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quarta-feira, abril 01, 2009

Quem Quer Ser Bilionário?/Slumdog Millionaire/Slumdog Crorepatri -स्लमडॉग करोड़पति (2008)

Origem: Inglaterra

Duração: 120 minutos

Realizadores: Danny Boyle e Loveleen Tandan

Com: Dev Patel, Freida Pinto, Madhur Mittal, Anil Kapoor, Irrfan Khan, Saurabh Shukla, Rajendranath Zutshi, Jenewa Talwar, Ayush Mahesh Khedekar, Azharuddin Mohammed Ismail, Ayush Mahesh Khedekar, Rubiana Ali, Tanay Chheda, Ashutosh Lobo Gajiwala, Tanvi Ganesh Lonkar, Sunil Kumar Agrawal, Sanchita Choudhary, Himanshu Tyagi

Introdução

Esta película encontra-se inserida na rubrica deste blogue denominada "Cunho da Ásia".

"As crianças Jamal, Latika e Salim"

Sinopse

Em 2006, a Índia está prestes a presenciar um feito histórico. “Jamal Malik” (Dev Patel) está a uma pergunta de vencer a edição daquele país do renomado concurso “Quem Quer Ser Milionário?” (em hindi “Kaun Banega Crorepati”), e em consequência, ganhar a quantia de 20 milhões de rupias (aproximadamente 300 mil euros). O evento assume ainda mais dimensão, pois “Jamal” é uma pessoa sem formação cultural/académica, provindo de uma das favelas pobres de Mumbai, não sendo por este motivo um concorrente que à partida fossem auguradas grandes hipóteses. Por este motivo, “Prem Kumar” (Anil Kapoor), o apresentador do concurso, convence-se que está perante um embuste e alerta a polícia para as suas suspeitas. “Jamal” é detido, e confrontado com o facto de estar a fazer batota para vencer o concurso.

"Jamal e Latika"

No decorrer do interrogatório policial, “Jamal” explica ao inspector (Irrfan Khan) que sabia as respostas, por assimilação a certas experiências que viveu na sua difícil e cruel infância e adolescência. A partir daqui somos levados numa viagem pelo passado de “Jamal” e do seu irmão “Salim” (Madhur Mittal), onde a miséria e o perigo subsistem, até percebermos a verdadeira razão pela qual o rapaz decidiu participar no concurso. A explicação passa pelo seu amor de sempre, “Latika” (Freida Pinto).

"Jamal e Prem Kumar no concurso Kaun Banega Crorepati"

"Review"

2008 foi o ano em que veria a luz do dia um filme conotado com “Bollywood”, falado em todo o mundo e de seu nome “Slumdog Millionaire”. Nos meses seguintes, esta película venceria importantes e prestigiosos prémios internacionais dos quais se destacam os “BAFTA Awards” e os “Globos de Ouro”, culminando com a arrecadação de oito óscares no último festival da academia, incluindo o de melhor filme. Muitos exultaram e vislumbraram uma viragem importante no panorama cinematográfico internacional, com uma obra de Mumbai a triunfar no proteccionista e dominador espectro de “Hollywood”. Salvo o devido respeito, esta ideia não corresponde inteiramente à verdade. “Slumdog Millionaire” é uma longa-metragem a cargo do conhecido realizador britânico Danny Boyle (que contou com o auxílio da indiana Loveleen Tandan), sendo muita da equipa técnica originária do Reino Unido, acrescendo o facto de os capitais e apoios mais importantes provirem do ocidente. É certo que a influência indiana é vital, pois a película inspira-se no romance “Q & A”, do autor Vikas Swarup, assim como esta longa-metragem foi filmada na Índia com actores naturais daquele país (muitos de “Bollywood” ou estreantes) ou filhos de emigrantes radicados no Reino Unido, como é o caso de Dev Patel, o principal protagonista da história. O filme tem um estilo de realização que difere do que se costuma fazer em “Bollywwod”, e não partilha tanto a orientação de viver para o sonho. Resumindo: Não é um filme de Mumbai, mas sim sobre Mumbai e com a gigantesca cidade como pano de fundo.

No início do filme, e em formato visual semelhante ao painel das perguntas do concurso “Quem Quer Ser Milionário ?”, somos confrontados com o seguinte:
“Jamal Malik está a uma pergunta de ganhar vinte milhões de rupias. Como é que ele conseguiu:
A) Fez batota.
B) É um sortudo.
C) Ele é um génio.
D) Estava destinado a ser assim.”
No epílogo do filme, o mesmo formato aparece, mas com a resposta considerada correcta, face aos desenvolvimentos da trama e igualmente, uma verdadeira “chave da vida”. É um início e um fim bem conseguido e no meio temos duas horas de bom cinema, que muito explicam o porquê do “frisson” acerca de “Slumdog Millionaire” e do feliz retorno de Danny Boyle a um espectro de relevo no mundo da sétima arte.

