"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

domingo, dezembro 31, 2006

Feliz Ano Novo!!!

À semelhança do que foi feito na semana de Natal, desejo a todos aqueles que visitam este humilde "blog" de cinema asiático, um ano de 2007 repleto de sucessos profissionais e pessoais!!!

Aproveito para puxar a "brasa à minha sardinha" e se tiverem oportunidade de ver o fogo de artifício aqui da Madeira, não o percam porque definitivamente vale a pena!!!

Felicidades para todos!!!


O Mito/The Myth/San wa (2005)

Origem: China/Hong Kong

Duração: 117 minutos

Realizador: Stanley Tong

Com: Jackie Chan, Kim Hee-sun, Tony Leung Ka Fai, Mallika Sherawat, Yu Rong-guang, Choi Min-su, Patrick Tam, Ken Wong, Sun Zhou, Shao Bing, Jin Song, Ken Lo, Hayama Hiro

"O intrépido arqueólogo Jack"

Estória

O general "Meng Yi" (Jackie Chan) é incumbido pelo imperador Qin de receber nas fronteiras do reino a princesa coreana "Ok-soo" (Kim Hee-sun), futura concubina do monarca. O casamento não é bem visto por certas facções dos coreanos, e em virtude deste facto, o general "Choi", antigo noivo de "Ok-soo", ataca a caravana da princesa e o exército comandado pelo general "Meng Yi".

No meio da refrega, o general "Meng Yi" e "Ok-soo" são separados do exército de Qin e encetam uma viagem sozinhos até à cidade imperial. Um sentimento bastante grande começa a desenvolver-se entre os dois o que leva à inevitável paixão.

"A bela princesa Ok-soo"

Nisto somos levados ao presente, onde conhecemos "Jack Lee" (interpretado igualmente por Jackie Chan), um corajoso e bondoso arqueólogo que vive atormentado com uns estranhos sonhos, onde é um general do reino de Qin que se encontra apaixonado por uma das princesas do reino, estando constantemente dividido entre os seus sentimentos e a lealdade para com o imperador.

"Jack", a pedido de "William" (Toni Leung Ka Fai) parte com este para Dasar na Índia, tendo em vista investigar certas partículas de meteorito que desafiam as leis da gravidade, fazendo levitar tanto objectos, como pessoas. O arqueólogo acidentalmente desemboca no início de uma jornada fantástica, que explicará a razão de ser dos seus estranhos sonhos e levará à maior descoberta da história da China!

"O valente e honrado general Meng Yi"

"Review"

Foi com extrema desconfiança que parti para o desafio em visionar "O Mito", atendendo a que não sou nada fã de Jackie Chan, desgostando inevitavelmente de todos os trabalhos do actor. Esclareço desde já que esta asserção não se trata de nenhum ataque pessoal a Chan, nem ao seu trabalho, que é manifestamente incontornável no panorama do cinema asiático. Simplesmente parte do meu próprio gosto cinematográfico, normalmente avesso a comédias, ou a cenas de luta que redondam em extremas palhaçadas, embora com aspectos imaginativos. No entanto, o "trailer" despontou-me a atenção, e o facto de o filme ter Tony Leung Ka Fai e Kim Hee-sun (actores por quem nutro simpatia) como os protagonistas remanescentes, fizeram-me correr o risco de eventualmente dar a nota mais baixa de sempre e fazer a crítica mais malévola do "My Asian Movies".

A verdade é que apanhei uma desilusão pela positiva, se é que tal é possível, e já não pude destronar "Dragon Chronicles..." como a película menos cotada do "blog". "O Mito" é uma agradável surpresa, e constitui ao mesmo tempo o melhor filme que tive a oportunidade de ver com Jackie Chan, superando inclusive a "mítica" saga de "The Legend of the Drunken Master" (fãs dos filmes de "Kung-fu" não me enforquem na praça pública!!!).

Comecemos pelo início.

"O mito" são duas estórias que correm em paralelo. Uma no tempo da dinastia "Qin", que era a parte que eu tinha quase a certeza ser do meu agrado; outra em 2005, aquela que em princípio iria irritar-me e começar a revelar o mau feitio e a intolerância na escrita. Os "flashbacks" são inevitáveis, como é óbvio, mas bem enquadrados, fazendo com que o espectador mantenha-se sempre a par do enredo e não degenere em confusões medíocres. O resultado é uma película que resulta num misto de épico de índole oriental e uma espécie de "Indiana Jones".

