"MY ASIAN MOVIES"マイアジアンムービース - UM BLOGUE MADEIRENSE DEDICADO AO CINEMA ASIÁTICO E AFINS!!!

sábado, maio 08, 2010

“Testemunhos” de Raphael Aka “Pinhead” (Meia-Noite no Templo de Shaolin)

Foto 2

O convidado desta semana é o Raphael Dias, também conhecido por “Pinhead”, em homenagem à célebre personagem do filme de terror “Hellraiser”. O Raphael é um devoto fã das películas orientais, em especial das que versam sobre artes marciais e o “kung fu old school”. O Raphael actualmente anda um pouco arredado das lides da blogosfera, sendo a sua última experiência (que seja do meu conhecimento) o blogue “Meia- noite no Templo” de Shaolin” (para aceder clicar na foto acima). Pessoalmente, fico bastante feliz que o Raphael tenha acedido a responder às minhas perguntas, pois além de eu já ter tomado contacto com ele há algum tempo, ele percebe e sabe bem do que fala.

Abaixo segue o resultado da entrevista.

“My Asian Movies”: O que achas que distingue genericamente a cinematografia oriental das demais?

Raphael Dias: O que fez eu me encantar pelo cinema asiático sempre foi a ousadia do cinema oriental, ao contrário da grande maioria dos ocidentais que sempre tentavam agradar a todos os públicos e assim formatando seus filmes para que não agredissem à censura ou aos estômagos sensíveis do publico o cinema asiático nunca teve medo de ser visceral, amoral e brutal.

Em outras palavras enquanto o cinema ocidental é um tapa de mão aberta no rosto o cinema asiático é uma pedrada na cara.

“M.A.M.”: O que te fascina mais neste tipo de cinema?

R.D. : Tentar sem medo de errar, diretores e atores que nunca tiveram medo de exagerar, nem sempre acertam é verdade, mas nunca tiveram medo de executar suas idéias, mesmo que elas parecessem absurdas.

“M.A.M.”: Tens ideia de qual o primeiro filme oriental que visionaste?

R.D. : Não tenho certeza, me lembro que o primeiro filme de kung-fu que assisti foi o Snake in the Eagle´s Shadow com Jackie Chan, mas se eu não me engano antes eu já tinha assistido o clássico da animação Akira de Katsuhiro Otomo.

“M.A.M.”: Qual o país que achas, regra geral, põe cá para fora as melhores obras? No fundo, a tua cinematografia oriental favorita?

R.D. : Acho que o país que sempre manteu um nivel de boas obras foi o Japão, em épocas como o final da década de 70 e o "boom" do cinema de kung fu a China/Hong-Kong/Taiwan tiveram sem dúvida a maior quantidade de bons filmes, porém com a década de 90 e o sucesso de Once Upon a Time in China os filmes de "wire-fu" infestaram o cinema e como eu nunca fui muito fã do gênero eu me sinto decepcionado ao analisar tal década. Enquanto isso o Japão sempre teve bons filmes em todas as décadas em um grande leque de gêneros, da ficção cientifica (com os filmes do Godzilla, Gamera e similares) até ao explotation visceral (como a doentia série Guinea Pig), passando pelas artes marciais (com Sonny Chiba e Etsuko Shiomi) e os excelentes filmes de Yakuza.

Mas no fundo, Hong Kong vai ser sempre o meu país favorito, graças a década de ouro dos filmes de kung-fu.

“M.A.M.”: E já agora, qual o género com o qual te identificas mais? És mais virado (a) para o drama, épico, wuxia, “Gun-fu”...

R.D. : Escolher apenas um gênero é uma tarefa impossivel, os filmes de kung-fu me acompanham desde minha infância o que fez eu nutrir certo carinho pelo gênero, porém, mesmo tendo me aprofundado no gênero já com certa idade eu sinto um enorme apreço pelo cinema gore/explotation, a dêmencia e o bizarrice sempre me agradaram hahaha.

“M.A.M.”: Uma tentativa de top 5 de filmes asiáticos?

R.D. : Odeio essa tarefa, sempre me sinto mal por não citar todos meus filmes favoritos, mas acho que meu top 5 seria algo assim (sem ordem de preferência):

All Night Long, 1992, dir. Katsuya Matsumura

Confesso que a vingança sempre foi um dos meus temas favoritos nos filmes e All Night Long trata disso, a vingança de 3 jovens contaminados por uma sociedade decadente, fora que a musica tema é uma das musicas mais lindas do cinema.

Bullet in the Head, 1990, dir. John Woo

Woo foi responsável por verdadeiras obras-primas no gênero de ação com seus tiroteios, mas nenhum de seus filmes conseguiu ter um roteiro tão criativo e com tamanha intensidade quanto Bullet in the Head, aonde podemos perceber que os anos em que ele trabalhou sendo assistente do diretor Chang Che influenciaram a sua maneira de contar uma história, pois assim como o diretor Chang Che aqui ele conta uma linda história sobre a amizade e até onde você é capaz de ir por seus amigos.

