelo contrário, cuidam de “Yu-sun” como uma princesa, criando condições para que a menina se sinta o melhor possível. Por sua vez, “Park”, o bem sucedido pai divorciado de “Yu-sun” é um ser que ama a filha, como qualquer progenitor decente e normal o deve fazer. No entanto, após o decesso do seu rebento, torna-se naturalmente o “Mr. Vengeance” em pessoa, que no início nos arranca toda a simpatia e compreensão do mundo, mas que a certa altura faz-nos questionar se conhecendo o que realmente se passou com a filha, não deveria adoptar uma atitude menos radical. Mas isto é fácil falar para quem está de fora...99,9% de nós com certeza se tornaria no tal "Mr. Hide". É complicado tomar partidos, e "Sympathy for Mr. Vengeance" é uma película que nos obriga a optar entre situações que merecem a nossa compreensão e complacência, e ambas merecedoras de algum tipo de tutela emocional.


"Ryu e Yeong-jin reflectem sobre um rumo a tomar"

A narrativa e a forma como a mesma nos é apresentada, contém pormenores dotados de uma grande força, que indelevelmente marcam bem fundo. O corpo de “Yu-sun” a ser cremado é um momento breve, mas grandioso do filme, onde nos é oferecida uma perspectiva interior do caixão, fazendo com que interiorizemos que qualquer réstia de inocência ou de bom senso acabou e que a verdadeira vingança que nos desumaniza a todos vai entrar em erupção definitivamente, libertando um inferno bastante pessoal por Seul! Outra cena extremamente perturbadora, passa pelos quatro rapazes que vivem no apartamento ao lado do de “Ryu”, a se masturbarem com os gritos de agonia da irmã do rapaz, pensando que estão a ouvir gemidos de prazer derivados do sexo, quando o que está em causa são sons de sofrimento devido à doença renal que a mulher padece. No meio destes momentos pouco convencionais, é obrigatório aludir o rapaz deficiente mental que aparece nas margens do lago e que com a sua presença proporciona, mais do que uma vez, um verdadeiro espectáculo surrealista. No remanescente, temos vários momentos bastante sórdidos, que apelam à tortura física e psicológica, não defraudando em nada os cultores do género. Sangue, gritos, frustração e apelos a um drama crú que não dá tréguas àqueles que pretendem ter uma sessão de cinema minimamente descansada, e que entusiasma as mentes mais sádicas que por aí andam!

Apesar dos seus méritos incontornáveis, e que passam igualmente por uma projecção visual extremamente incisiva e actuações de elevar, nem tudo são rosas nesta longa-metragem. Por vezes existe alguma lentidão no desenvolvimento da narrativa, que quebra um pouco o ritmo da película. É notório igualmente que existe alguma falta de refinamento em certas situações, aspecto que o realizador maduramente viria a melhorar em obras posteriores. Sinceramente, julgo que não que não estarei muito longe da verdade se afirmar que “Sympathy for Mr. Vengeance” constitui o episódio mais fraco da saga de Park Chan-wook, que tantos admiradores granjeou. Contudo não deixa de ser um começo bastante interessante e um bom cartão de visita para o que viria a seguir, e que atingiria os circuitos internacionais de cinema com a pujança de um valente soco no estômago: o imponente e fantástico “Oldboy”, com o inimitável Choi Min-sik no papel principal a espalhar talento por tudo o que é sítio! “Sympathy for Lady Vengeance”, outra obra de incontestável valia, serviria para consolidar o edifício já de si com alicerces seguros.

Se enveredarmos por uma tradução literal, o título em coreano deste filme significa “a vingança é minha”. No fim concluímos que é um “cocktail” que redunda num prato chamado “é de todos, não é de ninguém e quase toda a gente vai acabar bastante mal nesta história”! Quanto aos condimentos, é favor deitar umas pitadas bem generosas de sangue e tragédia humana, com os melhores cumprimentos do chefe Park Chan-wook!

A não perder este filme que faz questionar e muito o famoso brocardo de Maquiavel, "os fins justificam os meios"!

"Vingança?!"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português/espanhol:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,13





domingo, julho 27, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
King Hu

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):

  1. Ding Yishan (1964)
  2. The Story of Sue San (1964)
  3. Sons of Good Earth (1965)
  4. Dragon Inn (1966)
  5. Come Drink With Me (1966)
  6. A Touch of Zen (1969)
  7. Four Moods (1970)
  8. The Fate of Lee Khan (1973)
  9. The Valiant Ones (1975)
  10. Raining in the Mountain (1979)
  11. Legend of the Mountain (1979)
  12. Juvenizer (1980)
  13. Reincarnation (1981)
  14. All the King's Men (1982)
  15. The Wheel of Life (1983)
  16. Painted Skin (1993)


terça-feira, julho 22, 2008

O Castelo Andante/Howl's Moving Castle/Hauru no Ugoku Shiro -
ハウルの動く城 (2004)

Origem: Japão

Duração: 116 minutos

Realizador: Hayao Miyazaki

Vozes das personagens principais (versão japonesa): Chieko Baisho (Sophie), Takuya Kimura (Howl), Akihiro Miwa (Bruxa do Nada), Tatsuya Gashuin (Calcifer), Ryunosuke Kamiki (Markl), Haruko Kato (Suliman), Yô Ôizumi (Cabeça de Nabo), Daijirô Harada (Heen)

"Howl e Sophie"

Sinopse

Num mundo mágico, que em muito se assemelha à Europa do fim do século XIX, vive “Sophie”, uma rapariga de 18 anos que trabalha numa chapelaria pertencente à sua mãe. A jovem, apesar de teimosa, é bastante insegura pois não se acha nada bonita. Certo dia, a caminho de um café, “Sophie” depara-se com “Howl”, um jovem mas poderoso feiticeiro, que se encontra a ser perseguido. Após umas quantas peripécias, o casal consegue escapar, e “Howl” ao se despedir de “Sophie”, consegue atrair a atenção da rapariga.

