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segunda-feira, maio 18, 2009

Sukiyaki Western Django/Sukiyaki Uesutan Jango - スキヤキ・ウエスタンジャンゴ (2007)

Origem: Japão

Duração: 98 minutos

Realizador: Takashi Miike

Com: Hideaki Ito, Masanobu Ando, Koichi Sato, Kaori Momoi, Yusuke Iseya, Quentin Tarantino, Renji Ishibashi, Yoshino Kimura, Takaaki Ishibashi, Teruyuki Kagawa, Toshiyuki Nishida, Shun Oguri, Masato Sakai, Hideaki Sato, Yoji Tanaka, Christian Storms

"O pistoleiro sem nome"

Sinopse

Numa vila algures perdida no Japão, denominada “Nevada”, dois grupos digladiam-se pelo controlo da região, tendo em vista encontrar uma fabulosa quantia em ouro. Os bandos são os “Heike”, que usam uma indumentária de cor vermelho-sangue, chefiados pelo maníaco “Kiyomori” (Koichi Sato) e os “Genji”, que envergam uma roupa branco-neve, e são dominados pelo perigoso e calculista “Yoshitsune” (Yusuke Iseya). A maior parte dos habitantes, atemorizados pelos delinquentes, abandonaram a povoação e os poucos que restaram vivem um dia-a-dia dominado pelo medo.

"Os Genji, liderados por Yoshitsune"

Certo dia, chega a “Nevada” um misterioso pistoleiro (Hideaki Ito) que oferece os seus serviços ao grupo que pagar mais. Entrando em desacordo com ambas as facções, o homem sem nome aproxima-se de “Ruriko” (Kaori Momoi), a dona do “saloon” da zona. Aqui, aprende a trágica história de “Akira”, o filho de “Ruriko”, um ex-membro dos “Heike” que se apaixonou por “Shizuka” (Yoshino Kimura), uma mulher do clã rival. O casal esperava que a sua união acabasse com um conflito sem sentido, mas “Akira” acaba por ser assassinado por “Kiyomori”. Em virtude desta situação, “Shizuka” retorna aos “Genji”, onde se torna a sua meretriz.

Após várias incidências, e depois de descobrir que “Ruriko” na realidade é uma lendária pistoleira supostamente desaparecida, ambos unem esforços para de uma vez por todas acabar com a tirania dos “Genji” e dos “Heike”.

"Kiyomori, o lunático líder dos Heike"

"Review"

Como é do conhecimento geral, o “western” é um género cinematográfico norte-americano, que teve como inspiração as aventuras e vicissitudes dos pioneiros na descoberta do oeste daquele país. Pelo menos foi assim numa fase inicial, e posteriormente conheceu algumas derivações, colhendo a minha preferência pessoal o denominado “spaghetti western”, um subgénero que deu a conhecer grandes realizadores como Sergio Leone ou Sergio Corbucci. Por este motivo, é natural que um “western” provindo do oriente cause sempre alguma estranheza, à semelhança do que tinha acontecido, por exemplo, sete anos antes com “Tears of the Black Tiger”. No entanto, há que ter em conta que quando Takashi Miike toma conta de um projecto, o mesmo normalmente desconhece limites ou fronteiras em função da personalidade e orientações do realizador japonês. O título da película revela muito do conteúdo desta obra. “sukiyaki” é um prato tradicional do país do sol nascente, que poderemos fazer analogia com a expressão “spaghetti” no sentido de designar a estirpe italiana. Quanto a “western”, estamos conversados. “Django” evoca o filme de culto com o mesmo nome, do já mencionado realizador Sergio Corbucci, onde Franco Nero desempenharia um papel de uma carreira e que viria a reinventar em registos subsequentes.

A primeira conclusão a retirar quando findamos o visionamento de “Sukiyaki Western Django”, doravante “SWD”, é que estamos perante um tributo memorável ao “western” no seu todo, mas em especial à sua faceta mais crua consubstanciada nas longa-metragens dos realizadores acima referidos, sem prejuízo de vir à mente também o nome de Sam Peckinpah. Junte-se uns aperitivos orientais, principalmente no que toca ao sentimento e aspecto visual, e estamos perante uma obra de grande mérito que, antecipadamente afirmo, irá apaixonar muitos dos que por aqui passam. O argumento é tributário de “O Bom, o Mau e o Vilão” e “Por Um Punhado de Dólares”, no que toca à personagem principal da trama, num paralelo traçado entre Clint Eastwood e Hideaki Ito. Igualmente existem claras afinidades com o papel de Toshiro Mifune em “Yojimbo”, e que inclusive dá azo a uma feliz passagem de “SWD”, em que um dos elementos dos “Genji” vira-se para o pistoleiro e diz-lhe frontalmente “Não te armes em Yojimbo!!!”. O resultado é uma clara história de vingança, que não prima muito pela originalidade, mas sim pela grande exibição visual e sentimental.

