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domingo, fevereiro 25, 2007

A Espada do Samurai/The Hidden Blade/Kakushi ken oni no tsume (2004)

Origem: Japão

Duração: 132 minutos

Realizador: Yôji Yamada

Com: Masatoshi Nagase, Takako Matsu, Yukiyoshi Ozawa, Hidetaka Yoshioka, Min Tanaka, Tomoko Tabata, Ken Ogata, Nenji Kobayashi, Reiko Takashima, Chieko Baisho, Sachiko Mitsumoto

"O samurai Munezo Katagiri"

Estória

No Japão do Séc. XIX, dois samurais chamados "Munezo Katagiri" (Masatoshi Nagase) "Samon Shibada" (Hidetaka Yoshioka) despedem-se do seu grande amigo "Yaichiro Hazama", que está de partida para Edo, onde irá assumir uma posição importante no seu clã. Posteriormente, os dois companheiros dirigem-se para a casa de "Katagiri", tendo em vista acertar o casamento da irmã deste "Shino" (Tomoko Tabata) com "Shibada". Num almoço alegre, o enlace é acordado sobre os mais esperançosos auspícios.

Na casa de "Katagiri", vivem igualmente a mãe do samurai e a sua serva, uma rapariga chamada "Kie" (Takako Matsu), pertencente a uma casta inferior. "Kie" cresceu numa quinta, e vive com a família "Katagiri", tendo em vista aprender os afazeres domésticos, por forma a que possa arranjar um bom casamento e elevar um pouco a sua parca condição social.

"Kie"

Três anos depois muita coisa mudou. "Shibada"casou com "Shino", a mãe de "Katagiri" faleceu, e "Kie" casou com o herdeiro de uma abastada família de comerciantes. Um dia, "Katagiri" encontra "Kie", com um aspecto bastante diferente. Ela encontra-se muito mais magra e abatida, o que leva "Katagiri" a pensar, e com razão, que a rapariga anda a ser maltratada pela família do marido. Posteriormente chega ao conhecimento do samurai que "Kie" adoeceu gravemente, o que o faz enfurecer. Ele resgata-a do seu degredo social, leva-a de novo para a sua casa e trata do divórcio de "Kie". Esta recupera da sua maleita, e volta a ser a serva fiel de "Katagiri", providenciando por todo o bem estar da sua residência.

Não tarda muito que a felicidade do casal seja ameaçada por dois cruéis eventos.

O primeiro prende-se com os rumores emergentes que espalham o boato de "Kie" ser amante de "Katagiri", provocando um certo escândalo, atendendo a que a rapariga é de uma casta inferior à do samurai, facto imperdoável no clima social do Japão de então. Isto faz com que "Katagiri" seja obrigado a enviar "Kie" para a quinta dos pais, provocando um desgosto enorme a ambos.

O segundo acontecimento está relacionado com o amigo de "Katagiri" que partiu anos antes para Edo. Pelos vistos, "Hazama" envolveu-se numa conspiração ao mais alto nível, sendo preso e posteriormente evadindo-se, tomando como reféns um agricultor e a sua filha. O clã ordena a "Katagiri" que mate "Hazama", pois ambos foram alunos do lendário samurai "Kansai Toda" (Min Tanaka), sendo "Katagiri" considerado o único capaz de levar a missão a "bom porto".

Dividido pela amizade e pela honra, devastado pela possível perda do seu amor, "Katagiri" vê-se envolvido num enorme dilema interior que o leva a tomar as decisões mais importantes da sua vida.

"Nos bons tempos"

"Review"

"A Espada do Samurai" constitui o segundo episódio da aclamada trilogia do respeitado realizador japonês Yôji Yamada, sob a chancela da produtora Shochiku. O primeiro filme da "trilogia samurai" de Yamada, chamado "A Sombra do Samurai", resultou num grande sucesso, tendo ganho 12 "Japan Academy Film Awards" e inclusive obtido uma merecida nomeação para o óscar de melhor filme estrangeiro, na edição dos prédios da academia de Hollywood referente ao ano de 2004.

O que desde logo fascina nos filmes de Yamada é que, ao contrário do que os títulos das películas possam indicar, não estamos perante as normais longas-metragens de "chambara" ou "jidai geki", mas antes deparamo-nos com películas que têm uma componente dramática muito maior, em detrimento da acção violenta e realista dos combates. Yamada preocupou-se sobretudo em expôr as fragilidades emocionais dos míticos guerreiros, tentando humanizá-los ao máximo e situá-los na sociedade tremendamente feudal do Japão. Do ponto de vista estritamente histórico, as obras de Yamada são bem capazes de ser as que nos elucidam melhor acerca da vivência dos samurais.