"Os apaixonados Meng Yi e Ok-soo"

Uma das coisas que agradou-me de sobremaneira em "O Mito" foi a faceta aventureira que o mesmo comporta, e que nos leva a conhecer diferentes culturas asiáticas, redundando num saudável ecletismo. O desenrolar da acção beneficia imenso com este aspecto, e saúda-se a visão de Jackie Chan e Stanley Tong em dar vida a uma película que nos possibilita apreciar uma falange de actores chineses a trabalhar com os seus pares coreanos e indianos. E o que torna este aspecto ainda mais interessante é o facto de a ciência histórica de cada um dos países de onde proveêm os actores, estar lá, e não serem meros adereços secundários.

Jackie Chan tem uma actuação mais séria do que o normal, e que embora não seja nada digna de prémios e aclamações, fez-me pensar que o actor deveria por vezes apostar em papéis mais sérios, de modo a que possamos apanhar de vez em quando uma "lufada de ar fresco". É claro que as cenas de luta com alguma "palhaçada" à mistura acabam por aparecer, mas são ténues e não desfilam tanta comicidade como o habitual em outros filmes de Chan. As lutas passadas no segmento épico do filme são de boa qualidade, destacando-se o papel e o treino dos cavalos como verdadeiras armas e amigos de batalha.

Kim Hee-sun não aparece assim tanto como eu gostaria, mas sempre que o faz irradia um brilho próprio das grandes estrelas, em que muito ajuda a sua ternura e quase inultrapassável beleza, que nem mesmo a igualmente linda Mallika Sherawat consegue ofuscar. O papel de Tony Leung Ka Fai fez-me ficar algo confuso, atendendo a que estou mais habituado a vê-lo no desempenho de personagens mais sérias e trágicas. Passado o choque, e tentando ser o mais objectivo possível, acaba por ser aceitável.

Os efeitos especiais estão verdadeiramente bons, embora com uma ou outra falha mais evidente. No entanto, o belíssimo trabalho que se faz aquando da aproximação do epílogo, faz com que as prévias imperfeições desapareçam da nossa mente. Caramba, aquele túmulo do imperador Qin e o ambiente em redor estão mesmo bons!!!

Não entendo sinceramente muitas das más críticas feitas a "O Mito". A mim afigura-se que se trata de um filme bastante razoável e agradável de se ver, o que ainda terá mais pertinência quando não é um fã de Jackie Chan que está a proferir esta afirmação.

Aconselho vivamente!

"Jack reencontra a princesa Ok-soo no fabuloso túmulo do imperador Qin"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cineasia, Rascunhos, Cinema ao Sol Nascente

Avaliação:

Entretenimento - 9

Interpretação - 7

Argumento - 8

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8







terça-feira, dezembro 26, 2006

One Nite in Mongkok/Wong gok hak yau (2004)

Origem: Hong Kong

Duração: 110 minutos

Realizador: Derek Yee

Com: Cecilia Cheung, Daniel Wu, Alex Fong, Chin Kar, Ken Wong, Anson Leung, Lam Chi, Ng Shui, Cyntia Ho, Sam Lee, Lau Shek, Lam Suet, Henry Fong, Elena Kong, Bau Hei, Peng Wai, Austin Wai, Monica Chan, Cha Yuen

"A prostituta Lan Dan Dan"

Estória

"Milo" (Alex Fong), um polícia de Hong Kong, vê-se envolvido num intrigante caso, que ocorre na noite de Natal. Tudo começa quando dois líderes de tríades locais, "Tim" e "Carl", se envolvem num conflito devido à morte do filho de "Tim", num acidente de carro provocado pelo filho de "Carl".

"Tim" fala com "Liu", encomendando-lhe o assassinato de "Carl". "Liu" por sua vez contacta "Lai Fu" (Daniel Wu), um assassino de um remoto lugar da China, que aceita o trabalho, vendo neste uma oportunidade para deslocar-se a Hong Kong e descobrir a sua noiva com quem perdeu contacto há algum tempo. "Milo", através de um informador, descobre o plano e começa a desenvolver esforços para impedir o homicídio.

"Dan Dan em fuga com o assassino Lai Fu"

Entretanto, o assassino "Lai Fu" chega a Hong Kong, e após algumas peripécias, trava conhecimento com a prostituta "Lam Dan Dan" (Cecilia Cheung), uma rapariga que provém da mesma terra do que ele. "Dan Dan" torna-se a guia de "Lai Fu", no estranho mundo de Mongkok, uma zona de Hong Kong. Ela age desta forma, como agradecimento a "Lai Fu" por tê-la salvo de um cliente que a estava a agredir.

O que se segue é uma cruzada pelos mais recônditos cantos de Mongkok, onde todos são predadores e presas, e o crime é um modo normal de vida.