Tempos depois, “Sophie” encontra-se no negócio de família e recebe a visita da “Bruxa do Nada”, arqui-inimiga de “Howl”. A feiticeira lança-lhe um encantamento e “Sophie” envelhece subitamente até aos 90 anos. Envergonhada com a sua condição, a agora idosa abandona a sua cidade em busca de uma cura. No caminho, encontra a casa de “Howl”, um enorme edifício que se move graças à intervenção de “Calcifer”, um demónio do fogo.

“Sophie” passa a viver com “Howl”, o seu jovem aprendiz “Markl” e “Calcifer”. À medida que os tempos vão avançando, “Sophie” começa a descobrir a força que reside em si, para além de se apaixonar pelo mágico rebelde. No entanto, a guerra grassa pela terra, e “Howl” encontra-se embrenhado em conflitos com a sua antiga mentora “Suliman”. Tudo dependerá da força de vontade de “Sophie” para evitar que o seu amado encontre a destruição.

"Calcifer, o demónio do fogo"

"Review"

Baseado no conhecido romance juvenil de fantasia “Howl's Moving Castle”, de Diana Wynne Jones, “O Castelo Andante” foi responsável por retirar Hayao Miyazaki de um período sabático de 3 anos em que esteve arredado das longas-metragens, desde o colossal êxito “A Viagem de Chihiro”. O mítico realizador de animação japonês foi chamado ao campo de batalha, depois de Mamoru Hosoda, o realizador de duas séries dos Digimon, ter abandonado o projecto. Atendendo ao currículo dos dois cineastas, em boa hora Miyazaki tomou as rédeas desta longa-metragem, dando a possibilidade de o filme ter a dimensão fantástica a que todos nós estamos habituados no que toca às obras do realizador. Que fique bem claro que não estou a fazer nenhum ataque pessoal a Hosoda, ainda para mais quando este realizou há dois anos uma longa-metragem de animação denominada “The Girl Who Leapt Through Time”, que unanimemente tem recebido excelentes críticas, tendo despontado bastante a minha curiosidade (embora infelizmente ainda não a tenha visionado). Mas temos de ser sinceros e realistas, observar “um Miyazaki” é o mesmo que falar de uma película que quase obrigatoriamente terá de estar na vanguarda do que de melhor se faz na animação mundial. Actualmente, e como já referi aqui antes, penso que apenas Satoshi Kon poderá um dia almejar a atingir o estatuto do grande mestre.

Nomeado em 2006, para o óscar de melhor filme de animação, “O Castelo Andante” constitui mais uma maravilhosa obra do realizador japonês, onde estão presentes muitos dos predicados costumeiros das obras de Miyazaki. Existe um mundo hipotético e fantástico (neste caso europeizado), onde reina a riqueza do detalhe. A animação é impressionante, com cenários de uma beleza quase sem par, tanto no que se refere às paisagens como às personagens que compõem o elenco da história. O fascínio do realizador pelas máquinas voadoras é usado e demonstrado ao máximo, sendo catalisado pelos motivos bélicos decorrentes do facto desta película se passar em tempos de guerra. O conflito entre os reinos e as suas motivações geo-políticas são exploradas o suficiente para construir um verdadeiro manifesto anti-violência, embora claramente secundarizado pela história do desenvolvimento pessoal de “Sophie” e do amor entre esta e "Howl", para além de outros aspectos importantes como a amizade com os fascinantes residentes do "castelo andante".

"O cachorro Heen, Markl e Cabeça de Nabo"

A construção das personagens da história, embora não seja totalmente original, dá mais do que para as encomendas, despertando bastante o nosso interesse pessoal. A tímida e nada confiante “Sophie” cai quase instantaneamente nas boas graças do espectador e absolutamente desperta o nosso contentamento quando progressivamente observamos a forma como ultrapassa os seus medos e receios, e torna-se numa heroína com um coração forte, típica dos filmes dos estúdios Ghibli. Aliás, um dos pontos fortes dos filmes de Miyazaki, foi quase sempre possuírem personagens femininas emblemáticas dotadas de características humanas extremamente marcantes, embora díspares entre si. Pense-se, a título meramente exemplificativo, nos casos de “San” e “Lady Eboshi” (“Princesa Mononoke”), “Nausicaa” (“Nausicaa of the Valley of the Wind”), “Chihiro” (“A Viagem de Chihiro”) ou “Kiki” (“Kiki's Delivery Service”). “Howl” igualmente constitui uma personagem extremamente atractiva para o público. Mas quem é que não gosta da ideia do rapaz rebelde, aventureiro, malicioso e fadado a um destino trágico? Junte-se o facto de pressentirmos que uma rapariga simples e com características antagónicas às do jovem irá salvá-lo de si próprio, e já temos uma receita de sucesso. Continuando as interrogações-afirmações, quem é que não gosta de sonhar e libertar o romântico que vive em todos nós (em maior ou menor medida)?

