"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

quinta-feira, outubro 30, 2008

Red Cliff/Chi bi - 赤壁 (2008)
Origem: China/Hong Kong
Duração: 140 minutos
Realizador: John Woo
Com: Takeshi Kaneshiro, Tony Leung Chiu Wai, Zhang Fengyi, Chang Chen, Vicky Zhao, Hu Jun, Li Ching Ling, Shido Nakamura, You Yong, Song Jia, Tong Dawei, You Yong, Ba Sen Zha Bu, Zhang Jingsheng, Zhang Shan, Shi Xiaohong, He Yin
"O genial estratega Zhuge Liang"
Sinopse

No ano de 208, “Cao Cao” (Zhang Fengyi) o primeiro-ministro do imperador Han, convence este a declarar guerra aos senhores feudais do Sul da China “Liu Bei” (You Yong) e o duque de Wu “Sun Quan” (Chang Chen), afirmando falsamente que estes são traidores. Temendo “Cao Cao”, o monarca acede aos desejos deste e nomeia-o comandante de todos os exércitos, permitindo assim que este desencadeie o conflito.

“Liu Bei” e o seu povo conseguem escapar à justa após a batalha de Chang Ban, e refugiam-se numa fortaleza remota do reino. A sede de poder de “Cao Cao” está longe de ser saciada e este continua a progredir com o seu vasto exército. “Zhuge Liang” (Takeshi Kaneshiro), o genial estratega de “Liu Bei”, dirige-se aos domínios de “Sun Quan”, em ordem a solicitar a ajuda daquele no sentido de fazerem uma aliança militar contra os desígnios de “Cao Cao”. Com o auxílio do valente militar e principal conselheiro de “Sun Quan”, o vice-rei “Zhou Yu” (Tony Leung Chiu Wai), “Zhuge Liang” consegue a tão pretendida união de esforços.

"O vice-rei Zhou Yu"

Após uma grande vitória contra os exércitos terrestres de “Cao Cao”, as forças combinadas de “Liu Bei” e “Sun Quan”, concentram-se na fortaleza de “Zhou Yu” conhecida como “Precipício Vermelho” (“Red Cliff”) e aguardam o confronto decisivo com as imensas forças de “Cao Cao”, compostas por 800.000 homens e 3.000 embarcações de guerra.

"Review"

Após uma longa passagem por Hollywood, o mítico realizador John Woo decide voltar à terra-natal não para realizar mais um dos seus sensacionais “heroic bloodshed”, mas para se aventurar no género épico. Para o efeito, foi-se inspirar na batalha dos precipícios vermelhos, um conflito armado que ocorreu no fim da dinastia Han, mais precisamente no ano de 208, e que antecedeu o período conhecido como o dos “Três Reinos”. A sua localização exacta é alvo de intensa discussão académica, sendo certo apenas que a mesma se desencadeou algures no rio Yangtzé. John Woo, no sentido de conferir uma verdade histórica mais palpável à sua obra basear-se-ia na “Crónica dos Três Reinos”, um documento oficial escrito por um militar da época de seu nome Chen Shou. No entanto, é certo que Woo não seguiu escrupulosamente a sua fonte primária, e enveredou por uma compreensível romantização no sentido de tornar esta longa-metragem mais apelativa ao grande público. Mas isso é o que praticamente toda a gente faz, e não é nada a que não estejamos já habituados. Cumpre ainda referir que “Red Cliff” é o filme asiático mais dispendioso da história, com um orçamento que ronda os 80 milhões de dólares. Enquanto na Ásia o filme terá duas partes que em conjunto totalizarão mais de 4 horas, para o Ocidente será feito um único filme com duas horas e meia de duração. Como sou avesso a cortes na sala de edição, seguirei a linha escolhida para a Ásia, e dissertarei um pouco acerca da primeira parte, ansiando para que em 2009 tenha a oportunidade de partilhar o meu ponto de vista convosco acerca do epílogo desta película, consubstanciada na segunda parte.

"O primeiro-ministro do imperador Han, o ambicioso Cao Cao"

Os épicos asiáticos tendem a ser verdadeiramente grandiosos, não apenas em meios, mas igualmente em emoção, mensagem, sentimento e tudo aquilo que nós fãs do género prezamos com tanto coração. São estas características que normalmente os distinguem dos seus congéneres ocidentais, que muitas vezes são capazes de os superar na questão logística, mas que normalmente perdem aos pontos no que toca à envolvência transmitida ao espectador. Quem costuma visitar este espaço sabe que gosto de todos os géneros de cinema sem distinção, mas quando toca a puxar pelo pendor heróico “da coisa”, têm aqui um homem para o que der e vier. É por este mesmo motivo que os anos de 2007 e 2008, consubstanciaram-se numa possível época de ouro para mim, com a realização de um elevado número de longas-metragens que em potência poderiam preencher-me as medidas. Falo de “Warlords”, “The Forbidden Kingdom”, “Three Kingdoms: Ressurrection of the Dragon”, este “Red Cliff” e “An Empress and the Warriors”. É certo que muitas vezes a expectativa dá lugar à desilusão, e o último filme mencionado ficou bastante longe de ser algo memorável. Felizmente, o mesmo não se pode afirmar em relação a este que agora se analisa.