"A brigada da polícia"

"Review"

Com um título muito semelhante a um sucesso musical dos anos 80, chamado "One Night in Bangkok", da autoria de Murray Head, este filme tem como pano de fundo o segmento citadino de Hong Kong chamado Mongkok. A fonética inglesa muito semelhante entre a capital tailândesa e o bairro da antiga colónia britânica, foi suficiente para a sugestiva designação da película. No contexto do filme, refere-se ao nome atribuído à operação policial, que visa impedir o assassino "Lai Fu" cumprir o trabalho que lhe foi encomendado.

Falando agora de Mongkok, cumpre dizer em primeiro lugar que é considerado o local com maior densidade populacional do mundo, situando-se no distrito de Yau Tsim Mong, na península de Kowloon. Trata-se de um pequeno mundo, cheio de lojas, bares, discotecas, hotéis, restaurantes, e muitos outros locais de diversão. Igualmente é conhecido por ser um local por excelência de grande actuação da máfia chinesa, conhecida como tríade. Curiosamente, ou não, o seu nome significa qualquer coisa como "lugar movimentado".

Feitas estas pequenas observações, passemos ao filme propriamente dito.

"One Nite in Mongkok", ou se preferirem, "One Night in Mongkok", é um "thriller" que versa sobre o crime contemporâneo, que "trilha" os seus caminhos por uma área urbana propícia a que muita da alta criminalidade organizada aconteça, com todos os dramas pessoais inerentes.

Apesar de grande parte desta longa-metragem centrar-se na relação entre o assassino "Lai Fu" e a prostituta "Dan Dan", Derek Yee pretendeu sobretudo focar a vivência do crime em Mongkok e os seus muito perigosos trâmites operativos. Por outra via, a estória envereda pelo lado oposto da barricada, com uma generosa abordagem ao "modus operandi" da polícia, igualmente com os seus pontos altos e fragilidades evidenciadas.

"Lai Fu muito mal tratado perante o desespero de Dan Dan"

O tratamento pessoal dado aos intervenientes da estória merece mais alguma consideração.

Cecilia Cheung, numa actuação bem conseguida, dá corpo a "Dan Dan" (embora não saiba uma palavra do dialecto de Hong Kong, cheira-me que este nome tem uma conotação não aconselhável a menores de 14 anos) uma emigrante chinesa ocasional, que envereda pela prostituição devido à extrema pobreza da sua família. Revela tanto ser dotada de um coração de ouro, como uma verdadeira mulher objecto, extremamente apegada a bens materiais. No entanto, e com o progressivo conhecimento que tem de "Lai Fu", esta sua faceta é bastante posta de parte. A redenção, aliada à tragédia pessoal, acaba por chegar.

Daniel Wu, que pudemos observar recentemente em "The Banquet" de Feng Xiaogang, interpreta "Lai Fu", um violento assassino que ao mesmo tempo detém um elevado sentido de justiça e moralidade, quando se trata daqueles que lhe são próximos. Ficamos um pouco na expectativa se cederá aos encantos de "Dan Dan", principalmente quando ela oferece-lhe os seus serviços sem cobrar nada e como forma de agradecimento. Não cede, mas nem por isso deixamos de nos aperceber o quão querida "Dan Dan" se lhe torna, levando inclusive à sua ruína pessoal.

Uma palavra de apreço para Alex Fong, no papel de "Milo", o chefe da brigada policial. Trata-se de um homem consumido pelo abandono da esposa, devido ao seu muito ocupado ofício. No entanto, vive da e para a polícia, nunca descurando "o servir e proteger". Contudo, não olha a meios para proteger os seus colegas, mesmo que para isso tenha de cometer delitos. Tenta sempre dar o exemplo aos mais novos, como o seu camarada "Ben", o novato do sítio. Consome-se pela tragédia, pois nem olvidando todos os esforços, consegue evitar o excessivo voluntarismo do jovem.

A direcção de Derek Yee é de um nível bastante aceitável, fazendo não só esforços a nível da condução da estória e dos actores, mas igualmente no campo da fotografia e dos efeitos que acentuam os sentimentos das personagens. Repare-se, a título de exemplo, na expressão do filho de "Carl", aquando da perseguição de automóvel ao filho do "gangster" "Tim". Aquela face maquiavélica e adulterada não sairá da minha cabeça durante algum tempo...

Hong Kong significa "doce fragância". A personagem de Cecilia Cheung afirma algumas vezes, que o ar encontra-se demasiado poluído naquela região administrativa chinesa. A frase tem óbvios contornos ambíguos e idealistas, à semelhança do remanescente do filme.