Mas o que realmente dá um “quid” substancial a “O Castelo Andante” é sem dúvida as suas personagens secundárias, que nada devem às principais, a não ser na questão dos minutos. Em primeiro lugar temos o fenomenal “Calcifer”, que constitui o principal “comic relief” da história. No seu perfil muito próprio, o demónio de fogo enternece-nos e ao mesmo tempo arranca-nos risos sinceros, como aqueles que eu dei e testemunhei numa sala repleta do “Saldanha Residence”, em Lisboa, quando tive a felicidade de ver a estreia do filme nas salas do nosso país. No restante, há que contar com “Markl” (não o Nuno!) o rapaz que vê em “Sophie” a figura maternal feminina que parece ser para o petiz uma agradável novidade; “Cabeça de Nabo”, um espantalho que se configura como um verdadeiro protector de “Sophie”; “Heen”, o cãozinho que constitui um importante “sidekick” de “Calcifer” nos momentos mais descontraídos da película e por fim, a “Bruxa do Nada”, que depois de retornar à sua idade real, torna-se numa simpática velhinha (bem, nem sempre!) cuja senilidade granjeia igualmente alguns momentos felizes de comédia.

Apesar de ser considerada por alguns uma das obras menos emblemáticas de Miyazaki, “O Castelo Andante” constitui um dos feitos do realizador que mais colhe a minha predilecção. A doçura do enredo, consubstanciada numa história de amor bem construída e apelativa, aliada a um manancial de personagens de segunda linha do mais elevado quilate (do qual “Calcifer”, o demónio do fogo constitui um sério candidato ao “secundário” mais feliz de todos os filmes do realizador) fazem com que este “O Castelo Andante” mereça constar naquele panteão reservado aos filmes de animação que “tocam” e nunca se esquecem. Quanto às restantes características, já estamos fartos de saber. É “um Miyazaki”, ou seja, qualidade, emoção e deslumbramento garantido! É certo que falta alguma força de outras obras do realizador, mas a “O Castelo Andante” acresce mais alguma coisa que passa pelo “charme”! Esta característica muito se deve à sua aura europeizante (a que com certeza não será alheio a fonte de onde bebe a inspiração), num repertório que chama à memória o estilo dos Irmãos Grimm ou de Hans Christian Andersen.

Ah, já me esquecia! Antes de concluir este singelo texto, cabe referir que sempre se retirará desta excelente obra de animação mais algumas lições de vida para o nosso dia-a-dia, o que é positivo. Sendo assim, esclareça-se que o mais importante é aprendermos a confiar em nós próprios e acima de tudo a aceitarmo-nos, sem perder o norte de que é sempre possível melhorar! “O Castelo Andante” é uma mensagem de esperança para cada um de nós, nos momentos em que parece que não iremos superar as provações da vida, e simplesmente caímos na resignação e no desânimo. Se não nos superarmos, quem o irá fazer? Crianças e adultos aprendam, pois a vida é mesmo assim!

Um "must"!

"Sophie agarra-se a um Howl transfigurado"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cine-Asia, Mulholland Drive, Cinedie Asia, Cine 7, Fanaticine, Anime Max, Cinema 2000, Cine Players (Ed Carlos), Cine Players (Flávio Augusto)

Esta crítica encontra-se disponível igualmente em ClubOtaku

Avaliação:

Entretenimento - 8

Animação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,43




domingo, julho 20, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Tsai Ming Liang

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):

  1. All the Corners of the World (1989)
  2. Boys (1991)
  3. Rebels of the Neon God (1992)
  4. Vive L'Amour (1994)
  5. My New Friends (1995)
  6. The River (1997)
  7. The Last Dance (1998)
  8. Fish, Underground (2001)
  9. What Time Is It There? (2001)
  10. The Skywalk Is Gone (2002)
  11. Good Bye, Dragon Inn (2003)
  12. Welcome to São Paulo- segmento Aquarium (2004)
  13. The Wayward Cloud (2005)
  14. I Don't Want to Sleep Alone (2006)
  15. Chacun Son Cinéma - segmento It's a Dream (2007)


sábado, julho 19, 2008

Curiosidade - Filmes Asiáticos no Top 250 do IMDb

11º Os Sete Samurais - Akira Kurosawa - 8.8

58º A Viagem de Chihiro - Hayao Miyazaki - 8.4

68º Rashomon - Akira Kurosawa - 8.4


113º Oldboy - Park Chan-wook - 8.2

117º Ran - Akira Kurosawa - 8.2

118º Princesa Mononoke - Hayao Miyazaki - 8.2


120º Yojimbo - Akira Kurosawa - 8.2

191º O Tigre e o Dragão - Ang Lee - 8.0


198º O Túmulo dos Pirilampos - Isao Takahata


239º Infiltrados - Andrew Lau e Alan Mak - 8.0








quinta-feira, julho 17, 2008

O Bordel do Lago/The Isle/Seom -
섬 (2000)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 90 minutos

Realizador: Kim Ki-duk

Com: Jung Suh, Kim Yoo-suk, Park Sung-hee, Jo Jae-hyeon, Jang Hang-seon, Kim Yeo-jin, Won Seo

"Hee-jin"

Sinopse

“Hee-jin” (Jung Suh) é uma mulher solitária que dirige uma estância de pesca, num remoto lago sul-coreano. O local tem os seus atractivos próprios, pois os turistas podem pernoitar em cabanas flutuantes, e usufruir dos bens e serviços vendidos por “Hee-jin” que vão desde isco para o peixe, comida, café e até sexo.

