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quinta-feira, agosto 28, 2008

Plataforma/Platform/Zhantai - 站台 (2000)

Origem: China

Duração: 149 minutos

Realizador: Jia Zhang Ke

Com: Wang Hongwei, Zhao Tao, Liang Jing Dong, Yang Tian Yi, Wang Bo

"Elementos do grupo de variedades de Fenyang"

Sinopse

Em 1979, na cidade de Fenyang, província de Shanxi, China, um grupo de variedades estatizado vê-se na iminência de passar para uma gestão privada, fruto das reformas do presidente chinês Deng Xiaoping, que implicam uma maior abertura ao ocidente. “Cui Mingliang” (Wang Hongwei), a namorada “Ruijuan” (Zhao Tao) e os restantes membros da companhia vêm-se forçados a alterar o seu repertório habitual por força da privatização.

"Em luta por um bilhete de cinema"

De empregados pagos pelo estado, que encenam peças musicais apologistas da obra de Mao Tse Tung, a verdadeiros "entertainers" ocidentalizados vai um passo. Os jovens tornam-se numa banda denominada “All Star Rock n' Breakdance Electronic Band” que obrigatoriamente tem de ganhar dinheiro de forma a que a agremiação possa sobreviver. A mudança é extremamente radical, mas necessária, o que implica que o grupo acompanhe a mudança dos tempos e lute por agradar a audiência, o que nem sempre é fácil.

Saindo da terra-natal, os jovens viajam pela China e Mongólia, dando espectáculos e conhecendo um mundo que lhes é de certa forma estranho, mas ao mesmo tempo aliciante.

"Cui Mingliang, um jovem ansioso por mudança"

"Review"

Com a trama em grande parte centrada em Fenyang, de onde Jia Zhang Ke é natural, “Plataforma” fez algum furor em certames de cinema internacionais, tendo inclusive sido nomeado para o Leão de Ouro em Veneza. Trata-se, à semelhança supostamente de grande parte da cinematografia do realizador, de uma película com um cunho bastante intimista e revelador de aspectos significativos do “modus vivendi” chinês e das várias transformações a que o mesmo foi sujeito. A prestigiada publicação cinematográfica francesa “Cahiers du Cinéma” elegeria este filme como a sexta melhor longa-metragem do ano de 2001.

Jia Zhang Ke é indubitavelmente um artista de eleição e que tem uma incrível capacidade para expôr minuciosamente pormenores. Quem afirmar o contrário e com todo o respeito, anda com as prioridades trocadas ou tem uma noção muito estranha do que é arte. Simplesmente, julgo que o seu talento poderia ser eventualmente melhor aproveitado para a fotografia ou mesmo a realização de documentários, do que propriamente para a feitura de películas de cinema. A lentidão com que as situações nos são apresentadas, possibilita sem dúvida que interiorizemos os interessantes aspectos vivenciais das personagens que nos são apresentadas nesta longa-metragem. No entanto, a monotonia chega a ser desesperante e o interesse esvaí-se rapidamente. Jia Zhang Ke quer ir para todo o lado, mas frequentemente não chega a nenhum destino. É-nos dado a conhecer o dia-a-dia de um grupo de jovens que anseia por mudança, atendendo aos acontecimentos políticos e sociais que deflagram numa China em mutação. Este princípio constituía uma base sólida para uma longa-metragem apelativa aos nossos sentimentos e que obtivesse a minha simpatia. Não é isso que acontece. As deambulações existenciais e dezenas de devaneios sucedem-se em catadupa, repelindo em grande parte uma possível empatia veiculada pelo espectador. É certo que a filmografia do realizador é praticamente desconhecida para mim, mas sendo este “Plataforma” para muitos a sua obra mais meritória (segundo pessoas que têm provas dadas no mundo do cinema em geral e do asiático em particular) terei de pugnar por esta orientação muito pessoal e provavelmente minoritária.

"Cui Mingliang e Ruijuan reflectem acerca da natureza da sua relação"

O trabalho dos actores é expressado de uma forma bastante competente, mesmo atendendo ao grande “handicap” da película, que expressei anteriormente. Considerando a vertente “documentário” que marca fortemente “Plataforma”, a naturalidade marca as prestações dos intervenientes fazendo com que as identifiquemos com qualquer pessoa que partilhe o nosso quotidiano. Quando é assim, muito não existe a acrescentar a não ser que o desempenho é meritório e bastante positivo para o que se pretendia . Como também referi acima, a ideia que sustenta o argumento é deveras interessante e potenciava o nascimento de uma obra de grande apelo para os cinéfilos. Apesar da exasperação, é sempre de admitir que a ideia permanece e que deve ser valorizada, sobretudo pelo seu carácter deveras didáctico.