Uma boa proposta!

"Em Mongkok, a violência por vezes é uma constante"

Trailer , The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cinedie Asia, A vida

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 7,75







domingo, dezembro 24, 2006

Feliz Natal!!!

O "My Asian Movies" deseja a todos os seus visitantes um feliz e santo Natal, cheio de paz, amor e muitas coisas boas, tais como um belo de um bacalhau com batatas, carne vinho e alhos ou "vinha d'alhos" (prato tradicional do arquipélago da Madeira, muito consumido nesta época), ou então um belo de um "sushi" se preferirem! Já agora tudo bem regado com um excelente vinho tinto, de preferência alentejano (Tapada do Chaves é uma excelente escolha), e um belo de um "Jameson" depois da refeição, eh, eh, eh!

Permitam-me particularizar e enviar um abraço especial para o blog do Bruno Côrte, todos os colegas da Câmara Municipal do Funchal, o blog do Ingénuo, o "Pitas da Universidade", Ralis.net, Rod Costa e Cineasia.

Bem hajam!!!


domingo, dezembro 17, 2006

Casshern (2004)

Origem: Japão

Duração: 142 minutos

Realizador: Kazuaki Kiriya

Com: Yusuke Iseya, Kumiko Aso, Akira Terao, Kanako Higuchi, Fumiyo Kohinata, Hiroyuki Miyasako, Jun Kaname, Hidetoshi Nishijima, Mitsuhiro Oikawa, Susumu Terajima, Hideji Otaki, Tatsuya Mihashi, Toshiaki Karasawa, Mayumi Sada

"Tetsuya e Luna nos bons tempos"

Estória

Num futuro distante, o grande império asiático domina a Europa após uma prolongada guerra, de onde resultaram consequências nefastas tais como a fome, a poluição e o terrorismo.

O Dr. "Azuma" está prestes a desenvolver uma das maiores descobertas da história da humanidade, o que ele chama de neo-células. O especial neste tipo de células é que podem reconstruir qualquer parte do corpo, por mais seriamente danificada que esteja. A principal motivação na pesquisa de "Azuma" não é tanto o bem geral da humanidade, mas sim descobrir uma cura para a estranha doença que afecta a sua esposa. O projecto é liminarmente rejeitado pelo ministério da saúde, mas secretamente acaba por ser apoiado pelo ministério da defesa, que vê aqui grandes potencialidades a nível militar.

Entretanto "Tetsuya", o filho de "Azuma", decide ir combater na guerra que presentemente se desenvolve contra os rebeldes que lutam contra o império asiático, mas depressa se arrepende devido ao grande sofrimento e dor que lhe é dado a assistir. Acaba por morrer numa batalha, e o seu corpo é enviado de volta para a família.

"Casshern"

Aquando do funeral de "Tetsuya", um relâmpago atinge as instalações onde se situa o laboratório do Dr. "Azuma", e vários mutantes começam a emergir do líquido onde estão concentradas as neo-células. A maior parte é morta pelo exército, mas um pequeno grupo consegue evadir-se. No meio da confusão e da luta reinante, "Azuma" retira do caixão o corpo do seu filho, e banha-o no líquido das neo-células, conseguindo desta forma dar-lhe vida outra vez.

"Tetsuya", apesar de ressuscitado, possui um corpo altamente instável. Por essa razão, o pai de "Luna", a namorada do rapaz, constroi uma armadura que é capaz de controlar os incríveis poderes de "Tetsuya", para além de lhe conferir outros. Nascia "Casshern".

Os mutantes que conseguiram escapar à morte, juram vingança sobre toda a raça humana e formam um grupo conhecido como os "Neo-Sapiens". Uma violenta guerra começa entre as duas raças, e apenas "Casshern" terá o poder para por termo ao conflito e salvar a sua mãe "Midori", que se encontra no poder dos mutantes.

"O exército dos Neo-Sapiens ao ataque"

"Review"

Baseado num "anime" intitulado "Shinzo Ningen Casshân", "Casshern" é acima de tudo um filme único no que toca à produção. Foi quase inteiramente filmado tendo por pano de fundo um ecrán de cor verde, e todos os incríveis e extremamente futuristas cenários foram adicionados já na fase da pós-produção.

O mundo de "Casshern" é feito de ódio e luta pelo poder. O "background" da estória extasia-nos e faz-nos entrar completamente numa outra dimensão, a que não é alheia a muito bem feita banda-sonora, composta mais de sons que combinam extremamente bem com as cenas, do que propriamente temas inteiros que nos ficam na cabeça. Não existem aqui "hit songs", outrossim permanecem sempre aqueles sons fantasmagóricos e futuristas, por vezes violentos, outras vezes incrivelmente tristes e melancólicos.

