"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

domingo, dezembro 27, 2009

Goemon (2009)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 128 minutos

Realizador: Kazuaki Kirya

Com: Yôsuke Eguchi, Takao Osawa, Ryoko Hirosue, Jun Kaname, Gori, Mikijiro Hira, Masato Ibu, Hashinosuke Nakamura, Eiji Okuda, Susumu Terajima

Goemon

Goemon”

Sinopse

Em 1582, o nobre mais poderoso do Japão “Oda Nobunaga” (Hashinosuke Nakamura) é vítima de um assassinato, sendo sucedido pelo seu principal general “Toyotomi Hideyoshi” (Eiji Okuda). Apesar de existir uma pacificação quase geral do país, o fosso entre ricos e pobres é imenso, e a miséria grassa um pouco por toda a parte. O ninja e mestre dos ladrões “Goemon” (Yôsuke Eguchi) , tem por objectivo principal roubar aos ricos e distribuir o produto dos seus furtos pelos mais pobres. Numa das suas peripécias, “Goemon” apodera-se de uma aparentemente inofensiva caixa, mas que revela ser um artefacto de grande importância.

“Mitsunari” (Jun Kaname), um dos mais influentes administradores de “Toyotomi”, desesperado por reaver a caixa, encarrega o poderoso ninja “Saizo” (Takao Osawa) de perseguir o seu amigo de infância “Goemon”. Contudo, o herói consegue se furtar às tentativas de “Saizo” e acaba por entregar a misteriosa caixa ao lendário “Hattori Hanzou” (Susumu Terajima), o maior mestre ninja que o mundo jamais viu.

Chacha 2

Lady Chacha”

Na posse do segredo revelado pela artefacto outrora em seu poder, memórias cruéis de infância retornam à mente de “Goemon”, e este parte numa cruzada de vingança contra aqueles que assassinaram o seu amado mentor “Oda Nobunaga”, mesmo que tenha de sacrificar o amor que sente por “Chacha” (Ryoko Hirosue). O destino do próprio Japão estará em jogo, e uma nova era de poder governamental ficará decidida.

Saizou

Saizou”

Review”

Quando visionei “Casshern”, a película de estreia do realizador Kazuaki Kirya fiquei impressionado por diversos motivos. Para além de ter efeitos especiais de elevadíssima qualidade, possuía um argumento deveras interessante, bem elaborado e articulado, que me atraiu imenso devido à multiplicidade de temas relevantes com que lidava. Cinco anos depois, Kirya lança-se numa segunda obra que igualmente colheu muito a minha atenção. Não só pela feliz experiência anterior, mas igualmente por tratar de uma época que me apraz imenso, ou seja, a transição do período Sengoku, para a época de Azuchi-Momoyama e por fim para o xogunato Tokugawa. O mesmo será dizer que em “Goemon” é abordado, os governos de Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu, três das figuras mais relevantes da odisseia do país do sol nascente. Numa investigação mais aturada, conclui que praticamente todos os intervenientes de “Goemon” existiram ou são alvos de lendas, como próprio herói da trama, uma espécie de “Robin Hood” da zona (Ishikawa Goemon). Embora se reconheça que tal facto possa levantar dificuldades para aqueles que não estejam minimamente familiarizados com a história do Japão desta altura, sempre se dirá que não consigo imaginar melhor possibilidade para um grande argumento do que a atrás retratada. Atendendo ao meu gosto pessoal, é claro.

Em jeito de adiantamento em relação às conclusões digo que fiquei um pouco desiludido, e as minhas expectativas saíram algo goradas. O desenrolar da trama é algo descurado, e poderia ter sido francamente melhorado, face aos predicados descritos no anterior parágrafo. A apreciação positiva neste particular, derivará sobretudo do quão interessante é sempre arriscar no período feudal japonês, assim como alguns tópicos que são positivamente desenvolvidos. É normal que, atendendo à anterior experiência de Kirya, o enfoque fosse dado nos efeitos especiais e na espectacularidade, ou seja, é notório que se pretendia transformar esta película numa grande experiência visual. Por outra via, denota-se que todos os combatentes do filme possuem poderes para além da imaginação, o que transforma os combates em experiências excitantes, embora algo exageradas. Digamos que, neste particular, será um “wuxia” de Zhang Yimou multiplicado por dez. Isto não quer dizer que a qualidade seja superior, apenas que as hipérboles visuais estão constantemente presentes. Em suma, o CGI aqui dita as leis, por vezes com bons resultados, outras nem por isso.

Mitsunari

Mitsunari”

Outro aspecto com os seus altos e baixos passa pelo guarda-roupa. Deparámo-nos com um vestuário, manancial bélico e uma caracterização absolutamente fenomenal em variados momentos. Pessoalmente, aqui destaco o figurino do senhor feudal Oda Nobunaga, que bate os restantes aos pontos. No entanto, e até tentando compreender algum tipo de inovação, achei de algum exagero o uso de armas de fogo, com modelos que não eram vulgares no Japão da altura. Mesmo que Kirya tenha tentado uma justificação, com o apaziguamento que os cristãos ocidentais tentavam perante os senhores feudais japoneses (nota: é um facto histórico consolidado que o Toyotomi Hideyoshi não era afã do credo católico), a desproporcionalidade é mais do que evidente. Confesso eventualmente que esteja a tomar uma posição um pouco extremista, em detrimento de uma das funções que considero primordiais no cinema, ou seja, o entretenimento. Mas igualmente não acompanhei a ideia de Kirya em substituir as tradicionais armaduras dos samurais, por outras que mais se assemelham às dos cavaleiros europeus da idade média. E achei quase escandaloso, no conflito final que presumo ser uma reprodução da batalha de Sekigahara, o facto de ambos os exércitos usarem armaduras que em muito se assemelham às dos soldados do império na saga “A Guerra das Estrelas”. É um facto conhecido que George Lucas se inspirou no material bélico e ambiente do Japão feudal, para dar corpo a muitas das suas criações na famosa primeira trilogia. Isto não obvia a que em “Goemon”, mesmo assim, tudo pareça algo descontextualizado.

