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domingo, março 01, 2009

Bullet in the Head/Die xue jie tou - 流血街角 (1990)

Origem: Hong Kong

Duração: 13o minutos

Realizador: John Woo

Com: Tony Leung Chiu Wai, Jacky Cheung, Waise Lee, Simon Yam, Fennie Yuen, Yolinda Yam, Lam Chung, Chang Gan Wing, Leung Biu Ching, John Woo

"Stand off entre os 3 amigos"

Sinopse

No ano de 1967, “Ben” (Tony Leung Chiu Wai), “Frank” (Jacky Cheung) e “Paul” (Waise Lee) são três jovens amigos, que vivem da delinquência nas ruas de Hong Kong. No dia em que “Ben” decide casar-se com “Jane” (Fennie Yuen), “Frank” e “Paul” decidem pedir um empréstimo, de forma a pagar o enlace daquele a quem consideram um irmão. Contudo, “Frank” é atacado por um gangue rival e, embora consiga salvar o dinheiro, fica ferido com alguma gravidade. Despeitado com a agressão ao amigo, “Ben” não se deixa ficar e assassina o responsável na própria noite do seu casamento.

"Ben"

Devido ao crime que cometeu e à perseguição que a polícia lhe move, “Ben” e os seus dois amigos são forçados a partir para Saigão, a capital de um Vietname do Sul em guerra com o seu vizinho do norte. O azar não acaba por aqui, pois umas mercadorias ilegais que transportavam para “Leong” (Lam Ching) perdem-se devido a um ataque “vietcong”. Felizmente, os amigos recebem uma preciosa ajuda do mercenário eurasiático “Luke” (Simon Yam) que resolve o imbróglio que os amigos se meteram. No entanto, e devido a uma tentativa de salvar “Sally” (Yolinda Yan), uma cantora de Honk Kong que se encontra nas mãos do mafioso “Leong”, um evento terrível sucede que irá pôr definitivamente em causa a amizade entre os três amigos e fará com que uma viagem pelos caminhos da vingança se inicie.

"Frank"

"Review"

Para muitos, considerada a grande obra-prima de John Woo, “Bullet in the Head” é um filme de certa forma diferente dos outros “gun fu” do realizador, possuindo uma aura mais negra e pessimista. Nesta fase importante da carreira de Woo, e pessoalmente a que entendo mais feliz, os seus “heroic bloodshed” seguiam uma premissa básica, mas extremamente atractiva para o espectador. Os heróis, normalmente polícias ou criminosos, são alvo de terríveis provações que os fazem embarcar numa cruzada para a vingança onde as sofisticadas armas de fogo ditam a lei. Existem valores sobejamente aprofundados nos argumentos, tais como a amizade e a honra, e são estas características que na hora da verdade, fazem a diferença para os protagonistas da trama, mesmo que a mesma redunde em tragédia. No fim, de uma forma ou de outra, os ícones de Woo acabam sempre por dar a volta por cima e vencer o inferno que atravessam.

“With a gun in the hand, this world is ours”. Esta é uma das frases emblemáticas que a personagem “Paul”, interpretada por Waise Lee, profere em determinada fase da película e tão típica das obras de Woo. Tal afirmação sintetiza às mil maravilhas o espírito que cerceia este extraordinário período da carreira do realizador de Hong Kong. Contudo, “Bullet in the Head” não é uma longa-metragem que se possa afirmar completamente tributária de obras como “The Killer”, A Better Tomorrow” ou “Hard Boiled”, e cujo espírito se reconduzia inteiramente ao que acima afirmei. A obra que ora se analisa não permite qualquer veleidade no sentido da típica redenção. As personagens avançam na trama, transmitindo quase sempre a sensação que caminham numa estrada sem retorno. Não vale a pena termos a esperança que a amizade ou o heroísmo vão salvar o dia, pois tal inevitavelmente não acontecerá. A ambiência negra é despoletada pelos piores sentimentos que existem dentro de nós, e que mediante certas circunstâncias, no caso vertente a ambição, são despoletadas. Tendo em conta esta premissa, “Bullet in the Head” tem um impacto psicológico e uma profundidade superior à maior parte do espólio cinematográfico de Woo. Não existe nenhum tipo de desiderato heróico ou romântico, em que pessoas unem-se num objectivo comum para pôr cobro a qualquer injustiça. Está claro, isso sim, que a mensagem principal desta película é que quando tudo tem de correr mal, vai desembocar em tragédia pela certa! A ânsia pelo poder corrompe, mesmo entre amigos que são como irmãos, e já não existe lugar para qualquer tipo de generosidade Estamos pois, perante uma longa-metragem impregnada de um pessimismo latente e atroz. E por incrível que pareça, a beleza de “Bullet in the Head” e um dos seus pontos fortes, passam por estas ideias.