"Hyun-shik e Hee-jin, numa das cabanas flutuantes"

Certo dia, “Hee-jin” observa um dos turistas, “Hyun-shik” (Kim Yoo-suk) a tentar cometer suicídio usando uma pistola. A rapariga consegue arrancar-lhe a arma das mãos com um anzol, e a partir daí começa a desenvolver uma estranha obsessão pelo homem. No início começa a resistir aos avanços impulsivos de “Hyun-shik”, mas quando este começa a receber frequentes visitas de uma prostituta, o feitio ciumento e recalcado de “Hee-jin” começa a se revelar.

“Hee-jin” arranja uma maneira de livrar-se da rival e a partir daqui lança-se de corpo e alma num relacionamento amoroso pouco convencional, alicerçado sobretudo em fantasmas do passado. “Hyun-shik” recupera de uma desilusão sentimental portentosa que acabou em tragédia. Por sua vez, “Hee-jin” combate a sua solidão emocional na satisfação dos anseios do seu amante. Sob um fundo natural de sonho, a paixão revela-se de uma forma pouco comum e por vezes grotesca.

"O lago"

"Review"

Para não variar e à semelhança da maior parte dos filmes de Kim Ki-duk, “O Bordel do Lago” (doravante apenas “The Isle”) foi uma película aclamada nos circuitos intelectuais de cinema no estrangeiro. Pelo contrário, no país do realizador, esta longa-metragem foi deveras criticada pela negativa, tendo sido atacada por tudo o que era crítico de cinema doméstico. Tendo feito furor nos festivais de Veneza e Sundance, mesmo assim correm rumores que não terá sido uma película de fácil visionamento para alguns espectadores. Contam-se histórias de pessoas a vomitar ou a desmaiar nas cenas mais mórbidas de “The Isle”, assim como a tapar os olhos ou simplesmente a abandonar a sala de cinema. Mesmo assim, esta longa-metragem viria a ser nomeada para o Leão de Ouro de Veneza, merecendo uma especial menção nesta competição. Mas onde a longa-metragem viria a brilhar mais seria, claro está, no “nosso” Fantasporto – edição de 2001, que nestas coisas, anda sempre muito à frente! Dois prémios e uma nomeação para o melhor filme dariam para que esta película marcasse o conhecido certame português de cinema.

Merecerá “The Isle” uma fama tão grotesca, gerando amores e ódios, dividindo desta forma as opiniões de uns e outros? Bem, a resposta é sim. E porquê?

A primeira ideia a reter acerca de “The Isle” é que estamos perante um género de poesia doentia, pintada com laivos de genialidade. A segunda marca que fica é que esta obra está impregnada de algum exagero chocante, certamente requisitado, que nos aflige sentimentalmente. Isto ajuda a transmitir uma visão diferente e pouco convencional do amor, onde a maioria de nós certamente não se reverá, mas que não deixa de ter uma pujança tremenda. O que de mais fascinante existe no cinema de Kim Ki-duk é o carácter marcadamente pessoal e estimulante das suas obras, que em muito desafia as nossas mentes. Alie-se estas características a uma beleza visual de nomeada, para termos o estilo próprio de um dos melhores realizadores asiáticos da actualidade. O filme é um claro reflexo desta faceta do realizador, e que em obras futuras viria a ser, digamos, mais refinada.

Em “The Isle” somos forçados a nos confrontar com situações que não são de fácil resolução para o comum do espectador, no qual me incluo. Igualmente, deparamo-nos com o lado mais grotesco do desejo e do amor, faceta que admiro do ponto de vista de saber fazer cinema, mas que confesso, não absorve a minha predilecção pessoal. Quando se fala destes sentimentos tão nobres, eu ainda sou daqueles seres mais básicos que gosta de ver um drama bem interpretado, mas que de alguma forma contenha predicados tradicionalistas no sentido de “forçar até certo ponto”. Por esta razão, “The Isle”, com a sua visão crua, e atrever-me-ia a dizer horrenda, da paixão, não é o meu género de romance. Não deixa de ser arte da melhor qualidade, simplesmente não é o meu tipo e pronto! É certo que não se poderá ter uma visão tão redutora, no sentido de considerar esta obra como sendo apenas uma história de amor. As incidências que se passam ao longo do filme, indicam muito mais do que isto, sobretudo pela extrema densidade humana com que tudo nos é apresentado. Mas é inegável que o relacionamento sádico de “Hee-jin” e “Hyun-shik” dominam a trama, e tudo gira à volta deste casal peculiar.