No que concerne à actuação dos actores, sempre se dirá que Takao Osawa, no papel do ninja “Saizo”, e Eiji Okuda, a quem coube representar “Toyotomi Hideoshi” são aqueles que se exibem em melhor nível. Merece igualmente uma palavra de apreço o actor Hashinosuke Nakamura, que rebenta as costuras de estilo como o senhor feudal “Oda Nobunaga”, que apenas pecará pela falta de minutos. O restante do “cast” tem os seus altos e baixos, principalmente Yôsuke Eguchi que personifica “Goemon”, o herói da história.

Quem procura entretenimento ao máximo, e não se importa com alguns efeitos especiais exagerados (embora outros absolutamente formidáveis), “Goemon” é um “blockbuster” japonês mais do recomendado. Agora o certo é que a aura mais de “videogame”, do que propriamente de filme, faz com que “Goemon” não destoasse nada numa “Playstation” ou outra consola do género.

A ver, mas sem expectativas exageradas.

No local especial

Num local especial”

imdb Nota 6.8/10 (546 votos) em 27/12/2009

Outras críticas em português:

  1. Conquistadores

Avaliação:

Entretenimento – 9

Interpretação – 7

Argumento – 7

Banda-sonora – 7

Guarda-roupa e adereços – 8

Emotividade – 8

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 6

Classificação final: 7,50

 

sábado, dezembro 26, 2009

“Testemunhos” de Alan Ongaro (Cine Korea)

foto

O convidado desta semana é Alan Ongaro, do blog “Cine Korea” (para aceder, cliquem na foto acima) que, como se depreende da sua designação, é dedicado aos produtos cinematográficos da Coreia do Sul. O Alan é um jovem brasileiro, de 22 anos, natural de São Paulo. O seu espaço é de bastante interesse para aqueles que cultivam a cinematografia coreana, pois não possui apenas críticas de filmes, mas igualmente mini-biografias acerca de actrizes e actores sul-coreanos.

Abaixo segue a entrevista.

“MY Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Alan Ongaro : Acredito que tenha a ver com a cultura oriental, os cineastas parecem ter mais liberdade e autonomia para realizar sua obra da maneira que achar melhor.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

A.O. : Gosto do clima, creio que está relacionado a cultura, como disse anteriormente...

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

A.O. : Algum filme do Jackie Chan ou do Jet Li, não me recordo exatamente qual.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

A.O. : No atual momento o cinema Sul-Coreano é o que mais me agrada com certeza. Diretores como: Chan-wook Park, Ji-woon Kim, Joo-ho Bong e Kim-ki Duk são os que eu mais recomendo.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

A.O. : Gosto de tudo um pouco, mas os filmes de ação e drama são meus favoritos...

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

#01. Oldboy (Chan-wook Park)

#02. Audition (Takashi Miike)

#03. In the Mood for Love (Wong-kar Wai)

#04. Yojimbo (Akira Kurosawa)

#05. Hard Boiled (John Woo)

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

A.O. : Falecido: Akira Kurosawa. Vivo: Takashi Miike.

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

A.O. : Dois atores, um Sul-Coreano: Min-sik Choi e um Japonês: Tadanobu Asano.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

A.O. : Sobrevalorizado: Shiri (Swiri)

Subvalorizado: IZO

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

A.O. : Ainda é muito restrito a um público específico, mas está melhorando muito e acredito que ano após ano a tendencia é crescer cada vez mais.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

A.O. : Deixe de preconceitos, assista com a mente aberta, de preferencia para cineastas consagrados como: Kurosawa, Ozu e Mizoguchi. Mas depois procure outros mais novos, principalmente no Japão, China e Coréia do Sul.

 

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Feliz Natal e um próspero Ano Novo...


...a todos aqueles que têm a gentileza de por cá passar! As maiores felicidades para todos vós!

…ing – 아이엔지 (2003)

Capa

Origem: Coreia do Sul

Duração aproximada: 104 minutos

Realizador: Lee Eon-hee

Com: Im So-jeong, Kim Rae-won, Lee Mi-sook, Choi Deok-moon, Kim Ji-yeong, Yun Chan, Lee Yoo-jeong, Kim In-moon, Park So-yeon, Seo Yeong-joo

Min-a

Min-a”

Sinopse

“Kang Min-a” (Im So Jeong), é uma bonita adolescente que, devido a uma doença de nascença, teve de passar quase toda a sua meninice internada em hospitais. A rapariga possui uma mão deformada, que a faz usar uma luva devido à vergonha que sente, assim como possui uma enfermidade mortal, que desconhece. A sua mãe “Mi-sook” (Lee Mi-sook), tem consciência que a sua filha tem os dias contados, mas esconde-lhe este facto. Em vez de adoptar uma atitude pessimista, encoraja “Min-a” a aproveitar tudo o que de bom a vida tem. No entanto, a jovem tem problemas de interacção com terceiros, e refugia-se no seu mundo pessoal.

Yeong-jae 2

“Yong-jae”

Certo dia, um fotógrafo chamado “Lee Yong-jae” (Kim Rae-won) muda-se para o apartamento do andar debaixo, e a partir daqui a vida de “Min-a” sofre um volte-face inesperado. “Yong-jae” apaixona-se à primeira vista pela rapariga e tudo faz para conquistar o seu coração. “Min-a”, no início, resiste aos ímpetos do rapaz, mas acaba por ceder ao charme e ao encanto do jovem. Tudo parece correr pelo melhor, mas a maleita de “Min-a” começa a dar sinais da sua presença.

Mi-suk

Mi-sook, a mãe de Min-a”

Review”

“...ing” é mais um clássico “tearjerker” sul-coreano, que honra e contém todos os predicados do género, que muitos de nós já bem conhecemos. Junte-se o clássico tema da doença terminal, e cedo nos apercebemos para onde tudo isto vai caminhar e de que tipo de filme estaremos aqui a falar. Neste aspecto, e a nível de originalidade, “...ing” não traz praticamente nada de novo, embora a nível de popularidade se reconheça que estamos perante um dos sucessos do meio, e talvez, dos mais cativantes.