Os meios usados são, à falta de expressão melhor, verdadeiramente impressionantes e preenchem as medidas aos espectadores. Estamos a falar de centenas de figurantes, referindo só a título de curiosidade que o exército vermelho chinês cedeu 1000 soldados para intervirem no filme. A apresentação dos exércitos, assim como da frota de navios de guerra deslumbra ao máximo, mesmo que nos apercebamos que houve algum inevitável recurso a imagens geradas por computador. Junte-se a estas características um guarda-roupa, decoração, arquitectura e manancial bélico marcado pelo detalhe, acompanhado de paisagens e fotografia esplendorosa e...já está! Temos uma receita de sucesso, e meio caminho andado para que o filme seja um êxito garantido, com o necessário sucesso de bilheteira. Não esquecer ainda a competente banda-sonora do excelente compositor japonês Taro Iwashiro, cujo trabalho em “Shinobi: Heart Unde Blade” simplesmente adorei! Embora aqui não atinja um nível semelhante, consegue nos hipnotizar o suficiente para nos embrenharmos ainda mais na película.

"O exército de Liu Bei prepara-se para a batalha, com o poderoso general Guan Yu na dianteira"

Por sua vez, os combates estão bem conseguidos, tanto de um ponto de vista colectivo como individual. “Red Cliff” aqui não deixa mesmo os seus créditos por mãos alheias e consegue elevar mais ainda os seus índices de pujança visual, ou não estivéssemos a falar de John Woo, auxiliado pela coreografia engendrada por Corey Yuen. É muito agradável à vista observar os planos da batalha em que as forças aliadas adoptam uma estranha mas bastante efectiva formação de anéis de tartaruga, que enreda as forças de Cao Cao numa bem urdida armadilha. Mas o que ainda mais me agradou foram as performances individuais que se destacam no meio da contenda geral. Para a alegria de muitos e também a desilusão de outros tantos, Woo decidiu fugir ao combate clássico, e colocar alguns elementos mais próprios do wuxia, com auxílio de guindastes se tal fosse necessário, fazendo com que uma aura mística e lendária rodeie os guerreiros. Contudo, não se ouse pensar que a crueza encontra-se ausente! Quando é necessário atacar forte e duro, com bastante sangue à mistura, temos igualmente uma mão cheia de cenas para satisfação pessoal. Sob o signo da espectacularidade, em que Woo sempre quase viveu, consegue-se concretizar uma saudável mescla de ambos os estilos de combate que só vem elevar o filme, na minha humilde opinião.

Não foi isenta de atribulações a reunião do elenco para “Red Cliff”, e atendendo à expectativa que tinha acerca da película, foi uma situação que acompanhei um pouco, recolhendo informação pelos sítios da especialidade, à medida que a coscuvilhice se ia desenrolando. Originariamente, o conhecedíssimo actor Chow Yun Fat (um velho conhecido de John Woo) tinha sido recrutado para o papel do vice-rei Zhou Yu, uma das personagens mais emblemáticas da trama. Posteriormente, Yun Fat viria a recusar a participação, alegando para o efeito que tinha recebido o guião uma semana antes da rodagem começar e por esse motivo não ter possibilidades de se preparar convenientemente. Terence Chang, o produtor da película desmentiu veementemente este facto afirmando que a seguradora do actor tinha se oposto a 73 (?!) cláusulas do contrato do actor. Por sua vez, outro monstro do cinema asiático Ken Watanabe teria sido seleccionado para o papel do vilão do filme Cao Cao. Supostamente, e aqui entram os costumeiros nacionalismos, não foi bem visto o facto de uma personagem importante da história chinesa ser interpretado por um estrangeiro. O consagrado Zhang Fengyi viria a ganhar o papel. Por fim, o meu actor favorito Tony Leung Chiu Wai. No início estava-lhe destinada a representação de Zhuge Liang, do meu ponto de vista a figura mais importante desta obra. O actor viria a declinar, invocando a razão de estar esgotado devido às filmagens de “Lust, Caution”. Numa reviravolta que poucos perceberam, Tony Leung viria a retornar ao “cast”, desta vez para assumir o papel que estava destinado a Chow Yun Fat, ou seja o do vice-rei Zhou Yu. Zhuge Liang viria a ser entregue a Takeshi Kaneshiro, um actor que dispensa qualquer tipo de apresentação. O certo é que o “casting” final redundou numa verdadeira constelação de estrelas de grandes cinematografias asiáticas, a saber, da China, Hong Kong e Japão. E embora o resultado da representação pudesse ter sido melhor, atendendo à qualidade intrínseca dos intervenientes, nota-se que o binómio entretenimento/espectacularidade levou a melhor sobre qualquer tipo de possível interpretação transcendental. A realidade é que todos, sem excepção, cumprem o que lhes é pedido, e o resultado é muito bom.

É curioso, e ao mesmo tempo de relevar, que as personagens são apresentadas num estilo que em muito homenageia os grandes clássicos de wuxia e até do denominado “kung fu old school”, cuja trama principal versava sobre a luta de um grupo heróico de guerreiros contra uma qualquer força opressora dominante. Temos o estratega nato e a personificação da inteligência erudita em “Zhuge Liang”, a valentia honrada em “Zhou Yu”, a coragem escondida em “Sun Quan”, a irreverência na princesa “Sun Shangxiang” (interpretada pela sempre bela Vicki Zhao), todos apoiados por um manancial de guerreiros, cada um com as suas qualidades pessoais e de combate muito próprias e distintas. A sim à primeira vista, lembrei-me de “The Water Margin” (a série, pois nunca tive o prazer de ver o filme de Chang Cheh), protagonizada pelo actor japonês Atsuo Nakamura, e que há uns anos passou na “SIC Radical” (para os leitores que não vivem em Portugal, ou que não têm acesso aos canais portugueses, informo que é um canal de televisão).

Resta ainda referir que o costumeiro e inevitável fetiche das pombas de John Woo, encontra-se bem presente em “Red Cliff”. Os simpáticos bichos marcam a sua presença em algumas fases do filme, tais como na homenagem ao mensageiro de Wu que é morto por “Cao Cao”, numa clara manobra de intimidação contra os aliados ou na parte em que propõem o casamento da princesa “Sun Shangxiang” a “Liu Bei” de forma a cimentar mais a aliança. As pombas acabam por assumir uma papel mais interventivo na longa-metragem, não se assumindo apenas como um adorno decorativo ou simbólico, mas igualmente servindo como um meio de comunicação à distância entre os guerreiros.