"Hee-jin nas profundezas do lago"

Definitivamente, “The Isle” não é aconselhável para algumas pessoas mais sensíveis, e principalmente para os que possuem uma obsessão pelos chamados direitos dos animais. Existem tratamentos gratuitos para com peixes e rãs que segundo o realizador Kim Ki-duk são mesmo reais. Neste particular, achei algo impressionante a forma como um casal mutila parcialmente um peixe, fazendo “sushi” e a seguir solta-o impunemente pelo lago. Causa algum asco ver o pobre do peixe a nadar, quando deixou um terço de si para trás. Mas pior ainda são os anzóis! Oh, meu Deus os anzóis! Aquando da exibição do filme existem duas cenas que causaram grande controvérsia e que têm a ver directamente com este instrumento tão caro aos pescadores. A que se passou com “Hyun-shik” ainda consegui “engolir” a custo (passe o trocadilho; quem viu a película certamente perceberá), mas a que sucede com “Hee-jin” é simplesmente forte demais. É um caso deveras marcante no domínio da tortura auto-infligida, e que tão cedo não cairá no esquecimento daqueles que tiveram a oportunidade em visionar esta longa-metragem. O que ainda torna estas cenas todas mais marcantes (aqui ressalta verdadeiramente o génio de Ki-duk) é que tudo isto é feito sob os auspícios de um dos mais belos cenários naturais constantes de um filme. Existe uma antítese entre o actuado e o pano de fundo que não está ao alcance de qualquer um. A cena final é bastante sintomática deste aspecto e ao mesmo tempo constitui uma daquelas imagens que tudo explica mas ao mesmo tempo deixa interrogações importantes.

No entanto, não se pense que “The Isle” é um filme de terror. Como já cima foi dito, é um romance cicatrizado de existencialismo. O amor, a paixão e o desejo estão todos lá e em quantidades astronómicas. Simplesmente existem uma pluralidade de situações em que Ki-duk decide efectivamente envergonhar o Marquês de Sade na abordagem que faz a um relacionamento pouco convencional, tornando-o por vezes num sonho e noutras um verdadeiro pesadelo físico e psicológico. Honra seja feita, o objectivo foi conseguido.

O estilo de representação é bastante característico das obras de Ki-duk, com os olhares e os movimentos a sobreporem-se por diversas vezes aos diálogos. Isto é particularmente evidente na representação da actriz Jung Suh, que só por uma única vez se faz ouvir no filme, quando grita de dor que nem uma desalmada (pudera!!!). Contudo, e como já tinha referido aquando do texto acerca de “Ferro 3”, o realizador sul-coreano é um verdadeiro mestre na arte de dirigir os actores, proporcionando que os mesmos se desinibam . A escolha do elenco com certeza também deverá ser criteriosa, pois não é qualquer um que terá estrutura mental e talento para protagonizar as exigentes películas de Ki-duk.

“The Isle” constitui uma obra de inegável mérito no panorama cinematográfico, embora tenhamos de convir que estará longe de gerar consensos, incluindo o meu. Sem margem para dúvida que prefiro as obras posteriores de Ki-duk, em especial a fase pós-2003, com “Primavera (...)” e sucedâneos! A partir desta fase em concreto, o realizador demonstra uma clara maturidade no sentido de provocar a admiração, a miríade de sentimentos, e porque não dizer, o choque, de uma maneira muito mais subtil, mas nem por isso menos efectiva. Na minha opinião pessoal, “Samaritana” até hoje é o seu auge.

A ver com bastante atenção e já agora com algum estômago. No entanto, não nos podemos esquecer que acima de tudo estamos perante um grito de dor, seja físico ou, ainda mais provável, emocional.

"Hyun-shik socorre Hee-jin, como corolário de uma das situações mais chocantes do filme"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cine-Asia

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,88





domingo, julho 13, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Shunji Iwai

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):

  1. Ghost Soup (1992)
  2. Geshi Monogatari (1992)
  3. Fireworks, Should We See It From the Side or the Bottom ? (1993)
  4. Fried Dragon Fish (1993)
  5. Undo (1994)
  6. Picnic (1996)
  7. Swallowtail (1996)
  8. All About Lily Chou-Chou (2001)
  9. Jam Films - segmento Arita (2002)
  10. Hana and Alice (2004)
  11. The Kon Ichikawa Story (2006)


quinta-feira, julho 10, 2008

The Eye - Visão de Morte/The Eye/ Gin gwai -见鬼 (2002)

Origem: Hong Kong

Duração: 98 minutos

Realizadores: Irmãos Pang (Danny e Oxide Pang)

Com: Angelica Lee, Lawrence Chou, Chutcha Rujinanon, Yut Sai Lo, Candy Lo, Yin Ping Ko, Pierre Png, Edmund Chen, Yung Wai Ho, Wilson Yip, Florence Wu, Wang Sue Yuen

"Wong Kar Mun, antes da operação"

Sinopse

“Wong Kar Mun” (Angelica Lee) é uma jovem violinista, que se encontra cega desde os 2 anos de idade e está prestes a fazer uma operação que lhe possibilitará recuperar a visão. A intervenção cirúrgica corre bem, e aos poucos a rapariga, agora com 20 anos, vai-se ajustando a todo um mundo novo que conhecia apenas pelo tacto. Para tanto, é ajudada pelo Dr. “Wah” (Lawrence Chou), um psicólogo especializado em casos como o de “Mun”.

As coisas começam a complicar-se quando “Mun” começa a ver não apenas o mundo normal, mas também pessoas que já faleceram, assim como uma espécie de sombras que predizem sempre a morte de alguém. O Dr. “Wah” de início não acredita nas faculdades de “Mun”, pensando que esta está a viver uma espécie de choque emocional. Contudo, e após uma série de eventos, “Wah” muda de ideias e toma consciência que a rapariga está dizer a verdade.