"Frank, um estranho Hamlet"

Outro motivo de bastante interesse, presente em “Bullet in the Head” passa pelos aspectos laterais relacionados com a época e as regiões onde a trama decorre. No sentido de elevar os seus filmes para uma outra dimensão, Woo aposta um pouco em factos históricos importantes. A acção em Hong Kong decorre na época em que existiram os famosos motins pro-comunistas e anti-colonialismo britânico, inspirados na revolução cultural chinesa. Tal desembocou em greves massivas e conflitos que decorreram nas ruas, cujas partes litigantes foram essencialmente o proletariado e a polícia daquela região. Por sua vez, na parte do filme que decorre em Saigão (actual cidade de Ho Chi Minh), inevitavelmente a guerra do Vietname terá de marcar uma presença acentuada. Embora tal não seja alvo de um tratamento dito espectacular, até por que os meios não permitiam que Woo pudesse equiparar a película a uma produção de Hollywood, sempre temos a oportunidade de observar o espectro social e violento que degeneraram tanto na cidade, como nas recônditas selvas. Basta dizer que uma parte do enredo decorre num campo de prisioneiros, onde os amigos partilham as suas agruras com os “Pow's” norte-americanos e do exército regular sul-vietnamita.

As actuações dos actores revelam estar a um nível bastante acima da média, e Jacky Cheung em particular, oferece-nos uma interpretação assombrosa e espectacular. Fabuloso o excesso emocional que o actor desfila ao longo do filme, e que se destaca principalmente depois do infelicíssimo evento que norteará a sua vida até à destruição final. De todos os filmes que tive a oportunidade de observar Jacky Cheung a trabalhar, este é provavelmente aquele em que o famoso intérprete de Hong Kong explana o seu melhor papel de sempre! Quase que não existem palavras para descrever a força sentimental e alucinada que Cheung exibe no campo de concentração do exército do Vietname do Norte, ou após o seu infortúnio deambulando pelas ruas de Saigão.

Projectado no início como uma prequela de a “A Better Tomorrow”, as conhecidas desavenças entre John Woo e Tsui Hark haveriam de fazer com que “A Bullet in the Head” nascesse isolado da saga mencionada, e sem relação com aquela. Tsui Hark, por sua vez, um ano antes viria a realizar “A Better Tomorrow: Love & Death in Saigon”, tendo por pano de fundo a tomada de Saigão por parte do exército norte-vietnamita. Salvo o devido respeito, Woo viria a sair-se melhor. É certo que “Bullet in the Head” está longe de gerar consensos, dividindo bastante as opiniões. Como anteriormente mencionei, existe quem considere este filme o melhor momento do realizador em toda a sua profícua carreira. Outros deitam abaixo completamente esta ideia, pugnando pela obra mediana, distante de outras mais emblemáticas do realizador. Quanto a mim não reputaria "Bullet in the Head" como a longa-metragem mais significativa de John Woo, (para mim, essa ainda é “The Killer”) mas que anda lá perto disso não tenho dúvida praticamente alguma!

Absolutamente a não perder!!!

"Ataque norte-vietnamita a uma caravana americana"

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 8

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 9

Mérito artístico - 8

Gosto pessoal do "M.A.M." - 8

Classificação final: 8,25





2 comentários:

Anónimo disse...

Eu me enquadro entre os que consideram Bullet In The Head o ponto alto da carreira de John Woo. Confesso que de tão impressionado que fiquei na época em que vi esse filme pela primeira vez (por volta de 1997, ainda na época do VHS), cheguei a vê-lo mais umas 4 ou 5 vezes na mesma semana!!!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá Takeo!

também acho "Bullet in the Head" um filme fenomenal, embora o meu preferido ainda continue a ser "The Killer". No entanto, reconheço que "Bullet in the Head" tem alguns pontos superiores, entre os quais um tratamento argumentativo mais cuidado e as fabulosas actuações dos actores, em especial de Jacky Cheung!

Grande abraço!