No clássico drama sul-coreano, quer se goste ou não, normalmente os actores conseguem evidenciar prestações, no mínimo, razoáveis. O exteriorizar de emoções é intenso, e isso obriga de alguma forma os intervenientes a apostarem imenso na expressividade, associada a momentos alegres, românticos, mas inevitavelmente à tristeza e sofreguidão. Em “...ing”, um dos aspectos mais positivos centrar-se-á nas prestações dos seus intérpretes. A actriz Im So-jeong confere uma personalidade interessante a “Min-a”, que nos embrenha no seu isolamento pessoal e nos seus sonhos de uma vida que se quer feliz, mas que se duvida que tal possa ser possível. O seu ar soturno seduz-nos imenso (já o tinha conseguido em “A Tale of Two Sisters”, embora tal possa parecer contraditório à primeira vista. Lee Mi-sook impressiona na corporização da mãe sofrida, mas forte e independente, que tudo faz para que a sua filha se liberte de algum marasmo que vive, proporcionando-lhe afecto e preciosos conselhos. Kim Rae-won faz bem o seu papel de jovem encantador, totalmente o oposto de “Min-a”, que conquista com determinação e algum humor.

Casal 2

Um jovem casal apaixonado”

Aliás, o que poderá marcar alguns pontos a favor de “...ing”, em detrimento de outras películas que enveredam por um diapasão semelhante, serão os momentos cómicos presentes nesta obra, que servem para desanuviar as cenas de maior tensão (o que normalmente se designa de “comic relief”). Outro aspecto positivo que é de relevar, passa pelo facto de a trama não se centrar apenas no romance entre “Min-a” e “Yong-jae”, nem fazer um uso abusivo do tema “doença terminal”. A relação entre “Min-a” e “Mi-sook”, ou seja, da filha com a sua mãe, tem um grande protagonismo na história. Devido ao facto da jovem ter-se visto privada de amigos desde tenra idade, devido à sua enfermidade, “Mi-sook” mais do que mãe, faz questão de ser a melhor amiga de “Min-a” e a sua confidente de eleição. Para familiarizá-la mais neste papel, a mãe de “Min-a” permite que esta a trate pelo primeiro nome, no entanto, e durante alguns lampejos, vê-se claramente que o papel de mãe nunca deixa de ser exercido por “Mi-sook”, ou seja, a figura de protectora e de dedicação que apenas uma progenitora que se preze como tal é capaz de fazer.

“...ing” constituiu uma feliz estreia da realizadora Lee Eon-hee, no género que os coreanos e os amantes do cinema daquelas paragens apreciam mais, o drama sem fronteiras. Não é uma obra de arte, mas sim um filme com alguns predicados que são de elogiar. Está longe de proceder a uma cada vez mais necessária reinvenção dos campos por onde se move, embora proporcione momentos bem agradáveis, descontraídos e que nos enternecem de alguma forma. E sempre se poderá afirmar que uma das coisas que a generalidade dos espectadores aprecia mais, é deparar-se com longas-metragens que incutem algum sentido de realidade na luta de pessoais normais contra problemas quase insuperáveis. “...ing” não cai no exagero gratuito que algumas das películas congéneres inevitavelmente desembocam. É um filme simples, que nos fará tanto sorrir, como reflectir acerca de algumas questões da vida, e isso terá forçosamente de ter algum valor.

Uma proposta interessante, mas que não ambiciona nem proporciona grandes voos.

Beijo

“Um beijo num sonho”

imdb Nota 7.6/10 (1.009 votos) em 21/12/2009

Avaliação:

Entretenimento – 8

Interpretação – 8

Argumento – 7

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 7

Emotividade – 9

Mérito artístico – 7

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 7,63

quarta-feira, dezembro 16, 2009

“Testemunhos” de tf10 (“Asian Virus” – Fórum)

1 - Heroic Purgatory (1970) 2 - A Short Film About the Indio Nacional (2005)

O entrevistado desta semana é o “tf10”, um dos responsáveis pelo fórum “Asian Virus” (para aceder, clicar em qualquer uma das fotos acima), que muito tem feito pela difusão do cinema asiático em Portugal. Apreciador da vertente dramática mais dura dos “cinemas” asiáticos, o “tf10” tem demonstrado aqui no blogue os seus vastos conhecimentos acerca do que se faz pelas bandas do oriente no que toca à sétima arte. Pessoalmente, aproveito o ensejo para agradecer ao nosso entrevistado de hoje, pois muito tenho aprendido com ele e com as suas sugestões. Principalmente, porque o “tf10” possui gostos cinematográficos acerca de várias facetas do cinema que costumo descurar, por reconhecer, que não assim tanto do meu agrado. Aconselho a todos, como eu próprio já fiz por diversas vezes, a trocarem impressões acerca de cinema com o “tf10”, pois irão descobrir pérolas que não estão ao alcance da maior parte do público em geral. Cabe ainda referir que a presença do “tf10” enriquece de sobremaneira o conteúdo do “My Asian Movies”, pelos comentários pertinentes e pela partilha que todos nós aqui ansiamos. Não poderia deixar de aqui referir, embora esteja descontextualizado do que hoje aqui nos trás, que o bom gosto do “tf10” não se resume apenas ao cinema, mas igualmente ao futebol, não fosse ele um adepto ferrenho do Futebol Clube do Porto!

Abaixo segue o registo da entrevista.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

“tf10” : A grande particularidade que lhe pode ser apontada, por um espectador nas minhas circunstâncias, e ainda assim de forma bastante genérica, é a de nos transportar para realidades e universos que nos são mais distantes e desconhecidos. De resto, diria que é impossível encontrar uma característica que de algum modo possa representar a incomensurável variedade da cinematografia “Asiática”. E refiro-me a ela nesses termos porque a minha experiência pessoal vai mais além daqueles 5 ou 6 países a que se associa mais regularmente o cinema asiático.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

“tf10” : Aquilo que me fez querer ver mais cinema asiático foi fundamentalmente a busca de novas linguagens cinematográficas, novos autores, arrojo estético, maneiras diferentes de olhar o mundo e as pessoas, para isso nada melhor do que culturas com tantas e tão fascinantes diferenças por explorar.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

“tf10” : O primeiro é difícil responder, não tenho memória exacta, agora aquele que na altura me deixou absolutamente extasiado e com vontade de ver mais cinema asiático foi o Hana-bi do Kitano.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

“tf10” : Se fizermos o historial – e isso ficará sempre dependente do material a que temos acesso - provavelmente chegamos à conclusão que é o Japão. Se nos cingirmos a uma realidade mais próxima de nós, mais contemporânea, eu diria que não há nenhum país em particular que possa reclamar esse título. Quanto à segunda parte da questão, se por absurdo tivesse de optar por uma única cinematografia oriental, seria a Japonesa, não só porque é aquela que ao longo de quase um século teve sempre autores da mais alta qualidade, como é também com ela que culturalmente mais me identifico. (por mais tremendamente injusto que possa ser para as outras.) Felizmente isso nunca irá acontecer.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

“tf10” : Sou bastante eclético, tento sempre ver um pouco de tudo, mas o género a que me dedico com mais interesse é o “drama”. (Quanto mais austero e formalmente radical, melhor!). Sendo ainda mais específico, diria que tenho uma paixão muito forte por autores e “movimentos” que de alguma forma tentaram/tentam inovar. Citando alguns exemplos: a 6ª geração do cinema Chinês, os reformadores Iranianos, o cinema independente da Malásia e das Filipinas ou o mais genial e desafiante deles todos, a incomparável new wave Japonesa.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

tf10”: 5? É impossível! (E que tal um Top100?)