"Mun e o Dr. Wah"

“Wah” vai consultar o seu tio “Lo” (Edmund Chen), o médico que operou “Mun” e explica-lhe a situação. “Lo” como seria de esperar, fica incrédulo perante a situação e desaconselha o sobrinho a embrenhar-se mais no caso. No entanto perante a insistência de “Wah”, acaba por revelar quem foi o dador dos olhos.

“Wah” viaja com “Mun” até a Tailândia em busca da família de “Ling” (Chutcha Rujinanon), a dadora que se suicidou devido a um evento trágico. Aí conseguirão efectivamente obter as explicações para os eventos estranhos e macabros que se sucedem com “Mun”.

"A sombra da morte"

"Review"

Vencedor de oito prémios em certames de cinema, entre os quais o atribuído à melhor fotografia em “Sitges”, “The Eye” constitui porventura um dos mais bem sucedidos filmes de terror asiáticos de sempre, tendo direito a duas sequelas, e a dois “remakes”. Dois “remakes”? Então não era só aquele “made in Hollywood”, que teve na estonteante Jessica Alba a actriz principal ?! Pois fiquem a saber que três anos antes, em 2005, os indianos haveriam de fazer a sua versão do filme, intitulada “Naina”. Surpreendidos? Acreditem que é bastante recorrente na Índia, principalmente em “Bollywood”, aproveitar-se um pouco das ideias alheias e adaptá-las cinematograficamente aos seus gostos e costumes.

O argumento de “The Eye” teve parcialmente inspiração numa história verídica, conforme podemos nos aperceber no início do filme e por declarações proferidas pelos próprios irmãos Pang aquando da realização desta obra. Pelos vistos, 13 anos antes da realização do filme, Danny e Oxide leram num jornal uma notícia acerca de uma rapariga que tinha feito um transplante das córneas e que se tinha suicidado pouco tempo depois. Os manos, nas palavras de Oxide, pensaram sempre o que teria sucedido no hiato temporal que decorreu entre a reacção da jovem quando se apercebeu que poderia ver, até ao momento em que pôs termo à vida. Com uma imaginação profícua, estava dado o mote para a construção da trama, escrita igualmente pelos realizadores com o auxílio do produtor e argumentista Jo-Jo Yuet Chun Hui. No género de terror, a escolha do tema foi feliz (embora longe de ser original) e consegue o seu propósito perturbador. De facto, passarmos da tremenda angústia de não possuirmos o sentido da visão, até ao completo desnorteio mental provocado pela observação de decessos e quase-decessos, é um campo extremamente apelativo para o segmento onde a película se insere. A “habilidade” em ver pessoas mortas não é propriamente uma novidade para nós, atendendo à existência de um filme denominado “O Sexto Sentido”, de M. Night Shyamalan, em que uma criança interpretada por Haley Joel Osment vivia numa angústia permanente por deter esta capacidade incomum. “The Eye” não perde tempo em criar uma aura que rodeia o espectador, torturando-o até ao primeiro “show off” espírita. Enveredando pelo diapasão “a melhor defesa é o ataque”, e após uns dez, quinze minutos de filme, os irmãos Pang começam a desfilar um cortejo de espíritos cujo principal objectivo é debitar um concurso para ver qual das aparições assusta mais. Como já mencionei aqui antes, a propósito de outros textos relacionados com películas de terror asiático, eu não sou homem de me impressionar bastante com fantasmas e afins. Mas amigos, e aqui faço uma confissão, dei um semi-pulo do sofá e o meu corpo estremeceu um pouco na cena em que “Mun” está a aprender caligrafia (adeus masculinidade...)! Aquele confrontar em que o espírito grita veementemente “porquê que estás sentada na minha cadeira?!”, pôs-me um tanto ou quanto desconfortável... A foto consta neste “post”, e é um pouco elucidativa. Reconheço que constitui um “spoiler”, mas perdoem-me, não resisti. A minha consolação é que a maior parte das pessoas que visita este espaço, com certeza já deve ter posto os olhos nesta película.

"Ling depara-se perante a tragédia"

O elenco não faz uma interpretação digna de registo com a excepção da actriz Angelica Lee, (o mérito da nota do sub-item “Interpretação” é toda dela). A actriz, que não era assim tão experiente à altura, representa de uma forma quase brilhante a personagem de “Mun”. Verdadeiramente conseguimos sentir o seu medo e desespero. Ao mesmo tempo admiramos a honestidade com que as suas emoções são destiladas perante os nossos olhos (não sei porquê, mas acho que é melhor evitar a menção a “olhos” neste texto), fazendo com que o que nos é transmitido se afigure como algo genuíno. É pena que o restante “cast” não esteja à altura, e por essa razão um possível “9” teve, em nome de alguma justiça, baixar para “8”. Lawrence Chou (o actor que interpreta o Dr. “Wah”, companheiro de “Mun”) é quase um erro de “casting”, e esta premissa assume mais acuidade quando o mesmo surge acompanhado nas cenas com Angelica Lee.