Knockabout, 1979, dir. Sammo Hung

Yuen Biao em sua melhor forma, Sammo Hung no auge da sua criatividade e ainda temos todo o carisma de Leung Kar Yan, com certeza um dos filmes de kung-fu com personagens mais carismaticos e uma das lutas finais mais arrasadoras que eu já assisti.

The Victim, 1980, dir. Sammo Hung

Um filme que é infelizmente muitas vezes esquecido pelos fãs de kung-fu, novamente temos Sammo Hung e Leung Kar Yan, mas dessa vez a grande estrela é Leung Kar Yan um mestre de kung-fu que é perseguido pelo seu irmão adotivo, mas todos nós sabemos que em filme de kung-fu só existe uma maneira de resolver as coisas certo? A luta final desse filme é uma das poucas que podem competir com a luta final de Knockabout.

Police Story, 1985, dir. Jackie Chan

Acho que sem esse filme talvez eu não seria tamanho fã do cinema asiático como sou hoje (e provavelmente muitos outros atuais fãs do cinema asiático), não há muito o que dizer sobre esse que deve ter sido uma das maiores revoluções no cinema de ação.

Esse é um TOP 5 básico, é impossível fazer algo do gênero sem sentir que estou sendo injusto, mesmo com obras mais recentes como Oldboy e Ichi the Killer.

“M.A.M.”: Realizador asiático preferido?

R.D. : Chang Che, muitos costumam comparar filmes de kung-fu a filmes pornográficos, aonde tudo o que importa é a ação.

Chang Che é o diretor que conseguiu provar que era possível unir ótimas cenas de luta com um roteiro bem escrito.

“M.A.M.”: Já agora, actor e actriz?

R.D. : Meu ator favorito é com certeza o "irmão" mais novo de Sammo Hung e Jackie Chan, o baixinho Yuen Biao, um ator incrivelmente carismático, acrobático e com alguns dos chutes mais bonitos do cinema de ação, como diria uma frase que eu li em um site em sua homenagem: "Yuen Biao, little tiger... big talent!"

“M.A.M.”: Um filme oriental sobrevalorizado e outro subvalorizado?

R.D. : Um filme superestimado é com certeza o primeiro filme do falecido Bruce Lee, The Big Boss.

Eu entendo que foi uma revolução no cinema, eu entendo que na época ninguém chutava como ele, sério, eu consigo entender que foi uma diferença enorme dos filmes que antecederam Big Boss como The Chinese Boxer com Jimmy Wang Yu, mas isso não muda o fato de que é um filme sem sal, com lutas monótonas e um roteiro tão mal escrito que chega a ser ofensivo.

Já um filme que é subestimado (além do The Victim que eu já comentei no Top 5) é o Miracles, tambem conhecido como Mr. Canton and Lady Rose, com Jackie Chan. De todos os filmes da década de 80 do Sr. Chan esse é o menos comentado e por muitos nem mesmo conhecido, o que é um absurdo já que foi nesse filme que Jackie Chan conseguiu unir uma fotografia linda, um roteiro interessante, um visual genial e lutas extremamente criativas.

“M.A.M.”: A difusão do cinema oriental está bem no teu país, ou ainda há muito para fazer?

R.D. : Não mesmo, ainda ocorre um certo preconceito com o cinema asiático por parte do público e um medo das distribuidoras em investir nesse mercado, mas com um certo sucesso de filmes como Ong-Bak, Tom Yum Goong e Flashpoint já tivemos alguns lançamentos interessantes, tanto em animação (o lançamento de Akira em DVD), tokusatsu (lançamentos de Dengeki Sentai Changeman, Kyojuu Tokusou Jaspion, Sekai Ninja Sen Jiraiya), quanto em filmes (Ichi the Killer, Dynamite Warrior e o aparente interesse de uma distribuidora em re-lançar o catálogo da finada China Video).

“M.A.M.”: Que conselho darias a quem tem curiosidade em conhecer o cinema oriental, mas sente-se algo reticente?

R.D. : Corram atrás, pesquisem e leiam sobre esse cinema tão exótico, ainda mais com as facilidades da internet que permite assistir à aqueles filmes que não foram lançados em seu país, mas lembre-se que baixar filmes que foram lançados em seu país também prejudica aos fãs do cinema asiático, afinal de contas como podemos cobrar o interesse das distribuidoras em lançarem esses filmes se nós também não fazemos nossa parte?

3 comentários:

Takeshi Age of Asia disse...

Seu conselho final é importante Raphael! Os fãs devem ter essa consciência e ajudar na fama de seus filmes prediletos. Além do mais, custa mais barato comprar material já lançado oficialmente no país.

Raphael Dias (Pin-Head) disse...

Obrigado pela oportunidade, Jorge.
Fico feliz em saber que mesmo com o pouco tempo que eu participei da "blogosfera" existiram pessoas que gostaram da minha contribuição na exposição de filmes que muitas vezes foram esquecidos =)

Vinicius Thomazini disse...

Muito boa entrevista. Raphael como sempre sensato em suas palavras.