É precisamente pegando nesta última ideia que afirmarei descomplexadamente que o principal mérito de “Plataforma” residirá sem dúvida na realista demonstração do espectro sócio-político chinês na transição para os anos '80, competentemente demonstrada através dos olhos de jovens ansiosos por mudança, com uma mentalidade nova que se quer para um país em reformulação e mais aberto ao mundo. Aliás, o próprio título do filme evoca uma emblemática música chinesa do “pop” dos anos '80 na China, género que serviria igualmente para ilustrar o sentimento evolucionista que à altura se pretendia implementar. Torna-se por vezes fascinante observar os protagonistas migrar pela China rural, observando os seus comportamentos e os da restante população, que agarradas ao passado, colidem com um futuro já anunciado e que aos poucos tenta marcar o seu território. Tudo apoiado numa beleza visual sumptuosa e palpável.

A fragilidade principal de “Plataforma”, e decisiva nesta minha apreciação pessoal, é a já propalada monotonia desapaixonada que transmite ao espectador. Tal se deve muito à aura documentarista que cerceia esta longa-metragem e que abafa imenso, na minha humilde opinião, aquilo a que orgulhosamente denominámos de magia do cinema e que verdadeiramente nos faz sonhar. Obviamente que não pretendo aqui afirmar que a única função da sétima arte e fazer com que nos abstraiamos da realidade, pugnando apenas por uma simples perspectiva de entretenimento. Embora esta seja uma faceta extremamente importante e individualizadora do cinema, este tem igualmente a missão e responsabilidade de educar e formar, dando a conhecer realidades diversas que por vezes nos são longínquas tanto no espaço como no tempo. No entanto, confesso que a forma de abordagem de Jia Zhang Ke, embora meritória, pouco me seduz e consegue mesmo entediar-me, o que não é positivo da minha perspectiva. A sua extensão, contabilizada em cerca de duas horas meia, igualmente não ajuda a que o interesse do comum do espectador se mantenha avivado. Mesmo assim, aqui estamos a dissertar sobre a versão mais curta do filme, e nas palavras de Jia Zhang Ke, a sua preferida. A obra original espraiava-se por cerca de três horas e um quarto...

Embora constitua um exercício um tanto ou quanto penoso, para melhor percepção do que está em causa em “Plataforma”, aconselha-se o seu visionamento mais do que uma vez. Contudo, definitivamente, não é um filme para todos os dias nem para a generalidade dos espectadores, incluindo o subscritor deste texto!


"All Star Rock n' Breakdance Electronic Band"

Trailer, The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

  1. Contracampo

Avaliação:

Entretenimento - 5

Interpretação - 8

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 7

Emotividade - 7

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 7,25






6 comentários:

Nuno disse...

Amigo Jorge,

A verdade é que comprei este filme pelas boas críticas que tinha lido.
Vi e não gostei...e tampouco seguirei o teu conselho de visioná-lo mais que uma vez. Pode muito bem ser um problema meu, ou apenas uma questão de gosto, mas achei maçador...

m grande Abraço

H. disse...

Não o acho monótono, considero-o belíssimo no seu retrato das mudanças da China nunca esquecendo os indivíduos. Mas eu tornei-me completamente fã de Jia Zhang-Ke!
Tal como em O Mundo(que juntamente com Plataforma e Xiao Wu são os meus favoritos de Jia) senti uma profunda admiração ao ver trabalho: isto é a China... Mais poderoso assim que como mero documentário, a meu ver claro.

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Amigo Nuno,

o filme tem valor artístico, mas é como disse no texto, um exercício penoso para quem o visiona. O conselho para o visionar mais do que uma vez dirige-se principalmente aqueles cujo interesse seja despertado e que pretendam apreender os pormenores. Em princípio, não será o meu caso ;) , mas daí nunca se sabe.
No cômputo geral, não fiquei impressionado com o filme.

Grande abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá H.!

Neste particular, estamos em desacordo. Eu, ao contrário de ti, achei-o bastante monótono, embora reconheça que tem como principal mérito o seu carácter informativo acerca das importantes mudanças culturais, políticas e sociológicas da China.

Beijinho!

Anónimo disse...

Como já deves saber, considero o Jia um dos mais brilhantes realizadores da actualidade, sendo este Platform uma das suas obras-primas!
Quando num post anterior referi o meu gosto por cinema "puro, crú e sem embelezamentos" estava a pensar por exemplo no Jia e na sua visceral e meticulosa maneira de filmar!
Ele e o seu gang (conterrâneo) de cineastas marginais fazem autênticas maravilhas nesse seu estilo onde documental e ficção parecem confundir-se.
Epá, pela opinão estou em crer que vais passar maus bocados se te aventurares mais na obra do Jia, com coisas como Pickpocket, In Public ou Still Life que são talvez as mais "extremas" mas talvez possas arriscar! Por mim, sempre que ele lança algo novo tem logo prioridade total! Resta-me aguardar desesperadamente pelo seu novo projecto!

p.s. Quanto mais lento melhor!

abraço!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Olá tf10!

Tenho perfeito conhecimento que elegeste Jia Zhang Ke como um dos teus realizadores de eleição. Sinceramente, o seu estilo "documentarista" de realização não é bastante do meu agrado como já deves ter percebido.
Mesmo assim, farei questão de visualizar pelo menos mais uma obra, de maneira a ficar com uma opinião mais solidificada. No entanto, não me parece que vá mudar muito de opinião ;)!

Um abraço!