- Eros Plus Massacre (1969)

- Zhantai (2000)

- The Puppetmaster (1993)

- Mujo (1970)

- The Day a Pig Fell Into the Well (1996)

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

“tf10” : Kiju Yoshida, o realizador capaz de associar às suas tematicamente estimulantes obras, alguns dos mais belos e desconcertantes planos da história do Cinema. Um fascinante teórico da sétima arte!

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

“tf10”: (Passado / Presente)

Actor: Masayuki Mori / Lee Kang-Sheng

Actriz: Mariko Okada / Tao Zhao

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

“tf10”: Sobrevalorizado: Muitos, mas para não ir mais longe, a mais recente e insuportável histeria colectiva, Love Exposure do Sion Sono.

Subvalorizado: Outros tantos…. um que infelizmente nunca sairá da sombra já que se trata da sua obra menos acessível, “A Man Vanishes” (1967), uma das obras-primas do Imamura.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

“tf10” : A difusão do cinema oriental em Portugal é muito pobre. É de louvar algumas coisas que se vão fazendo, como no Fantas (claramente em perda), IndieLX (a crescer), DocLX, ciclos na Cinemateca, um ou outro evento especial, mas sabe sempre a pouco. O pior é sobretudo o facto de não se arriscar, optando-se quase sempre por coisas que tiveram sucesso lá fora e que acabam por ser arrastadas para o mercado nacional. Sempre que vejo line-ups de festivais internacionais [PIFF, JIFF, VIFF, MIC [São Paulo], etc) fico sempre deprimido com a diferença abismal que existe em relação ao nosso país.

Em termos de lançamentos de filmes em sala e mercado de DVD estamos num nível deplorável……nem perco tempo com isso.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

“tf10” : Acho que dependeria sempre muito da bagagem cinéfila da pessoa. Para alguém que desconheça por completo o cinema oriental talvez fosse bom em primeiro lugar tentar desmistificar algumas das mais estapafúrdias ideias (preconceitos) que são recorrentes num público menos informado. Depois, alertava para o facto de, só quem for fluente em Inglês é que pode dedicar-se de forma aprofundada ao cinema asiático, caso contrário ficará irremediavelmente pelo básico. Por último, filmes, filmes e mais filmes!

terça-feira, dezembro 15, 2009

Beldades da Cultura Asiática - Yana Gupta











"Bollywood" consegue ser um verdadeiro panteão de deusas. Querem mais provas? Mais informações AQUI.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Ponyo à Beira-Mar/Ponyo on the Cliff (By the Sea)/Gako no ue no Ponyo - 崖の上のポニョ (2008)

Capa

Origem: Japão

Duração aproximada: 103 minutos

Realizador: Hayao Miyazaki

Vozes das personagens principais (versão original): Yuria Nara (Ponyo), Hiroki Doi (Sosuke), Jôji Tokoro (Fujimoto), Tomoko Yamaguchi (Risa), Yûki Amami (Guranmamare), Kazushige Nagashima (Kôichi)

Ponyo e as irmãs

Ponyo e as irmãs”

Sinopse

“Sosuke” é uma criança de 5 anos, que vive com a sua jovem mãe “Risa”, numa pequena cidade portuária, no sul do Japão. Certo dia, encontra um peixinho de cor vermelha preso numa garrafa, com um aspecto um tanto ou quanto estranho. Uma amizade começa entre os dois, e o jovem dá o nome de “Ponyo” ao seu novo amigo. Contudo, “Ponyo” não é um peixinho normal, mas sim uma princesa dos mares chamada “Porishamirudin”, que possui poderes mágicos. Após lamber um pouco do sangue de uma pequena ferida de “Sosuke”, começa a assumir características humanas, como a fala ou o gosto por fiambre.

Sosuke e Ponyo

Sosuke e Ponyo”

“Fujimoto”, o pai de “Ponyo”, vai buscar a sua filha e leva-a de volta para o mar. O progenitor da princesa é um humano que rejeitou a superfície do mundo e a sua espécie, e que agora tenta, através da magia, rejuvenescer os oceanos que se encontram poluídos devido à loucura dos homens. No entanto, o desejo de “Ponyo” em se tornar humana e de se juntar a “Sosuke” é muito forte, e consegue fugir para o lado do seu amigo outra vez.

Durante a sua fuga, “Ponyo” inadvertidamente liberta o conteúdo das poções mágicas de “Fujimoto”, o que provoca uma tempestade gigantesca que assola a cidade onde vive “Sosuke”. Desesperado, e sem saber como agir para resolver a rebelião da sua filha, “Fujimoto” recorre à ajuda da mãe de “Ponyo”, a deusa “Guanmamare”, o ser mais poderoso dos sete mares.

Risa

Risa, a mãe de Sosuke”

Review”

Quatro anos depois de “Howl's Moving Castle”, o mestre Miyazaki daria corpo a mais um filme de animação, intitulado “Ponyo On a Cliff”. Desta vez, e como o próprio realizador confessou, a sua inspiração residiria em muito na obra “A Pequena Sereia”, do aclamado escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. Cabe ainda referir que existiram mais algumas referências, desta vez de ordem real, onde Miyazaki foi beber. Por exemplo, a cidade portuária onde decorre a acção é baseada numa povoação real chamada Tomonoura. A própria personagem de “Sosuke” é baseada no filho de Miyazaki, Goro, ele próprio um realizador de animação e criador do filme “Tales From Earthsea”. A alusão à família não termina por aqui, pois “Toki”, uma idosa rezingona que vive num lar, é baseada na mãe de Miyazaki.