A estória de "A Espada do Samurai" situa-se numa época de grande confrontação e celeuma entre o antigo modo de vida dos samurais, e a modernização do império nipónico, que no filme é abordada essencialmente nos seus aspectos militares. Porventura, o caro leitor estará a pensar neste momento que já viu este tema abordado em algum sítio. Tem toda a razão, pois o "blockbuster O Último Samurai" de Edward Zwick, com Tom Cruise e Ken Watanabe como principais protagonistas, assentava sobretudo nesta ideia de choque da cultura japonesa com a ocidental. Em "A Espada do Samurai", o mesmo tema é dissecado de uma maneira mais refinada, embora muito menos espectacular.

Não pensem igualmente que, tal como a tradução portuguesa indicia, o filme tem por pano de fundo alguma espada sagrada, perdida, invencível ou qualquer coisa deste género. Ele refere-se a uma técnica de esgrima denominada "lâmina escondida" (aqui a tradução inglesa foi manifestamente mais feliz), muito efectiva em combate e ensinada pelo mestre "Kansai Toda" a "Katagiri".

"Katagiri é obrigado a lutar até à morte com o seu amigo renegado Yaichiro Hazama"

Fiel ao escopo dos seus filmes de samurais, como já foi anteriormente aludido, Yamada dá o enfoque sobretudo à vida social de "Katagiri", às escolhas que forçosamente tem de fazer face à sua situação de samurai de baixa condição, sem contudo ser um "ronin", e por esse mesmo motivo ligado a um senhor a quem deve a mais estrita obediência. No entanto, os famosos guerreiros já não são o que eram, e muita corrupção e falta de sentido de honra grassa e mancha o outrora quase imaculado código dos samurais. Quando "Katagiri" se apercebe deste aspecto, coloca em dúvida as suas próprias convicções, e sem pôr em causa o seu sentido de dever e lealdade perante o clã, acaba por tomar a atitude mais certa perante a sua consciência pessoal: liberta-se da casta a que a sua família pertenceu durante gerações.

As comparações com o primeiro filme da série de Yamada são inevitáveis. Quem viu "A Sombra do Samurai", terá de concluir inevitavelmente que existe aqui uma repetição de vários aspectos do argumento. A relação entre "Katagiri" e "Kie" é bastante similar ao amor de "Seibei" e "Tomoe"; ambos os protagonistas dos filmes são samurais de baixa condição, com problemas financeiros; ambos recebem ordens para matar um rebelde e renomado espadachim, ocorrendo ambas as lutas num ambiente de certa forma claustrofóbico; e claro está, ambos põem em causa tudo o que acreditaram até então, sendo forçados a tomar decisões que cortam completamente com o seu passado.

Atendendo à grande similaridade entre ambos os filmes, "A Sombra do Samurai" terá de levar inevitavelmente alguma vantagem, nem que seja pelo facto de ter sido o primeiro a aparecer. Isto não quer dizer que "A Espada do Samurai" não tenha os seus méritos e alguma individualidade própria. Mas o problema é mesmo esse. É "alguma"!

Constitui um filme merecedor de atenção, mas para quem se queira iniciar na melancólica trilogia de Yamada, mais vale respeitar a cronologia, ou seja, "A Sombra do Samurai" deverá ser a primeira obra a visionar.


"O expressar dos sentimentos de Katagiri e Kie"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Esta crítica encontra-se igualmente disponível "on line" em ClubOtaku

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 7,75




quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Peça "O Despertar da Primavera"

