Realizador Asiático Preferido - Votação
Apresento-vos mais um realizador asiático, sujeito ao vosso escrutínio no quadro de votações mais abaixo à direita. Não custa relembrar que podem escolher mais do que uma opção, antes de clicarem e submeterem o(s) vosso(s) voto(s). Igualmente podem sugerir outros nomes para serem postos a votação.
Filmografia enquanto realizadores (caso exista alguma crítica, o título estará assinalado a cor vermelha. Para aceder ao texto , basta clicar):
- The Cage (1964)
- Emperor Tomato Ketchup (1971)
- The War of Jen-Ken-Pon (1971)
- Throw Away You Books, Rally in the Streets (1971)
- Young Person's Guide to Cinema (1974)
- Pastoral: To Die in the Country (1974)
- Hoso-tan (1975)
- Labyrinth Tale (1975)
- Les Chants de Maldoror (1977)
- The Eraser (1977)
- The Boxer (1977)
- Private Collections (1979)
- Les Fruits de la Passion (1981)
- Video Letter (1983)
- Grass Labyrinth (1983)
- Farewell to the Ark (1984)
4 comentários:
O Terayama vai muito além de um mero realizador. Ele é sobretudo um multifacetado artista que expõe nos seus filmes esses seus delirios e provocações numa visão que eu diria verdadeiramente única no cinema nipónico! Trata-se de facto de uma figura impar (ninguém se exprime daquela forma) capaz de nos desafiar com as suas tenebrosas "curtas" ou até mesmo de nos chocar e violentar com a sua infame obra "Emperor Tomato Ketchup".
Um esteta excêntrico e libertador que atinge o pico da sua filmografia com as suas duas obras-primas, tanto nessa surrealizante jornada "Pastoral: To Die in the Country", como nessa caótica narrativa em "Throw Away You Books, Rally in the Streets" que como o titulo denuncia possui uma fúria contagiante que se materializa em episódios surreais e desafiantes estímulos sociais, politicos e culturais! Conta ainda com uma das mais brilhantes OST´s de sempre!!
Mais tarde uma obra maldita, "Fruits of Passion", uma verdadeira orgia (a todos os niveis) com apenas alguns fogachos do seu génio que não sobrevivem no entanto a tão disforme projecto.
"Grass Labyrinth" uma "média-metragem" ainda preenchida por algum desse universo mais brilhante - nomeadamente do Pastoral - e como último sopro mais uma delirante meditação com "Farewell to the Ark"
Podem palmilhar o que quiserem que jamais encontrarão no cinema nipónico um génio com tão profundo e sobretudo singular modo de expressão!
Olá tf10!
De facto reparei que Terayama é extremamente multifacetado no que toca à arte em geral. É mais um dos vários realizadores japoneses que tu e o Miguel Patrício sugeriram aqui, que vou ter de descobrir. Aliás, devido às vossas sugestões, já tenho na prateleira algumas coisas para ver :) !
Abraço!
Primeiro uma indicação subjectiva por respeito à pessoa em causa: Terayama é o artista que recentemente mais me tem marcado, revelado, e cunhado com visões de espelho, reflexos de que a linguagem do próprio pode ser simultaneamente linguagem colectiva.
De facto, o título de realizador é mero acidente no percurso de Terayama Shuji. Especialista em fundir diversos media, Terayama é antes do mais, um dramaturgo e um poeta apaixonado pelo caos e obcecado com imagens de crianças face à diacronia perversa, que as obriga a crescer e (falando nos seus modos) a "ver, num cemitério, que a os homens morrem". Assombrado pela figura materna (real e simbolicamente), Terayama joga toda a sua existência nos objectos que produz, recria biografias prepositadamente mal-contadas para poder, enfim, escapar ao trauma sexual que percorre toda a sua vida, e que figura na sua obra como violações, ataques sexuais em cenários escatológicos, metade oníricos, metade reais .
Tudo nos leva a crer que o carácter do corpo artístico de Terayama é inteiramente subjectivo, na senda do artista que olha seu umbigo e nada mais. Mas Terayama não é inteiramente autista, porque esse trauma latente impulsiona o ridículo como auto-defesa. Defensor inato da "experiência mística" do teatro Artaudiano da crueldade, Terayama e o (seu) teatro Tenjo Sajiki tinham o solene objectivo de "instigar, propagar fantasia colectiva" (do manifesto). E é justamente isso que o seu cinema (como tudo o resto) também faz. Desde violações dentro e fora do ecrã com "Emperor Tomato Ketchup" e "Fruits de la Passion", passando pelas suas curtas-metragens experimentais, chegando a obras-primas como "Throw away..", "Pastoral: To Die in the Country" e "Farewell to the Ark", o objectivo do cinema de Shuji Terayama é não só resolver as suas questões ultra-pessoais, como trazer-nos a nausea do desespero, ridicularizar o mundo inteiro (porque ele não tem, essencialmente, nenhum sentido). É desta forma que "os outros" em Terayama (e, num dos seus manifestos teatrais, ele cita Sartre: "o inferno são os outros")são objectos de um colectivo que urge em se libertar, através da imaginação, capacidade sagrada de nos evacuarmos do real, esse inteiramente demoníaco, desmistificado e mecânico (como esquecer as imagens do martelo, dos pregos, nas suas obras...).
Como meu artista de eleição (e realizador também, por arraste), Shuji Terayama é a revelação que nos chama para revivermos estados adormecidos e anestesiados. E porque a infância é o lugar predilecto da não-identidade (porque, justamente, se pode ser tudo), essa obra de que vimos falando é extremamente ambígua, causando em nós uma inquietante redescoberta de fabulosas cegueiras. Como poeta, dramaturgo, cineasta e tudo o mais, foram esses estados esquecidos (reprimidos pelo tempo e pela sociedade, como ele bem refere nos seus escritos) que Terayama abraça. É nesse caos insolúvel e constante que Terayama vive e nos quer sugar.
(posto isto, ficava ele com um dos meus votos).
Olá Miguel!
Percebe-se pelo texto, o que este realizador significa para ti! Aconselhava, na minha humilde opinião, que estes e outros fossem publicados no "Retroprojecção".
Abraço!
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