Tendo sido o único filme de animação da história a vencer o prémio atribuído à melhor banda-sonora nos “Japanese Film Awards”, merecendo ainda uma menção honrosa no Festival de Veneza, “Ponyo on a Cliff” pertence ao grupo de filmes de Miyazaki com uma lógica mais infantil, dos quais o expoente máximo será “My Neighbor Totoro”. Não estamos perante uma obra demasiado elaborada a nível argumentativo, notando-se efectivamente que se tratará de uma película que agradará de sobremaneira às crianças. Da minha parte, tenho alguma pena que a história pessoal do pai de “Ponyo”, o humano “Fujimoto” tenha sido algo descurada. Existe algo que desperta a nossa curiosidade no sentido de querer conhecer algo mais acerca desta personagem em concreto. Embora se depreenda que “Fujimoto” se encontra extremamente desiludido com a actuação dos seus pares, no que toca à maneira como os mesmos tratam os oceanos. Igualmente a relação entre “Sosuke” e o pai, não é abordada significativamente. Os pais são algo descurados nesta história, pelo contrário as mães não, porquanto “Risa”, a progenitora de “Sosuke” tem um papel essencial na trama. Igualmente, na segunda parte da película, a deusa “Guanmamare”, mãe de “Ponyo”, assume-se como um dos elementos primordiais, e verdadeiramente decisivo no que concerne ao epílogo. Provavelmente, estaremos perante uma das características mais prementes das obras de Miyazaki, que consiste em expor elementos femininos muito carismáticos, e com uma força e determinação, que nada se compadece com o termo “sexo fraco”.

Guranmamare, a mãe de Ponyo

“Guranmamare, a mãe de Ponyo”

A vertente ecológica está omnipresente, não fosse esta uma obra onde o meio marítimo assume um destaque inolvidável. Miyazaki oferece-nos mais um olhar sob a loucura dos homens, que devastam o mar com comportamentos poluidores primários. No entanto, está implícita a velha mas sensata ideia que a natureza se pode revoltar perante as agressões a que está sujeita por parte da humanidade, e terá mecanismos de auto-defesa que merecem ser respeitados. A ideia já havia sido explorada em anteriores obras do realizador, dos quais destaco neste particular, o soberbo “Princess Mononoke”. A animação, por sua vez, evidencia-se num plano elevadíssimo, e que serve apenas para confirmar que Miyazaki é o maior e melhor realizador de animação vivo. Na história, apenas Walt Disney poderá disputar-lhe o trono. Não é à toa que Miyazaki é conhecido como o Walt Disney japonês. Em “Ponyo on the Cliff”, Miyazaki esmerar-se-ia de sobremaneira, não fosse este o filme que possui mais desenhos individuais (muitos feitos pelo realizador), com um número superior a 170.000 imagens diferentes. O mundo marinho criado pelo autor japonês, é algo bizarro, mas de uma beleza por vezes indescritível. E a nível do desenho das personagens, destaco a deusa “Guanmamare”, que está verdadeiramente impressionante. Existe quem defenda que o realizador neste filme pretendeu dar um corpo fiel à imaginação de uma criança. Sou obrigado a expressar aqui a minha anuência, pois é precisamente isso que transparece.

Não restam dúvidas que “Ponyo on the Cliff” revela ser um bom filme de animação, mas falta algum brilhantismo de obras anteriores do autor. Atrever-me-ia mesmo a afirmar que é capaz de ser a sua película menos emblemática, e com uma pujança diminuída. Mas quando se atinge o nível de certas películas de Miyazaki, é normal que a exigência e a bitola sejam inapelavelmente colocadas num nível muito elevado. E, como em tudo na vida, é extremamente complicado manter o nosso trabalho numa velocidade de cruzeiro sem fim. Agora, e na decorrência do exposto, há que admitir igualmente, sem qualquer tipo de rodeio, que a pior película de Miyazaki seria eventualmente o topo para qualquer outro autor. Não é a histeria ou o “mito Miyazaki”, é apenas a constatação de uma realidade facilmente apreensível. Embora não seja um filme que tenha uma temática relacionada com o Natal, é do conhecimento público que os filmes de animação têm uma especial prevalência na época em que vivemos. Fica então o conselho para quem tem filhos, irmãos pequenos, ou outros petizes lá por casa, no sentido de, se puderem, arriscarem a mergulhar no mundo mágico de “Ponyo on the Cliff”. Julgo que não se arrependerão.

Ponyo

Ponyo corre alegremente sobre as ondas”

imdb Nota 8.0/10 (7.744 votos) em 13/12/2009

Outras críticas em português:

  1. Animehaus
  2. Superoito
  3. Edu Coelho
  4. Ante Cinema
  5. Cineclube de Joane

Avaliação:

Entretenimento – 8

Animação – 9

Argumento – 7

Banda-sonora – 8

Emotividade – 8

Mérito artístico – 9

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 8

quarta-feira, dezembro 09, 2009

“Testemunhos” de Takeo Maruyama (“Asian Fury”)

Takeo In Japan

O convidado desta semana é Takeo Maruyama, um descendente de japoneses, nascido no Brasil e que viveu parte da sua vida no país do sol nascente. Trata-se do simpático e prestável administrador do conhecido “Asian Fury” (para aceder, cliquem na foto acima). O Takeo tem sido dos “bloggers” dedicados ao cinema asiático que tenho convivido bastante (infelizmente, de forma virtual), e que há mais tempo tem aparecido pelo “My Asian Movies”, dando sugestões pertinentes acerca dos filmes que por aqui coloco, e até na rubrica das beldades da cultura asiática, quando calha colocar alguma foto que não corresponde à beleza em questão. Como facilmente se depreende quando acedemos ao site do Takeo, a sua predilecção são os “filmes de porrada”, com especial incidência no “Kung Fu Old School”. No entanto, o conteúdo do espaço do Takeo não se resume apenas aos filmes de artes marciais mais tradicionais, e frequentemente, existem incursões noutros géneros. Vale bem aceder ao “Asian Fury”, pois o Takeo tem um especial cuidado nas análises dos filmes, não facultando apenas a sua opinião, mas igualmente postando imagens bem emblemáticas e dando-nos a conhecer diversas curiosidades. Essencial, para aumentar a nossa cultura cinematográfica!