Excepcionalmente, atendendo a que se trata de um assunto que sai do conteúdo temático deste blogue, publicita-se que nos próximos dias 7 a 12 de Março estará em cena no Teatro Municipal Baltazar Dias (aqui no Funchal), a peça "O Despertar da Primavera". Trata-se de uma adaptação da obra do dramaturgo Frank Wedekind. Segue abaixo a sinopse:
"O Despertar da Primavera é a história de dois jovens adolescentes, Melchior e Violeta. Ele pertence a uma família onde o pai é um representante do poder. Ela nasce no seio de uma família da classe média alta e recebe da mãe uma educação tradicional e religiosa. Ambos no “despertar da sexualidade”, encontram-se, apaixonam-se, amam-se, numa Primavera repleta de desejos, sonhos e fantasias....Outras histórias se cruzam com a destes adolescentes. Entre brincadeiras, estudo, tropelias e desabafos, sente-se o respirar da vida, onde tudo é diferente depois do “primeiro sinal”, mas também o peso da repressão, tão dramaticamente mostrada nos diálogos entre estes jovens que se vão descobrindo e simultaneamente mostrando o mundo dos adultos, por outras palavras, denunciando os preconceitos e o conservadorismo das instituições e chefes de família, que prezam a todo o custo a sua imagem, o cinismo de uma religião castradora e hipócrita, e a inutilidade de uma educação, tão pouco atenta às suas dúvidas e anseios.Assim, à medida que se vai desenrolando a história, o espectador é confrontado com problemas flagrantes como o abuso sexual, a violência doméstica, a gravidez na adolescência, a droga, a prostituição, as doenças sexualmente transmissíveis, o suicídio..."
Mais informações poderão ser encontradas em www.contigoteatro.blogspot.com
Não tenciono deixar passar a oportunidade de visionar esta encenação, atendendo à reconhecida qualidade da companhia teatral "Contigo Teatro"!
Se reside na Região Autónoma da Madeira, ou se encontra aqui a passar férias, não perca esta oportunidade de ver uma excelente representação cénica!

domingo, fevereiro 18, 2007

Battle of Wits/Muk gong (2006)

Origem: China/Hong Kong

Duração: 133 minutos

Realizador: Jacob Cheung

Com: Andy Lau, Ahn Sung-kee, Fan Bing Bing, Nicky Wu, Wang Zhiwen, Choi Si-won, Wu Ma, Chin Siu Ho, Hung Tin Chu

"Ge Li, o herói pacifista"

Estória

Em 370 A. C., durante o período da história da China conhecido como o dos "Estados Guerreiros" (Warring States Period - Zhanguo Shidai 战国时代) , a pequena cidade de Liang sofre a ameaça iminente de uma invasão por parte do muito mais poderoso reino de Zhao. Liang possui apenas umas centenas de soldados, enquanto Zhao detém um exército com milhares de efectivos, comandado pelo lendário general "Xiang Yanzhang" (Ahn Sung Kee).

Liang pede ajuda à tribo dos Mozis, os seguidores de uma filosofia denominada moísmo, que prega o amor universal e a rectidão moral, e despreza actos agressivos e a luxúria. Embora os mozis sejam por natureza pacifistas, são igualmente conhecidos por serem excelentes estrategas militares no que concerne à defesa de fortalezas cercadas.

Ao contrário do que o reino de Liang esperava, os Mozis enviam apenas um único homem chamado "Ge Li" (Andy Lau). Desesperados, ponderam render-se às forças invasoras, mas "Ge Li", através da persuasão, consegue convencer os habitantes de Liang a resistirem.


"O General Xiang Yanzhang, líder máximo do exército de Zhao"

"Ge Li" é nomeado o supremo comandante das forças de Liang, e começa de imediato a preparar a defesa da pequena cidade. De início "Ge Li" enfrenta a suspeição do príncipe "Liang Shi" (Choi Si-won) e do ministro "Si Tu" (Wu Ma), atendendo a que ambos são obrigados a obedecer a "Ge Li" no que concerne a todos os aspectos militares, mas eventualmente "Ge Li" acaba por conquistar a confiança do herdeiro da casa real.

Desde o início, "Ge Li" arranja dois preciosos aliados que acreditam nas suas intenções, e o ajudam de sobremaneira na sua tarefa hercúlea. São eles o comandante dos arqueiros "Zi Yuan" (Nicky Wu) e a chefe da unidade de cavalaria Yi Yue (Fan Bing Bing). Esta última começa mesmo a nutrir sentimentos por "Ge Li".

Começada a batalha, "Ge Li", devido à sua cuidada estratégia, consegue levar de vencida as tropas de Zhao e torna-se num herói para o povo de Liang.

O problema é que o sucesso do guerreiro começa a atrair a inveja e o ciúme do rei, que põe os seus próprios interesses à frente dos súbditos...