Escusado será dizer que pela notoriedade que a longa-metragem alcançou, "The Eye" é obrigatório para qualquer amante do terror asiático. Igualmente constitui a prova viva que os bons filmes do género não são exclusivos do Japão ou da Coreia do Sul. É certo que não atingirá o nível de “Ringu”, e muito menos de “A Tale of Two Sisters”. Contudo, constitui um marco do seu segmento que nos faz pensar duas vezes antes de entrar num elevador, passear à noite num corredor de um hospital e principalmente sentar-se na cadeira predilecta de uma aluna de caligrafia que se encontra morta e "incorporada" num espírito bastante susceptível...brrr!

Com interesse, mas de preferência a ver durante o dia e já agora que seja um com bastante sol e claridade! Afinal, nem todos têm um coração forte...Se pelo contrário, chamarem à colação a adrenalina, ideal para uma noite negra como o breu!

"Sai da minha cadeira!!!"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cinedie Asia, Cine-Asia, Cine Players, 7ª Arte, Boca do Inferno

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,63





sábado, julho 05, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Ang Lee

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar.):

  1. Pushing Hands (1992)
  2. The Wedding Banquet (1993)
  3. Eat Drink Man Woman (1994)
  4. Sense and Sensibility (1995)
  5. The Ice Storm (1997)
  6. Ride with the Devil (1999)
  7. Chosen (2001)
  8. Hulk (2003)
  9. Brokeback Mountain (2005)
  10. Lust, Caution (2007)

quinta-feira, julho 03, 2008

Fighter in the Wind/Baramui Fighter -
바람의 파이터 (2004)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 121 minutos

Realizador: Yang Yun-ho

Com: Yang Dong-kun, Aya Hirayama, Masaya Kato, Jeong Tae-woo, Jung Doo-hong, Park Seong-min, Lee Han-garl, David Joseph Anselmo, Michael Frederick Arnold

"Choi Bae-dal, que mais tarde seria conhecido no Japão por Masutatsu Oyama"

Sinopse

Durante o ano de 1939, “Choi Bae-dal” (Yang Dong-kun) é um pugilista sul-coreano que viaja até ao Japão, com o sonho de ir para a escola de aviação imperial, tendo em vista se tornar num piloto de um caça. Contudo, as suas expectativas saem frustradas, pois “Bae-dal” é metido num programa de kamikaze. Recusando-se a voar num avião para a morte, é condenado a ser fuzilado por desobediência. É aqui que “Bae-dal” conhece “Kato” (Masaya Kato), um oficial do exército japonês, que o desafia para um combate, vencendo-o por larga margem.

"Yoko e Bae-dal"

“Bae-dal” é libertado e vive de biscates nas ruas de um país agora ocupado pelos vencedores da guerra no Pacífico, os norte-americanos. No desenvolver da sua actividade, arranja problemas com a yakuza, e em vias de perder mais uma luta, é salvo por “Beom-su” (Jung Doo-hung), um mestre de artes marciais sul-coreano. Este toma “Bae-dal” como seu discípulo, e ensina-lhe a sua técnica, tentando-o tornar num lutador justo e honrado. Posteriormente, “Beom-su” é morto num reencontro com a yakuza e “Bae-dal”, despeitado, vinga o seu mestre.

Triste com o sucedido, e apesar de amar “Yoko” (Aya Hirayama), “Bae-dal” retira-se para as montanhas e treina arduamente, com o propósito pessoal de se tornar o melhor lutador do mundo de artes marciais. Tempos depois, “Bae-dal” começa a dar nas vistas, ao vencer os melhores combatentes japoneses de Karate. No entanto, “Kato”, agora presidente da associação de artes marciais do Japão, tudo fará para não permitir que um sul-coreano humilhe as tradições ancestrais do seu país.

"Kato, o defensor da tradição nas artes marciais japonesas"

"Review"

“Fighter in the Wind” é baseado numa personagem verídica, visando contar a história do sul-coreano Choi Bae-dal, um famoso lutador que emigrou para o Japão por alturas da II Guerra Mundial. Aqui somos convidados a acompanhar o homem na sua juventude, quando desenvolve o estilo de karate conhecido como Kyokushin, que o possibilita derrotar por todo o Japão os melhores mestres de artes marciais. Bae-dal viria a mudar o seu nome para Masutatsu Oyama, e subsequentemente tornar-se-ia numa verdadeira lenda.

Não pensem que estamos perante uma película que visa ser um registo biográfico fiel da vida de “Bae-dal”. Sendo baseado numa manga de Ikki Kajiwara intitulada “Karate Baka Ichidai”, “Fighter in the Wind” pretende ser uma homenagem ao lutador, que vive sob o signo da espectacularidade visual e dos combates. Mesmo assim, a “manga” foi adulterada pelos laivos nacionalistas, que explicarei mais abaixo no que consistem na minha opinião. De certa forma, somos confrontados com um filme que possui uma aura semelhante a “Fearless”, de Ronny Yu (será mais correcto dizer o contrário, pois “Fearless” foi realizado dois anos após “Fighter in the Wind). Tal comparação fará sentido, tendo em conta que ambas as obras visam expôr uma história verídica, embora altamente romanceada, acerca de uma personagem que partindo de uma situação pessoal trágica, torna-se numa lenda das artes marciais. Em ambos os casos, fazendo com que o seu estilo e ensinamentos fossem difundidos pelo mundo inteiro, transformando o homem em lenda. O espectro trágico de “Bae-dal” ainda é mais acentuado pela sua aparência. Com roupas de combate esfarrapadas e o cabelo comprido mas completamente desarranjado, o herói parece um verdadeiro maltrapilho das artes marciais, cuja aparência infunde tudo menos respeito.