Confesso que a primeira parte de “Red Cliff” deixou-me com água na boca, e correspondeu bastante às minhas expectativas. Estamos perante um filme que se se enquadra na melhor tradição dos épicos asiáticos, e que ainda consegue introduzir alguns elementos do wuxia que acentuaram mais a sua espectacularidade. Aguardemos então por 2009, na esperança que o melhor ainda foi deixado para a segunda parte, ou seja, a própria batalha decisiva do precipício vermelho, que promete ser um dos maiores confrontos épicos da história do cinema!

Muito bom!


"As forças aliadas atraem o exército Han para uma armadilha, usando a táctica dos anéis de tartaruga"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português/espanhol:

  1. Viscera Blog
  2. Batto presenta...
  3. Noite Americana

Avaliação:

Entretenimento - 9

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 10

Emotividade - 8

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,50






terça-feira, outubro 28, 2008

Beldades do Cinema Asiático - Kareena Kapoor

Esta bela actriz de 28 anos, nasceu no seio de um dos clãs mais influentes do cinema de Bollywood, a família Kapoor, que representa cinco gerações de actores, produtores e realizadores do mais elevado quilate. Conhecida por dedicar-se a muitas causas humanitárias, à semelhança de outros seus colegas do cinema de Mumbai, já tive a oportunidade de analisar o seu trabalho em textos publicados aqui no blogue acerca dos filmes “Asoka” e “Omkara”. É uma intérprete que põe bastante sentimento nas suas actuações, sendo natural que assim seja induzida atendendo ao espectro cinematográfico de onde provém. A diferença é que são raras as actrizes que o conseguem com a naturalidade de Kareena Kapoor. Um valor seguro, e que nos desperta várias sensações!





Site de fãs AQUI.



domingo, outubro 26, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático, sujeito ao vosso escrutínio no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Yoshishige (Kiju) Yoshida

Informação

Filmografia enquanto realizadores (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):

  1. Good for Nothing (1960)
  2. Blood Is Dry (1960)
  3. Bitter End of a Sweet Night (1961)
  4. Akitsu Springs (1962)
  5. 18 Roughs (1963)
  6. Escape From Japan (1964)
  7. A Story Written with Water (1965)
  8. Woman of the Lake (1966)
  9. The Affair (1967)
  10. Impasse (1967)
  11. Affair in the Snow (1968)
  12. Farewell to the Summer Light (1968)
  13. Eros plus massacre (1969)
  14. Heroic Purgatory (1970)
  15. Confessions Among Actresses (1971)
  16. Coup D'Etat (1973)
  17. A Promise (1986)
  18. Wuthering Heights (1988)
  19. Lumiére and Company (1995)
  20. Women in the Mirror (2002)
  21. Welcome to São Paulo (2004)


quinta-feira, outubro 23, 2008

The Scarlet Letter/Juhong geulshi - 주홍글씨 (2004)

Origem: Coreia do Sul


Duração: 118 minutos


Realizador: Daniel Byun Hyuk


Com: Han Suk-kyu, Lee Eun-joo, Seong Hyeon-a, Uhm Ji-won, Kim Jin-geun

"Ki-hoon"

Sinopse

“Ki-hoon” (Han Suk-kyu) é um bem sucedido oficial da polícia, que ama a sua esposa “Su-hyun” (Uhm Ji-won), mas que não consegue evitar dar azo à enorme atracção que sente pela amiga da mulher, “Ka-hee” (Lee Eun-joo), uma cantora de jazz que actua num bar chamado “Blue Note Seoul”. Por este motivo, “Ki-hoon” mantém um casamento aparentemente feliz, mas ao mesmo tempo envereda por uma relação extraconjugal.

Certo dia, “Ki-hoon” é destacado para averiguar as circunstâncias em que ocorreu o homicídio do dono de uma loja de fotografia, que foi encontrado morto pela sua infeliz mulher “Kyung-hee” (Seong Hyeon-a). O polícia desde o início, e devido a certos indícios, desconfia que “Kyung-hee” assassinou o marido e limitado pelo tempo, lança-se numa intrincada investigação.

Contudo, a vida dupla de “Ki-hoon” não facilita em nada as coisas. A mulher e a amante engravidam dele quase simultaneamente. Dividido entre o amor e o dever, o detective tenta manter o seu intrincado estilo de vida. No meio da mentira e da ilusão, acontece muitas vezes que o resultado nem sempre é o melhor...

"Ka-hee"

"Review"

Adoptando o título do conhecido romance do norte-americano Nathaniel Hawthorne, embora não sendo uma adaptação daquele, “Scarlet Letter” é um interessante thriller na linha de filmes como “Instinto Fatal” (“Basic Instinct”), que teve em Sharon Stone e Michael Douglas os seus protagonistas principais, e provavelmente o cruzar de pernas mais famoso da história do cinema. Kim Ki-duk, realizador insuspeito embora bastante incompreendido, referiu-se a esta película em concreto, como um dos dramas mais importantes da história do cinema sul-coreano. Quanto a mim, acho natural a comparação desta longa-metragem com a obra de Paul Verhoeven, embora tenha forçosamente de reconhecer que “The Scarlet Letter” não consegue um equilíbrio tão bom na exposição da trama, deixando os devaneios amorosos de “Ki-hoon” sublimarem-se em demasia perante a compreensão do assassinato do marido de “Kyung-hee” que quanto a mim deveria marcar mais alguns pontos na história. A investigação criminal é claramente secundarizada pela parte muito mais envolvente do triângulo amoroso protagonizado por “Ki-hoon”, “Ka-hee” e “Su-hyun”. Embora a escolha não mereça tanto assim a minha preferência, o filme não deixa de ter qualidade como já explicarei a seguir.

