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quinta-feira, novembro 06, 2008

I'm a Cyborg But That's Ok/Saibogujiman kwenchana - 싸이보그지만 괜찮아 (2006)

Origem: Coreia do Sul

Duração: 105 minutos

Realizador: Park Chan-wook

Com: Lim Su-jeong, Jeong Ji-hun Aka Rain, Choi Hie-jin, Kim Byeong-ok, Lee Yong-nyeo, Oh Dal-su, Yu Ho-jeong


"Young-goon"

Sinopse

“Young-goon” (Lim Su-jeong) é uma jovem rapariga que trabalha numa fábrica de componentes electrónicos. Pensando que é um ciborgue de guerra que necessita de uma recarga, corta os pulsos e liga-se à corrente, dando a aparência que tentou cometer suicídio. Por esse motivo, é internada num sanatório.


"Park Il-sum"

Na instituição de saúde mental, “Young-goon” relaciona-se quase exclusivamente com objectos mecânicos, falando com máquinas de café e sumos, e relógios de pêndulo. Igualmente deixa bem claro que não ingerirá nenhum tipo de comida convencional, pois um ciborgue não pode ingerir este tipo de alimentos, sob pena de danificar os circuitos. Em vez disso, “Young-goon” insiste em tentar provar bocados de metal e pilhas.

A vida de “Young-goon” altera-se por completo quando começa a relacionar-se com outro paciente do manicómio chamado “Park Il-sum”, um cleptomaníaco que afirma conseguir roubar a essência das pessoas, quer se consubstanciem em qualidades, quer em defeitos. O rapaz, à sua maneira pouco convencional tenta ajudar “Young-goom” nos seus problemas e uma história de amor incomum começa a nascer.


"O romance nasce onde por vezes menos se espera"

"Review"

Em 2006, após a realização de obras que ficarão para sempre na história do cinema asiático, mormente a aclamada “trilogia da vingança” (“Sympathy for Mr. Vengeance”, “Oldboy” e “Sympathy for Lady Vengeance”), Park Chan-wook viria a trilhar por caminhos que colhem imenso a afeição da cinematografia do seu país, ou seja, o romance. O objecto desta abordagem seria corporizado em “I'm a Cyborg But That's Ok”, uma história de amor que nada de normal tem à primeira vista, mas cuja originalidade não seria suficiente para fabricar um novo sucesso e “frisson”, à semelhança do que sucedeu com as obras acima mencionadas, ou com outro aclamado filme do autor “JSA – Joint Security Area”. Nem mesmo com a presença de um dos ídolos “pop” mais amados pela juventude sul-coreana, o cantor conhecido como Rain. Mesmo assim, a película viria a marcar significativamente a sua presença no festival internacional de cinema de Berlim – edição 2007, ao vencer o prémio “Alfred Bauer”, um troféu que possui o nome do fundador do certame e que se destina a reconhecer uma longa-metragem inovadora na arte cinematográfica.

Recorrendo a uma faceta extremamente surrealista, Park Chan-wook desta vez oferece-nos um filme visualmente muito forte e belo, que recorrentemente me fez lembrar algumas obras de Tim Burton, tais como “Charlie e a Fábrica de Chocolate”. Os tons são vívidos e coloridos, transparecendo uma certa aura que roça a fantasia. Os efeitos especiais são muito bem executados, dos quais se destaca claramente as transformações imaginárias de “Young-goon” para ciborgue, com rajadas de metralhadora a despontarem violentamente pelas pontas dos seus dedos, ou a cena muito bem conseguida de “Park Il-sum” encostado ao corpo de “Young-goon”, onde podemos observar o mecanismo interno imaginário da rapariga, com todas aquelas roldanas e luzes. Lim Su-jeong, que já conhecia de “História de Duas Irmãs”, explana uma performance formidável. O seu ar decadente, vidrado, mas frágil atinge quase os limiares da perfeição. Uma agradável surpresa para mim, foi Jeong Ji-hun, mais conhecido por Rain. Esta figura é, como acima referi, um verdadeiro ícone musical na Coreia do Sul cuja influência já extravasou as fronteiras do seu país, vendendo milhões de discos por toda a Ásia. Todos nós sabemos de alguns infelizes exemplos recentes, principalmente vindos de Hong Kong, de cantores que foram um verdadeiro fiasco quando se aventuraram na sétima arte. O maior exemplo que me ocorre são as “Twins”. Longe vão os tempos dos chamados “Four Heavenly Kings”, o grupo de cantores constituído por Andy Lau, Aaron Kwok, Jacky Cheung e Leon Lai. Ou então do eteno Leslie Cheung. Rain, cuja estreia numa longa-metragem foi precisamente com “I'm a Cyborg But That's Ok”, oferece uma interpretação muito prometedora, a que não será alheia com certeza a direcção de Park Chan-wook. Com este duo, e com os demais actores, tudo consegue fluir naturalmente, apesar da maioria dos intérpretes darem vida a personagens que tudo têm menos de “natural”.