Abaixo fica o registo da entrevista.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Takeo Maruyama: Analisando dentro da minha área, que são os filmes de ação, especialmente os de Hong Kong, concluí o seguinte : os orientais têm um carisma diferente dos ocidentais.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

T.M. : O dinamismo das sequencias de ação e a genialidade das coreografias de lutas.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

T.M. : Não lembro exatamente o primeiro que visionei, mas lembro claramente o primeiro que me impressionou : Snake In The Eagle's Shadow, de Yuen Woo Ping, com um dos meus maiores ídolos Jackie Chan.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

T.M. : Sem dúvida, Hong Kong! Concluo isso pelo conjunto da obra, por tudo que a indústria cinematográfica de Hong Kong produziu desde o fim da década de 60, pois nos últimos anos poucos filmes de lá tem me impressionado. Embora Tailândia, Malásia, Japão, Coréia do Sul e até Vietnã e Singapura tenham produzido excelentes filmes de ação, o indústria de filmes de ação de Hong Kong é a mais importante do mundo na minha opinião, mesmo com a fraca produção atual.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

T.M. : Já tive a minha fase Heroic Bloodshed, mas o meu gênero favorito é definitivamente o Kung Fu Old School, especialmente do sub-gênero Shapes. Porém, nos últimos 2 anos eu tenho me aprofundado bastante nos filmes de zumbis chineses saltitantes, os famosos keung-sze (ou jiang shi em mandarim), imortalizados na obra-prima Mr. Vampire, de Ricky Lau.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

T.M. : Eu simplesmente ODEIO quando me pedem pra fazer um top, seja 5, 10 ou mesmo 50, pois os meus favoritos mudam toda semana e sempre vai ficar alguma coisa boa de fora, sem contar que, como sou um colecionador compulsivo, sempre adquiro filmes novos e antigos pro meu acervo e eventualmente descubro alguma obra-prima esquecida. Mas farei um esforço pra escolher os meus 5 favoritos.

  • Mr. Vampire : o filme que desencadeou a explosão dos filmes de keung sze na segunda metade dos anos 80. Teve muitas continuações e imitações, quase todas elas ótimas, mas nenhuma supera o original.

  • Fist Of Legend : a melhor versão da estória de Chen Zhen não é a de Bruce Lee e muito menos a de Donnie Yen, mas sim de Jet Li!

  • Operation Condor : Armour Of God 2 : embora Drunken Master 1 e 2, Snake In The Eagle's Shadow, The Fearless Hyena e Police Story tenham lugar garantido na minha lista de preferidos, considero Operation Condor um dos filmes mais criativos, completos, equilibrados - em suma, perfeito - de Jackie Chan. Possui cenas de ação simplesmente espetaculares e momentos cômicos divertidíssimos.

  • Tiger Cage 2 : reconheço que como uma produção cinematográfica Tiger Cage 1 é superior, mas como entretenimento Tiger Cage 2 é a melhor coisa que Yuen Woo Ping e Donnie Yen fizeram juntos! Já devo ter visto esse filme umas 20 vezes em VHS e mais umas 10 vezes em DVD!

  • The Avenging Boxer : após a revolução causada por Jackie Chan e Yuen Woo Ping com as obras-primas Snake In The Eagle's Shadow e Drunken Master, surgiram dezenas de imitadores, quase todos muito talentosos atuando em filmes excelentes. Peter Chen Lung foi um desses imitadores que infelizmente não teve o talento devidamente reconhecido e caiu no esquecimento. The Avenging Boxer é um filme que eu vi quando criança na casa de um tio, gravado da TV japonesa numa fita VHS importada. Uma grande pérola desconhecida.

“M.A.M”: Realizador asiático preferido?

T.M. : Dos antigos, provavelmente Sun Chung, que com seu estilo sofisticado dirigiu obras-primas tanto no gênero Kung Fu Old School (Avenging Eagle, The Master Strikes Back, A Fist Full Of Talons) quanto no gênero Heroic Bloodshed (City War).

Dos atuais, o mais me impressionou nos últimos anos foi Johnnie To. Mas em termos de ação, os tailandeses Panna Rittikrai e Prachya Pinkaew atualmente são os mestres!

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

T.M. : Sem levar em conta suas habilidades interpretativas - que são medíocres - os meus atores (prefiro chamá-los de performers) favoritos são a lenda viva Yasuaki Kurata e a sensacional Yukari Oshima, por terem sido ambos artistas marciais japoneses que conquistaram o respeito da indústria de Hong Kong. Confesso que as minhas raízes japonesas influenciaram um pouco as escolhas, he, he, he.

P.S. : Uma das metas da minha vida é conseguir toda a filmografia do Kurata. Por enquanto tenho apenas 59 filmes dele.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

T.M. : Sobrevalorizado? Definitivamente Hero de Zhang Yimou!!! Um belíssimo filme, sem sombra de dúvidas, mas muito pretensioso. Parece que Yimou filmou cada uma das cenas do filme pensando : “Vejam como sou genial!”. Perdoe-me, Jorge, pois sei que adoras esse filme, he, he, he.

Agora, um dos filmes que eu considero mais injustiçados do cinema asiático é Miracles, de Jackie Chan. Cansado de ser acusado de cineasta medíocre, Chan atuou e dirigiu esse remake de 2 clássicos de Frank Capra, Lady For a Day (1933) e Pocketful Of Miracles (1961). A Golden Harvest investiu uma fortuna em sua produção, com uma excelente constituição de época, filmando nos antigos estúdios da Shaw Brothers, e Jackie Chan inovou até nos movimentos de câmera, sofisticados e intrincados, sem esquecer das suas coreografias criativíssimas. Miracles foi até que bem recebido pela crítica, mas o resultado nas bilheterias foi desapontador comparado com o que foi investido pelo estúdio. Infelizmente até hoje esse filme é pouco lembrado. Tenho certeza de que a maioria dos críticos de Jackie Chan nunca ouviu falar desse filme, por isso acham que seus filmes não têm nenhum valor artístico.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

T.M. : Até há alguns anos atrás nós tínhamos no Brasil um selo excelente chamado China Video, que tinha em seu catálogo centenas de clássicos de Hong Kong e vários filmes japoneses e sul-coreanos. Inclusive eles lançaram no Brasil vários daqueles clássicos da Shaw Brothers remasterizados pela Celestial muito antes dos americanos começarem a lançar em R1, o que considerei uma iniciativa corajosa e profundamente admirável! Infelizmente a China Video encerrou as atividades já fazem uns 2 anos.