Adjectivos como decadente, agonizante e melodramático poderão definir razoavelmente bem “The Scarlet Letter”, desde que se acrescente uma dose razoável de erotismo atendendo aos padrões sul-coreanos. O sexo quando acontece é razoavelmente explícito e ardente para nos chamar a atenção, embora não avance por campos excessivamente lascivos. O filme mantém um ritmo mais ou menos constante, que nos mantém seguros na perspectiva a adoptar acerca da história. É um clássico conto de um triângulo amoroso, onde todos parecem ter razões suficientes para agir de determinada forma, mas que nos obriga de alguma forma a recriminar as atitudes dos intervenientes. Quanto ao nível de complacência, cabe à consciência de cada um graduá-lo. Tudo flui de forma segura, embora como já acima aludi, dever-se-ia em nome da identidade desta longa-metragem, ter conferido mais algum destaque à investigação do homicídio.

"Ka-hee canta no Blue Note Seoul"

A aura urbana do filme é extremamente forte, consubstanciada no ambiente bastante citadino próprio de uma metrópole vasta como Seul, a capital da Coreia do Sul. Tudo sofisticado, fazendo com que muito do enredo tenha como pano de fundo arranha-céus e ruas largas, exposições de pintura contemporânea, clubes de jazz e concertos de música clássica frequentados por pessoas de gabarito intelectual supostamente elevado. O apartamento de “Ka-hee” é um modelo de bom gosto, e só faço esta referência especial porque aquele "estaminé" representa um sonho de uma vida para mim :) !

Voltando ainda à trama, os últimos 20 minutos consubstanciam-se num volte-face quanto à relativa tranquilidade com que tudo flui e deixam-nos verdadeiramente de rastos. Falo, claro está, da famosa e claustrofóbica cena do porta-bagagens onde “Ki-hoon” e “Ka-hee” ficam inadvertidamente trancados, encarando de início as coisas de uma forma divertida, mas que com o decorrer do tempo vão piorando até à tragédia total. É o grande momento de “The Scarlet Letter”, e só por aqui já vale a pena dar uma espreitadela ao filme. O crescendo das cenas agoniou bastante o meu ser, pois é uma fase da película assaz intensa, violenta e psicologicamente ostracizante. O diálogo é memorável, e pessoalmente achei um portento de representação que infelizmente não se manteve ao longo de toda a obra. Provavelmente porque a ocasião faz o momento, e este foi mesmo um bastante assinalável. Faz-me perguntar até onde irá a imaginação quando se trata de reinventar novas formas de estarrecer o espectador.

Eu já tive a oportunidade anteriormente de conferir o trabalho do actor Han Suk-kyu no “blockbuster” sul-coreano “Shiri”, e na altura tinha ficado bem impressionado. Em “The Scarlet Letter” não apanhei nenhuma desilusão, pois o actor cumpre bem o que lhe é proposto, alternando com uma competência de relevar o papel do marido ternurento, com o do fogoso amante e do polícia dedicado mas pouco convencional. Quem deslumbra verdadeiramente é a malograda Lee Eun-joo, numa actuação extremamente bem conseguida. Infelizmente, esta seria a última oportunidade para podermos apreciar o trabalho desta bonita actriz, que devido a uma profunda depressão cometeria suicídio no dia 22 de Fevereiro de 2005, com apenas 24 anos. É comummente apontada como uma das razões para o estado da actriz, as cenas de nudez que a mesma protagonizou neste filme e à pressão social a que foi sujeita devido a este facto. Neste particular, não percebo muito bem qual o frenesim criado por tal situação. É certo que provenho de uma cultura diferente, menos preconceituosa numas coisas, mas possivelmente mais noutras. Mas atentemos ao panorama cinematográfico sul-coreano, e assim à primeira vista lembro-me da brilhante actriz Jeon Do-yeon que fez cenas muito mais explícitas em “Fim Feliz” (película que tem alguns pontos em comum com “The Scarlet Letter”), e nenhum mal daí veio ao mundo. Com certeza que algo mais haverá, e quem quiser se juntar à discussão, esteja à vontade. O mito estava criado e assim permaneceu até hoje. Quanto às actrizes Seong Hyeon-a e Uhm Ji-won nada de extraordinário trazem ao filme, mas daí não se lhes poderá assacar grandes culpas, pois houve uma clara aposta em Lee Eun-joo que tudo consumiu e ofuscou.

Com uma banda-sonora bastante agradável, mesclada de música clássica e “jazz”, “The Scarlet Letter”, está algo distante de grandes obras que o cinema sul-coreano felizmente já nos ofereceu. Contudo não deixa de constituir uma proposta bastante válida, que possuindo defeitos, terá certamente algumas qualidades que prenderão a atenção de muitos e que tentei resumir acima! Nem que sejam os portentosos 20 minutos finais...


"Um momento de paixão"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 8

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,75




terça-feira, outubro 21, 2008

Beldades do Cinema Asiático - Chiaki Kuriyama

Para os que não andam muito nestas lides do cinema asiático, Chiaki Kuriyama é aquela rapariga chamada “Gogo Yubari”, com um ar muito sádico que aparece em “Kill Bill, Vol. 1”, sendo a guarda-costas colegial de “O-Ren Ishii”, interpretada por Lucy Liu. Actualmente com 24 anos, esta modelo e actriz é das figuras mais populares do Japão, e que já participou em vários êxitos recentes do país do sol nascente tais como “Battle Royale”, Azumi 2: Amor ou Morte”, “Ju-On” ou “The Great Yokai War”. Mais uma bela actriz, com uma propensão natural para papéis de vilã, a quem se augura um futuro bastante sorridente.