"Ruriko"

“SWD” não perde tempo em exibir os seus atributos de espectacularidade e arranca a todo o gás, com uma memorável sequência onde estão envolvidos “Ringo” (interpretado por Tarantino), uma cobra, um falcão e um bando de malfeitores. A premissa do causar deslumbramento é uma constante em todo a película, fazendo com que “SWD” seja uma soma de inúmeras cenas inesquecíveis que perpetuar-se-ão na nossa memória. E quanto a tomar partido quanto à mais conseguida, tal se revelará um desiderato titânico no que toca à escolha. Esta obra é extremamente marcada pelo surrealismo das situações, sejam as mesmas impregnadas de violência, “gore”, sensualidade, comédia ou heroísmo. Miike tem isto tudo para oferecer em “SWD” e nós claramente estamos dispostos a aceitar e a agradecer! É um clássico caso em que o estilo supera a substância, corporizado num filme com uma dinâmica e energia contagiante e que não deixará quem o visiona ter uma pausa para respirar! Preparem-se para pouco mais de hora e meia de divertimento, a não ser que tenham a sorte de visionar a versão “uncut” de duas horas, ganhando desta forma mais meia-hora de entretenimento puro e duro!

Ao contrário do que se poderia pensar, e tendo em vista acentuar ainda mais a “misturada” envolvente, as personagens japonesas de “SWD” expressam-se maior parte das vezes em inglês. Para que nada corresse mal neste particular, especialmente no que toca à necessidade de fazer algum tipo de dobragem (aspecto que repudio bastante) Miike recrutou actores nipónicos que tiveram um especial contacto com o ocidente, tendo aí vivido ou trabalhado. Cabe a Hideaki Ito representar o emblemático pistoleiro sem nome, não se saindo mal no desiderato. Atendendo ao perfil misterioso e distante do papel, a Ito não são atribuídos muitos diálogos. A sua performance é essencialmente mais física e feita de poses marcantes. É certo que Ito está bastante longe de ter um carisma como Clint Eastwood, mas dá para o requerido. Sato Koichi brilha como “Kiyomori”, o lunático líder dos “Heike”, e destila malvadez por todos os poros. Particularmente interessante é a analogia que o mesmo faz, comparando a situação de conflito existente entre os “Heike” e os “Genji”, com a “Guerra das Rosas” de Shakespeare. “Kiyomori” julga que será um novo Henrique VI e a partir daí exige que todos o chamem “Henry”, lançando o epíteto de “Kiyomori” para trás das costas. Verdadeiramente de apreciar é a actuação de Yusuke Iseya, na pele do viperino “Yoshitsune”, chefe dos “Genji”. Trata-se de um rapaz imbuído de muito poder, e que encarna o espírito de um novo samurai, atendendo a que o mesmo julga que os antigos guerreiros já não representam o verdadeiro espírito da guerra e do combate. Iseya é intenso na sua actuação e facilmente poderá ser apontado como o elo mais forte de “SWD”. As senhoras Yoshino Kimura e Kaori Momoi destilam sensualidade, beleza e paixão por toda a película, sendo ambas um importante complemento para os supra citados actores. Ainda temos a oportunidade de observar o mítico Quentin Tarantino, desta vez na pele de actor, a pedido especial do seu amigo Miike. A sua interpretação roça essencialmente o exagero das situações, resultando em momentos dotados de um cariz algo cómico.

Com um guarda-roupa, à falta de melhor expressão, fabuloso, uma banda-sonora claramente tributária dos “spaghetti western” e uma fotografia do melhor que já se viu a nível do cinema, “SWD” é um entretenimento imperdível que nos fará dar suspiros de pura nostalgia e revivalismo. Não se nega que existe um certo exagero, certamente requisitado, nas situações presentes. Mas tal acentua apenas mais a aura fantástica e seguidora da cultura do estilo e da diversão, que muito tem lugar no mundo da sétima arte. Miike oferece-nos acima de tudo uma proposta reciclada de um género que cativou milhares de fiéis seguidores por todo o mundo, e adicionou-lhe características próprias do seu país natal. “SWD” estava marcado à partida pelo signo da estranheza e do insólito, mas o resultado foi uma obra marcante, susceptível de atrair e unir desde cultores de diversos estilos cinematográficos, até ao mais simples apreciador de filmes. Cabe agora questionar se estamos perante o nascimento de um novo subgénero, o “Sukiyaki Western”, ou apenas um devaneio quase genial de um realizador que não nos cessa de surpreender!

Imperdível!

"O pistoleiro sem nome Vs. Yoshitsune, o standoff final"

The Internet Movie Database (IMDb) link

Trailer

Outras críticas em português:

Esta crítica encontra-se igualmente disponível "on line" em Clubotaku.

Avaliação:

Entretenimento - 10

Interpretação - 7

Argumento - 7

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 10

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,38





2 comentários:

Dewonny disse...

Entretenimento de primeiríssima qualidade, curti bastante esse!
Muito bacana! Abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Eu simplesmente adorei, passe algum exagero :))!