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terça-feira, novembro 20, 2007

Fim Feliz/Happy End/Haepi endeu - 해피 엔드 (1999)
Origem: Coreia do Sul
Duração: 100 minutos
Realizador: Jeong Ji-woo
Com: Choi Min-sik, Jeon Do-yeon, Joo Jin-moo, Kim Byeong-choon, Yoo Yeon-soo, Park Ji-il, Joo Hyeon
"Bora"

Estória

“Bora” (Jeon Do-yeon) é uma bem sucedida empresária, que mantém um relacionamento extra-conjugal com “Kim Ill-beom” (Joo Jin-moo), com quem tinha namorado anos atrás nos tempos da faculdade. “Bora” é casada com “Min-ki” (Choi Min-sik), um homem que perdeu o emprego e o orgulho, e que passa a vida tomar conta da lida de casa e a cuidar da bebé de ambos, para além de não perder as novelas dramáticas que são tanto do gosto dos coreanos e a ler estórias de amor numa livraria pertencente a um amigo.

"Min-ki"

“Min-ki” aos poucos vai descobrindo a vida paralela da mulher com o amante, e tal facto devasta-o de sobremaneira. Inesperadamente, resolve tomar o assunto em mãos, e prepara uma vingança terrível contra os amantes, substituindo a sua costumeira leitura “soft”, pelos livros de “suspense” e “thrillers” policiais. No entanto, após ter sido bem sucedido nos seus objectivos, a tão almejada felicidade acaba por não chegar e “Min-ki” consegue apenas obter uma vida de remorso e de culpa.


"Min-ki segura na filha tendo por fundo a traição"

"Review"

Corpos nus desfilam numa orgia de amor, degenerando em sexo explícito, embora interpretado de uma forma que o afasta da mera lascívia. É assim que começa “Fim Feliz”, com “Bora” e o seu amante “Kim Ill-beom”, numa cena tórrida que envergonharia filmes como “Instinto Fatal”, mas que nos consegue transmitir algo mais que o deleite visual e carnal. O filme de estreia do realizador Jeong Ji-woo primou pela polémica, em especial no seu país natal, onde não existe uma tradição de se fazerem muitos filmes que recorram aos atributos mais físicos (no sentido anteriormente descrito) de forma a expor os seus pontos de vista. No entanto, o choque não vive apenas da parte erótica da película, até porque não existem tantas cenas quanto isso. A meticulosidade no engendrar da vingança do marido traído, que culmina num género de violência que de certa forma nos apanha de surpresa, também tem a sua quota-parte.

Em “Fim Feliz”, estamos perante uma crise conjugal, que incide sobre uma típica família de classe média sul-coreana. Melhor dizendo, a base estrutural da dita família não é tão comum quanto isso, pois ao contrário do que é recorrente (hoje cada vez menos, diga-se em abono da verdade) o ganha-pão é a mulher bem sucedida na sua vida profissional, enquanto que o homem faz a vez do que comummente apelidamos de “dona de casa”. Como já foi acima aventado, é ele que se encarrega dos trabalhos domésticos, cuida da filha ainda bebé, faz as compras de supermercado, etc, etc. O seu estatuto de desempregado, obriga-o a isso. A esposa por vezes não tem pejo em atirar-lhe à cara factos relacionados com a sua suposta subalternização, ferindo o seu orgulho e masculinidade. O respeito é perdido, e a traição consumada pela mulher por diversas vezes.

Como podemos imaginar, o clima para o fim do núcleo familiar está reunido, mas de certa forma, não estamos propriamente preparados para a maneira como “Min-ki” decide tomar as rédeas da situação. Isto não quer dizer que muitas vezes não aconteçam tragédias, algumas mediáticas, que envolvam desaguisados conjugais. A teoria do “não és para mim, não és para ninguém”, infelizmente vinga e lá somos confrontados na comunicação social, com homicídios, suicídios, ácidos atirados à cara e afins. No entanto, o que pretendo dizer é que “Min-ki” adopta uma postura passiva, porventura dócil e somos aos poucos hipnotizados por este factor. Ao fim de hora e um quarto de filme, a película dá um volte face e deparamo-nos com um “Min-ki” que nos surpreende pela sua frieza e agir violento, perpetrando um crime brutal e ao mesmo tempo criando as condições necessárias para que um terceiro assaque as culpas.