Site de fãs AQUI.



domingo, outubro 19, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos desta vez um par de realizadores, que ao mesmo tempo são irmãos gémeos, sujeitos ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Irmãos Pang (Danny e Oxide)

Informação

Filmografia enquanto realizadores (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):

  1. Who Is Running ? - Oxide Pang (1997)
  2. Bangkok Haunted - Oxide Pang (2001)
  3. Nothing to Lose - Danny Pang (2002)
  4. Omen (2003)
  5. One Take Only - Oxide Pang (2003)
  6. The Tesseract - Oxide Pang (2003)
  7. The Eye 2 (2004)
  8. Leave Me Alone - Danny Pang (2004)
  9. Ab-normal Beauty - Oxide Pang (2004)
  10. The Eye 10 (2005)
  11. Re-cycle (2006)
  12. Diary - Oxide Pang (2006)
  13. Forest of Death - Danny Pang (2006)
  14. The Messengers (2007)
  15. The Detective - Oxide Pang (2007)
  16. In Love With the Dead - Danny Pang (2007)
  17. Bangkok Dangerous - remake (2008)


quinta-feira, outubro 16, 2008

A Better Tomorrow/Ying hung boon sik - 英雄本色 (1986)

Origem: Hong Kong

Duração: 90 minutos

Realizador: John Woo

Com: Ti Lung, Chow Yun Fat, Leslie Cheung, Waise Lee, Shing Fui On, Kenneth Tsang, Emily Chu, John Woo, Tsui Hark, Shi Yangzi, Tien Feng

"Mark"

Sinopse

“Ho” (Ti Lung) e “Mark” (Chow Yun Fat) são dois conhecidos membros de uma tríade, que encontram-se envolvidos numa vasta operação ilegal de falsificação de dólares americanos. “Ho” tem um irmão que adora e protege imenso, chamado “Kit” (Leslie Cheung). Apesar de o sentimento ser mútuo, “Kit” não desconfia da vida criminosa do irmão mais velho e sonha prosseguir uma carreira completamente antagónica, ou seja, ser um inspector da polícia de Hong Kong.

"Os irmãos Ho e Kit"

A tragédia abate-se sobre os dois irmãos, quando devido a um trabalho falhado de “Ho” em Taiwan, uma tríade rival assassina o pai de ambos. “Ho” é preso, “Kit” descobre a vivência ilícita do irmão e vota-lhe ódio e desprezo, enquanto “Mark” na sua sede de vingança fica inválido e leva a partir daí uma vida miserável. Após cumprir uma pena de prisão, “Ho” está decidido a recuperar a confiança e amor do irmão, e decide abandonar o crime, arranjando um emprego honesto como motorista de táxi. No entanto, as coisas não correm pelo melhor e o antagonismo de “Kit” aumenta ainda mais quando negam-lhe uma promoção, pelo motivo de ser o irmão de “Ho”.

As coisas pioram quando “Shing” (Waise Lee), actualmente o chefe mais poderoso das tríades, começa a infernizar a vida de “Ho” por este se ter recusado a juntar novamente à organização. Pressionados pelas actuações de “Shing”, os irmãos esquecem as suas querelas e com a ajuda de “Mark”, enfrentam sozinhos e de frente a tríade que não os deixa em paz na busca de um amanhã melhor.

"Shing rodeado dos seus capangas"

"Review"

Quando nos referimos aos filmes de tríades de Hong Kong, na vertente “heroic bloodshed”, é meu costume e de tantos outros afirmar que existe um período antes de “A Better Tomorrow”, e outro posterior que nos viria a dar obras brilhantes, quase todas da autoria de John Woo, tais como “The Killer”, “Bullet in the Head” e “Hard Boiled”. O cinema de Hong Kong viria a diversificar finalmente a sua internacionalização, não vivendo quase exclusivamente dos filmes de artes marciais ou do wuxia. E por aqui desde logo se afere da incontornável importância desta película, pois foi praticamente aqui que tudo começou no que toca a destilar qualidade e um estilo incomparável relativamente ao conceito da vingança servida num avassalador prato de balas por um anti-herói! Numa lista revelada nos “Hong Kong Film Awards” de 2005, onde foi consultado um painel composto por 101 pessoas, desde realizadores de cinema, críticos e estudiosos do fenómeno da sétima arte, “A Better Tomorrow” foi eleito o segundo melhor filme de sempre do triângulo China/Hong Kong/Taiwan (consultar o resto da lista AQUI). Convenhamos que qualquer escolha tem sempre muito de discutível, e o que é bom para um muitas vezes não vale nada para outro, mas é forçosamente necessário reconhecer que “A Better Tomorrow”, pela sua importância histórica e imponência cinematográfica, é um claro candidato a figurar em qualquer “top” da sétima arte que se preze. Praticamente sem publicidade de relevo antes da sua estreia, esta longa-metragem viria a bater recordes de bilheteira em toda a Ásia, e poder-se-á afirmar que não constituiu quase nenhum risco financeiro a feitura de duas sequelas e uma prequela.