“Slumdog Millionaire” gravita essencialmente à volta de três grandes premissas. A caminhada triunfante (embora com muitos precalços) de “Jamal” desde a sua existência miserável numa favela de Mumbai, no subúrbio de Juhu, até à possibilidade de se tornar num homem rico, vencendo o “Quem Quer Ser Milionário?”; a história de amor com “Latika”; os aspectos sociais mais degradantes de uma Mumbai extremamente estratificada socialmente, onde a opulência subsiste com a mais degradante pobreza. Estes aspectos, embora perfeitamente identificáveis ao longo da obra, interpenetram-se, formando um conjunto esplendoroso e uma pujança humana que quase instantaneamente apaixona o espectador.

"Jamal fita a imensidão de Mumbai"

A Índia é retratada de uma forma um tanto ou quanto cruel, onde nos é induzido de uma forma crua, vários factores sociais perturbantes. É neste aspecto principalmente que o produto de Danny Boyle se afasta do já referido “mundo de sonho” de “Bollywood”. É certo que se nota uma maior aproximação ao espectro do cinema ocidental, por parte de algumas obras da Meca cinematográfica indiana mais contemporâneas. Este aspecto difunde-se especialmente no que toca à irreverência crítica relacionada com certos estigmas da sociedade, destacando do que conheço, talvez “Rang De Basanti”. Mas na maior parte das vezes, embora nos apercebamos dos graves problemas que subsistem no imenso país, tudo é apresentado de uma forma ligeira, incidindo o cerne da trama nas pessoas e seus sentimentos (amor, paixão, amizade, etc.), lateralizando o resto. Em “Slumdog Millionaire” existe uma abordagem mais crua e europeizada das questões sociais. Somos confrontados com uma polícia que tortura de forma a obter respostas, violando os mais elementares direitos humanos. Deparamo-nos com uma exploração cruel das crianças, votando-as a uma vida de mendicidade, onde se chega ao ponto de infligir feridas irreversíveis, de forma a torná-las mais aptas a atrair a piedade das pessoas. Assistimos aos reflexos da tensão entre os hindus e os muçulmanos, que em nome de Rama e Alá, cometem atrocidades indescritíveis e autênticas limpezas étnicas. Esta forma de apresentar o país, valeria severos protestos de vários quadrantes da sociedade indiana, sendo o mais conhecido o proveniente de Amitabh Bachchan, verdadeira lenda do cinema indiano e possuidor de um “cameo” e várias referências no filme. No seu blog pessoal, o actor disparou autenticamente contra a forma como certos aspectos foram tratados na película, mormente no relevo ao que de pior existia na Índia, olvidando os seus pontos fortes. Como opinião pessoal, até sou capaz de admitir que “Slumdog Millionaire” deu um certo enfoque ao que Bachchan alude, mas no fim o que passa são aspectos mais positivos e triunfais, relacionados com a natureza humana. E se efectivamente o caminho até ao epílogo é por vezes chocante, é igualmente certo que tal só contribui para valorizarmos ainda mais o “happy ending”.

A banda-sonora é espectacular, a que não será alheio o facto de ter sido recrutado o ícone indiano A.R.Rahman. Neste particular, cabe-me apenas fazer uma pequena crítica negativa (muito subjectiva e estritamente de gosto pessoal). Apesar de a música vencedora do óscar ter sido “Jai Ho”, existem, a meu ver, pelo menos três melodias superiores, que passo a enumerar: o instrumental “Mausam & Escape”, “Ringa Ringa” (esta sim, uma típica música de “Bollywood”) e “O...Saya”, que concorreria contra “Jai Ho”, na obtenção do prémio máximo da academia.