"O drástico triângulo amoroso"


A apresentação que nos é feita das personagens não obriga a tomar partidos equidistantes. Todos são inocentes, como ao mesmo tempo, são culpados. Afinal estamos a falar de seres humanos. No entanto, é normal que sintamos alguma simpatia por “Min-ki” no papel do marido traído, porquanto a referida personagem cumpre à primeira vista com todos os objectivos a que está adstrito em razão das circunstâncias. Contudo, temos de certa forma compreender as motivações (mesmo que não concordemos, como é o meu caso) de “Bora”, uma mulher que sente merecer algo mais, e que “Min-ki” não consegue dar. Eventualmente paixão…”Ill-beom”, é o parceiro na traição, mas podemos discernir à distância que está sinceramente apaixonado por “Bora”, e que é capaz de fazer tudo por ela. Pelo exposto, o filme obriga a que não façamos julgamentos de valor precipitados.

Para quem está mais atento às lides do cinema asiático, sabe que Choi Min-sik é um intérprete de nível mundial, e pessoalmente o que colhe a minha preferência conjuntamente com Tony Leung Chiu Wai. Aqui oferece-nos mais uma actuação de um gabarito elevadíssimo. Já tive a oportunidade de visualizar grande parte da filmografia do actor, e começo a pensar seriamente que se existem coisas quase impossíveis de acontecer neste mundo, é Min-sik oferecer representações de nível abaixo do bom. O actor sul-coreano é, sem margem para qualquer dúvida, um senhor do cinema. Em “Fim Feliz”, encontra um parceiro à altura em Jeon Do-yeon, uma actriz que é como o algodão, definitivamente não engana. Sublime a forma como exterioriza os sentimentos e se envolve nas cenas mais quentes com a maior naturalidade possível. O seu talento foi recentemente reconhecido em Cannes, onde ganhou o prémio para melhor actriz no papel que representou em “Secret Sunshine – Milyang”. Jo Jin-moo, no papel do amante de “Bora”, constitui um vértice seguro e consistente do malfadado triângulo amoroso.

Tendo integrado a selecção do “Festival de Cannes” e do nosso “Fantasporto" – edição de 2001, “Fim Feliz” constitui uma boa proposta e que com certeza fará pensar uma ou duas vezes aqueles (as) que pretendam dar uma “facadinha” (passe a ironia; se visionarem o filme, irão entender) na relação. Além de provocarem uma mágoa difícil de esquecer, nunca se sabe como o outro lado pode reagir…e o fim normalmente não será tão feliz quanto isso.


"Os amantes beijam-se"

Trailer, The Internet Movies Database link

Avaliação:

Entretenimento - 7

Interpretação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 8

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,63




6 comentários:

Anónimo disse...

Eu vi-o justamente no (meu querido) Fantas! Sem dúvida um bom filme onde ainda me lembro de ouvir uma divinal musica de Lhasa que apesar de não ter ficado muito bem enquadrada, revela muito bom gosto! (a musica era perfeita para o universo de mestre Kar wai!)
De resto, destaque para a maravilhosa Jeon que é uma actriz extraordinária como tem vindo a demonstrar ao longo dos anos, inclusive no sensacional "Secret Sunshine" do Lee que referiste!
Só é pena que no filme seguinte o realizador tenha baixado um pouco o nivel de qualidade.....

Abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá tf10!

O filme tem boa qualidade sem dúvida nenhuma, e uma parelha como a Jeon e o Min-sik tem de resultar em algo de bom!

Mesmo assim, tenho de confessar que existem outras películas coreanas que colhem muito mais a minha preferência do que esta. Contudo, vale a pena sem dúvida dar uma espreitadela a Fim Feliz!

Abraço!

Anónimo disse...

Caro Jorge,

Parabéns por mais uma excelente crítica. Eu vi o filme há relativamente pouco tempo, uns 6 meses, e gostei. Gostei o suficiente para dar-lhe 8 valores (como mínimo). Não sendo uma obra prima do cinema asiático, acho que aborda temas que cada vez mais fazem parte da "Aldeia Global"...o homem que é "Doméstico"... a infidelidade feminina...os triângulos amorosos... só espero que os crimes passionais não se tornem tão globais assim.
Excelentes interpretações de 2 actores muito premiados (quem se pode esquecer de "Oldboy??)
Um abraço,
Nuno

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

O filme de facto aborda temas com bastante interesse, e como dizes muito bem "cada vez fazem mais parte da Aldeia Global". Gostei do filme, e acho-o de boa qualidade.O melhor sem dúvida é a interpretação da Jeon e do quase inigualável Choi Min-sik (é verdade, Oldboy é inesquecível!!!).

Grande abraço!

Dewonny disse...

Já conhecia esse filme, mas ainda ñ o vi, e agora depois de ler sua bela crítica, meu interesse ficou maior, abraços!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Dewonny!

Existem filmes melhores, mas vale bem a pena conferir "Fim Feliz"!

Agradeço os elogios, que retribuo da mesma forma!

Abraço!