Alertando desde já que sou um admirador do actor em questão, um dos aspectos que importa antecipadamente esclarecer é a real importância de Chow Yun Fat no filme, e que imperativamente terá de ser desmistificada. Com certeza que todos os que estão familiarizados com o filme, já se aperceberam que é a sempre a figura do mencionado intérprete que aparece por todo o lado em jeito de destaque, seja nos “trailers”, nas capas das inúmeras edições de dvd ou nas fotos mais emblemáticas. Com todo o respeito, e que é imenso, a verdadeira estrela da película é o actor Ti Lung, do qual Leslie Cheung e Chow Yun Fat constituem uns espectaculares adjuvantes. O verdadeiro coração desta longa-metragem assenta na relação dos dois irmãos “Ho” e “Kit”, suportadas por duas boas interpretações do já mencionado Ti Lung e do saudoso Leslie Cheung. A Chow Yun Fat está reservado um importante papel de rebeldia, determinação e fúria, residindo neste actor a força da longa-metragem, reconheço. Mas meus amigos, a alma e o espírito ficarão a cargo de Ti Lung e um pouco de Leslie Cheung. Se não vos confessasse isto, não estaria a ser sincero e a pactuar com o politicamente correcto. Cumpre ainda referir uma curiosidade e que passa por tanto John Woo, o realizador, como Tsui Hark (produtor) terem participações no filme, e não apenas como meros figurantes!

"Mark sofre um brutal espancamento"

A fórmula de sucesso é a mesma a que estamos habituados no que toca a John Woo, embora exista um certo refinamento em “A Better Tomorrow”, em detrimento de uma aposta mais premente nos espectaculares momentos de acção. Com uma trama forte, é-nos dado a interiorizar a actuação das tríades, e a amizade de “Ho” e “Mark”, evidenciando honra no mundo do crime. Paralelamente, observamos a grande ternura que une os irmãos “Ho” e “Kit”, com o irmão mais velho a assumir uma postura protectora e de admiração que muito colhe a nossa simpatia. O negócio ilícito corre bem, a amizade dos intervenientes parece impossível de ser abalada, e o futuro de “Kit” parece ser o mais auspicioso possível. O terreno está preparado para que possamos gozar à vontade as sensações posteriores de pena, revolta e vingança quando tudo descamba e o paraíso acabou.

Outro aspecto bastante propalado acerca de “A Better Tomorrow” é o facto de a película “rebentar as costuras” de estilo, possuindo cenas emblemáticas para dar e vender. Tirando a parte final, em que já se está mesmo a ver (por isso não é nenhum spoiler!) vai haver matança e balas a rodos, normalmente faz-se a apologia de uma cena que marca imenso o filme. Falamos do tiroteio com o cunho de Chow Yun Fat, aquando da vingança que leva a cabo pela prisão de “Ho”. O actor entra num restaurante, impecavelmente vestido de fato, coberto com um sobretudo. Num corredor, vai posicionando armas estrategicamente em canteiros de flores, enquanto está agarrado a uma bela rapariga. Entra na sala onde os seus inimigos estão a jantar, e cumpre o seu objectivo de assassinato. À medida que posteriormente vai recuando no corredor e as suas balas esgotam, retira as armas dos ditos canteiros e continua a disparar, cobrindo a sua retirada e espalhando o inferno na terra. Tudo alternado entre planos rápidos e “slow motion”. Esta sequência é uma candidata a lugar honroso numa rubrica do género “os dois minutos mais intensos da história do cinema”. No que toca a estilo, a personagem “Mark”, viria a marcar uma posição bastante forte perante a juventude de Hong Kong na altura. Muitos adoptaram o estilo evidenciado por Chow Yun Fat nesta longa-metragem, acorrendo às lojas para comprar sobretudos pretos (para o clima de Hong Kong isto é terrível, principalmente no Verão) e óculos “Ray-Ban”, e andando de palito na boca. As autoridades criticaram imenso este facto, acusando John Woo de propalar o estílo dos criminosos pertencentes às tríades. Poderá passar também por aqui a explicação para o facto de Chow Yun Fat ter um papel predominante no que toca a Leslie Cheung e Ti Lung, assunto que já abordei mais acima.

Quando “A Better Tomorrow” estreou em Hong Kong, foi um murro no estômago e tornou-se no filme com mais receitas de bilheteira na história da região administrativa chinesa, tendo mantido o lugar por alguns anos. Apesar de não chegar ao brilhantismo de “The Killer”, é um filme com um mérito cinematográfico extraordinário. O seu “quid” passará por iniciar a brilhante odisseia dos “heroic bloodshed” de John Woo, consubstanciando um dos períodos de ouro do cinema de Hong Kong. Mais pode se lhe assacar outra proeza de renome que foi catapultar para as luzes da ribalta um actor que até então era conhecido por só participar, salvo uma ou outra excepção, em verdadeiros fracassos de bilheteira, comédias duvidosas e dramas de calibre menor. Quem? Esse mesmo! Estou a referir-me a Chow Yun Fat.

Imperdível!

"O trio no meio do inferno final"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,25






segunda-feira, outubro 13, 2008

Beldades do Cinema Asiático - Shu Qi

Nascida em Taiwan, Shu Qi é sem margem para qualquer dúvida, uma das actrizes mais conhecidas actualmente do cinema asiático. E já agora das mais belas também, tendo feito uso da sua boa aparência no início da carreira onde posou nua para revistas e entrou em filmes “softcore”. A sua marca mais característica são os lábios extremamente sensuais e um sorriso contagiante que dá a volta a cabeça de qualquer um. Mas não só da beleza vive Shu Qi. Com 32 anos, já é dotada de uma cinematografia invejável, que actrizes mais idosas sonham atingir. Já tive aqui a oportunidade de escrever textos acerca de “Millennium Mambo”, “The Storm Riders”, “Beijing Rocks” ou “A Man Called Hero”, tudo películas onde esta extasiante actriz participou. Com certeza que esta linda mulher merecerá que eu escreva mais umas linhas acerca dela no futuro!