"Yi Yue, a chefe da cavalaria de Liang e apaixonada por Ge Li"

"Review"

O período dos "Estados Guerreiros" serviu de inspiração a vários filmes e séries chinesas, dando o enfoque sobretudo ao reino de Qin e ao primeiro imperador chamado Qin Shi Huang . Muitos exemplos poderiam ser aventados, mas à primeira vista lembro-me logo de "Herói" (é mais forte do que eu, desculpem!) e a importante, embora algo incompreendida, obra de Kaige Chen intitulada "O Imperador e o Assassino". O que estas películas tinham em comum a nível argumentativo, era o facto de os reinos vencidos por Qin, nomeadamente o de Zhao (porventura o mais poderoso a seguir ao de Qin), contratarem guerreiros para assassinar o primeiro imperador, tendo em vista salvaguardarem a sua soberania e independência.

Desde logo o que chama a atenção em "Battle of Wits", baseado surpreendentemente numa manga japonesa chamada "Bokko" de Hideki Mori, é que o papel do reino de Qin é secundário, e serve apenas para ilustrar e explicar o período da história em que se desenrola o filme. Servirá igualmente para explicar o abandono de parte das tropas de Zhao que fazem o cerco a Liang, em ordem a retornarem ao seu reino, para defende-lo da avalanche das tropas Qin. Em "Battle of Wits" compreendemos que o período dos "Estados Guerreiros" não se resumia a 6 reinos reinos a lutarem contra "Qin", pois eles próprios digladiavam-se frequentemente e tentavam obter a supremacia uns sobre os outros.

Já houve quem afirmasse que quando visionamos "Battle of Wits", ficamos com a sensação que estamos a ver dois filmes. Eu pessoalmente discordo desta ideia. Acho, isso sim, que estamos a mirar um filme com três (não duas!) partes muito próprias, e correctamente interligadas entre si.

A primeira poderá ser reconduzida ao período em que "Ge Li" chega a Liang como o "salvador da pátria", influencia os seus habitantes a resistirem a um inimigo muito mais poderoso, enfrenta o exército de Zhao, e acaba por conseguir que o mesmo se retire. Trata-se de um período da longa-metragem que entusiasma bastante pela sua acção, com grandiosas e realísticas (tirando um exagero de CGI ou outro) cenas de batalha feitas com muitos figurantes.

Na segunda parte, após a presumida retirada das tropas de Zhao, podemos assistir às intrigas palacianas para descredibilizar "Ge Li", motivadas como já foi aludido, pela inveja e ciúme do rei que se vê substituído no papel de herói e figura mais respeitada pelo povo. O resultado acaba por ser a fuga de "Ge Li", ajudado pelo outrora rival, o príncipe "Liang Shi". Este segmento do filme é fortemente impregnado pelo debate cultural e ideológico do Moísmo, professado por "Ge Li" e suporte de todo o seu comportamento ao longo da estória.

A terceira e última parte refere-se ao resultado nefasto das acções do rei de "Liang", que quase acaba por perder o seu reino, não fosse o voluntarismo e a honra de "Ge Li", que retorna e aparece mais uma vez para "salvar o dia". Acaba por se revelar uma competente união das duas anteriores partes do filme, demonstrando ser um misto de acção e filosofia muito bem engendrado.

"Ge Li conjuntamente com o povo de Liang prepara a defesa do reino"

Outro dos aspectos profundamente interessantes de "Battle of Wits" é o acérrimo debate ideológico que ronda à volta dos defensores de "Liang", em que igualmente acaba por intervir o general Xiang Yanzhang, o líder das forças de Zhao.

"Ge Li" tenta sempre incutir aos homens que tem sob o seu comando, a admissibilidade em matar apenas para defender, tentando pôr de parte a raiva e a violência gratuita. Não amiúde defronta-se com atitudes por parte dos defensores de Liang, que contrariam tudo aquilo em que acredita, tais como o massacre de um contingente de tropas de Zhao, que já tinha deposto as armas e rendido.

É isto que "Ge Li" pretende ser. Um guerreiro que odeia a guerra, e que apenas a trava para proteger os oprimidos e os mais fracos. Ele defende, nunca ataca!

Focando-me resumidamente nos aspectos mais palpáveis desta longa-metragem, sempre tenho a dizer que a banda-sonora do filme é de um nível bastante acima da média, com melodias de um pendor épico, que acompanham fielmente a natureza do filme.