Os cenários e as máquinas de guerra são simplesmente fabulosos, e contribuem para a tão propalada entrada do espectador num planeta à parte. As máquinas voadoras e o seu "design" trouxeram-me logo à memória as usadas em tantos filmes de Miyazaki, atendendo à incrível semelhança que detêm com as que são profusamente vistas nos filmes deste génio do cinema. A diferença principal e determinante para nos fazer apreciar ainda mais este aspecto, passa por "Casshern" não ser um "anime", embora tenha forçosamente de ser reconhecido que existe uma grande atmosfera de animação presente.

"A pós-modernista cidade de Casshern"

Mas na realidade o que faz de "Casshern" um filme tão único e tão belo?

É que é raríssimo uma película com efeitos especiais tão bons e visualmente tão bela, secundarizar estes aspectos em detrimento do argumento, e sobretudo da forte mensagem político-ideológica e sentimental que tenta passar. E estamos a falar de um campo que é extremamente difícil de ser bem sucedido, mas o realizador Kazuaki Kiriya assumiu o desafio, e venceu-o esmagadoramente. O espectador atento e mais sensível, começa por ficar abismado com toda a beleza visual de "Casshern", mas quando se apercebe da envolvência humana que rodeia a longa-metragem, depressa põe a estética em segundo plano e concentra-se no que realmente interessa.

Existe uma combinação de filosofia e dilemas humanos, que desembocam em questões tão prementes como o ódio gerar o ódio, o racismo e a xenofobia, a poluição e muito mais, sendo estes problemas bastante actuais. "Casshern" dá-nos uma perspectiva do que pode ser o futuro, se não mudarmos estes comportamentos selváticos e sem sentido nenhum numa sociedade civilizada. Mas aqui não se limita a pensar no problema em termos globais. Aprofunda-se estes paradigmas de tal forma, combinando-os com as tragédias pessoais das personagens que compõem o filme. E já agora, os actores estão francamente de parabéns, pois todos, mesmo todos, sem distinção nenhuma, oferecem-nos interpretações de elevada qualidade.

Kazuiya Kiriya, com um orçamento de apenas seis milhões de dólares, oferece-nos um filme inesquecível, que se consubstancia numa verdadeira fábula messiânica, sendo raro vermos hoje em dia uma película deste género que apresente tão bons resultados. Quando tive o enorme prazer de visionar "Casshern", só me lembrava de quão tolo fui em até apreciar "Sky Captain and the World of Tomorrow". É como estar a comparar um Ferrari com um qualquer utilitário.

Um filme que apesar de enveredar pelo futurismo, manteve uma identidade una e indivisível. Vejam ou arrependam-se!

"O ressuscitado líder dos Neo-Sapiens"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras Críticas em português: Cineasia, C7nema, Nem todos são arte, Bitlogger, Cinema ao Sol Nascente, Axasteoquê?!?

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 9

Argumento - 9

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,38





sábado, dezembro 16, 2006

Arahan: Acção Urbana de Artes Marciais/Arahan: Urban Martial Arts Action/Arahan jangpung daejakjeon (2004)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 113 minutos

Realizador: Ryu Seung-wan

Com: Ryu Seung-beom, Yoon So-yi, Ahn Sung-kee, Jung Doo-hong, Yun Ju-sang

"Sang-wan"

Estória

Numa cidade moderna da Coreia do Sul dos nossos dias, um ladrão furta uma carteira a uma transeunte, fugindo em seguida numa mota. Mal sabe ele que está a ser observado do alto dos arranha-ceús, por uma bela jovem chamada "Eui-jin". Impressionantemente a rapariga começa a saltar de edifício para edifício, com uma franca naturalidade. O delinquentemente igualmente começa a ser perseguido por um polícia idiota chamado "Sang-wan". Quando o agente da autoridade finalmente alcança o ladrão, depara-se igualmente com "Eui" que bloqueia o caminho ao fugitivo. A rapariga fazendo uso das suas incríveis habilidades em artes marciais, recorre à técnica conhecida como "rajada de vento", mas em vez de acertar no criminoso, atinge em cheio "Sang" que cai inconsciente.

"Sang" acorda na casa do pai de "Eui", um dos remanescentes 5 membros de um grupo conhecido como "Os Sete Mestres", que constituem os guardiões de "Arahan", o último estado de transcendência, onde nada mais há a aprender. "Os Sete Mestres" procuram incessantemente pelo "Maruchi", um mestre supremo a quem possam transmitir o segredo de "Arahan", mas enfrentam extremas dificuldades, pois hoje em dia ninguém quer saber do "Tao" ou do "Chi", as energias cósmicas que fazem mover o mundo e todos os seres vivos.