Os actores cumprem de uma forma satisfatória o que lhes é solicitado, ainda para mais quando muitos deles possuíam pouca experiência nas lides da sétima arte, ou praticamente nenhuma, como os crianças que foram recrutadas directamente das favelas de Mumbai. Dev Patel, um jovem actor que apenas tinha participado na série britânica “Skins”, conquista-nos com o seu ar ingénuo e crédulo, mas bastante sofrido. Freida Pinto é uma boa e muito bonita acompanhante de Patel, embora esteja uns furos abaixo a nível do protagonismo. Os experientes Anil Kapoor e Irrfan Khan (estes sim, verdadeiros actores de “Bollywood”) conferem uma certa maturidade à representação, e em especial o primeiro actor, reproduz uma actuação apreciável de se ver no papel do apresentador do concurso. Contudo, faz uma certa espécie vermos os personagens falar na maior parte das vezes em inglês, em vez do hindi. Este aspecto viria a ser igualmente criticado por alguns, nos quais se destaca a super-estrela de “Bollywood” Aamir Khan como podemos observar nesta entrevista (retirada do blog “Cinema Indiano”). É certo que a língua na qual as personagens se expressam retira alguma autenticidade ao filme, mas facilita, sem dúvida alguma, a difusão global que a película inquestionavelmente teve, e abriu de certa forma, algumas portas ao cinema “made in India”, nem que seja por via indirecta. Continuando no campo linguístico, é estranho no mínimo a tradução que o filme mereceu em Portugal ("Quem Quer Ser Bilionário?, em vez de "Milionário?"). Não sei se se por pura invenção, ou por qualquer receio de direitos de autor, mas a designação foi infeliz para não dizer atroz. Ao que sei, noutro país de língua lusófona, o Brasil, não se cometeu este erro de palmatória. Explicações agradecem-se!

Embora por vezes se exagerem os méritos de “Slumdog Millionaire”, é indubitável que estamos perante uma obra de eleição. Possui uma história apelativa e excitante, que estimula imenso os nossos sentimentos. A cinematografia é belíssima, as interpretações dotadas de competência e banda-sonora dá aquele toque mágico que todos os grandes filmes necessitam como de pão para a boca. É certo que não confere uma imagem muito lisonjeira da Índia, nem tão-pouco poderá ser considerada uma obra proveniente do cinema daquele país. Contudo, não restam dúvidas que com os seus incontáveis triunfos, poderá fazer maravilhas pela difusão global de “Bollywood” e outras cinematografias regionais indianas, pois acicatou a curiosidade de uma vasta gama de fãs da sétima arte que poderão cair no erro de pensar que estão perante um produto genuíno daquelas paragens. Mas acima de tudo, e perdoe-se o pendor moralista que possa transparecer, o seu grande triunfo passa bastante pela mensagem positiva e optimista que transmite, ou seja, o elogio ao amor e ao facto de o mesmo poder ser um catalisador para vencermos as maiores dificuldades com que nos deparamos na vida e emergirmos numa glória assombrosa. No caso em concreto de “Jamal Malik”, estava escrito que seria assim!

Visionamento obrigatório!

"Latika"

The Internet Movie Database (IMDb) link

Trailer

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 8

Argumento - 9

Banda-sonora - 9

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,50





6 comentários:

Nuno disse...

Amigo Jorge,

Sabes como os filmes indianos me são queridos. Ainda que Danny Boyle seja inglês, Loveleen Tandan é indiana e a história é passada na Índia, por isso eu considero o filme "indiano". É um dos filmes que eu mais ansiosamente aguardo em DVD, por tudo o que já li, pelos prémios conquistados...e agora, por ter lido mais uma fantástica análise tua. Como, ao longo dos anos, tenho visto que coincidimos na grande maioria das opiniões ácerca dos filmes que vemos, esta tua crónica ainda mais me aguça o apetite para ver este filme. Bastou finalizares a análise com "Visionamento obrigatório!"... para eu ser "obrigado" a visioná-lo.

Um Grande Abraço

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Nuno!

Tenho a certeza absoluta que vais gostar do filme! Tens mesmo de o ver! Eu, à tua semelhança, sou mais um homem do dvd que do cinema. Mas uma coisa digo, vale a pena abrir uma excepção. E então com aquela banda-sonora e fotografia, um visionamento numa boa sala, é bastante compensador :) !

Abraço!

Battosai disse...

Acabo de verla y estoy de acuerdo en casi todo lo que dices. No obstante, considero que está sobrevalorada y no me gusta nada que parta de la base de que un amor que comienza a los 5 años puede durar para siempre, lo cual le quita bastante credibilidad a la película.

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Battosai,

Eu fiquei muito impressionado com o filme, embora reconheça que existe um ou outro aspecto que poderia ser melhorado. Quanto à história de um amor que começa muito cedo, e perdura ao longo dos anos, tal revela um dos aspectos que esta produção colheu de "Bollywood".
Mesmo assim, eu acredito que existem coisas que são tão fortes, que duram ao longo de uma vida. No caso de "Slumdog Millionaire", entendo que tal conferiu uma beleza muito especial ao filme!

Abraço!

Anónimo disse...

Ainda estou para saber quem é que foi a besta que traduziu o filme para "Quem quer ser bilionário" em Portugal! É mais uma pérola dos atrasados mentais dos tradutores portugueses!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Lol, podes crer! No mínimo, caricato!