As interpretações dos actores são apreciáveis, destacando-se, como não podia deixar de ser, Andy Lau, que está vivo e se aconselha vivamente. É incontestavelmente um dos grandes ícones de Hong Kong, sendo bem secundado pelo grande intérprete sul-coreano Ahn Sung-kee.

Sendo um épico, em todo o esplendor da natureza, transmite uma mensagem pacifista de assinalar e que é bem sintetizada no epílogo martirizante da película:

"Ge Li saiu de Liang acompanhado de um séquito de órfãos, e passou o resto da sua vida a espalhar uma mensagem de paz por todos os cantos da China..."

Merece ser visto e interiorizado!

"Confronto entre as forças de Liang e de Zhao"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,13







sábado, fevereiro 03, 2007

2046 (2004)

Origem: China/Hong Kong

Duração: 122 minutos

Realizador: Wong Kar Wai

Com: Tony Leung Chiu Wai, Zhang Ziyi, Gong Li, Takuya Kimura, Faye Wong, Carina Lau, Chang Chen, Wang Sum, Siu Ping Lam, Maggie Cheung, Thongchai McIntyre, Dong Jie, Miao Feilin, Farini Cheung, Berg Ng

"Chow Mo Wan, o escritor, jornalista, boémio e amante de mulheres"

Estória

"Chow Mo Wan" é um escritor de romances eróticos, que vende as suas estórias a jornais de Hong Kong, tendo em vista ganhar algum dinheiro que sustente o seu modo de vida boémio.

"Chow" chegou a Hong Kong, vindo de Singapura, onde viveu um romance com uma misteriosa mulher vestida de negro, que tinha o hábito inexplicável de usar uma luva da mesma cor na mão esquerda. Alcançado o seu destino, instala-se no apartamento 2047 do "Oriental Hotel", que fica mesmo ao lado do número 2046. Na realidade, "Chow" pretendia ficar no apartamento 2046, mas tal não foi possível pois este encontrava-se fechado devido a remodelações. O escritor começa a interessar-se pelas pessoas que posteriormente vão viver para o apartamento 2046.

"Bai Ling"

Essas pessoas são na sua totalidade mulheres com as suas estórias e dramas pessoais. "Chow" vive um romance com "Lulu", que desaparece misteriosamente; a seguir, chega "Wang Jing Wen", a filha do dono do hotel, que mantém um relacionamento com um homem japonês, que o pai desaprova vivamente, devido a sofrimentos familiares do passado; por fim, aparece "Bai Ling", uma jovem e bela acompanhante.

"Chow" inicia um relacionamento com "Bai Ling", mas que revela ter pouco de amor e mais de conveniência. O romance progride, tendo como pano de fundo a complexa história de Hong Kong dos anos 60, mas está fadado ao malogro.

No meio de todas estas vivências emocionais, "Chow" continua fascinado pelo apartamento número 2046, que aparece atrair apenas pessoas que tentam reviver as suas recordações perdidas...igualmente imagina uma estória futurística onde o papel do apartamento 2046 tem um importante significado.

"Tórrido amor no futuro entre um humano e uma ciborgue..."

"Review"

"Todas as recordações são rastos de lágrimas". É com esta premissa que praticamente começa uma das mais aguardadas obras de sempre do aclamadíssimo realizador Wong Kar Wai. Contribuiu muito para a expectativa gerada em torno de "2046", o facto de ter sido o primeiro esforço do realizador após o bem sucedido "Disponível Para Amar" ("In The Mood For Love"), e supostamente a película que ora se tenta avalizar seria uma espécie de sequela daquele filme.

A sua apresentação no Festival de Cannes - edição de 2004, não foi livre de atribulações, pois a cópia que seria exibida no famoso certame de cinema chegou apenas 3 horas depois do horário que deveria passar na tela, obrigando a que a exibição tivesse de ser remarcada. Tratou-se de um acontecimento inédito na história do festival. Igualmente, a rodagem desta película não esteve isenta de incidentes, atendendo a que um repórter dum tablóide de Hong Kong chamado "Sudden Weekly", conseguiu escapulir-se para o local das filmagens, conseguindo publicar as fotos do interior do "Oriental Hotel". O resultado foi Kar Wai ter mudado os cenários completamente, e o repórter ter sido condenado a três meses de prisão.