Acreditando que o jovem polícia tem um "Chi" extremamente poderoso, os mestres decidem treiná-lo nas artes marciais e ensinar toda a filosofia que as suporta."Sang" por seu lado acha toda esta estória ridícula e recusa a oferta que os mestres lhe fazem, voltando à sua vida normal.

Posteriormente o polícia é humilhado por uns "gangsters", ficando irritado pela sua fragilidade física e impotência em responder a este tipo de ataques que em muito atrapalham a sua profissão. Por via disto, decide ir ao encontro dos mestres para que estes lhe ensinem a técnica da "rajada de vento", começando assim um treino intensivo.

Entretanto uns operários da construção civil, aquando da escavação de um túnel, encontram uma câmara antiga que se encontra selada. Quando a abrem, apanham um grande choque pois está um homem vivo lá dentro. A pessoa é nada mais, nada menos que "Heng-hu", um dos "Sete Mestres" que foi banido há centenas de anos atrás. "Heng" inicia a sua busca pela chave de "Arahan" que lhe permitirá controlar o mundo, atacando para o efeito cada um dos seus cinco companheiros.

Apenas "Sang" e "Eui" lhe poderão fazer frente!

"Eui-jin"

"Review"

A nível de argumento, "Arahan" pouco nos traz de novo. Existe um jovem que tem uma vida infeliz, mas que igualmente possui habilidades extraordinárias que desconhece em absoluto; um mestre que procura alguém a quem possa transmitir o seu fardo pessoal; um vilão que tudo faz para conseguir o seu objectivo. E também como não podia deixar de ser, um relacionamento amoroso, que na maior parte dos filmes do género despreza quese em absoluto o contacto físico.

"Sang-wan" constitui uma personagem chata como tudo, e que só apete bater. Faz lembrar aqueles colegas chatos, que se queixam constantemente sobre tudo e nada fazem para mudar alguma coisa. Nem sequer nos esforçamos para ter pena dele. Um clássico "tótó"! Claro que quando o rapaz finalmente aprende as artes marciais, e começa a distribuir uma valente carga de "porrada", lá começamos a ficar mais próximos do rapaz.

"Eui-jin" é possuidora de um grande "sex appeal", e transparece aquele ar de má que nenhum "macho" que se preze consegue ficar indiferente! A interpretação é no geral bem conseguida, embora não muito interventiva. Existe uma cena em que "Sang" vislumbra um bocado da pele de "Eui", quando ela veste o seu "kimono" de treino, e a rapariga vira-se e sai-se com a frase "Wanna die?". Não vos faz lembrar nada? De certeza? Vejam então o que Jun Ji-hyun está constantemente a dizer em "My Sassy Girl"!

As lutas seguem a tradição de "The Matrix" e "Volcano High", com grandes voos e paragens em "slow motion" para que possamos apreender e ficar maravilhados com os golpes aplicados. Muito bonito de se ver sim senhores, mas nada de inovador é apresentado. O mesmo não se poderá dizer das frenéticas corridas e saltos entre os arranha-céus, em que confesso, fiquei deslumbrado, principalmente naquela parte em que "Eui" começa a correr pelas janelas de um prédio enorme, como se estivesse simplesmente a dar um passeio pela estrada.

"Os pupilos a receberem instrução do mestre Ja-woon"

"Arahan" é um filme igualmente possuidor de bastante comédia. Em geral as cenas deste género são muito engraçadas, conseguindo arrancar alguns risos ao espectador. "Parti-me" completamente com a ida de dois dos cinco mestres a um programa de televisão, tendo em vista a exibição das suas capacidades. Os meus olhos chegaram a lacrimejar!!! Como não sou por natureza um grande apreciador de comédia, imagino que estas cenas ainda tenham um efeito mais intenso naqueles que verdadeiramente o são.

Apesar de não ser um filme sério por natureza, existe uma grande mensagem ideológica que pode ser extraída de "Arahan". Alguns bons e velhos costumes estão a ser perdidos pelas novas gerações, nas quais ainda me incluo, e que urge recuperar. Esta é uma ideia que eu concordo plenamente, principalmente quando se tratam de valores como o respeito, a honra e a dignidade!

"Arahan" é um filme "normalzito", sem brilho absolutamente nenhum, salvo um ou outro pormenor. Entretém bastante, sendo ideal para ver num Domingo à tarde, em que só nos apetece estar em casa e não pensar praticamente acerca de nada.