Antes de tudo, e com já referi acima algumas vezes, “I'm a Cyborg But That's Ok” é uma história de amor, na vertente da comédia romântica. Simplesmente o seu “background” não é cor-de-rosa, nem apresenta características demasiado idílicas. Afinal estamos a falar de uma longa-metragem que se passa quase exclusivamente num local que não associamos a nada de positivo, ou seja, um hospital psiquiátrico. Em certos aspectos, e com os devidos considerandos e distâncias (que são vastos), poderá ser tributário de “Voando Sobre Um Ninho de Cucos”, essa fantástica obra do realizador Milos Forman em que Jack Nicholson teve o papel, entre outros, de uma vida. Existem um manancial de doentes mentais, cada um com disfunções muito próprias tais como uma “tirolesa” compulsiva, que está constantemente com os seus “yoyodelele's”, maníacos do ténis-de-mesa, uma paciente que adora inventar contos aparentemente verdadeiros com o intuito de criar falsos mitos, outro que julga que tudo o que de mal acontece é culpa sua, etc..., etc..., etc... Junte-se a este mundo à parte um casal que na loucura se apaixona e auxilia, e temos o cenário criado para um dos romances mais “sui generis” da história. Afinal como é que não poderia dar certo entre uma relação entre uma rapariga que pensa que é um ciborgue mortal e um rapaz que julga poder absorver as características de terceiros com uma simples palmada na mão?! E o que ressalta de toda esta “anormalidade” (sem qualquer sentido pejorativo) é a imensa criatividade com que tudo nos é apresentado, inclusive o desenvolvimento dos sentimentos entre os protagonistas. É verdadeiramente enternecedor observar os esforços nada convencionais de “Il-sum” para auxiliar “Young-goon”, desde tentar convence-la que instalou um dispositivo no seu corpo que transforma a comida ingerida em material que não irá prejudicar os seus componentes, até colocar-se ao seu lado num temporal com um para-raios, à espera que ambos sejam atingidos por um relâmpago. Isto faz com que os sorrisos mantenham-se nas nossas faces, quer seja pelo estigma do “oh, tão querido!”, ou pelo simples prazer de visionar situações de boa comédia.

"I'm a Cyborg..."

“I'm a Cyborg But That's Ok” é um filme que demonstra aspectos bastante originais, e que apesar de ter alguns momentos de comédia negra, acaba por debaixo da pele ser uma história de amor inteligente, embora um tanto ou quanto confusa, porventura de um modo intencional. Tenta demonstrar que mesmo nas situações mais improváveis e incomuns, existe sempre espaço para o sentimento e para a procura de uma razão de existir (mesmo que esta se reconduza a explodir com o mundo todo, após uma descarga de um bilião de “volts”!!!). Trata-se de uma película perspicaz, com momentos assombrosos no bom sentido, mas por vezes com falta de rumo. Demonstra de uma perspectiva fantasista que até mesmo na insanidade é possível ser feliz! O que interessa é acima de tudo que todos se sintam confortáveis com a situação, mesmo numa conjuntura de alienação social. E se um pensa que consegue roubar as almas de outrem, e outro pensa que é um ciborgue destinado a acabar com o mundo, por mim...está tudo ok!

Boa película sem margem para dúvida, mas de Chan-wook esperava algo mais! A conferir!

"A expectativa..."

Trailer

The Internet Movie Database (IMDb) link

Outras críticas em português:

Avaliação:

Entretenimento - 8

Interpretação - 9

Argumento - 8

Banda-sonora - 7

Guarda-roupa e adereços - 8

Emotividade - 8

Mérito artístico - 9

Gosto pessoal do "M.A.M." - 7

Classificação final: 8








2 comentários:

Anónimo disse...

Dois aspectos acho que geram consenso, nomeadamente a originalidade da história e os aspectos técnicos. O pior foi o resto......e se a isto se juntar o grande salto entre a sua brutal trilogia e este seu filme o choque é ainda maior. Eu sou bem mais implacável quanto à nota final! eh eh!
(uma palavra para a sempre excelente Soo-jeong!)

p.s. esperemos que volte em grande com o seu conto vampiresco + Song + Shin!

Jorge Soares Aka Shinobi disse...

Eu achei a história deliciosa, e os aspectos técnicos algo de relevar bastante. Acresce o facto de ter gostado da interpretação do casal. No entanto, sou forçado a concordar que se trata de um passo atrás em comparação com a trilogia que todos nós bem conhecemos...
Estou também expectante em relação a "Thirst". A ver vamos!
No que toca à nota, já todos se aperceberam que eu sou um mãos largas. Comigo não havia crise na educação, tornava-se era tudo mal-educado, eh, eh, eh! Mas daí quando se segmenta tudo por partes, existe sempre alguma que exponencia o resultado final. Neste caso foi mesmo a interpretação e o mérito artístico.

Abraço!