A própria designação do filme evoca o último ano em que Hong Kong permanecerá com o seu estatuto actual e especial de Região Administrativa, com os poderes e faculdades inerentes a tal prerrogativa. O título da película tem contornos ambíguos e analógicos mais ou menos óbvios. Sendo o apartamento 2046, um local que supostamente as coisas nunca mudam, a região de Hong Kong manterá igualmente a sua autonomia e regime (à semelhança do que já acontecia sob o domínio inglês) durante 50 anos, até haver uma plena integração na República Democrática da China. Milita a favor desta interpretação, o facto de o único homem que consegue fugir ao apartamento 2046 ser um viajante japonês que se apaixona por uma ciborgue, personagens do romance futurístico de "Chow". Tal implica uma mudança, tal se passa num futuro a médio-longo prazo.


"A segunda Su Li Zhen"

Sendo um filme com a marca de Wong Kar Wai, é inevitável que apresente as marcas distintivas do seu intrincado estilo de realização e direcção. As personagens são movidas por uma permanente estaticidade que se reflecte de sobremaneira no ambiente envolvente, salvo as incursões feitas pelo romance futurístico de "Chow". As emoções andam quase sempre à flor da pele, conjugadas umbilicalmente com os dramas pessoais de cada um dos intervenientes. Mas acima de tudo, o que ressalta inevitavelmente no trabalho do realizador chinês são as memórias das pessoas e tudo o que gira à volta deste diapasão.

Dotado de um elenco fabuloso, porventura um dos mais carismáticos de sempre do cinema oriental, "2046" faz da representação dos actores um dos seus pratos fortes. Tony Leung Chiu Wai repete a excelente interpretação evidenciada em "Disponível Para Amar" (o que é que não estará ao alcance deste actor é a questão que se põe), bem secundado pelas grandiosas divas Zhang Ziyi, Gong Li, Faye Wong e Carina Lau (Maggie Cheung só aparece em poucos momentos relacionados com a sua personagem em "Disponível Para Amar").

A fotografia é simplesmente maravilhosa (abençoado Christopher Doyle!), os pormenores são brilhantes, as emoções são fortes e significativas, tudo parece rondar a perfeição.

No entanto, tenho que confessar que já começo a fartar-me da extrema contemplação e lentidão que Wong Kar Wai insiste em expor nas suas obras. De início é maravilhoso, mas para quem já visionou algumas obras do realizador, fica com a sensação que neste aspecto ele precisa de se redescobrir. Fico por vezes com a sensação que é pretendido a análise milimétrica de cada cena maravilhosa que nos é dada a conhecer. Isto tem efeitos perniciosos em relação à movimentação e desenvolvimento do filme. Se calhar uma maneira simpática de dizer "lento demais!". Se o filme trata de mudança, porventura não seria má ideia Wong Kar Wai nos presentear com algo de verdadeiramente novo para variar. O seu talento incontornável assim o exige!

De qualquer forma, é inolvidável que estamos perante uma grande obra de cinema, que merecerá sem dúvida aclamação.

Muito bom!

"Chow Mo Wan vive númerosos affaires"

Trailer , The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

  1. Cine Road

    Avaliação:

Entretenimento - 6

Interpretação - 9

Argumento - 9

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 9

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,50



sexta-feira, fevereiro 02, 2007

The Bride With White Hair 2/Bai fa mo nu zhuan II (1993)

Origem: Hong Kong

Duração: 80 minutos

Realizador: David Wu

Com: Brigitte Lin, Leslie Cheung, Christy Chung, Sunny Chan, Kwok Leung Cheung, Lily Chung, Eddy Ko, Lan Law, Heung Kam Lee, Joey Maan, Chun Fung Ng, Richard Suen, Ruth Wynona Tao, Tak Ngai Yeung

"Lian Nichang, a noiva"

Atenção - "Spoilers"!!!

O texto que se segue será revelador do enredo do primeiro filme "The Bride With White Hair" , pelo que só deverá prosseguir caso já tenha visionado esta película!

Estória

No epílogo de "The Bride With White Hair", "Cho Yi Hang" tinha-se exilado no Monte Shin Fung, desgostoso devido ao trágico caminho que o seu relacionamento com "Lian Nichang" tinha enveredado.

Entretanto, devido ao grande desgosto provocado pela traição de "Cho Yi Hang", "Lian Nichang" vê o seu cabelo negro mudar para uma fantasmagórica cor branca, e decide enveredar por uma cruzada sangrenta contra todos os homens, que tem por seres em quem não se pode confiar minimamente.