"Luta contra o vilão Heng-hu"

Trailer, Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português: Cinedie Asia, C7nema

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 6

Guarda-roupa - 7

Emotividade - 7

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 6

Classificação final: 7






segunda-feira, dezembro 04, 2006

Votação
Qual ou quais os filmes asiáticos que serão nomeados na categoria de "Óscar para melhor filme estrangeiro"

Provavelmente a questão não será muito difícil de responder, pois à partida o filme asiático que terá melhores hipóteses de chegar aos últimos 5 será "The Curse of the Golden Flower", por razões mais ou menos óbvias. Isto não quer dizer que este filme seja o melhor dos que estão na pré-selecção. Aliás ainda nem o vi, portanto não poderei opinar por enquanto. Mesmo assim nunca se sabe, e até poderão ser nomeados mais do que um, embora tal seja muito improvável atendendo à tradição da academia. Cliquem aqui e toca a exercer o vosso direito à livre expressão!!!


The Banquet/Ye Yan (2006)

Origem: Hong Kong

Duração: 131 minutos

Realizador: Feng Xiaogang

Com: Zhang Ziyi, Daniel Wu, Ge You, Zhou Xun, Ma Jingwu, Huang Xiaoming

"A imperatriz Wan, interpretada por Zhang Ziyi"

Estória

No período conhecido como o das "5 dinastias, 10 reinos", a imperatriz "Wan" esteve em tempos apaixonada pelo principe herdeiro e actualmente exilado "Wu Luan", mas um acaso do destino fez com que se casasse com o imperador, o pai da sua paixão. Pouco tempo depois, o imperador e pai de "Wu Luan" morre em circunstâncias misteriosas.

Corre o boato que a culpa da morte do imperador é do irmão chamado "Li", que o sucede, tornando-se soberano. "Li" propõe a "Wan" que seja a sua mulher, o que esta aceita por forma a continuar imperatriz do reino. O usurpador sente-se ameaçado pela existência do sobrinho "Wu Luan" e envia um grupo de assassinos para matá-lo, de maneira a que este não possa reclamar o trono. A imperatriz "Wan" descobre os planos do actual imperador e por sua vez contacta com o governador "Yin", tendo em vista que o nobre proteja "Wu Luan". Os intentos do imperador saem frustrados pois os guerreiros de "Yin" conseguem cumprir a sua missão.

"O principe Wu Luan (Daniel Wu) em dificuldades"

"Wu Luan" retorna ao palácio imperial em segurança, a tempo de aperceber-se que o tio usurpou o trono que devia ser seu por direito. Igualmente depara-se com "Qing", uma rapariga que jurou amá-lo para sempre, mas que tarda a ser correspondida devido aos sentimentos que "Wu Luan" porventura ainda nutre pela imperatriz "Wan".

Previsivelmente, o imperador "Li" fica bastante importunado pela presença de "Wu Luan" no palácio, e faz tudo para afastá-lo de cena, desde tentar novamente assassiná-lo até inclusive forçá-lo a mais um exílio. "Li" no entanto tem mais problemas com que se preocupar. Existem súbditos que pensam que ele é um traidor e que não tem direito absolutamente nenhum ao trono, e começam a maquinar estratagemas para depô-lo.

Entretanto, o papel de "Wu Luan" mantém-se uma verdadeira incógnita. Assumirá ele uma verdadeira postura no sentido de recuperar o trono e vingar o pai? Optará pela imperatriz "Wan" ou pela jovem nobre "Qing"? Terá a imperatriz "Wan" os seus próprios desígnios pessoais?

Estas e outras respostas serão dadas num banquete que o imperador "Li" convoca para a meia-noite, em que toda a corte é obrigada a marcar presença, sob pena de execução...

"O imperador Li (Ge You), o usurpador"

"Review"

"The Banquet" constitui a proposta de Hong Kong para o óscar na categoria de "Melhor Filme Estrangeiro", estando neste momento na pré-selecção para se chegar aos cinco nomeados. No que toca ao cinema asiático e a título meramente exemplificativo, encontram-se igualmente na extensa lista "The Curse of the Golden Flower" (China) e "The King and the Clown" (Coreia do Sul).

Desde logo se avisa o estimado leitor para não estar à espera de um "Wuxia" na linha dos afamados "O Tigre e o Dragão", "Herói" ou o "Segredo dos Punhais Voadores". "The Banquet" é um filme bastante diferente, sendo acima de tudo um drama histórico, temperado com uma ou outra cena de luta, estas sim na linha das películas mencionadas. Tendo sido baseado num dos mais conhecidos dramas de William Shakespeare, "Hamlet", é natural que haja uma normal primazia das interpretações em claro detrimento dos combates.