Façam o favor de se dirigirem a este magnífico site acerca da actriz AQUI.


domingo, outubro 12, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Hiroshi Teshigahara

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):

  1. Hokusai (1953)
  2. Ikebana (1956)
  3. Tokyo 1958 (1958)
  4. Jose Torres (1959)
  5. Pitfall (1962)
  6. La Fleur de L'âge/Les Adolescents segmento Ako (1964)
  7. Woman of the Dunes (1964)
  8. Jose Torres II (1965)
  9. White Morning (1965)
  10. Stranger's Face (1966)
  11. Explosion Course (1967)
  12. The Ruined Map (1968)
  13. Summer Soldiers (1972)
  14. Antonio Gaudi (1984)
  15. Rikyu (1989)
  16. Basara - The Princess Goh (1992)


quinta-feira, outubro 09, 2008

Green Snake/Ching Se - 青蛇 (1993)

Origem: Hong Kong

Duração: 98 minutos

Realizador: Tsui Hark

Com: Joey Wong, Maggie Cheung, Vincent Chiu, Wu Hsing Kuo, Lau Kong, Ma Jing Wu, Tien Feng

"Green Snake Xiao Qing"

Sinopse

As irmãs “Green Snake” (Maggie Cheung) e “White Snake” (Joey Wong) são dois demónios ancestrais em forma de cobra, que após um longo treino em feitiçaria, conseguem adquirir um aspecto humano. A razão que as norteia passa pelo facto de os humanos experienciarem o amor e a liberdade, sentimentos que à partida lhes estão negados. À medida que as duas belas mulheres vão-se habituando e apreciando a sua nova condição, “White Snake”, a mais velha e madura, apaixona-se e subsequentemente casa com o estudioso “Xu Xian” (Wu Hsing Kuo). O seu objectivo é gerar um filho, e desta forma consolidar a sua passagem para o reino dos mortais. Por seu lado, “Green Snake”, apesar de aos poucos se sentir atraída pela sua nova vida, ainda demonstra saudades da sua antiga forma de serpente, ao ponto de se transmutar ocasionalmente.

"As duas irmãs viperinas"

No entanto, esta situação cria um desequilíbrio na ordem natural das coisas, que chama a atenção dos budistas e taoístas mais esclarecidos e poderosos. Em decorrência deste facto, começa uma caça às duas irmãs, liderada pelo poderoso monge budista “Fa Hoi” (Vincent Chiu). No início, o sacerdote adopta uma postura de contenção perante as duas mulheres, atendendo a que as mesmas vivem calmamente e não molestam ninguém. Contudo, posteriormente “Fa Hoi” altera a sua forma de agir e passa ao ataque. No decurso da sua cruzada aparentemente justa, o monge descobre a real hipocrisia que se esconde por detrás do seu imaculado modo de vida.

"Green Snake e o monge Fa Hoi"

"Review"

Como qualquer região do mundo, a China possui uma mitologia própria, consubstanciada em milhares de lendas e contos, transmitidos muitas vezes por via oral. Sendo uma nação com uma riqueza cultural e teológica enorme, o manancial de histórias que poderão dar origens a filmes é quase infinito. A lenda da serpente branca é baseada numa dessas narrativas fantásticas do império do meio, que começou a ser transmitida por várias gerações e que originaria óperas chinesas, séries para a televisão e, como não podia deixar de ser, películas de cinema. A conhecida escritora de Hong Kong Lilian Lee, autora entre várias obras de “Adeus Minha Concubina”, daria corpo a um romance intitulado “Green Snake” que visa expôr a perspectiva dos eventos do ponto de vista de “Xiao Qing”, a irmã de “Bai Suzhen White Snake”, sendo esta normalmente a figura central do mito. Foi este o escrito que viria a servir de inspiração para a obra de Tsui Hark e que agora se tentará analisar um pouco.

Tsui Hark é sobejamente conhecido por ser um dos realizadores mais emblemáticos e importantes de sempre do cinema de Hong Kong. Uma das suas marcas indeléveis são os “wuxia”, as denominadas “fantasias de artes marciais”, ou simplesmente os filmes de artes marciais mais puros. Frequentemente as características essenciais destes três tipos de filmes aparecem misturadas nas películas que realizou, acontecendo por vezes algumas das suas longas-metragens estarem perfeitamente individualizadas no género onde se inserem. “Green Snake” é indubitavelmente uma “fantasia de artes marciais”, com naturais elementos do “wuxia”, estando na linha de películas como “A Chinese Ghost Story”, “Zu: Warriors of the Magic Mountain” ou “Dragon Chronicles (...)”, filmes acerca dos quais já escrevi anteriormente no “My Asian Movies”. Quer se goste ou não, tudo nasce da relevante paixão que Tsui Hark sempre nutriu pelas tradições ancestrais chinesas, aspecto que pessoalmente entendo que é de elogiar no realizador e onde o mesmo foi beber imenso na sua carreira, nem sempre com bons resultados.

Estamos perante um filme que apesar de se notar que o orçamento não foi assim tão generoso, tem momentos de rara beleza e virtuosidade. É certo que no início observamos os cabos que ajudam Vincent Chiu a planar, assim como as cobras não conseguem disfarçar o facto de serem de borracha. Igualmente muitos dos efeitos especiais são arcaicos e a um nível inferior de qualquer filme norte-americano dos anos '70. Contudo, “Green Snake” tem momentos de rara beleza e que manifestamente deslumbram o espectador. Os templos budistas, as florestas de bambu e especialmente “Fa Hoi” a andar sobre a água impressionam vivamente o espectador e fazem com que esta obra de Tsui Hark esteja à frente no seu tempo, servindo de inspiração a películas que viriam a ser realizadas posteriormente, tanto do realizador como dos seus congéneres.