Existia também um selo mais popular chamado Works que lançou no Brasil dezenas de filmes de kung fu obscuros, geralmente de domínio público. Apesar da baixa qualidade de seus lançamentos, era uma boa oportunidade de se adquirir grandes pérolas do cinema B chinês a preços baixos. Eles também já não lançam nada há alguns anos.

Desde então só as grandes produções asiáticas mais conhecidas têm sido lançadas em solo brasileiro por distribuidoras mainstream. Pra colecionadores hardcore como eu, é muito pouco.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

T.M. : Procure por filmes asiáticos compatíveis com o seu gosto. Se uma pessoa gosta de dramas e filmes de arte europeus, certamente vai odiar Jackie Chan e Stephen Chow, assim como um fã de Stallone e Schwarzenegger vai dormir num filme de Wong Kar Wai. O importante é saber que existem filmes asiáticos de todos os gêneros, e também filmes bons e ruins em qualquer gênero. Uma boa dica é procurar informações em blogues excelentes como o MY ASIAN MOVIES, pra ter uma idéia por onde começar. (He, he, he, Jorge, depois dessa vou querer um DVD de presente, OK?)

 

terça-feira, dezembro 08, 2009

Beldades da Cultura Asiática - Koda Kumi











Esta lindíssima e voluptuosa cantora japonesa, foi uma sugestão do Dewonny. Mais informações AQUI.

sábado, dezembro 05, 2009

Kanchivaram (2008)

Capa

Origem: Índia

Duração aproximada: 120 minutos

Realizador: Priyadarshan

Com: Prakash Raj, Shreya Reddy, Sreekumar, Geetha Vijayam, Jayakumar

Vengadam

O tecelão Vengadam”

Sinopse

Em 1948, nas vésperas da independência da Índia, “Vengadam” (Prakash Raj) é um tecelão de seda que vive em Kanchivaram (também conhecida por Kanchipuram), uma povoação do estado de Tamil Nadu. Aquando do nascimento da sua filha “Thamarai”, “Vengadam” cumpre a tradição e, perante a sua esposa “Annam” (Shreya Reddy) e toda a vizinhança, faz uma promessa aos ouvidos da bebé. Contudo, o que sai da boca do homem deixa todos perplexos. “Vengadam” afirma que quando chegar a altura de a sua filha casar, a mesma o fará vestida com um sari de seda. Tal revela ser muito temerário, pois ninguém consegue perceber como é que um pobre tecelão, arranjará dinheiro para uma peça de roupa tão valiosa.

Vengadam e Annam

Vengadam e a esposa Annam”

Efectivamente, “Vengadam” possui algumas economias que conseguiu poupar durante muitos anos, mas o seu cunhado estraga-lhe os planos ao pedir-lhe o dinheiro para evitar a ruína. Sem outra saída, o tecelão começa a roubar do seu local de trabalho todos os dias, um pequeno pedaço de seda. Concomitantemente, vai tecendo em causa o sari. Para além de trabalhar para cumprir a promessa à sua filha, “Vengadam” começa a descobrir o comunismo, e desenvolve uma luta para melhorar as condições dos seus colegas tecelões.

Uma família feliz

Uma família feliz”

Review”

Escrever acerca de “Kanchivaram”, no “My Asian Movies” é uma oportunidade de ouro para desmistificar uma das ideias erradas que se tem acerca do cinema que se faz na Índia. Efectivamente “Kanchivaram” é uma película indiana, mas não de “Bollywood”. Trata-se de uma obra do cinema Tamil, também conhecido como “Kollywood”. Portanto, e correndo o risco de ser repetitivo, é de retirar de vez a ideia que “Bollywood” e cinema indiano são sinónimos. O que se passa é que a Índia possui muitas cinematografias, das quais “Bollywood” é apenas uma, embora a mais representativa. Feito este reparo, cabe prosseguir. “Kanchivaram” surpreendeu muito pela positiva. Além de ter vencido dois “National Film Awards” (Melhor Filme e Melhor Actor), os galardões de cinema mais importantes na Índia a par dos “Filmfare Awards”, teve a honra de ter sido dos primeiros filmes indianos a terem estreia internacional. Mais propriamente no prestigiado “Festival Internacional de Cinema de Toronto”.

O realizador Priyadarshan sempre foi mais conhecido por dar corpo a comédias ilógicas e “non sense”, tendo inclusive uma já ter sido abordada aqui no blogue. Falo do divertidíssimo “Hera Pheri”. Pelo exposto, parecia ser dos menos improváveis para lidar com uma película com um tom tão sério e profundo como “Kanchivaram”. De facto, estamos perante uma obra dotada de um argumento muito forte e bem plasmado no ecrã, que lida com temas interessantíssimos, tanto do ponto de vista social, como político. Nos rituais hindus, a seda é um símbolo de santidade e de ausência de mácula, sendo usada para purificar a alma em dois momentos essenciais na vida de uma pessoa, a saber, o casamento e a morte. É com base nesta premissa, que Priyadarshan constrói e desenvolve uma trama poderosa e tocante, que certamente não defraudará as mentes mais esclarecidas. O realizador faz uso de uma técnica que resulta muito bem e que consiste em começar “Kanchivaram” no presente, e em vários “flashbacks” que emanam da mente do tecelão, “Vengadam”, ir-nos apresentando a história de uma vida sob diferentes fundos e cores.

A filha de Vengadam

A bebé Thamarai, filha de Vengadam”

Outro aspecto sócio-político, que constitui uma parte muito importante da película, passa pela descoberta da ideologia comunista por parte de “Vengadam”. Influenciado por um professor e filósofo, que o doutrina, “Vengadam” insurge-se contra as condições precárias (para não dizer miseráveis) de que os seus companheiros tecelões e ele próprio são alvo. Os espancamentos, os parcos ordenados, o desprezo e desconsideração evidenciado pelo patrão, levam a que “Vengadam” se insurja e organize formas de luta, essencialmente a greve. Contudo, e aqui reside a ironia da vida, as razões do coração muitas vezes acabam por se sobrepor ao restante e “Vengadam” vê-se obrigado a uma escolha crucial. E essa mesma opção arranja-lhe dissabores e marca a sua existência para sempre.