Não vamos ser extemporâneos nas observações e vamos por partes.

Feng Xiaogang é mais um realizador asiático que tenta o estrelato internacional, tendo-se proposto a realizar este "The Banquet". Para tanto muniu-se de alguns dos melhores intervenientes nos diversos aspectos que havia a considerar. Como cabeça de cartaz, apresenta provavelmente a mais conhecida actriz asiática do momento, Zhang Ziyi. Para as cenas de artes marciais, contou com o mestre coreógrafo Yuen Woo Ping, que dispensa qualquer tipo de apresentação. Teremos ainda que mencionar Tim Yip e Tan Dun, importantes elementos da produção e composição musical de "O Tigre e o Dragão". Com esta equipa, acompanhada de um estrondoso orçamento, poderiamos com segurança esperar uma produção de elevada magnitude. Mas como já apanhei algumas desilusões bem grandes, em que também várias condições estavam reunidas para uma obra-prima, pus-me logo com um "pé atrás" e tentei não gerar expectativas desmesuradas. Pense-se no "flop" "The Promise".

Que dizer então?

Lento...lento...ainda mais lento..."The Banquet" é uma longa-metragem que tem como grande aspecto negativo a sua monotonia, que chega a ser exasperante. A acção é quase sempre a "10 à hora", ressalvando os raros casos em que existe uma exibição de "swordplay" em que quase nos apetece saltar de alegria e agradecer a todos os deuses e mais alguns! Obviamente que sendo uma adaptação de uma tragédia "Shakesperiana", temperada com os belos elementos da cultura asiática, não se poderia esperar um filme de acção extrema, mas não é propriamente isto que estamos a criticar. Pode-se muito bem expôr uma tragédia, sem cair nas dezenas de devaneios inúteis que "The Banquet" por vezes envereda. Aconselho pois a visionarem o filme quando estiverem bem acordados, desde já alertando igualmente para não estarem demasiado bem acomodados, pois isso levará inevitavelmente à sonolência!

"Um jogo de polo muito especial"

Felizmente, o único aspecto marcadamente negativo de "The Banquet" é a lentidão, porque tudo o resto é-nos apresentado num nível elevado.

A interpretação dos actores é bastante competente e digna dos intervenientes. Daniel Wu, Zhang Ziyi e Zhou Xun desempenham com alma os respectivos papéis, embora ache que o papel do principe "Wu Luan" atribuído a Wu pudesse ter beneficiado de um melhor tratamento e desenvolvimento a nível dos aspectos mais pessoais. As honras neste particular vão todas para Ge You, o intérprete do usurpador "Li", que nos presenteia com um "acting" digno de um óscar para melhor actor. Os meus parabéns!

Como já foi aludido as lutas são escassas, mas quando se dignam a marcar presença são verdadeiramente espectaculares. A cena em que os guerreiros do governador "Yin" saem do solo coberto de neve para atacar os assassinos do imperador, é particularmente brilhante!

Verdadeiramente fenomenal é o guarda-roupa, a fotografia e certos pormenores que observamos no filme. O suicídio dos cavaleiros do imperador, com o sangue a escorrer pelos cavalos até pingar das patas destes animais é de uma simbologia atroz e chocante, que nos marca imenso. As roupas e as armas foram desenhadas com um cuidado fora do normal e o resultado final é simplesmente magnífico!

A banda-sonora tem os seus altos e baixos, com expoentes verdadeiramente tocantes como uma música cantada a solo que se pode ouvir, acompanhada de uma representação teatral que imagino ser tradicional da China, mas existem alturas que prima pela ausência, deixando-nos sem ter nada para apreciar.

O argumento não podia deixar de ser bom, atendendo à fonte de onde bebe. Mesmo assim, ainda estou a pensar no significado da cena final do filme, pois à primeira vista não parece fazer sentido nenhum. No entanto o meu "sexto sentido", se é que possuo algum, diz-me que existe uma mensagem a retirar e que acredito piamente que passará um pouco por "todos nós somos vítimas dos nossos próprios desígnios".

"The Banquet" é uma película que embora não sendo perfeita, possui uma elevada qualidade e mestria na sua realização. No entanto, não parece ser suficientemente boa para alcançar o resultado que visa obter: o óscar para melhor filme estrangeiro.

Apropriado para os mais contemplativos, nada recomendado para os que adoram acção!

"A imperatriz Wan banha-se na água coberta de pétalas de rosa"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português/espanhol:

Avaliação:

Entretenimento - 6

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa - 10

Emotividade - 7

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,75