"Cho", consumido pela culpa, aguarda expectante no Monte Shin Fung, à espera que uma flor mágica desabroche e que poderá servir de cura para a maleita do seu amor.

"O jovem Fung Chun Kit ferido após uma batalha com a noiva diabólica"

À medida que o tempo passa, "Lian" toma como propósito pessoal eliminar os restantes membros masculinos dos oito grandes clãs de artes marciais. No topo da lista encontra-se o jovem "Fung Chun Kit", o sobrinho de "Cho" e último descendente da outrora poderosa sociedade de artes marciais conhecida como "Wu Tang".

"Kit" assiste ao rapto da sua esposa "Lyre", sem nada poder fazer face aos incríveis poderes de "Lian". Esta por sua vez, através de bruxaria e artes negras, converte "Lyre" para a sua causa e incute-lhe um ódio mortal por todos os homens, incluindo "Kit".

"Kit" não tem outra alternativa senão atacar o reduto de "Lian", liderando para o efeito uma força composta por membros de todos os clãs.

"A noiva num raro momento de serenidade, a ser penteada pela sua amiga (amante?)"

"Review"

Como já foi aludido na crítica efectuada ao primeiro filme , Ronny Yu pretendeu claramente rodar a saga de "Lian Nichang" em dois episódios, em vez de fazer uma única película. Também já opinei acerca deste aspecto, e acho que a estória ficou claramente a perder com esta opção, embora acredite que a nível de proveitos comerciais o mesmo não se tenha passado. Aliás, "The Bride With White Hair 2", tem pelo menos formalmente como realizador David Wu, o irmão de Ronny Yu, embora se afirme que o aclamado realizador de Hong Kong tenha metido o seu cunho pessoal na segunda parte da saga. Se meteu, pelo menos não parece...e aqui já se adivinha com uma certa antecipação que a minha opinião em relação a este filme não é muito positiva.

Esta película está claramente a milhas da sua predecessora.

O enredo, embora minimamente imaginativo (principalmente devido à exploração do desgosto de várias mulheres por terem sido maltratadas pelos seus amados), não tem a força, nem nos capta a atenção como o anterior.

Em muito contribui o facto da estória de amor entre "Kit" e "Lyre", não ter metade do interesse que a de "Lian Nichang" e "Cho Yi Hang" nos despertaram. Muito contribui o facto de o "casting" não ter sido particularmente feliz. Algum dia Sunny Chan e Joey Maan têm sequer metade do carisma e do talento que Brigitte Lin e Leslie Cheung possuem? É mais do que óbvio que a resposta terá de ser inevitavelmente negativa.

"Lian Nichang rodeada do seu séquito de mulheres revoltadas"

As próprias lutas que em muito poderiam contribuir para salvar um pouco desta longa-metragem, desiludem de sobremaneira. "Lian Nichang, a noiva" parece que não tem paciência para aplicar "uns golpes à maneira" e a sua imagem de marca que era o chicote desapareceu. Ela limita-se a olhar para os seus inimigos e projectá-los no ar devido a um qualquer poder telecinético. Ou então atira os seus longos cabelos brancos, e perfura os seus oponentes até à morte. Claro que sempre se poderá dizer que enquanto no primeiro filme, ela era uma clássica guerreira cheia de virtudes de combate, no segundo "Lian" já se afigura como uma bruxa com poderes paranormais, devido à sua transformação, ocasionada pelo desgosto de amor que sofreu. Mesmo assim, a explicação não me convence muito. O caminho que se seguiu não foi o melhor. Os restantes intervenientes não convencem nada em relação às suas capacidades de combate. Não é nada que se compare ao espectáculo produzido na saga "Era Uma Vez na China", "New Dragon Gate Inn", "Swordsman II" ou "A Chinese Ghost Story".

O que se salva verdadeiramente desta película são os dez minutos finais, em que "Cho Yi Hang" aparece finalmente para confrontar "Lian Nichang", e tentar expiar os seus pecados passados. Digamos que constituiu um final bastante belo, embora trágico como já seria de esperar, e que valeu pelo filme todo.

E é nisto que se resume de interessante em "The Bride With White Hair 2". Os dez minutos finais...

"O trágico reencontro dos eternos apaixonados Cho Yi Hang e Lian Nichang"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 6

Argumento - 7

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 7

Mérito artístico - 7

Gosto pessoal do "M.A.M" - 6

Classificação final: 6,75