As actuações dos intérpretes de “Kanchivaram”, são todas de excelente nível, com excepção do actor britânico que representa um abastado comerciante inglês. O seu amadorismo é, por demais, notório. O actor principal Prakash Raj, evidencia uma actuação notabilíssima, deixando para trás os seus costumeiros papéis de vilão, e abraçando um homem terno, valente e que tenta lutar contra preconceitos negativos enraizados no meio onde vive. Tudo com a força que advém do amor que sente pela filha e pela esposa, e dos ideais, quer se concorde ou não, que brotam de uma ideologia até então desconhecida para “Vengadam”.

Com a realização de “Kanchivaram”, Priyadarshan desfere um forte golpe na sua fama de realizador de obras sem conteúdo, ganhando mais respeitabilidade e abalando as nossas consciências pessoais. Poderá faltar ao filme alguma espectacularidade ou aura sumptuosa, própria do mundo de sonho de “Bollywood”, do qual esta película não faz parte. Não vive de coreografias previstas ao milímetro, até porque não possui nenhum tipo de dança, mas sim uma bonita canção de embalar. Isto tudo para dizer que a aura comercial é praticamente inexistente no filme. Agora uma coisa é certa. Trata-se de um drama profundo e impregnado de um enorme sentido de humanidade. Acresce o facto de “Kanchivaram” possuir uma aura educativa muito presente e que valoriza imenso a obra em questão. Por estas e outras razões, não restarão muitas dúvidas que “Kanchivaram” perdurará nas memórias de todos aqueles que se atrevam a visioná-lo. É apenas o constatar de um facto, nada mais.

Pai e filha

Pai e filha”

imdb Nota 8.6/10 (84 votos) em 5/12/2009

Outras críticas em português:

  1. Cinema Indiano

Avaliação:

Entretenimento – 7

Interpretação – 9

Argumento – 9

Banda-sonora – 8

Guarda-roupa e adereços – 7

Emotividade – 9

Mérito artístico – 8

Gosto pessoal do “M.A.M.” – 7

Classificação final: 8

quarta-feira, dezembro 02, 2009

“Testemunhos” de Nuno Pereira (“Nunices”)

Entrega de prémios 2º concurso 2

Antes de tudo, o Nuno Pereira, entrevistado de hoje, é um amigo. Desde quase o início da existência do “My Asian Movies”, sempre apoiou o administrador deste blogue, incentivando-o com palavras de força e elogio às já mais de 200 críticas que por aqui escrevi. Quis o destino que, aquando da edição do 1º concurso que lancei neste espaço, o Nuno vencesse e, como bom madeirense, fizesse questão de vir à terra-natal receber o merecido prémio, que gentilmente ofereceu a duas fervorosas apoiantes, que com ele formaram a “Santa Aliança”. Foi aí que conheci esta pessoa simpatiquíssima e fiquei seu amigo. Posteriormente, e aquando da disputada segunda edição do concurso anual do “My Asian Movies”, o Nuno, apesar de ter começado tarde na peleja, venceu outra vez, ganhando o estatuto de bicampeão. Ficam pois, já a saber, que o convidado de hoje é o “alvo a abater” (no bom sentido), na terceira edição do concurso que tentarei levar a cabo possivelmente no mês que vem (Janeiro de 2010). O Nuno, para além de ser um grande apreciador dos “cinemas orientais”, também anda nestas lides imensas da blogosfera. Possui um espaço denominado sugestivamente de “Nunices”, onde expõe as suas divertidíssimas histórias de vida, que são um regalo de ler. Para acederem ao blogue do Nuno, basta clicarem na foto acima, aproveitando para elucidar que foi tirada aquando da entrega do prémio que o Nuno venceu na segunda edição do concurso (À esquerda estou eu, e à direita está o Nuno com o dvd “My Sassy Girl”).

Abaixo segue o resultado da entrevista.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Nuno Pereira : A forma como os orientais “sentem” e nos transmitem a visão de realidades comuns a qualquer outra cultura.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

N.P. : Fascina-me o modo como “filmam os sentimentos” e fascina-me a História Oriental que tão bem nos é mostrada nos épicos orientais.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

N.P. : Não me lembro do nome, mas foi sem dúvida nenhuma um filme de Kung-fu…provavelmente algum do Bruce Lee.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

N.P. : Confesso que gosto muito dos clássicos japoneses que nos deram Ozu, Mizoguchi, Kurosawa, Oshima… mas gosto também do novo cinema Coreano, e dos grandes épicos chineses.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

N.P. : O que mais gosto são os épicos, mas gosto também do Wuxia e Chambara , se bem que os dramas estão a conquistar-me cada dia mais.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

N.P. : Oldboy; Ran- Os Senhores da Guerra; Herói; Os Sete Samurais; O Tigre e o Dragão ( a ordem é arbitrária) …mas ficam tantas obras primas de fora deste 5 que me recordei mais rapidamente…gostei do Slumdog Millionaire, por exemplo.

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

N.P. : Como sabes, sou um fã de Zhang Yimou, mas não podia deixar de mencionar, como mínimo, os clássicos japoneses que mencionei acima e Wong Kar Wai , Kim Ki-duk e Park Chan-wook.

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

N.P. : Tony Leung….(e Toshiro Mifune )

..e a minha paixão platónica: Gong Li.

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

N.P. : Sobrevalorizado… talvez: “The Host”

Subvalorizado… os de Kim-Ki-Duk….… e os de Ozu e de Mizoguchi (principalmente por ti…ehehehehe).

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

N.P. : Acho que tem vindo a melhorar, devido a alguns festivais no nosso país, mas é ainda muito desconhecido. No que respeita a edições em DVD é quase escandaloso, com excepção dos filmes do Jackie Chan e do Jet Li…basta ir à Fnac para confirmar.

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

N.P. : Que comece por ver filmes premiados em festivais, e que tente variar no estilo do filme e no realizador. É o que faço a quem me pede para ser “iniciado” no cinema oriental, empresto um épico de Zhang Yimou, um clássico japonês, um drama de Wong Kar Wai ou de Kim Ki-duk, um de acção como “Infiltrados”…