"A dança indiana da luxúria"

Apesar dos filmes de Tsui Hark serem muitas vezes vistos como puro entretenimento, os mais conhecedores da sua obra sabem que o realizador expõe sempre uma mensagem significativa nas suas películas, normalmente detractora do regime comunista chinês. Aqui temos a costumeira menção, corporizada simbolicamente no robe vermelho do monge “Fa Hoi”, que na luta final parece tudo ofuscar e afogar. Contudo desta vez temos talvez algo mais significativo e que estará relacionado com a hipocrisia da religião, assim como uma crítica aberta àqueles que cedem perante as primeiras impressões e que tudo gostam de catalogar ou extremar na dicotomia “certo ou errado”, “bem e mal”, etc.

Protagonizado por duas das mais belas e bem sucedidas actrizes de Hong Kong, Maggie Cheung e Joey Wong, a parte erótica (dentro de limites “mais respeitáveis”) e sensual está bem presente na película, rivalizando neste particular com longas-metragens como “The Bride With White Hair”. Não querendo parecer despropositado nem menos sério (como se diz na minha terra “ca nada!”), imagine-se que até durante uns segundos temos a inesquecível oportunidade de contemplar uma Maggie Cheung, na altura com 29 anos, como veio ao mundo! Só por isto, o filme já valerá com certeza a pena! O papel de Cheung é eminentemente provocador, em contraposição com uma mais serena e madura Joey Wong que tenta na sua aventura humana, descobrir o amor e ser o protótipo da esposa dedicada. Por seu lado, Vincent Chiu representa competentemente o monge “Fa Hoi”, um ser dotado de uma rectidão e rigidez ética supostamente a toda a prova, mas que acaba por questionar o seu modo de vida, tendo por motivo o contacto com as duas irmãs demoníacas. Esta característica das mulheres não as faz propriamente seres maus e desprovidos de sentimentos, como “Fa Hoi” acaba por descobrir. O actor Wu Hsing Kuo, originário de Taiwan, é o equivalente à personagem que Leslie Cheung tão bem representou em “A Chinese Ghost Story”. Trata-se do ingénuo da história que é apanhado no meio da confusão, e que recolhe por este motivo toda a nossa complacência. É o elo mais fraco da actuação e nem de longe, nem de perto, chega aos calcanhares do saudoso Leslie Cheung no filme atrás referenciado.

Dotado de uma banda-sonora agradável, mesclada com ritmos tradicionais chineses, este “cocktail” de fantasia, artes marciais e sensualidade/sexualidade (a maior parte sugerida, do que propriamente evidenciada), está longe de ser um trabalho menor de Tsui Hark, como por vezes é considerado.

Vale a pena dar uma espreitadela!

"O sacerdote taoísta cego que anda à caça das irmãs"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 7

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,50





segunda-feira, outubro 06, 2008

Beldades do Cinema Asiático - Aishwarya Rai

Tendo sido Miss Mundo em 1994, Aishwarya Rai é uma modelo de gabarito internacional e muito provavelmente a actriz de “Bollywood” mais conhecida no mundo inteiro, tendo inclusive representado numa produção norte-americana, o épico “The Last Legion”, onde contracenou com os conhecidos Colin Firth e Ben Kingsley. A sua internacionalização continua com “Pink Panther 2”, onde pontifica ao lado de super-estrelas como por exemplo Steve Martin, John Cleese ou Jean Reno. Com um insuspeito currículo no cinema indiano, não existem adjectivos que possam descrever convenientemente a beleza desta actriz, pelo que, à falta de melhor, me deixarei pela singela expressão “sem palavras”...














Site de fãs AQUI.


domingo, outubro 05, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação

Apresento-vos mais um realizador asiático que está sujeito ao vosso escrutínio, no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Gordon Chan

Informação

Filmografia enquanto realizador (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):

  1. The Yuppie Fantasia (1989)
  2. The Yuppie Fantasia 2 (1990)
  3. Brief Encounter in Shinjuku (1990)
  4. Inspector Pink Dragon (1991)
  5. Fight Back to School (1991)
  6. King of Beggars (1992)
  7. Gameboy Kids (1992)
  8. Fight Back to School 2 (1992)
  9. The Long & Winding Road (1994)
  10. Fist of Legend (1994)
  11. Final Option (1994)
  12. Thunderbolt (1995)
  13. First Option (1996)
  14. Armaggedon (1997)
  15. Beast Cops (1998)
  16. Okinawa Rendez-Vous (2000)
  17. 2000 AD (2000
  18. The New Option (2002)
  19. Project 1:99 (2003)
  20. Project 1:99 - Waiting For Luck (2003)
  21. The Medallion (2003)
  22. Cat and Mouse (2003)
  23. A-1 (2004)
  24. Undercover Hidden Dragon (2006)
  25. Mr. 3 Minutes (2006)
  26. Painted Skin (2008)


quarta-feira, outubro 01, 2008

Realizador Asiático Preferido - Votação (Balanço Trimestral)

Deixo-vos com o último balanço trimestral, da votação anual que estou a levar a cabo aqui no "My Asian Movies", e que visa eleger o REALIZADOR (NÃO O ACTOR!!!) preferido dos visitantes aqui do blogue. Dia 31 de Dezembro encerra esta sondagem, e no mês de Janeiro de 2009, se lá chegar com vida e saúde, divulgarei os resultados e ficaremos a saber qual o REALIZADOR (NÃO O ACTOR!!!) mais popular para os que aqui me visitam. Façam o favor de votar em consciência e de uma forma ponderada. Mais uma vez obrigado pela vossa importante participação!
1º Jackie Chan - 79 votos

2º Akira Kurosawa - 75 votos

3º Zhang Yimou - 58 votos


4º Wong Kar Wai - 53 votos


5º Kim Ki-duk - 45 votos