Existe desde logo à partida um tema que é bastante recorrente em vários filmes sul-coreanos, e que aqui já foi por algumas vezes abordado. Trata-se da vertente nacionalista exacerbada. “Fighter in the Wind” foi das películas sul-coreanas mais criticadas no que concerne a este aspecto. E de facto é preciso reconhecer que os japoneses são retratados mais uma vez como seres orgulhosos, cruéis e inflexíveis, cujo único propósito parece ser atormentar os coreanos o mais que puderem. Só existem praticamente dois elementos nipónicos que se salvam do “bota abaixo”. Um (ou melhor uma) é “Yoko”, o amor de “Bae-dal”, interpretada pela bela actriz Aya Hirayama. Mas mesmo aqui, vemos uma rapariga que é obrigada a lutar imenso contra as convicções e “status quo” dominante, de forma a poder encetar algo semelhante a um relacionamento com o herói da trama. O outro personagem japonês que não é difamado apenas aparece em espírito, nunca em corpo. Trata-se do célebre e lendário samurai Musashi Miyamoto, um renomado espadachim japonês que viveu nos séculos XV e XVI e cujos ensinamentos servem de inspiração para o modo de vida de “Bae-dal”. Outro povo que não escapa à crítica veemente são os norte-americanos. No período de ocupação são vistos como seres estúpidos e delinquentes, que humilham o povo ocupado. Mesmo aqui parece existir uma crítica velada aos japoneses, porquanto os mesmos não parecem ser capazes de defenderem o seu povo, sendo necessário que “Bae-dal” se transforme numa espécie de justiceiro nocturno com a cabeça a prémio, que salva jovens raparigas de serem violadas pelos norte-americanos. Mais uma tentativa de sublimação dos sul-coreanos perante os seus vizinhos e rivais japoneses, de duvidosa verdade histórica.

"Treino sob condições agrestes"

Os combates são do melhor que o filme tem, desenvolvendo-se todos, sem excepção, ao mais alto nível. As lutas são violentas e dotadas de espectacularidade, mas ao mesmo tempo convincentes para quem as visiona. Bem, talvez haja que fazer uma excepção em relação a uma das cenas finais em que “Bae-dal” se confronta com um boi, tentando partir-lhe os cornos. Mas mesmo aí, e fazendo um pouco de pesquisa, parece que uma das habilidades do lutador era precisamente aquela que à partida não acreditamos como muito verosímil. O verdadeiro “Bae-dal” era bastante conhecido por lutar contra os bovinos, e em várias exibições públicas mediu forças com os animais, quase sempre saindo vencedor. No remanescente, e voltando a falar de combates entre humanos, os mesmos são extremamente rápidos, fazendo jus a um dos princípios basilares de “Bae-dal”, a saber, “um golpe, uma vitória”. Mesmo assim, sempre temos direito a um ou outro “slow motion” que nos possibilita tirar partido de movimentos visualmente mais deslumbrantes. Para os fãs de artes marciais será um delírio ver “Bae-dal” pôr o seu Kyokushin a funcionar contra outras variantes de karate, judo e até kendo. Igualmente teremos direito a ver um duelo final emblemático que, não sei porquê, fez-me lembrar o epílogo de “Judo Saga – Sugata Sanshiro”, o primeiro filme que Kurosawa realizou.

O “background” histórico é interessante, tirando um ou outro laivo nacionalista mais impulsivo e de que já falei acima. Embora não constitua um dos elementos fulcrais da história, mas sim o seu pano de fundo, sempre se poderá afirmar que conseguimos compreender alguma coisa das dificuldades do pós-guerra no Japão. As ruas são complicadas, com a criminalidade da yakuza a ditar leis. Os víveres são escassos, e a população vive tudo menos bem. As interpretações situam-se num nível acima da média, sendo Yang Dong-kun um guerreiro contemporâneo (e ao mesmo tempo tradicional) de eleição. Merece igualmente uma palavra especial, o actor e praticante de artes marciais Masaya Kato que, embora limitado a nível de minutos, interpreta um vilão moralista extremamente aceitável. Melhor dizendo, até acabamos por compreender Kato na sua perspectiva de defesa dos bons costumes e da tradição do seu país. Sendo assim, dificilmente poderemos encará-lo como um “mau” convencional. Aya Hirayama cumpre bem, embora reconheça que posso estar a ser influenciado pela sua beleza inocente, singela e acima de tudo cativante.

“Fighter in the Wind” é um filme que valerá bastante a pena espreitar, ressalvando neste raciocínio um ou outro exagero/defeito de pormenor. Ideal para os inúmeros fãs de artes marciais que não vivem apenas para a luta, mas que se interessam igualmente por um argumento bem construído, embora algo incompleto. A cinematografia é lindíssima e o drama bem explorado, ou este não fosse afinal um filme sul-coreano. Como vocês sabem que eu gosto de uma ou outra frase emblemática, e sendo assim, findo desta forma o presente texto citando “Bae-dal”: “Tenho medo de lutar, mas ainda receio mais sobreviver como um aleijado...”

Uma proposta bastante interessante!


"Bae-dal demonstra a sua técnica contra um dos mestres japoneses"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,88